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E hoje vamos finalmente até Santa Cruz da Castanheira. Digo finalmente porque embora arrancasse de Chaves várias vezes com intenção de a fotografar, fui-me perdendo na sua envolvente e aldeias ou lugares vizinhos, e outros nem tanto, como S.Gonçalo. Como Santa Cruz ficava sempre ali à mão de semear, lá foi ficando sempre para uma próxima visita.
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Na realidade a freguesia à qual pertence Santa Cruz da Castanheira, Sanfins também da Castanheira, é um misto de proximidades e promiscuidades mas também de isolamentos, povoamentos e despovoamentos, vida e solidão, aconchego e desterro, de modernidade e antiguidades.
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Comecemos pela promiscuidades destas aldeias, que começa logo com a aldeia da freguesia vizinha de Cimo de Vila também da Castanheira, porque por ali anda-se sempre por terras da Castanheira, onde o concelho de Chaves começa a descer e a conhecer o seu términos e começa a entrar por terras de Valpaços e Vinhais. Mas ia dizendo que a promiscuidade começava logo entre Cimo de Vila e a sede de freguesia – Sanfins, pois as duas aldeias não estão separadas fisicamente. Mas desde Sanfins, esticando o braço, quase se toca em Santa Cruz e de Santa Cruz quase se abraça Mosteiro. São quatro aldeias que são quase como uma aldeia de quatro bairros que vivem no aconchego verde entre montanhas, onde estas foram um pouco simpáticas para com as gentes.
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Há depois as outras duas aldeias, uma quase perdida de esquecimento e que dá pelo nome de Polide, que brevemente passará por aqui. A outra, Parada, goza de vistas únicas para o mar de montanhas de Vinhais e vizinhança, aquele mar de montanhas do qual às vezes falo por aqui e por onde as terras e aldeias de S.Vicente da Raia e até mesmo Roriz, também navegam. È sem dúvida alguma, geograficamente falando, o local e terras ideais para definir fronteiras e por onde se entra por uma lado para o mais profundo do nordeste transmontano e pelo outro para um pouco de cheiro a terra quente, sem esquecer a Galiza (também profunda) que espreita ali perto.
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São terras e aldeias, que tal como os melhores vinhos do porto, têm de ser mastigadas devagarinho para serem apreciadas devidamente. É preciso entranharmo-nos nelas para se entender o tal misto de coisas e sentimentos onde a vida das aldeias foi mais generosa ou menos, conforme os tempos e as épocas, que têm muita história e estórias para contar de aldeias que sempre viveram no aconchego difícil de se viver na montanha.
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Terras de clandestinidades que passaram também por contrabandos, passagem de “peles” e até passagem e abrigo de guerrilheiros anti-franquistas, ou “os espanhóis” como lhes chamavam e por causa deles, estas aldeias viram também alguma da sua gente ser presa pela PIDE. Estórias de tempos difíceis de vida que todos querem esquecidas, por que hoje os tempos são outros. Tempos de modernidade e modernidades, que sem bons acessos, têm acessos dignos e pavimentados, água em casa, electricidade, telefone e a cidade da qual dependem hoje a uns minutos (largos) de distância, mas bem diferentes do tempo em que deslocações à cidade significavam um dia ou até mais, como era no caso da Feira dos Santos que agora temo à porta, em que as populações destas aldeias se deslocavam aos grupos até à cidade e por cá pernoitavam na espera do dia seguinte e faziam da noite da cidade uma festa.
Sem dúvida que não faltarão muitas estórias para contar, mas hoje quero mesmo é ir até Santa Cruz da Castanheira.
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Conheci pela primeira vez esta aldeia por intermédio de um amigo e colega dos tempos de liceu, em finais dos anos 70. Daquelas amizades que se fazem para toda a vida mesmo que estejamos meses ou anos sem nos avistarmos, e precisamente amizades que são duradoiras porque partilhamos muitos dos bons e também alguns maus momentos de juventude, como se a juventude tivesse maus momentos! Enfim, já se sabe que anos 70, em que as festas das aldeias e freguesias eram as nossas discotecas da altura. Pois um ano lá tocou também irmos até festa da terra do Zequinha. Poucas recordações tenho de então, mas sei desde essa altura que são gente amiga que hoje andam um pouco espalhados por esse mundo fora nas suas vidas, resta (da família) o presidente da junta, que é um dos resistentes de Santa Cruz da Castanheira e onde é obrigatório para sempre que vamos para aqueles lados.
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Santa Cruz da Castanheira fica a 27 quilómetros de Chaves e o acesso a partir de Chaves é feito pela tal via estruturante do concelho que o vai sendo a Nacional 103, em direcção a Vinhais, mas só até à Bolideira, pois a partir de aí, temos o Caminho Florestal (penso que ainda é assim que está classificada a estrada) que está devidamente pavimentada e que nos liga quase a um terço das aldeias do concelho. Ou seja, sigam em direcção a Dadim, ou Cimo de Vila, que logo a seguir é Santa Cruz da Castanheira, passando primeiro por Sanfins.
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Em termos de população, embora na aldeia haja sempre gente nas ruas e até crianças, casario novo, aliás até nem é uma aldeia típica das construções tradicionais do granito, os números oficiais apontam também para uma aldeia onde o despovoamento tem ganho alguma força. Em 2001 (Censos) havia 86 habitantes residentes, dos quais só 2 tinham menos de 10 anos e 6 menos de 20 anos enquanto que com mais de 65 anos havia 32 habitantes. Contra números não há argumentos, embora (como disse) ainda seja uma aldeia com vida, principalmente aos fins-de-semana com o seu auge no mês de Agosto em que muitos dos seus emigrantes vêm à terrinha matar saudades. Não tenho números nem dados, mas parece ser uma aldeia com muitos emigrantes.
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E agora um pouco da sua história, pois Santa Cruz da Castanheira, como toda a freguesia, foi local habitado desde tempos remotos. Testemunho disso foi a descoberta a nascente da Igreja de cinco sepulturas de pedra, sob um castanheiro, mas que foram injustificadamente destruídas. Há quem levante mesmo a possibilidade de esse local ter sido uma necrópole da Idade Média. A Igreja é de provável estilo renascença, construída no século XVI mas com alterações recentes a julgar pela sua torre sineira.
É da tradição que D. Nuno Álvares Pereira tivesse estado instalado neste lugar quando se deslocou de Bragança para Chaves em 1385, pelo que passou a ser padroeira da aldeia a Senhora da Orada e lhe tivesse sido erigido um templo.
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Numa das construções da aldeia e ao longo de toda uma fachada encontra-se curiosas inscrições, as quais não sou especialista na matéria para as decifrar. Penso descortinar por lá a data de 1569. Talvez com uma visita ao local com um especialista na matéria se pudesse retirar algo dos escritos. Segundo informações do proprietário da construção já por lá passaram alguns historiadores locais, mas nas minhas pesquisas não encontrei qualquer referência às inscrições. Talvez até existam, mas desconheço.
Por hoje ficamos por aqui no que diz respeito a terras da Castanheira. Falta Polide para as terras da Castanheira ficarem com visita completa do blog. Brevemente também está aqui para concluir a freguesia de Sanfins da Castanheira, mas pela certas que continuarão a ser aldeias que constaram no meu itinerário de passeios e visitas.
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E para terminar, Santa Cruz da Castanheira, como qualquer aldeia que se preze, também faz honras ao fio azul… o melhor.
Até amanhã, com mais uma aldeia do concelho.