Feira dos Sabores 2019 - Chaves - Portugal
Já começou ontem, sexta-feira, continuou hoje, sábado, e terminará amanhã, domingo, a Feira dos Sabores de Chaves, e claro, não poderia deixar de passar por lá para dar uma vista de olhos, o que acabei por fazer hoje ao fim da tarde.
Fiz o exercício de ir ver e ler aquilo que tenho dito neste blog ao longo do tempo em que esta feira existe. Regressei até ao ano de 2008, ano em que penso que a feira adotou o título de Sabores e Saberes de Chaves, onde dizia o seguinte:
E para aqueles que dizem que em Chaves nada acontece, temos a partir de amanhã e até Domingo a feira ou festival “Sabores & Saberes” de Chaves, com produtos locais e festival gastronómico. Depois de alguns ensaios de feiras e festivais, à moda do que está na moda em todas as terrinhas, Chaves ensaia agora os seus “Sabores” e “Saberes” e verdade se diga, sabores e bons não faltam por cá, saberes, também ainda vai havendo, assim se saibam saborear e dar a saborear e esperar também que pela qualidade e diversidade dos nossos produtos comece a atrair pessoal de fora e um dia se torne num grande festival.
Por natureza sou inocente e acredito em tudo que (me) dizem e nas coisas tal qual mas pintam. Mas já fui mais inocente, e embora hoje em dia continue a acreditar, também aprendi a desconfiar, ou seja, dou sempre o lugar à dúvida e não crio grandes expetativas para não acabar desiludido.
Em 2009, sobre a mesma feira dos Sabores e Saberes de Chaves, disse isto:
Ainda a feira “Sabores e Saberes” não se tinha realizado e já estava a ser um sucesso. Panfletos, cartazes e pendões de rua, notícias nos jornais nacionais e regionais, rádio e televisão, tendo mesmo honras da TSF com um programa em directo desde a feira e também da RTP no programa a Praça da Alegria, que segundo me contaram, contou com a presença “da feira” em estúdio e transmissões em directo desde as Termas de Chaves.
Pode-se dizer que em termos de publicidade a organização já sabe como é que os sucessos se vão fazendo.
Mas também isto:
Que bem pregou Frei Tomás, sempre foi assim, uma coisa é aquilo que diz, outra é aquilo que faz.
Como a ideia era boa, acreditei que esta feira de Sabores e Saberes de Chaves iria fazer a diferença, mas depressa mostrou que os sabores eram poucos e os saberes ainda menos, pelo menos (d)os nossos, e digo isto porque mais de metade da feira era feita com saberes e sabores de outras terras de Portugal. Certo que a feira ao longo dos tempos se foi alterando, pelo caminho perdeu os Saberes e hoje já só é feita de Sabores. Com o tempo tornei-me crítico desta feira, principalmente quando embriagados pela cegueira, inventavam sucessos e se mentia descaradamente, como aconteceu em 2010 em relação ao número de visitantes da feira (60.000), o que me deu para fazer alguma contas. Saliente-se que a feira nunca teve contador de visitas. Fora estas as minhas contas:
Quem sou eu para duvidar do contador de visitas e de pessoas do Sabor e Saberes, ou por em causa aquilo que é desenvolvido na noticia do certame, mas em jeito de quem se entretém a fazer do sudoku , resolvi fazer umas contas e umas comparações com tal número de visitas, então cheguei à conclusão:
- Como a feira durou 3 dias, em média recebeu 20 000 visitantes por dia;
- Partindo do princípio que abria às 9 e fechava à meia-noite, portanto aberta ao público durante 15 horas, recebeu 1333.3 visitas por hora, ou seja, 22,22 visitas por minuto, ininterruptamente entre as 9 da manhã e a meia noite.
- Se fossem utilizados autocarros para fazer deslocar a totalidade dos visitantes, teriam que ser utilizados 1200 autocarros.
- Pode-se também chegar a conclusão que o número de pessoas que visitou, corresponde a toda a população do concelho, acrescida de mais 15 000 forasteiros.
- Os visitantes encheriam 5 vezes, com lotação esgotada, o estádio municipal.
- Comparativamente com a Feira dos Santos (“100 000” visitantes), os Saberes e Sabores tiveram mais de metade dos visitantes.
- Sabendo que este ano cresceram 30 000 visitantes aos Sabores e Saberes, a manter-se a tendência na edição do próximo ano, as visitas dos Sabores e Saberes será igual ao número de visitantes da Feira dos Santos.
- Mas há mais números, pois se contabilizarmos o fumeiro vendido, cada visitante, em média, comprou 2 alheiras e uma linguiça além de ter comido um pastel. Como eu fui lá 3 vezes e não comprei nada, houve alguém que levou para casa 8 alheiras, 4 linguiças e comeu 4 pasteis .
E como o pior cego é aquele que não quer ver, para quê andar a gastar o meu tempo com estas coisas? a desgastar-me e mesmo a ter de pagar pelas minhas ousadias. Pois a partir de certa altura deixei de criticar este tipo de eventos, simplesmente passei a ignorá-los aqui no blog, embora a esperança de que as coisas mudassem me continuassem a levar por elas numa visita…
Entalada entre duas grandes feiras de fumeiro, mais antigas e com tradição (Vinhais e Montalegre) a cidade de Chaves não consegue competir com elas na componente do fumeiro. A ideia dos Sabores e Saberes, alargaria o leque de produtos para uma feira deste género, mas teríamos de ter algo mais para além do fumeiro para fazer a diferença. Agora a questão, as questões, grandes questões que eu levanto, são:
Qual o objetivo da nossa feira?
Os objetivos são atingidos?
Será esta a melhor forma de atingir esse objetivo?
Se nos libertarmos de preconceitos, estas questões são de fácil resposta, ninharias, insignificâncias para a grande questão que nos devemos colocar – Que futuros e qual queremos para a cidades de Chaves? Esta sim, é a verdadeira questão que todos os flavienses nos devemos colocar. Claro que os sabores são de extrema importância para a felicidade das nossas barriguinhas, mas penso que para responder a esta grande questão, precisamos mais de saberes do que de sabores. Esta fica para reflexão.
Quanto aos sabores de Chaves já sabemos que são bons, há é que saboreá-los. Em imagem deixo-vos alguns dos ingredientes para uma boa tainada, um bom almoço ou jantar mais ligeiro, talvez apenas faltem as verduras, umas couves, grelos ou nabiças e umas batatas.
Aparentemente há duas imagens (estas últimas) que parecem estar fora do baralho, pois vê-se logo que os retratados não são gente da nossa, não são de cá. De facto assim é, estão na Feira dos Sabores, mas são letões (da Letónia) que chegaram à feira por mãos da ADRAT – Associação de Desenvolvimento da Região do Alto Tâmega.
Trata-se de um projeto de cooperação LEADER “Local Craft Up” com a presença do GAL da Letónia “Zied Zeme” e vários dos seus promotores locais. O projeto participa na feira “Sabores de Chaves” através de uma mostra de produtos gastronómicos da localidade de Lielvarde, Letónia. Gente simpática que também têm bons sabores para degustar.