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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

05
Set20

Orjais - Chaves - Portugal

Aldeias do Concelho de Chaves


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ORJAIS

 

Continuando a cumprir a nossa falta para com as aldeias que, aquando dos seus posts neste blog, não tiveram o resumo fotográfico em vídeo, trazemos hoje esse resumo para a aldeia das Orjais.

 

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Aldeia que durante algum tempo me andou a enganar, ou melhor a castigar, tudo por eu não fazer o trabalho de casa. Acontece que nas minhas primeiras deslocações às aldeias ainda não o fazia com a intenção de elas terem aqui no blog uma rubrica própria. Então ia indo pelas aldeias fotografando aquilo que mais me despertava. Em Orjais, avistava a igreja ao fundo da reta de entrada, que sempre me fez parecer uma paisagem alentejana, fazia a curva e depois de uma reta com quase 900m, entrava na aldeia. Apenas via casas novas, recentes, muito longe dos meus interesses fotográficos que se focavam em registar os núcleos mais antigos das aldeias. Assim, dava a volta e passava à aldeia seguinte e de Orjais, apenas trazia a entrada com a igreja, a tal que me faz lembrar o alentejo.

 

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Passei por lá mais uma ou duas vezes para verificar melhor e aconteceu-me o mesmo. Quando as aldeias começaram a ter aqui o seu espaço, fui lá mais uma vez e de novo fiz mais um regresso frustrado a casa, sem imagens. Já em casa pus-me a pensar que não podia ser, não era possível não existir um núcleo antigo da aldeia, pois que me constasse Orjais não era uma aldeia nova, embora nas minhas visitas tudo indicasse que sim. Logo à entrada uma igreja nova e um pouco mais à frente, longo da estrada apenas casas novas e recentes. Na altura quando queria apurar, fazer um itinerário ou localizar qualquer coisa, recorria às cartas militares, que eram e ainda continuam a ser as mais completas, pois nelas não falta nada em termos de pormenores, até os poços e carreiros pedonais lá são assinalados. Procurei numa carta militar já antiga (dos anos 50 do séc. passado, se bem recordo) e lá estava a aldeia de Orjais que eu queria, afinal existia mesmo uma aldeia antiga, só que, como não é visível da parte alta da aldeia onde estão as casas novas, eu nunca tinha dado por ela.

 

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No dia seguinte lá fui eu de novo até Orjais, mas dessa vez já sabia por onde ir até a aldeia antiga e lá estava ela para me surpreender, teria sido imperdoável não a ter descoberto. Claro que mais tarde ou mais cedo, acabaria por descobri-la, mas foi a partir dessa data que nunca mais saí para o terreno sem previamente fazer o trabalho de casa, ou seja, consultar as cartas e mapas dos meus destinos, consultas agora muito mais facilitadas com a internet e com a possibilidade de consultar a fotografia aérea dos locais, embora um pouco enganosas, pois vistos do céu todos os caminhos parecem transitáveis, no entanto às vezes não o são, pelo menos para viaturas motorizadas, mas para quem gosta e pode andar a pé, são sempre caminhos com destinos interessantes e diferentes.

 

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Às vezes lá terá que ser, o ter de percorrer a pé alguns caminhos, principalmente quando o nosso destino tem mesmo interesse. Embora não muito agradável para quem não está habituado a andar, a pé, e ainda por cima ter de carregar o peso das máquinas fotográficas, o pior, é que a maioria desses sítios ficam em sítios mesmo difíceis de alcançar, com subidas ou descidas muito acentuadas…. Bem, mas não era ou é o caso de Orjais, pois o caminho até a aldeia antiga está pavimentado e entra lá qualquer viatura, o difícil, foi mesmo descobrir aquilo que até era evidente, não se via, mas claro que tinha de existir.

 

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Orjais é uma das nossas aldeias de xisto e nela ainda resistem as paredes dos pombais típicos do distrito de Bragança, contruídos em xisto e de planta circular. Esta freguesia do concelho de Chaves, S. Vicente da Raia,  à qual pertencem Orjais, Aveleda e Segirei, por ser uma freguesia no limite do concelho, que está também no limite do distrito e faz também fronteira com a Galiza, não é exceção às freguesias que estão nesta condição de fronteiras, em que nas características do casario mas também um pouco nos usos e costumes,  são inspiradas pelas aldeias vizinhas. Acontece o mesmo com a maioria das aldeias da margem direita do rio Tâmega em relação ao Barroso, e deste último em relação ao Minho, sobretudo naquela corda entre a Serra do Gerês e a Serra da Cabreira, onde o rio Cabril desagua no Cávado.

 

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Ao longo dos posts que dedicámos a Orjais abordámos também o facto de no casario mais antigo existirem várias inscrições nas padieiras das portas, sobretudo nas portas carrais, que nos levam até um povoamento de uma comunidade judaica. Estas inscrições repetem-se um pouco também na aldeia e sede de freguesia de S. Vicente da Raia.

 

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Apenas curiosidades que só por si já justificam um passeio/visita até esta aldeia e freguesia, além de ser também por esta aldeia que se faz o acesso ao Castelo do Mau Vizinho e estar já integrada na área de proteção ao Parque Natural de Montesinho. Mas claro, isto são pormenores de um todo que é a aldeia de Orjais.

 

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Para quem quiser saber mais sobre esta aldeia. Nem há como passar pelos posts que este blog lhe dedicou para os quais fica link no final, mas desde já há um que destacamos, o do “Repórter por um dia” em que 10 fotógrafos acompanharam a jornalista Sandra Pereira numa “parceria” entre o “Diário Atual”, o “Polo da UTAD de Chaves” e a “Associação de Fotografia LUMBUDUS” em que se mostra bem a realidade destas terras e aldeias da freguesia de S.Vicente da Raia, à qual pertence Orjais.  

 

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E agora sim, o vídeo com todas as imagens da aldeia das Orjais que foram publicadas até hoje neste blog. O vídeo que aliás é a principal razão deste posta, mas no qual aproveitamos para meter mais algumas imagens e alguns comentários. Espero que gostem. Aqui fica:

 

 

 

Post do blog Chaves dedicados ou com referências à aldeia de Orjais:

 

https://chaves.blogs.sapo.pt/orjais-chaves-portugal-1683109

https://chaves.blogs.sapo.pt/orjais-e-um-adeus-ao-mundo-rural-1241443

https://chaves.blogs.sapo.pt/1004470.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/908340.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/640615.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/573346.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/332199.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/290487.html

 

 

E quanto a aldeias de Chaves, despedimo-nos até à próxima quarta-feira em que teremos aqui a aldeia de Oucidres.

 

 

 

09
Mar19

São Vicente da Raia - Chaves - Portugal


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Diz-me a experiência que não é preciso ser conhecedor de nenhuma ciência para entrarmos por terras desconhecidas para as ficar a conhecer, mas nem sempre entramos nelas e as descobrimos. Se as queremos descobrir, temos de ir com esse propósito, demorar o tempo que for necessário, não deixar escapar nenhum pormenor, por mais simples que seja e, se realmente queremos descobrir as maravilhas deste reino, mas sobretudo, nunca esquecer as palavras sábias de Torga para ver este ou qualquer outro reino maravilhoso:  “ (…) O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite. (…)”.

 

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De facto assim é. Fui pela primeira vez a terras de São Vicente da Raia há coisa de trinta e tal anos, em trabalho, num dia escuro de inverno e muita chuva, com os últimos quilómetros de estrada ainda em terra batida. No desespero de poder cumprir a minha missão fui galgando esses últimos quilómetros com a preocupação de conseguir chegar ao destino. Chuva, pavimento de terra, lama e piso escorregadio,  descidas bem inclinadas e curvas bem apertadas,  aumentavam a preocupação, que terras estas…

 

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À preocupação de lá chegar ia-me afrontando por antecipação, preocupação maior com o caminho de regresso. Se assim era a descer, a subir as coisas complicar-se-iam muito mais, mas como na altura o sangue na guelra ainda fervilhava por e numa boa aventura, que fosse o que Deus quisesse e se os outros desciam e subiam, eu também haveria de conseguir… sem mesmo reparar que ninguém tinha passado por mim, mas como bem podem reparar agora, fui e regressei, e dessa viagem apenas recordo aqueles últimos quilómetros de estrada.

 

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Durante uns anos fui por lá mais algumas vezes, não muitas, mas algumas, talvez 3, 4 vezes, sempre em trabalho, sempre à pressa, sempre com uma preocupação extra, ora do tempo dos relógios, ou falta dele, ora com a viatura que levava e que nunca era de confiança, ou outra coisa qualquer, ou seja, continuei a ir por lá com um olhar afetado, adulterado, infiel, traiçoeiro, em suma, cego, sem a tal virgindade original perante a realidade e o coração.

 

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Foram precisos passarem-se 20 anos para numa tarde de setembro,  abandonar o vale de Chaves, subir a montanha, alcançar o planalto, sem relógio, sem preocupações, apenas eu, a máquina fotográfica, um carro de confiança e a virgindade no olhar como se fosse a primeira vez, e lá fui. Primeiro desvio na estrada e passagem pela Bolideira, depois Travancas, mais um pouco e passei Argemil, terras já minhas conhecidas, e a partir de aí começo a surpreender-me, primeiro com o mar de montanhas com vistas lançadas, por um lado para terras de Vinhais e mais além, para o outro as terras da Galiza.

 

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Antes de começar a descer aquela que então era estrada de terra batidas, parei num alto, um autêntico miradouro natural. Pela primeira vez reparei como a partir de Argemil a terra era outra, mudava na cor, mudava nas formas, até o penedio era diferente, menos azul, mais sépia, era o granito a dar lugar ao xisto e tudo isto delimitado por uma muralha natural que sobe e desce encostas, mais percetível numas encostas, menos noutras, mas que o olhar virginal viam como se tivessem a grandeza das muralhas da China, e lá do alto, aos meus pés, desenhava-se uma linda estrada cheia de curvas e pequenas retas, que ora se viam ora desapareciam do olhar encobertas pelas encostas da montanha, como se de um rio se tratasse, desaguava lá ao fundo numa povoação, imediatamente antes de uma encosta descer de novo para o desconhecido, talvez, quem sabe, para outras povoações.

 

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Pasmei por ali não sei quanto tempo, deliciei-me, embriaguei-me de tanto olhar e descobrir e imaginar, mas também reflexionar em como este reino maravilhoso tão pequeno e tão igual, é tão grande e tão diferente dentro da sua identidade diferenciada. Tinha abandonado o Vale de Chaves há tão pouco tempo e estava perante outra realidade, mas, continuava eu reflexionando em como se desde o vale de Chaves tivesse tomado a direção oposta, mais ou menos à mesma distância, sentiria o mesmo, mas de uma forma distinta, porque a realidade seria outra, tão diferente do vale e tão diferente desta que tinha à minha frente, mas igualmente interessante, fascinante até, estaríamos em terras de Barroso e não aqui, perante terras de Vinhais, mas ainda com os pés assentes no concelho de Chaves.

 

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Mas vamos lá. Já sóbrios, deixemos o miradouro e desçamos a estrada até um pequeno rio que foi batizado como Rio Mousse e a partir deste, de novo começamos a subir para só parar lá no alto naquela que é a nossa aldeia de hoje, a última desta série de povoações com nome de santo, este, o São Vicente que dá nome à aldeia e sede de freguesia de São Vicente da Raia, cujo apelido bem poderia ser “das Raias”, porque são várias as raias desta freguesia, primeiro da raia com a Galiza, depois da raia com Vinhais, mas também da Raia com o Parque Natural de Montesinho e se levarmos em conta aquilo que pra trás deixei escrito, faz também raia com a tal muralha natural (que existe mesmo) a partir de onde tudo começa a ser diferente.

 

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E estamos, entramos, finalmente na aldeia de  São Vicente da Raia, que embora da raia, para além dela ainda há mais três povoações a compor a freguesia e que, igualmente fazem parte do concelho de Chaves. Refiro-me a Orjais, Aveleda e Segirei, sem esquecer o São Gonçalo,  todas elas aldeias e lugares de xisto, com ares de Vinhais e da Galiza, mas também bem próximas dos limites dos três reinos (Portugal-Galiza- Castela e Leão) a apenas 20 km, mas isto são estórias de outra História, pois hoje ficamo-nos por São Vicente da Raia, que por sinal, o santo, é mais um santo mártir e era do Sul de Espanha (Huesca).

 

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O Curioso é que nesta nova entrada na aldeia, que já aconteceu em 2006, foi mesmo como se fosse a primeira vez que ia por lá, pois a não ser o largo de entrada que também é o largo do cemitério, mais nada recordava. Foi assim uma verdadeira descoberta, iniciada pelo pequeno núcleo junto à igreja,  para depois descer e passar a estrada de acesso a Orjais, Aveleda e Segirei e entrar no outro núcleo da aldeiam que notoriamente é muito mais antigo.

 

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Diz-me também a experiência que numa primeira visita nunca vemos tudo e deixamos sempre escapar pormenores de interesse, além de haver sempre uma ou outra imagem que pede e merece um novo enquadramento, para além de outras que saem desfocadas, queimadas ou outro acidente qualquer. Assim,  só uma visita não basta para termos uma recolha de imagens que faça justiça ao todo da aldeia, daí já ter por lá passado mais vezes, não tão exaustivamente como da primeira vez, mas recolhendo sempre um ou outro pormenor, isto dentro da aldeia, pois ao nível geral, vista geral da aldeia e paisagens que a rodeiam, são sempre diferentes, conforme a época do ano, em que a luz e as cores da vegetação variam tanto, que às vezes quase parece que estamos perante paisagens completamente diferentes.

 

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Tenho alguns desses registos tomados em épocas diferentes do ano, penso que só me falta mesmo um com a paisagem vestida de branco e quase a consegui, mas dessa vez, com viatura imprópria para a neve,  sabia mesmo que se descesse, já não subiria. Deixei para outra oportunidade que espero vir a acontecer.

 

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E que dizer de São Vicente da Raia!? Pois é uma aldeia interessante em que o xisto utilizado nas construções faz a diferença em relação à maioria das aldeias do concelho de Chaves. Notoriamente construções muito antigas, hoje maioritariamente abandonadas e/ou em ruínas, algumas com inscrições curiosas,  possivelmente ligadas a uma comunidade judaica que viveu na freguesia.

 

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É uma aldeia que sofre também da maleita do despovoamento e do envelhecimento da sua população, embora exista por lá um caso de sucesso em que o processo foi invertido. Trata-se de um jovem casal em que um deles tinha origens na aldeia e que abandonou o trabalho e a sua vida do grande Porto para se fixar em São Vicente da Raia, primeiro explorando um bar da aldeia, onde serviam excelentes refeições com coisas boas da terra. Posteriormente montaram uma cozinha regional com fabrico de fumeiro,  cuja matéria prima, o porco bísaro, é de exploração própria. Sou testemunha que o que lá se fabrica é de primeira qualidade e nem vos quero descrever o requinte de um cozido à portuguesa com todos os ingredientes made in São Vicente da Raia, carnes, fumeiro, batatas, couves e vinho, penso que só mesmo o azeite é que não é de lá… ou seja, tudo do “bô e do milhor”.

 

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Aproxima-se a primavera e o verão e como o dinheiro ainda está caro para férias noutras paragens, se não conhece a freguesia de São Vicente da Raia, proponho-lhe que reserve 4 dias para conhecer a freguesia, que poderão e deverão ser alternados, pois de seguida vai ser muito cansativo. Tanto faz ser dia de semana como fim de semana, por lá não se nota muita diferença.

 

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Então os 4 dias seriam para:

 

1º dia – Conhecer as 4 aldeias da freguesia, primeiro São Vicente da Raia, depois Orjais, de seguida Aveleda e por fim Segirei. Só as aldeias, não se entusiasme com outros apelos.

2º dia – Fazer a rota do contrabando de Segirei. O trilho está indicado e inicia-se na parte galega com descida sempre junto ao riacho, com passagem pelas cascatas e a terminar ou com passagem por Segirei, pois pode continuar a caminhada até à Praia Fluvial de Segirei. Claro que este dia para andar a pé, mas se eu que não sou de caminhadas já fiz o percurso, qualquer um o faz.

3º dia – O dia completo para passar na praia fluvial de Segirei onde tem bar de apoio e grelhadores. As águas do rio junto à praia fluvial são pouco profundas e o espaço ótimo para crianças e também para pescadores.

4º dia – Descida ao São Gonçalo onde também existe um parque de lazer e pode ir a banhos, com águas também pouco profundas e ótimas para pescar.

 

Claro que para todos estes dias a máquina fotográfica é imprescindível.

 

 

12
Mai18

Orjais - Chaves - Portugal


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Neste percurso pelas aldeias do concelho de Chaves, no último sábado fomos aqui ao lado da cidade, até Noval. Pois hoje vamos um bocadinho mais distante, até uma das nossas aldeias de xisto, já na raia com a Galiza, por um lado, mas também com terras de Vinhais para a qual Orjais lança os seus olhares. Penso que entre Noval e Orjais não há nenhuma afinidade, mas para mim há, mais à frente compreenderão…

 

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Uma aldeia que para nós foi de difícil descobrir na sua intimidade e alma, tudo por causa de uma noia nossa de partirmos para as descobertas às cegas, sem qualquer informação prévia, sem sermos influenciados por outros olhares, talvez na ânsia de sermos surpreendidos com tesouros inesperados.

 

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E foi assim que passei por lá uma, duas, três vezes, talvez até mais, lançava meia dúzia de olhares e voltava para trás desiludido, sem sequer me dar ao trabalho de parar e sair do popó. Desde a entrada da aldeia com uma pequena reta a terminar nas vistas de uma igreja de construção mais ou menos recente, até um pouco mais à frente entrar na aldeia, toda ela mais ou menos recente com a arquitetura mais comum dos finais do século passado. Sem nada contra aquilo que ia vendo, não era, no entanto, aquilo que eu queria encontrar e ver, ou seja, as nossas tradicionais aldeias antigas e seculares.

 

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E assim foram as minhas primeiras abordagens à aldeia. Achava estranho existir por ali uma aldeia nova sem qualquer razão aparente de ali ter nascido, mas como logo a seguir à saída da aldeia, dependendo da direção que tomasse, passava por São Vicente da Raia ou pela Avelada, depressa esquecia Orjais, sem sequer refletir nos porquês de Orjais ser assim ou tentar encontrar uma razão lógica para assim ser.

 

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Não há duas sem três nem três sem quatro, ou cinco ou seis. Tempo depois, estando eu no sossego da noite, em casa, veio-me Orjais à lembrança, e mais uma vez a estranheza de ser como era. Fui refletindo na tentativa de encontrar a tal explicação que me faltava para compreender e disse para mim mesmo que não podia ser assim como era, tinha de haver mais qualquer coisa. Na altura ou desconhecia ou não tinha a facilidade de recorrer ao Google Earth para aceder às imagens aéreas, recorri às cartas militares à escala 1:25.000. São preciosas estas cartas, não lhes escapa nada, e se Orjais tivesse mais alguma coisa para mostrar, tinha de estar lá. E então não é que estava mesmo. Um conjunto de quadradinhos à margem da aldeia nova, quadradinhos esses que nas cartas militares são construções, só podiam ser da aldeia histórica e antiga de Orjais, aquela que eu ainda não tinha descoberto. Só não fui nesse momento a Orjais porque era de noite e já avançada.

 

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Lugo que pude lá fui eu e a aldeia de Orjais que eu queria descobrir lá estava ela, surpreendente, cheia de história e de estórias, um encanto de aldeia de xisto ainda com gente dentro, mais idosos, tal como a aldeia, bem velhinha por sinal e também a acusar e ressentir-se da idade e da modernidade, com algumas ruinas pelo meio e abandonos, o normal nas nossas aldeias que nos levou a ser uma por nos eleita para fazer parte de uma reportagem sobre o despovoamento rural, numa ação a que chamámos “Repórter por um dia” em que reuniu mais de uma dezena de fotógrafos e uma jornalista profissional, que resultou em várias reportagens em blogues e no Jornal “A Voz de Chaves”, esta de autoria de Sandra Pereira. Para recordar vamos de seguida aqui deixar aquilo que estão foi escrito e mostrado sobre Orjais.

 

Repórter por um dia na freguesia de São Vicente da Raia: 


(extrato/reposição) 

 04.04.2013

(...)

 

 

Estas aldeias raianas só são para velhos

 

Que contam as rugas das gentes que ainda habitam o nosso mundo rural? O que sentem quando vêem os filhos partir para regressar “de longe a longe”? Como lutam contra o isolamento e resistem à solidão? Respondemos ao apelo de um projecto de Animação Sociocultural do pólo de Chaves da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) – desenvolvido em parceria com a Associação de Fotografia e Gravura Lumbudus – e subimos pelas artérias da freguesia mais distante da “civilização” flaviense, São Vicente da Raia, até chegar ao coração de xisto das suas aldeias, abandonadas na serra raiana.

 

Por Sandra Pereira

 (...)

ORJAIS.

Finalmente surge aqui a revolta. “O meu nome é Manuel Fernandes e pode-me mandar para a prisão por aquilo que digo!”. Numa encosta longe da estrada principal e da vista, a aldeia de xisto esconde uma beleza singular e até vestígios de ocupação judaica. Toda a gente diz que “isto está mal”, que o Governo devia ajudar as aldeias em vez de “mandar os jovens emigrar”, mas sem convicção, pois hoje já ninguém acredita em nada. Manuel enerva-se e grita contra os políticos do pós 25 de Abril que “não souberam dirigir o dinheiro que havia” e deixaram que a sua linda aldeia chegasse ao ponto a que chegou, que até para ver futebol tem de ir a S. Vicente porque não se lembraram de lá fazer chegar a TDT. “Ninguém olha para o pobre! Gostava que me deixassem ir à televisão a Lisboa!”.

 

 

Manuel ainda se lembra de haver 12 rebanhos de ovelhas e 40 cabeças de bovino em Orjais. Hoje só um rebanho e nenhum gado. Habitam aqui cerca de 50 pessoas, uma única criança de 7 anos, e só duas casas é que não têm reformados. “Há mais pessoas no cemitério do que a viver cá!”.

 

 

Ninguém passa por Orjais”, confirma Nestor Santos, 45 anos. “É bonita como quem diz!”, desabafa, para não dizer que é pobre… e triste. É dos poucos que regressou à aldeia para não deixar a mãe sozinha, (...). Já pensou voltar a abandonar a terra, mas “agora é que não há muitas oportunidades para sair…”.

 

 

Antigamente, “havia agricultores na freguesia que colhiam 30 mil quilos de batatas e vendiam-nos!”, recorda Antenor dos Anjos, presidente da junta de S. Vicente da Raia há 24 anos. Ainda acredita que a solução para inverter os números da emigração é voltar a cultivar os terrenos com os devidos apoios, apostando nas cooperativas agrícolas e no turismo rural. Contudo, admite que “um presidente de junta pouco pode sem a ajuda da Câmara”, que também “pouco pode para as aldeias sem a ajuda do Governo”.

 

(...)

 

 


 

A reportagem de Sandra Pereira, também colaboradora deste blog que esperamos ter de regresso, continuava com uma abordagem às restantes aldeias da freguesia de S.Vicente da Raia. Reportagem que pode ver aqui na íntegra:

Repórter por um dia na freguesia de São Vicente da Raia

 

Até amanhã!

 

 

 

20
Set15

Por terras de S.Vicente da Raia


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 Segirei

Raramente falho aqui no blog. Ontem não apareci e hoje apareço tarde e mal, mas para tudo há uma justificação e eu tenho-a. Pensando como haveria de me justificar, porque isto das justificações é mais complexo do que aquilo que parece, pois parto logo do princípio que o, eu, não aparecer por aqui não tem importância nenhuma, aliás a grande maioria do pessoal que aqui vem nem sabe quem eu sou, nem onde penduro o pote, e isso até pouco importa, pois o que importa mesmo é que neste espaço esteja aqui qualquer coisa das nossas, diferente, todos os dias, senão, lá se vão os clientes… mas, para haver aqui qualquer coisa é preciso cá pô-la e aí, quer queiram ou não, lá terei de entrar eu, pois sou eu que ponho aqui as coisas. E já que assim é, vão ter que me aturar um bocadinho, pois não gosto de ser aldrabão como os políticos. Talvez aldrabão seja muito forte, digamos antes, então, não gosto de faltar à palavra dada (que é a mesma coisa que ser aldrabão, mas é muito mais soft, que traduzido para português (suave), significa mais macio, mas não deixa de ser aldrabão).

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Aveleda

Continuando o pensamento da minha justificação onde eu até nem interesso, vou ter de regressar uns trinta e tal anos no tempo, ao tempo em que estudava filosofia (por obrigação) e com a qual nunca me dei muito bem, tudo por intelectualizar, ou seja complicar, as coisas simples que toda a gente sabe. Mas às vezes, admito hoje, até dão jeito. Pois então, para a minha justificação de ausência regressei às Leis do Pensamento, até Aristóteles e à lógica clássica, até ao Princípio da não contradição em que defende que, duas afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, ou seja, que uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Pois foi o que aconteceu com a minha ausência, ou seja, uma vez que não estive por aqui, não pude estar aqui – e prontos, estou justificado. E até pode parecer brincadeira, mas é bem mais sério do que aquilo que parece…

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S.Vicente da Raia

Mas vamos ao que interessa, pois sou ciente que, o que querem é mesmo ter por aqui qualquer coisa de novo e, como ainda estamos em fim de semana, os habitués, querem por aqui o nosso mundo rural, aquele que hoje vos deixo um pouco em imagem – terras de S.Vicente da Raia, que sem mais explicações, corroboram a tentativa de hoje haver uma justificação de ausências. Não, fiquem descansados que não vou começar a filosofar outra vez, mas diz-me a experiência que entre as imagens ficam sempre bem umas palavrinhas explicativas, mesmo que pouco expliquem.

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Orjais

Ir até terras de S.Vicente da Raia é embrenharmo-nos ou adentrarmo-nos num mar de montanhas onde, de vez em quando, acontece vida organizada em forma de povoação. Ou era assim, pois embora as povoações ainda existam, a vida organizada nelas apenas resiste aos novos tempos, mas por pouco tempo, pois quando os resistentes partirem para a sua morada definitiva, apenas vai restar o que restar das povoações físicas. Mas pelos vistos isto pouco interessa a quem pode modificar as coisas, senão estejam com atenção ao atual campanha eleitoral que atravessamos (se tiverem paciência para), a dos senhores que são candidatos ao poder e ao destino de modificar as coisas e atentem quantas vezes se vão referir ao despovoamento e envelhecimento rural deste mundo interior…

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Cidadella (Galiza)

Voltemos ao rego e às terras de S.Vicente da Raia que para quem não sabe é constituída por quatro aldeias, a de S.Vicente da Raia, sede de freguesia, e Aveleda, Orjais e Segirei, a mítica Segirei que não podemos separar da sua estreita relação com Cidadella galega que esta sim, nos leva até às entranhas do mar de montanhas da raia.

04
Jan15

S.Vicente da Raia - Chaves - Portugal


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Hoje a porta abre-se para S.Vicente da Raia, uma das nossas poucas aldeias de xisto juntamente com as restantes aldeias da freguesia, a tal que já apanha com ares das terras de Vinhais.

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É também a freguesia mais distante da sede do concelho mas não o suficiente longe para não irmos por lá com alguma regularidade e as razões são muito simples – qualquer uma das aldeias da freguesia tem sempre motivos interessantes para descobrir.

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Mas há também a raia com a Galiza onde há uma das preciosidades que por si só merecem todas as visitas que fazemos por essas terras – os antigos caminhos do contrabando ao longo do riacho e das suas cascatas.

 

 

 

09
Jun12

S. Vicente da Raia - Chaves - Portugal


 

Ontem o poema do José Carlos levou-me até terras de S.Vicente da Raia, mas apenas nas imagens que no andar do poema as palavras iam desenhando e fez-me lembrar, que já há algum tempo que não mergulho naquele mar de montanhas.

 

 

Era inevitável hoje não cair no arquivo de fotografias daquelas paragens, mas fiquei-me só por S.Vicente da Raia e alguns pormenores, os do xisto que tanto caracterizam as aldeias da freguesia. Queria aqui trazer outras imagens, mas dei-me conta que nas últimas idas por aquelas bandas me distraí em demasia a contemplar o sobe e desce do tal mar de montanhas, e que na aldeia, me fui perdendo em conversas e descobertas sem ter dado a atenção de(vida) à aldeia do casario e aos seus recantos.

 

 

Escusado será dizer que vou ter de ir por lá outra vez, talvez nas férias, pois este ano como somos obrigados a passá-las na terrinha, graças aos Senhores de Lisboa, dedico um tempinho às aldeias, as mesmas que os ditos senhores têm esquecidas e desprezadas como se já não existissem e pior que isso, já não tivessem gente dentro, mas ainda há resistentes.

 

 

 

30
Mai10

Guerrilheiros resistentes


As imagens de hoje bem poderiam ser uma descrição do Portugal actual: Enferrujado, roto, mal remendado e com  bicas e bebedouros secos… mas não, é uma pura coincidência…

 

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Ou talvez a coincidência não seja tão pura assim, pois se as imagens até podem transmitir um pouco de romantismo e o bucólico que as nossas aldeias têm, também transmitem dificuldades, vidas difíceis, a velhice e o abandono. Realidades bem reais de hoje mas também de sempre que convidaram (para ser brando) ou obrigou (para ser real) os seus filhos a abandonar a terra mãe.

 

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Resistem apenas os resistentes, autênticos guerrilheiros numa luta desigual contra tudo e contra todos, contra um poder distante que tanto os oprime como ignora, numa luta que sabem nunca vencer,  porque a única arma que têm, é o amor à terra pela qual irão morrer para nela serem sepultados.

 

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Pelos guerrilheiros resistentes, pelo carinho que lhes tenho, ficam três imagens em jeito de homenagem. Esqueço e nego-me a ver a ferrugem das placas, o reboco quebrado, as paredes descoradas e os seus remendos, as bicas e bebedouros secos. Em seu lugar, vejo as rugas de rostos envelhecidos que impõem o respeito da idade, os momentos de toda uma vida e olhos cansados que sem força para chorar, resistem, apenas… em suma, vejo a arte com que os guerrilheiros resistentes enganam e ultrapassam os dias.


 

As imagens de hoje são de S.Vicente da Raia, a descrição e texto, são de uma qualquer aldeia de montanha do nosso concelho de Chaves ou, se quisermos alargar o território, são do interior Norte e transmontano de um país que se chama Portugal Desigual.

 

 

 


22
Nov08

Freguesia de S.Vicente da Raia - Mosaico


 

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Mosaico da Freguesia de São Vicente da Raia

 

Localização:

Extremidade nordeste do concelho de Chaves.

 

Confrontações:

Galiza, Concelho de Vinhais e freguesias de Travancas, Roriz, Cimo de vila da Castanheira e Sanfins da Castanheira.

 

Área:

36 km2 (a maior freguesia do concelho).

 

Acessos (a partir de Chaves):

– Estrada Nacional 103 (até à Bolideira)

- Estrada Nacional 103-5 (até Vila Verde da Raia)

 

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Aldeias da freguesia:

            São Vicente da Raia

            Aveleda

            Orjais

            Segirei

 

População Residente:

            Em 1900 – 715 hab.

            Em 1920 – 661 hab.

            Em 1940 – 792 hab.

            Em 1960 – 990 hab.

            Em 1981 – 605 hab.

            Em 2001 – 313 hab.

 

Principal actividade:

            - Agricultura

 

Particularidades:

Freguesia com características únicas em paisagens (mar de montanhas), confronta com a Parque Natural de Montesinhos e é a única freguesia do concelho onde as construções tradicionais têm o xisto como elemento principal. É a freguesia mais distante da sede do concelho, com S.Vicente da Raia a 26 Km de Chaves e Segirei a 35 Km.

 

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Linck para os posts neste blog dedicados às aldeias da freguesia:

 

            - São Vicente da Raia

            - Aveleda

            - Orjais

            - Segirei

 

Sítios na Net da freguesia:

 

            http://saovicente.no.sapo.pt/

            http://aveleda.paginas.sapo.pt/

            http://segirei.blogs.sapo.pt/

            http://segirei.no.sapo.pt/

 

 

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