Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

26
Out23

Cidade de Chaves - Feira dos Santos

Feira dos Santos de 2010


 

 

1600-Santos 10 (790)

 

Hoje fazemos um regresso à Feira dos Santos de 2010 que se apresentou seca e molhada, e a julgar pela roupinha que se vestia também foi fria, mas nem por isso se deixou de feirar. Ficam 5 imagens e tal como tem acontecido nesta série de publicações das feiras de outros tempos, são imagens a preto e branco, mas hoje fazemos uma exceção, com a última imagem a cores, apenas para realçar a iluminação das ruas que então se fazia e que dava outro colorido às ruas da cidade, mas a organização já há alguns anos que entendeu acabar com as iluminações e perdeu-se o colorido das ruas, mas a feira continua, com ou sem cor.

 

1600-Santos 10 (854)

1600-Santos 10 (706)

 

1600-Santos 10 (667)

 

1600-Santos 10 (964)

 

29
Out10

Discursos Sobre a Cidade - Por José Carlos Barros


.
.

 

 

 

Santos & Pecadores


um texto de José Carlos Barros

 

 

A questão não é a das memórias que tenho ou deixo de ter da Feira dos Santos. Porque a minha memória da Feira dos Santos vem da infância e da juventude, e a memória desses tempos não foi ainda capaz ao longo dos anos de trazer-me nada de que pudesse arrepender-me – incluindo os erros e os perigos, ou sobretudo isso. A questão, portanto, não é a da memória da Feira dos Santos: a dos carrosséis e das pistas de carrinhos de choque onde cheguei a fazer ultrapassagens de milagre nas curvas em U; a do fascínio das barracas, essa geometria entre a matemática dos quadros do Nadir e a perfeição abstracta dos fractais e da teoria do caos; a da gente tão diversa circulando nas ruas e nos terrados com sobretudos, mini-saias e legs ou samarras, e sacos de compras pendendo enquanto se dão boas-horas a esmo a olhar cores e padrões, a apreçar socos e cuecas, a comprar pijamas e capotes alentejanos; a do gado vagaroso, com esses olhos grandes a olhar-nos como se transportassem neles o tempo imemorial; e a dos bailes, como esse em que uma música me lembra ainda de não haver outra que se lhe possa sobrepor porque só eu, de um dos dois lados, a dançava; e a do polvo miúdo, e a do barulho das bolas dos matraquilhos contra a parede da linha de fundo, e a das cassetes piratas com a música pimba que calha tão bem, como nenhuma outra, com esta alegria e esta nostalgia de ser de novo a data de calendário da Feira dos Santos.


A questão, pois, não é a das memórias que tenho da Feira ou deixo de ter. A questão é que o mundo mudou. E a Feira mudou, ou está a mudar, ou vai mudar irreversivelmente, ou vai regressar a um pouco do que já foi não deixando de ser o que é. E essa, mais que a questão das memórias que temos dela, é que é a questão.


Nada sei, nada sabemos. O mundo vai mudando contra o nosso entendimento dos carretos que o movem. Nós assistimos às mudanças do mundo sem compreender que fios vinham de trás a ligar os fios que puxamos hoje.

Mudaram, além do mundo inteiro, e do entendimento que temos dele, as razões que justificavam a Feira dos Santos tal como cheguei a supor entendê-la: um mundo de gente vinculada à ruralidade, aos campos, à terra de aluvião ou das pastagens de gado, aos matos rasteiros ou aos mosaicos de hortas e nabais e bosques e agras de poila, à transformação dos produtos dos campos, às vinhas e aos pomares, ao comércio das panelas e dos tachos e da roupa de vestir – um mundo de gente que comprava e vendia, mercava, e se encontrava e se perdia numa prancha de pinho sob uma tenda de petiscos e vinho, e fazia os preços, e recomeçava, e se misturava às pessoas da urbe nessa complementaridade que separava as fronteiras para que elas se pudessem aproximar.

 

.

.


Veio depois um tempo de diluição. Um tempo em que a urbe e a ruralidade se juntaram, aos sábados, nos mesmos espaços de shopping; um tempo em que os empréstimos e o consumo e os juros nos aproximaram a todos na mesma impossibilidade de futuro. Chamam-lhe crise. Podíamos chamar-lhe outra coisa.


Um país evoluiu do sector primário para o terciário sem passar pelo secundário. Chamaram-lhe sucesso. Em menos de uma geração, num ápice, eliminou-se a ruralidade sem transições, sem continuidades, sem contiguidades: e aos afastados deste movimento de modernidade acolheu-os a segurança social, o subsidiozinho insustentável, a inserção – o desaparecimento, a invisibilidade, o desperdício.


A Feira dos Santos, hoje, inscreve-se num tempo de contradições e rupturas. Entre um tempo que era e deixou de ser e deixámos de saber o que é. Os matraquilhos não fazem sentido no tempo da internet, o polvo cozido não faz sentido no tempo dos hambúrgueres, os socos não fazem sentido no tempo do asfalto nos caminhos de saibro que não há, os produtos agrícolas não fazem sentido num tempo em que vamos durante o ano aos hipermercados comprar ervilhas congeladas da maggi.


Ou voltará, tudo isto, a fazer sentido. Se a realidade concreta nos demonstrar que estávamos errados e que é preciso regressar a um modo diferente de compreender o mundo, além da abstracção dos títulos da bolsa, das taxas de juro, dos empréstimos de longo prazo e do pib. E tudo, então, provavelmente, voltará a fazer sentido, e a Feira dos Santos voltará a ser a Feira dos Santos que a memória guarda.


Sei lá. Sabemos sempre tão pouco. E talvez esta confusa crónica, de alguém afastado e dividido, seja a única coisa a não fazer sentido num tempo que foi e deverá ser sempre de exaltação, nostalgia e encontro, porque o tempo é novamente, mais uma vez, o tempo de ser a Feira dos Santos.

 

 

 

27
Out10

Feijoada com Santos 2010


Está a aproximar-se a festa grande de Chaves, a verdadeira festa flaviense – a Feira dos Santos.


É uma feira e festa que faz parte do imaginário e da tradição flaviense, a única que consegue (para além das religiosas como o Natal e a Páscoa) trazer  a Chaves os flavienses ausentes.


.

.


Como todos os anos, faço por aqui os meus considerandos e renovo o sonho de uma verdadeira festa de Chaves, que já é grande, mas que poderia ser muito mais e afirmar-se mesmo como uma grande festa a nível nacional e internacional, mas… enfim, as ideias por aqui pouco mais conseguem de ir além dos bombos e concertinas…


.

.

 

Mas vamos ao documento oficial que saiu da habitual conferência de imprensa de apresentação da feira. A Azul o documento, a sépia e itálico - após cada parágrafo - os meus considerandos, pois não resisto….

 

.

.

A cidade de Chaves vai, mais uma vez, estar em Festa com a tradicional Feira dos Santos, sem dúvida um dos maiores eventos no plano sócio económico e cultural do Norte do país. O evento foi apresentado em conferência de imprensa, no passado dia 18 de Outubro.


Concordo, sim senhor, que esta é uma festa de tradição em Chaves. Agora quanto ao ser um dos maiores eventos no plano sócio económico e cultural do Norte do país…bem, lá diz a sabedoria do povo – “presunção e água benta, cada um toma a quer” – Como já disse atrás - poderia ser!...se…

.

.


A Feira realizar-se-á nos dias 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro, mantendo-se a localização das actividades da Feira, à semelhança dos últimos anos.


Fico grato em saber que a feira se mantém nos dias 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro, conforme manda a tradição. Quanto à localização, há o senão da feira do gado ser em “cascos de rolha” e o concurso no fosso do Forte de S.Neutel, ou seja, separam a feira do concurso quando o público alvo é o mesmo…mas na falta de melhor, apenas faço o apontamento (lamento de muitos) sem nada a opor.

.

.


A par das tradicionais “barracas” e dos stands de artesanato, os visitantes poderão contar mais um ano com a tradicional Feira do Gado, que decorrerá no Mercado de Gado de Chaves (na Zona Industrial, junto à Munível), com a 8.ª edição do Concurso Nacional Pecuário, que se realizará no fosso do Forte de S. Neutel como habitualmente e com o habitual Festival Gastronómico do Polvo.


Como do gado já falei, aqui só comento o sublinhado que vou repetir:  «a par das tradicionais “barracas”».


Concordo sim senhor, plenamente e ainda bem que a organização o admite, pois o programa da feira tem sido (todos os anos)  uma autêntica “barraca”, sem inovar, sem olhar ao essencial,  que seria promover a região e os seus produtos, a sua história, o turismo, a cultura, os sabores e saberes. Mas não, é preenchido quase na totalidade com as coisas que naturalmente acontecem na feira, só falta mesmo acrescentar alguns itens ao programa, como a venda de farturas no monumento, a venda de meias à dúzia na rua do estádio, o serviço de refeições nos restaurantes, a actuação musical dos índios no Bacalhau, a roupa contrafeita junto ao Forte de S.Neutel, a venda de calçado no Bairro dos Fortes e até a passagem do rio Tâmega por baixo das pontes flavienses, entre muitos outros itens que poderiam constar no programa, tal como consta a Feira Gastronómica do Polvo… e já agora, o que é feito da Feira Gastronómica do Presunto de Chaves!?  ou do Pastel de Chaves. Porquê o polvo à galega e ainda por cima caro “comó caralho”! – Desculpem o palavrão, mas não encontrei um termo que encaixasse melhor. Feira Gastronómica sim, mas com a nossa gastronomia, Há que abrir os olhos e Feira dos Santos seria uma boa oportunidade para uma feira gastronómica com as nossas iguarias. Mas enfim, já que a “barraca” é tradicional…

.

.


Pelo terceiro ano consecutivo, o comércio tradicional irá sair à rua, associando-se aos “Santos 2010” através da iniciativa da Procentro – Associação para a Promoção do Centro Urbano de Chaves - “STOCK OUT – O Comércio Sai à Rua”. Esta acção pretende envolver o comércio local da cidade, através da colocação dos seus “stocks” na rua, no sentido de facilitar o seu escoamento, contribuindo também por essa via para a animação e dinamização dos negócios e do próprio certame.


Concordo plenamente! E depois, alguma iniciativa há de ter a Procentro para justificar a sua existência…

.

.


O programa da Feira dos Santos 2010 conta este ano com algumas novidades ao nível da animação. A organização da feira decidiu-se pela realização apenas de animação de rua, com bombos, concertinas, gaiteiros, música tradicional e folclore, considerando por um lado o carácter tradicional da feira e por outro a instabilidade das condições climatéricas, que muitas vezes inviabilizam os espectáculos ao ar livre durante a Feira. Ainda no capítulo da animação, a organização envolveu este ano também as discotecas locais, procurando assim prolongar a animação da Feira noite adentro, nos estabelecimentos de diversão que a cidade oferece.

 

Aqui não sei se hei-de rir ou chorar (de pena e riso ao mesmo tempo) – novidades ao nível da animação!? – apenas animação de rua …por causa da instabilidade das condições climatéricas!!!! (boa!) Há aqui qualquer coisa que não bate certo. Então por causa do possível mau tempo não se fazem actividades ao ar livre, mas fazem-se na rua. Será que a animação de rua não é feita ao ar livre? Ou vão cobrir as ruas? Assim, põe esta ordem de ideias também se parte do princípio que se estivesse bom tempo garantido, as actividades eram de interior…..


Depois vem o envolvimento das discotecas…ao que parece, lá as convenceram a abrir portas durante os dias de Santos…pois tudo indica que nos anos anteriores fechavam durante este período dos Santos e se assim não foi, parece, pelo texto, parece… ingratos!

.

.


O evento, designado por “Santos da Noite 2010” marcará a noite do dia 31 e irá contar com a participação de quatro discotecas locais: “Amiça Bar”, “Platz”, “Press Disco Bar” e “Vanity Club”, que oferecerão uma bebida e a entrada sem consumo obrigatório (em cada um dos espaços) a quem apresentar a pulseira identificativa da festa. A pulseira custará 5€ para compra antecipada e 7,5€ para quem optar pela compra no próprio dia e será vendida nas discotecas aderentes, ACISAT, Associação Chaves Viva, Procentro, na sede ACISAT em Valpaços (Av. 25 Abril), em Vila Pouca de Aguiar na “Foto Nova Era” (Urbaguiar) e em Montalegre no Quiosque Estrela Norte (Largo Luis de Camões).


Esta ainda é melhor, senão vejamos: “O evento, (…) irá contar com a participação de quatro discotecas locais (…) que oferecerão uma bebida e a entrada sem consumo obrigatório (…) a quem apresentar a pulseira identificativa da festa. A pulseira custará 5€ para compra antecipada e 7,5€ para quem optar pela compra no próprio dia” – Bom, afinal em que ficamos!?  – é de borla ou a pagar 5 ou 7€ por bebida!? Pois se oferecem uma bebida por 5 € , se calha até era melhor nem ter feito acordo nenhum com as discotecas, talvez ficasse mais barato. Já agora, para quem é o dinheiro das pulseiras?

.

.

 

Bom, obrigado pelo texto oficial da feira, pois já há algum tempo que não tinha oportunidade de ler um texto cómico tão bom. O autor que se cuide, que vá fazendo as malas, pois qualquer dia ainda é contratado pelas “Produções Fictícias” para escrever para o “Gato Fedorento” ou para o Herman José!

 

Já agora um conselho (sem pulseira e tal como as discotecas não levo nada por ele): – Os responsáveis máximos pela feira deveriam começar a ler os textos oficias antes de serem publicados, o mesmo digo ao Sr. Presidente da Câmara, pois foi da página oficial da Câmara que o retirei. Não é por nada, mas quem fica mal no retrato, são sempre os responsáveis! E o povo, já sabemos, gosta de ver os seus representantes a sorrir no retrato.

 

.

.

 

Já agora, fazer uma conferência de imprensa para dizer que tudo vai ser na mesma, com as habituais “barracas” nos dias 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro, até nem era necessário, pois isso, já toda a gente o sabe. Nas conferências de imprensa lançam-se novidades e a não ser pela fotografia para os pasquins da terra, a manter-se tudo igual, nem valia a pena fazê-la. Mas, enfim, já que têm os fatos e as gravatas, há que lhes dar uso. Estão perdoados. Ah! E desta vez não chamei pavão a ninguém – que conste em acta.

 

 

Mas adiante – Vamos finalmente ao programa e, a par das tradicionais “barracas”, às novidades anunciadas em conferência de imprensa:

 

.

.

 

FEIRA DOS SANTOS – CHAVES 2010

 

Dia 30 de Outubro


10h30 – Arruada de Bombos e Concertinas

15h00 - Arruada de Bombos e Concertinas

16h00 – Sessão de Abertura, Biblioteca Municipal de Chaves

Open Internacional de Xadrez, Intalações da Toyota, Organização: Clube e Xadres de Chaves

 

.

.

 

Dia 31 de Outubro – Feira do Gado


8h30 – Feira do Gado, Zona Industrial (Junto à Munivel)

10h00 – 8º Concurso Nacional Pecuário, Forte de S.Neutel

10h30 – Arruada de Concertinas

12h00 – Festival Gastronómico do Polvo, Estádio Municipal de Chaves

14h00 – Festival de Folclore, Largo General Silveira

15h00 – Arruada de Concertinas

15h00 – Chega de Bois, Forte de S.Neutel, Organização dos bomveiros Voluntários de Salvação Pública

23h30 – “Santos da Noite 2010” – Amiça Bar, Platz, Press Disco, Vaniy Club

Uma pulseira, quatro espaços, qautro bebidas (Pré-venda: 5€; Dia:7,5€)

 

.


.

 

Dia 1 de Novembro – Dia de Todos os Santos


10h30 – Arruada de Gaitas

14h00 – Festival de Folclore, Largo General Silveira

15h00 – Arruada, Grupo Musical Tradicional

 

Todos os Dias


STOCK OUT “ O Comércio sai à Rua”

Feira de Stocks do Comércio Local

 

 

Deixando para trás a publicidade enganosa do cartaz, pois o designer recorre aos foguetes para ilustrar o cartaz, porque até o designer sabe que não há festa sem foguetes, vamos lá um comentário breve, pois o programa não merece mais.

 

.


.

 

É sem dúvida alguma, desde que a Feira dos Santos tem programa, o programa mais pobre de todos os tempos. Bem espremidinho, é igual a nada, vergonhoso e até insultuoso à dignidade flaviense. É sem dúvida alguma a habitual “barraca” aumentada e agravada corrida com bombos e concertinas à boa maneira da festa de antigamente para povo ignorante aplaudir – só falta o vinho e regressavam todos felizes a suas casas. Só que, meus senhores, já estamos no século XXI e a coisa não vai lá com bombos e concertinas a toda a hora. De novidade mesmo, só o open de xadrez e, neste, sejamos sinceros, nada tem a ver com a feira, a tradição e muito menos com um ambiente festivo de feira. Não estou a ver ninguém a vir à feira para perder horas a ver um jogo de xadrez. O xadrez, tem o seu ambiente, calmo e silencioso por natureza.

 

.

.

 

Nada mais digo a não ser, que talvez pudessem pedir emprestado o programa dos putos da UTAD, que sem meios e experiência, promovem em simultâneo a Semana Académica com actividades festivas que, qualquer uma delas, mete todo o programa da feira num chinelo quando esta feira, espante-se, é organizada e colaboram, a saber: a Câmara Municipal de Chaves, a ACISAT, a Chaves Viva, a Procentro e a Cooperativa Agrícola de Chaves – toda esta massa intelectual e associativa para trazer a Chaves Bombos e Concertinas, pois o resto (e até estes), fazem parte da feira naturalmente, pois mesmo que não fizessem parte do programa, aconteciam na mesma.

 

Há que ter vergonha e eu, como flaviense, sinto-me insultado com um programa vergonhoso (que nem digno de uma aldeia é), incompetente e insultuoso, pois se não o é, parece, que querem fazer de nós parvos.

 

Programa à parte, felizmente, a tradição manda mais alto e a Feira dos Santos continua a ser a grande festa da cidade de Chaves e da Região que, a não ser aproveitada pelos seus responsáveis para promover Chaves e o concelho, dispensava bem os disparates de um programa oficial, em que tudo que nele consta para além da tradição da feira secular (feira do gado, o comércio das barracas e as diversões/carrosséis), é areia para os olhos que em vez de animar uma festa, é um festival de desanimação.

 

Ai como eu gostava de elogiar um programa da Feira dos Santos!

 

 

 

 

Para finalizar deixo aqui o que tenho dito nos anos anteriores, sem alterar uma palavra, pois continua actual:

.

.

 

Desde há anos que digo e continuarei a dizer que a Feira dos Santos é a festa por excelência e com tradição da cidade de Chaves e, que seria uma boa oportunidade para, a par da festa da feira que se faz sozinha, promover Chaves e a região, quer turisticamente, quer nos produtos de qualidade que a terra e a região produz, como também na recuperação dos afamados produtos (marca de Chaves)  que estão em vias de extinção (presunto de Chaves, olaria de barro preto, a cestaria, etc.), mas ainda o termalismo e sobretudo na gastronomia, a montanha a natureza etc.

A par da feira comercial e tradicional (que se faz sozinha), exigia-se a promoção de Chaves e um verdadeiro programa de festa, com empenho também das associações desportivas e culturais, do pólo da universidade, das escolas, etc. Bastava um bocadinho de imaginação e empenho dos organizadores, que afinal até seriam eles  os primeiros beneficiários dos “lucros” que esta feira poderia gerar.

.

.

A par da feira, também a cultura, a arte, a música, a história tão rica que temos, poderia marcar presença, com exposições, colóquios e conferências, mas não… assim não pensam os organizadores e eu, tenho pena.  Destas cenas, a feira só conhece uma. Uma conferência de imprensa que por sinal se fez para dizer que na Feira dos Santos “há pouco a inovar” (1) . Está tudo dito, aliás nem sei para que se faz a conferência de imprensa, se tudo continua igual, pois a não ser pelos organizadores gostarem de sair no retrato, bem se poderia dispensar.

(1) – O texto é do ano de 2009. Este ano não foi dito que “há pouco a inovar” mas foi dito “A par das tradicionais “barracas”



 


Já agora, e é mesmo o remate final, se alguém quiser fazer um xixizinho nos espaços da feira, onde o pode fazer!? – Já sei que para os homens uma parede ou um tronco de qualquer árvore - serve (não deveria ser assim, mas no aperto que remédio) mas, e as mulheres!? Aqui nem sequer têm mar para dar razão ao poeta Ruy Belo no seu poema “Na Praia”:

 

 

Raça de marinheiros que outra coisa vos chamar

Senhoras que com tanta dignidade

À hora que o calor mais apertar

Coroadas de graça e majestade

Entrais pela água dentro e fazeis chichi no mar?

 

Ruy Belo in “homem de palavra[s]


 

Já chega! e o o mar, e o mar....

 

 

 

 

 


26
Out10

Pedra de Toque - A Feira dos Santos


.

 

A Feira dos Santos

 

 

 

 

Os Santos são um pouco a minha varanda de infância, balcão do espectáculo para o palco dos Quadradinhos, onde se exibiam os Robertos e o homem da cabra, exímio equilibrista com garrafas que, com seus variados números, deleitava a pequenada.


Era o tempo do Xarabaneco, uma figura dançante, da Mulher Aranha, pasmo para os da cidade e para os da aldeia e do Gigante Negro, oriundo da selva moçambicana, o homem mais alto do mundo.


Os Santos eram o comércio engalanando janelas, varandas, portadas com uma extensa gama de produtos e artigos das mais diversas proveniências, transformando as fachadas nos grandes escaparates da feira.


O Concelho, com as suas gentes, descia à cidade desde a alba, para vender e comprar cobertores e peúgas de lã quentinha, a samarra para o marido, os cacos para a mulher, as botas para o rapaz, o brinquedo para o pequeno.

 

.

.

 

O gado exibia-se tilintante pelas ruas do burgo, escoltado pelos criadores ufanos ou, já sol poente, por compradores eufóricos.


O bulício invadia praças e vielas, sombreado pela neblina, pelo fumo e pelo cheiro das castanhas bem assadas.

A noite caía ruidosa.


Lá em cima, ao Monumento, os carrinhos encetavam mais uma corrida, mais uma viagem, enquanto os carrosséis rodopiavam felizes, o perigo rondava no poço da morte e as farturas esparrinhavam no panelão de óleo, à espera da canela e do açúcar.

 

.

.

 

Com o tombar das horas, os cafés enchiam para a consumação – balanço dos negócios – ao abrigo da geada ou da chuva persistente.


Na calçada, as rusgas deslizavam ao ritmo da concertina do tocador, quiçá, de Travassos, das botas cardadas ou das bengalas batendo o paralelo.


A música e o bagaço temperador impediam o frio de tocar nos ossos.


Era assim toda a noite, até a fadiga vencer.


Os Santos eram a festa que toda a cidade profundamente sentia!


Nos últimos anos iniciou-se o desquite entre a cidade e a feira, e pouco se tem feito pela reconciliação.

As duras críticas dos comerciantes aos responsáveis, vão sendo uma constante.

 

.

.

 

O visitante lamenta-se, queixa-se da lama que pisa, do recinto pouco propicio para a diversão que procura, para a exposição que lhe interessa, da dispersão da loja ou da tenda para comprar, tantas vezes gato por lebre, quando levianamente se opta pelo primeiro feirante ao dobrar da esquina.


A cidade cresceu, aumentou!


É verdade que nos últimos anos, algo se tem feito pela tradicional Feira dos Santos, agora confrontada com o crescimento inevitável.


Ter-se-ão, no entanto, tomado todas as medidas necessárias em protecção do comércio local?


Que se tem realizado, de verdadeiramente atractivo, para estimular o visitante a voltar sempre?


Para quando um recinto próprio, relativamente central, cuidado e preparado para a instalação da feira?


Que se atinjam em breve estes desideratos, porque os Santos e a tradição que os envolve merecem ser a festa anual dos flavienses, a partilhar com os milhares de forasteiros que nesta época nos procuram.

 

 

 

António Roque

 

 

 

Sobre mim

foto do autor

320-meokanal 895607.jpg

Pesquisar

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

 

 

20-anos(60378)

Links

As minhas páginas e blogs

  •  
  • FOTOGRAFIA

  •  
  • Flavienses Ilustres

  •  
  • Animação Sociocultural

  •  
  • Cidade de Chaves

  •  
  • De interesse

  •  
  • GALEGOS

  •  
  • Imprensa

  •  
  • Aldeias de Barroso

  •  
  • Páginas e Blogs

    A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    H

    I

    J

    L

    M

    N

    O

    P

    Q

    R

    S

    T

    U

    V

    X

    Z

    capa-livro-p-blog blog-logo

    Comentários recentes

    • Anónimo

      Muito obrigado pela gentileza e pela amizade. Gran...

    • cid simões

      Quer a preguiça intelectual ou o dogmatismo, não a...

    • blogdaruanove

      Não data da década de 1930 a alteração realizada n...

    • Fer.Ribeiro

      Obrigado pelo comentário e um bom 2025.

    • Vagueando

      Um blog sem espalhafatos, mas com muita vida a cor...

    FB