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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

29
Mar09

São Julião de Montenegro - Chaves - Portugal


 

Hoje vamos até S.Julião de Montenegro,


S.Julião de Montenegro, fica a 12 quilómetros de Chaves, o principal acesso à freguesia é feito pela E.N. 213 (Chaves-Valpaços) é sede de freguesia, à qual pertencem as povoações de Limãos e Mosteiró de Baixo, confronta com as freguesias das Eiras, Faiões, Águas Frias, Oucidres, Nogueira da Montanha e Cela e ainda com as freguesias de Alvarelhos, Ervões e Friões, estas últimas do Concelho de Valpaços.

 

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São Julião, freguesia com a área de 15,29 km2 e 293 habitantes residentes, dados para a freguesia, pois para a aldeia propriamente dita, os números resumem-se a 113 habitantes, com 6 crianças com menos de 10 anos, 5 entre os 10 e os 20 anos e 44 habitantes com mais de 65 anos. Números do ano de 2001 do Censos que como em todas as aldeias demonstram bem a tendência do despovoamento do mundo rural, principalmente o mundo rural de montanha o mundo dos resistentes, embora por S.Julião até ainda haja alguns casais novos que vão dando alguma vida à aldeia que fazem esquecer um pouco o abandono da sua velha rua principal.

 

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A agricultura é a principal actividade da aldeia e da freguesia, embora com os seus terrenos essencialmente de natureza granítica a altitudes acima dos 700m, no entanto como são terras com abundância de água, são também terras férteis. Se cultivadas, produzem centeio, milho, trigo, batata, toda a espécie de legumes e variadas frutas, com especial destaque para a castanha.

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Se hoje a agricultura é a principal actividade da aldeia, nem sempre foi assim, pois tempos houve em que para além da agricultura havia outras actividades mais rentáveis, como uma importante exploração mineira com muita actividade no período da 2ª Guerra Mundial, exploração essa que se fazia num local a que hoje ainda chamam estanheira, por ter sido jazida de umas importantes minas de estanho.

 

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E embora possa parecer estranho, principalmente pela sua distância até à raia, S.Julião ficava também nas rotas e caminhos do contrabando, com os fardos a mudar de mãos precisamente no troço de estrada nacional que passa junto à aldeia. Pela certa que desde as minas ao contrabando passando pelo tempo do “pulo” para outras paragens, haverá muitas estórias perdidas e por contar.

 

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S.Julião de Montenegro, assume como topónimo o nome de S.Julião + Montenegro com origem no antigo julgado de Montenegro, aquando a aldeia gozava de grande importância que ainda está patente em algumas tradições fidalgas e na sua Igreja Matriz, um templo românico, que data dos princípios da nacionalidade, com uma traça arquitectónica que foi suportando como pode os atentados do tempo e até os do homem.

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A igreja matriz de São Julião de Montenegro é um templo de traça românica onde ainda persistem muitos dos elementos arquitectónicos originais. Só a fachada principal, com uma orientação a Oeste, é que se encontra completamente descaracterizada por obras de restauro mais recentes, aliás obras a que tem estado mais ou menos sujeita ao longo dos tempos e ligadas a estragos causados por causas naturais, como o terramoto de 1755 (segundo alguns documentos) ou mais recentemente, atribuídas a um ciclone do início do século passado que muitas vezes é referido pela população mais idosa, ou mais recentes ainda, nos anos 80, por iniciativa do então padre da freguesia. Obras mais ou menos felizes que lá foram mantendo a cachorarrada  que testemunha a sua origem românica, bem como uma pequena porta que se rasga na parede norte do edifico e que curiosamente podemos ver repetida em desenho na Igreja de Moreiras, desenho onde se encontra reproduzida a famosa cruz usada pela Ordem dos Templários que neste caso seria já da Comenda da Ordem de Cristo, à qual pertenceu S.Julião.

 

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No interior da Igreja revela-se um importante testemunho de pintura mural, surgindo ainda alguns fragmentos a forrar as superfícies das paredes internas do templo. Os vestígios concentram-se junto do arco triunfal e em toda a sua superfície, constituindo-se assim como um dos raros exemplares que testemunham a riqueza e a temática pictórica que de uma forma geral existia no interior das igrejas medievais.

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Igreja românica, no entanto e aquando das obras de restauro já aludidas, o tempo regressou até à época romana com a descoberta de três marcos miliários pertencentes à via augusta XVII. O primeiro é atribuído a Macrino, datável de 217-218 e surgiu debaixo de um dos altares juntamente com um outro exemplar, encontrando-se actualmente no interior da igreja, junto da porta principal. Possui a seguinte inscrição: [OPLL]IV[S] MACRI[NVS] / NOB(ilissimus) C[A]ESAR.

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Um segundo marco é atribuído a Décio, apresenta a indicação da milha (VI) e é datável do ano de 250. Apresenta a seguinte inscrição: IMP(eratori) [G]AIO TRA / IANO DECIO IN / VICTO AVG(usto) TR(ibunicia) P(otestate) / II CO(n)[S](uli) III PRO / CO(n)S(uli) / RE[ST(ituit) V(iam) A A(qvis) F(lavis) / M(ilia) P(asum) VI [HE / RENNI] OETRVS / [CIO M]ES[IO NOBI / LISSIMO CAESARE]

 

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O terceiro exemplar encontra-se no adro da igreja, ao lado do portão de ferro que permite acesso ao terreiro do templo. Trata-se de um grande fragmento da secção inferior que termina num espigão quadrangular. Não possui epigrafe. António Rodriguez Colmenero (RODIGEZ COLMENERO,1997: 333, nº 426) refere ainda um quarto fragmento de miliário, também procedente da igreja de S. Julião e que na altura se encontrava no domicilio do Pe. Fernando Pereira. O autor consegue recuperar a inscrição ---]FLAVIO DALMACIO[---

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Importantes testemunhos dessa importante via romana da qual ainda hoje se podem ver alguns fragmentos na freguesia das Eiras, mesmo por baixo do Miradouro de S.Lourenço e que facilmente se adivinha a passagem por terras de S.Julião de Montenegro.

 

Voltando à igreja de S.Julião, ainda é um bonito exemplar a apreciar quer pelos modilhões da cornija e as pinturas a fresco que apresentam algumas alfaias e paramentos religiosos de grande valor artístico. Interiormente possui uma só nave, a qual, no seu conjunto com a abside e dois altares laterais, representa uma cruz, formato de igreja mais usado nos séculos XI e XII em toda a cristandade. O altar principal e o seu retábulo são lavrados em talha simples do segundo período da renascença. No tecto da capela-mor, está pintado o apóstolo S.Pedro no acto que se seguiu à negação.

 

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Continuando ainda com a igreja e para um último apontamento e, um alerta para quem de direito. A população lamenta não ter dinheiro para recuperar o tecto da capela-mor e as suas pinturas. De facto é lamentável que o nosso mais rico património, neste caso o religioso ligado ao românico, tenha que depender da vontade e das expensas da população. Património cultural que é de todos e até da humanidade, mas que em termos de preservação e custos cai sempre sobre a população. Pois acontece que a população de S.Julião está envelhecida e não tem dinheiro para mandar recuperar as pinturas do tecto da igreja que entretanto se vão deteriorando cada vez mais. Património cultural, histórico e artístico que se poderá perder e pela certa que não será por culpa da população, mas talvez por culpa da própria entidade que é a Igreja Católica que deveria cuidar dos seus templos (em vez de os “roubar” como parece já ter acontecido em tempos nesta igreja de S.Julião), por culpa da Junta de Freguesia (que já sabemos que também não tem meios), por culpa da Câmara Municipal (que se põe à margem destas questões) e por parte do Estado, “IPA’s”, “IGESPARES” ou seja lá o que for ou quem seja. Ninguém tem responsabilidades e a realidade repete-se não só aqui em S.Julião, mas também na Granjinha e noutros templos que embora não tão antigos como os românicos, não deixam de ter interesse e em todos eles, a não ser os cuidados da população, ficam abandonados e entregues ao seu próprio destino.

 

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Foi demorada esta abordagem à Igreja de S.Julião porque sem dúvida é também um dos templos mais importantes que testemunham o românico no nosso concelho.

 

S.Julião, bispo de Toledo, que foi coevo dos reis Vamba e Ervígio, soberanos godos é também o santo que dá nome à aldeia e que é também o seu padroeiro, celebrado em 11 de Março, no entanto a verdadeira festa da aldeia (um pouco e tal como acontece em todas as aldeias de montanha) é o mês de Agosto, em que as ruas se enchem de gente com os regressos à terrinha dos seus filhos.

 

Para a feitura deste post, foram recolhidos dados do INE (censos 2001), ANAFRE e IPA.

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