Muito antes de haver os centros comerciais, as grandes superfícies e as suas lojas âncora, as lojas de marca, enfim, o tipo de comércio atual que nos entra pelos olhos adentro, havia aquele a que hoje chamamos o comércio tradicional e as oficinas das mais variadas profissões, que podiam não ser tão bonitos, luminosos e glamourosos como os de hoje, mas que fascinavam muito mais.
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Oficina de Sapateiro na Rua do Poço - Chaves - Portugal
Hoje, embora com os dias contados por falta de seguidores ou aprendizes, ainda vão resistindo algumas, poucas, e outras, já há muito que fecharam portas, pelo menos como existiam e que eu conheci muitas delas quando ainda era um puto. Eram quase todas, por muito boas que fossem, profissões duras, quase sempre sem as condições de higiene, segurança e, porque não, conforto que hoje consideramos condições mínimas. Profissões onde apenas se ganhavam uns trocados para viver.
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Oficina de Sapateiro na Rua do Poço - Chaves - Portugal
Chamava-lhes artistas e tinham nomes conforme a arte – Pedreiro, canteiro, alfaiate, sapateiro, latoeiro, amolador, barbeiro, capador… eu sei lá, havia artes e artistas para tudo. Admirava alguns, gostava de ver a arte de todos e de outros, confesso, que até sentia por eles alguma inveja, não de toda a sua arte, mas de algumas partes e momentos dessa arte, como aquele momento em que ao capador lhe eram servidos os tintins fritos num pratinho – uhhh! Fiquei sempre ougado por eles, pareciam deliciosos, nunca os provei, mesmo os dos meus requinhos, era sempre o capador de cicatriz na cara que os comia – nunca mais me esqueci da cara do homem.
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Oficina de Sapateiro na Rua do Poço - Chaves - Portugal
Claro que hoje as coisas estão muito melhores para os artistas mas continuo a recordar essas antigas artes e artistas que penso tive a felicidade de conhecer.
Hoje fica a oficina de um sapateiro. Prometo que um dia destes trago aqui o artista.