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Ainda ontem passava por aqui mais uma estória do planalto do Brunheiro, daquelas que só o Gil Santos nos sabe contar. Pois hoje vamos até uma dessas aldeias do planalto do Brunheiro, uma das muitas aldeias do planalto todas diferentes, mas todas iguais na sua condição de montanha, dos tais Invernos rigorosos e difíceis que só, mesmo, os habitantes do planalto sabem vencer.
Vamos até Santa Marinha, uma das muitas aldeias do planalto do Brunheiro, quase todas elas pertencentes à mesma freguesia de Nogueira da Montanha, onde podemos encontrar as verdadeiras aldeias de montanha, lá bem no alto onde, imaginadas desde a cidade (porque não são visíveis) parecem estar naquela parte para lá da serra, onde a terra toca o céu.
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Mas só na nossa imaginação isso será possível, pois chegados ao planalto, se de verão, damos com toda a luminosidade de um céu azul bem distante e, se de Inverno, geralmente esbarramos com os ventos frios, nuvens que lá são nevoeiro ou então gelo de cortar e neve de encantar, más só para os que a vivem por breves instantes, pois para os habitantes do planalto, é uma neve que tanto tolhe os ossos, como os dias, que, obrigatoriamente se têm de viver junto à lareira.
Pois hoje é por Santa Marinha que vamos andar, a última das 11 aldeias de Nogueira da Montanha a passar aqui pelo blog, com o seu post alargado, pois já por cá tinha passado antes, com breves passagens.
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Santa Marinha fica a 17 quilómetros de Chaves e pertence à freguesia de Nogueira da Montanha. O acesso é feito a partir da já nossa bem conhecida E.N. 314 uma das três estradas nacionais que a partir de Chaves nos levam até outras terras e concelhos, neste caso, a 314 é a que nos leva até terras de Montenegro, não as de Chaves, mas as de Valpaços.
Pois partindo de Chaves no quilómetro zero da 314, mesmo naquela rotunda que não é rotunda, a tal polémica rotunda que não foi contemplada nas vergonhosas e dispendiosas obras que ligam Chaves a Valpaços para tudo ficar na mesma, avançamos para terras do planalto do Brunheiro (entre outras paragens). Chegados ao Peto de Lagarelhos, há que nos decidirmos por continuar na 314 ou descer para Loivos e Vidago. Continuamos a subida, passamos Lagarelhos e logo a seguir podemos virar à esquerda, em direcção a Santiago do Monte e aí optarmos pela estrada que nos levará até Santa Marinha, mas este não é o melhor caminho, não pelos medos ao “Pita” que o Gil Santos às vezes nos traz nas suas estórias, mas porque o caminho é mais longo.
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Há que seguir em direcção a France, e aí sim, antes ou depois desta aldeia (tanto faz) viramos à esquerda e penetramos em pleno planalto do Brunheiro. Para quem não tem GPS (físico ou mental), o melhor mesmo é virar à esquerda depois de France, que aí sim, logo a seguir temos Santa Marinha.
Chegado lá, não irão dar com uma grande aldeia, antes pelo contrário, pois é uma das aldeias mais pequenas da freguesia e do planalto, mas pela certa encontrarão uma grande aldeia em tudo que diz respeito ao verdadeiro espírito de uma aldeia de montanha.
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Meia dúzia de casas tipicamente de montanha, com o seu granito à vista, poucas aberturas que a pedra nem o frio consentem, uma pequena capela quase que escondida pelo pequeno núcleo e para além da estrada que atravessa a aldeia, existe praticamente uma só rua, mas não é uma rua qualquer, pois trata-se da Rua do Rei. Rei que pela certa não será monárquico em pessoa, mas talvez e, fica-lhe bem, o Rei Brunheiro, o Rei planalto, O Rei das Serras e Montanhas, o Rei das alturas, eu sei lá… sei que seria uma terra difícil para um Rei qualquer, terra onde só os resistentes sabem viver.
E chegado a Santa Marinha, as primeiras casas, novas, algumas ainda em conclusão, são mesmo de resistentes que, pela certa amam muito a terra mãe e não embarcaram no êxodo e no abandono duma terra que se tornou madrasta para quem dela tem de viver. Enfim, pelas políticas de Lisboa e por outras que por cá se praticam, vais continuar a ser uma aldeia que, infelizmente, convida mais à partida que ao regresso. Já vamos estando habituados a ser a paisagem de Portugal, onde quem por cá passa gosta do que vê, do que come, das gentes e dos ares, mas passada a breve passagem, não deixamos de ser um povo, como sempre, esquecido pelos ilustres senhores de Lisboa.
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Pena que as gentes desta, como quase todas as aldeias da montanha e do planalto, fossem e sejam obrigadas a partir para outras paragens, quando estas aldeias têm tudo que há de bom naquilo que a terra dá. Batata, centeio, castanho, floresta, pastorícia, tradição, e mesmo o frio, embora difícil, é sempre bem vindo para curar as carnes do porco que tão boas e únicas iguarias irão proporcionar ao longo do ano, onde até ainda existe o Presunto de Chaves, do famoso e genuíno, que cada vez é mais raro e tudo indica que é mais uma “espécie” em vias de extinção, um dos produtos que as gentes do planalto tão bem sabem fazer, que até já nem precisa de apresentação ou recomendação, pois já é famoso, mas que nada se faz para o salvar e lhe dar a sua verdadeira dimensão. Mas não tardará aí uma feira de sabores e saberes cá da terra, onde pela certa o genuíno presunto de Chaves marcará a sua ausência, mas continuarão a vir especialidades de outras paragens.
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Mais uma vez peço desculpa à aldeia convidada, mas sempre que vou por aldeias da montanha e se conhecem as suas potencialidades e realidades, só podemos ficar revoltados pela forma como são tratadas. Ainda um dia se irá lamentar verdadeiramente aquilo que estamos a deixar morrer, mas esse dia, já será de não retorno.
E por Santa Marinha é tudo e com esta aldeia o blog marca também o regresso às aldeias que ainda não passaram por aqui.
Até amanhã, com mais uma aldeia de Chaves.