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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

28
Ago22

O Barroso aqui tão perto - Freguesia de Sapiãos

Freguesias do Barroso - Concelho de Boticas


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Freguesia de Sapiãos - Boticas

 

Como vem sendo habitual, a seguir à abordagem das aldeias de uma freguesia do concelhio de Boticas, deixamos aqui um resumo da freguesia, com alguns dados respeitantes à freguesia que não foram abordados nas suas aldeias. Assim como as duas últimas publicações diziam respeito às aldeias de Sapiãos e Sapelos, cuja sede de freguesia é a aldeia de Sapiãos, aqui fica o resumo dessa freguesia.

 

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Neste resumo, as imagens já foram todas publicadas nos artigos dedicados a cada uma das aldeias. Hoje fica apenas uma seleção com imagens das duas aldeias, Já os mapas, embora também tivessem sido publicados, têm algumas alterações de modo a adaptá-los à freguesia, nomeadamente o itinerário para chegar até à freguesia de Sapiãos, sempre a partir da cidade de Chaves, que, uma vez que Sapelos fica a caminho de Sapiãos, será apenas um.

 

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Claro que quando abordamos uma aldeia, em geral, deixamos aqui imagens das paisagens das aldeias/freguesia, do seu casario, de alguns pormenores de ruas e alguns dos seus motivos de interesse, mas as aldeias são feitas à imagem das pessoas que a habitam, a sua população. Mas hoje em dia essa imagem está um bocadinho deturpada, pois quase sempre a imagem da aldeia no seu conjunto, não corresponde à da sua população, isto é, ao contrário do que acontecia há umas dezenas de anos atrás, em que havia menos habitações, mas muitos habitantes, hoje, relativamente, acontece o contrário, há mais habitações, mas menos habitantes.

 

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E esta freguesia de Sapiãos até tem sido um bocadinho atípica em relação ao comportamento da população das restantes freguesias, isto porque entre os anos de 1864 e 1950 manteve mais ou menos a mesma população residente, mesmo nos Censos de 1920 em que quase todas as freguesias viram a sua população residente a diminuir consideravelmente, isto devido a três fatores, I Grande Guerra, emigração e a pandemia da gripe espanhola ou pandemónica, na freguesia de Sapiãos apenas perdeu 100 habitantes. No único Censos em que o comportamento é idêntico ao das restantes freguesias, é no de 1960, em que a população cresce em mais de 300 habitantes em relação aos Censos de 1950, atingindo um total de 1.286 habitantes. Já o comportamento pós 1960, embora com uma descida de população considerável, visto que atualmente a população da freguesia é de apenas 488 habitantes, graficamente desceu a pique de 1960 para 1970, mas a partir de aí a descida tem sido suave, ao contrário da maioria das freguesias (do concelho, do Barroso e da região) em que a descida é constante e muito mais acentuada, exceção para as sedes de concelho, vilas e cidades e, um ou outro caso isolado. Os porquês desta descida constante nos últimos 50 anos são conhecidos de todos, primeiro pela emigração para o estrangeiro ou migração das populações rurais para as sedes do concelho e outros grandes centros. Segundo, ainda a ver com a emigração, porque grande parte dos nossos emigrantes atuais já não regressam à sua aldeia de origem, ou simplesmente não regressam, terceiro, o não regresso da maioria dos nossos jovens, e não jovens, com formação académica superior, por não encontrarem na sua aldeia ou mesmo na sede de concelho trabalho compatível com a sua formação. Por último a redução drástica da taxa de natalidade. E sobre o assunto, ficamo-nos por aqui, pois hoje o tema é a freguesia de Sapiãos.

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

Quanto às nossas considerações pessoais sobre Sapiãos e Sapelos, bem como outras características próprias de cada uma das aldeias, já as fomos deixando nas publicações que fizemos para cada uma das aldeias, daí, chegamos àquela parte em que passamos a transcrever o que se diz na “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas” - separata da freguesia de Sapiãos. Desde já fica o aviso que se trata de uma edição da Câmara Municipal de Boticas do ano do mês de maio de 2006, pelo que há informação que poderá não estar atualizada, nomeadamente no que respeita a associações existentes e população atual. Só uma nota explicativa para a localização/itinerário que se vai fazer para as duas aldeias, pois enquanto que a nossa (que ficou atrás) é feita com o ponto de partida desde a cidade de Chaves, no texto que se vai seguir, o ponto de partida é a feito desde a vila de Boticas.

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

Freguesia de Sapiãos

 

A freguesia de Sapiãos, localizada a Este da vila de Boticas, confronta com várias freguesias: a Norte com Bobadela e Ardãos, a Este com Redondelo do concelho de Chaves, a Sul com Pinho e a Oeste com Granja e Cervos do concelho de Montalegre.

 

É constituída pelas aldeias de Sapiãos, sede de freguesia, e Sapelos, o acesso viário faz-se seguindo pela EN 312 até aparecer a indicação Sapiãos, por seu lado, para Sapelos segue-se pela EN 103 em direcção a Chaves.

 

A aldeia de Sapiãos encontra-se disposta na encosta Sul da Serra do Leiranco e a aldeia de Sapelos junto à encosta Norte da Serra do Facho. Protegidas a toda à volta por serras e montes, os seus pastos e campos de cultivo estendem-se ao longo da planície do Terva.

 

A freguesia ocupa uma área total de 21,1 Km2.

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

O desenvolvimento da população desta freguesia de Sapiãos acompanhou o movimento demográfico que caracteriza toda a região de montanha no Norte de Portugal tipificada por uma diminuição progressiva da população, com uma pirâmide etária invertida, onde os grupos etários mais baixos são diminutos e a população envelhecida aumenta.

 

Actualmente, tem aproximadamente 526 habitantes, sendo uma das freguesias com mais população o que em parte se explica dada a proximidade relativamente à sede do concelho. Todavia, seguindo a tendência que se verifica na generalidade das freguesias do concelho, esta freguesia tem vindo a assistir ao decréscimo da sua população, sendo que nos últimos 40 anos perdeu aproximadamente 59,1% da sua população residente. O gradual decréscimo da população que se registou, deve-se essencialmente à intensificação dos fluxos migratórios que se verificaram a partir os anos 60. Muitos foram os que partiram para o estrangeiro, para países como os Estados Unidos, Brasil, França e para outras regiões do país, em busca de melhores condições de vida. (E) migrar continua a ser uma opção para a população mais jovem dada a limitação local de ofertas de emprego.

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

Assim, quem permanece nas aldeias é essencialmente uma população marcadamente envelhecida, apenas um quarto dos 526 residentes tem menos de 25 anos.

 

Os níveis de alfabetização desta população residente são baixos, acompanhando o seu nível de envelhecimento, destacando-se o número elevado de pessoas sem nenhuma qualificação académica. Esta situação excepcional é suportada pelo elevado número de idosos, alguns deles regressados da (e)migração, em situação de aposentados.

 

No que se refere à área de actividade, a maior parte da população local, continua a dedicar-se à agricultura, essencialmente te de subsistência e à pecuária. Alguns trabalham na construção civil e no pequeno comércio local e outros na área dos serviços em instituições do concelho (Município de Boticas, Euronet, Santa Casa da Misericórdia etc.).

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

Na freguesia existem vários restaurantes, mini-mercados, cafés e pequenos salões de jogos onde os mais jovens se distraem.

 

Nas horas de ócio e sempre que o tempo permite as pessoas, especialmente os mais idosos, ainda têm o hábito de se juntarem nos principais largos das aldeias e junto aos cafés a conversar.

 

Em termos associativos existem na freguesia a Associação Cultural, Recreativa e Desportiva da Serra do Leiranco - Sapiãos, o Sporting Club de Sapiãos, a Associação Filarmónica, Cultural e Recreativa de Sapiãos e o Motoclube Unidos do Barroso.

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

MARCAS DO SEU PASSADO

 

Não é fácil conhecer o dia primeiro da origem da maioria das paróquias e freguesias. Excluindo uma ou outra que vem identificada nos documentos antigos, a maioria das aldeias têm origem desconhecida no tempo. Umas mais antigas outras de origem mais recente, sabe-se que a maioria destas aldeias são formadas a partir do agrupamento de famílias unidas por laços de parentesco ou afinidades económicas e profissionais que se organizaram em comunidade. Muitas das aldeias de Barroso têm a sua origem histórica no movimento de reconquista e povoamento do território iniciado com a formação do Reino de Portugal em 1143 e posterior fixação de uma ou mais famílias de povoadores. Teve particular desenvolvimento a partir dos finais do século XIII. Estes povoadores eram atraídos por contratos de aforamento cujos termos eram favoráveis à sua fixação, traduzidos em pagamentos de foros de valor acessível. Estes contratos são conhecidos como o processo de enfiteuse e eram promovidos indistinta mente pela Coroa e/ou pelas Casas Nobres e Senhorios Eclesiásticos.

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

São conhecidos alguns contratos de aforamento para as terras de Barroso o que nos permite pensar que a grande maioria das suas aldeias e povoados tiveram origem neste modo de povoamento[i]. Alguns contratos de aforamento são disso testemunho como é o caso do aforamento da "Póvoa" de Lavradas, feito nos finais do século XIII (1288 da era Cristā), no tempo do Rei D. Dinis, e que, tudo o indica, está na origem da actual aldeia de Lavradas[ii].

 

Sapiãos parece enquadrar-se neste modelo de ocupação e povoamento do território embora haja vestígios de ocupação civilizacional mais remota. Perto de Sapelos, entre esta aldeia e a de Nogueira, da freguesia de Bobadela existem vestígios de uma extensa escavacão mineira de ouro levada a cabo pelos povos árabes e romanos - O Poço das Freitas - que, certamente, deu lugar a determinadas formas de povoamento entretanto extintas. A doação do foral de Sapiãos em 1251 configura uma região. então despovoada, que era preciso ocupar e desenvolver como nele determina: que vós e toda a vossa posteridade tenhais a dita herdade e a povoeis[iii].

 

Em 1527 aparecem identificadas no “Numeramento” mandado fazer por D. João III, as povoações de Sapelos com 13 moradores, isto é fogos, e a de Sapiãos com 42 o que dá um número aproxima do de duzentas pessoas[iv].

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

OS CASTROS DE SAPIÃOS E OUTROS VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS

 

No termo da freguesia de Sapiãos existem monumentos proto-históricos, romanos e medievais.

 

Os Castros do Muro (Casas dos Mouros) junto à EN 103 (Chaves-Braga) e o Castro da Cerca (Sapelos) com as mu ralhas ainda bem visíveis, são um testemunho da ancestralidade daquela aldeia. Dos romanos chegam-nos as pequenas vias de acesso à grande Via Romana, que ligava Bracara Augusta a Aquae Flaviae, seguindo depois para Asturica Augusta, em Espanha.

 

A atestar a antiguidade da povoação estão ainda as várias sepulturas antropomórficas escavadas na rocha e a sua igreja românica datada do século XIII.

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

O FORAL DE SAPIÃOS

 

Algumas comunidades rurais tinham o reconhecimento régio ou senhorial de escolherem os seus próprios governantes através da carta de foral que lhes concedia o privilégio de constituírem os órgãos do seu governo. Daí sobrevieram várias formas de autonomia mais ou menos amplas. Eram expressas em cartas de foral ou outras formas de reconhecimento como os concelhos, que tomavam o nome de honras, coutos, concelhos, vilas e cidades, correspondendo a cada uma destas designações uma determinada dignidade municipal normalmente expressa na composição dos órgãos e corpos municipais. Mais simples nas primeiras e mais complexos nas últimas embora com estrutura e organização diversifica da de concelho para concelho[v].

 

Por concelho deve entender-se uma comunidade de moradores vizinhos dotados de autonomia administrativa, uma identidade colectiva de população e território. Uma ou mais aldeias e freguesias que juntas se governam por um conjunto de acórdãos, que comprometem e integram toda a actividade da população nos dominios económico, judicial, religioso e administrativo.

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

Ainda que tenhamos feito uma pesquisa não exaustiva do foral de Sapiãos não parece ter resultado uma autonomia municipal como vulgarmente se julga em relação à outorga de uma carta de foral. A verdade é que o Foral de Sapiãos tem o título de "foral que el rei D. Afonso concedeu ao concelho de Sapiães" o que prefigura a existência de concelho. Os documentos posteriores é que não confirmam a existência de uma comunidade com governo próprio e órgãos municipais constituídos. O referido Numeramento de 1527 é disso testemunho pois na descrição do “titulo da vila de Mõte Alegre de Barroso não refere a existência do concelho de Sapiãos ainda que o faça para os então existentes concelhos de Vilar de Vacas ( que mais tarde toma o nome de Ruivães), e o couto de Dornelas[vi]. Situação que se verifica também nos meados do século XVIII quando Sapiãos é referida como estando sob a autoridade do juiz de fora de Montalegre..

 

Alexandre Herculano verificou efetivamente que muitas cartas de aforamento de herdades reais a um ou mais foreiros, passadas por D. Afonso III, se transformaram em povoações. Parece ser o caso de Sapiãos que, como o foral prescreve, consta de uma herdade que o rei doa a um casal com a obrigação de a conservar e a povoar tendo por recompensa a protecção real[vii].

 

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

UM DOCUMENTO DE 1758

 

No ano de 1758 o Rei D. José através do seu ministro Marquês de Pombal desenvolveu um inquérito a todas as paróquias do Reino de Portugal continental que hoje se encontram no IAN/TT.  Este inquérito que foi respondido pelos párocos das freguesias era composto de três partes. A primeira respeitante à paróquia onde se tratava de saber da sua história, produções agrícolas, população, instituições locais, igreja e capelas com suas devoções e romagens, a segunda tratava da serra e das suas características, se tinha lagoas e nascentes, monumentos, capelas, caça e a terceira perguntava sobre os rios e ribeiros que nela existissem assim como das levadas, represas, moinhos, pisões e culturas nas suas margens. É graças a este inquérito que se pode obter uma visão mais ou menos completa de como era a freguesia de Sapiãos nos meados do século XVIII como abaixo se pode ver. Esta memória paroquial é particularmente rica de informação o que nos permite até imaginar como seria a vida desta comunidade paroquial.

É a resposta dada pelo pároco da freguesia de Sapiãos nesse ano o Padre Domingos Gonçalves que adiante apresentamos. Para melhor leitura foi actualizado o Português naquelas palavras que consideramos necessário, introduzindo-se-lhe pontuação e parágrafos.

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

Padre Domingos Gonçalves, Reitor da Paroquial Igreja de São Pedro de Sapiãos, termo da vila de Montalegre.comarca de Chaves, Arcebispado de Braga Primaz. Em virtude de uma ordem correr que do Reverendo Senhor - Doutor Bento Carvalho de Faria, Vigário Geral desta comarca de Chaves, - me foi apresentada com o edital dos - interrogatórios juntos, para lhes responder.

 

Faço certo constar esta freguesia de - São Pedro de Sapiãos de dois lugares: Sapiãos um e Sapelos outro, situados ambos num vale. Conta toda esta freguesia, de cento e sessenta e cinco fogos e pessoas nela existentes quinhentas e oitenta e três pessoas mais ou menos.

 

É do termo de Montalegre e sujeita à justiça do juiz de fora dessa vila e da Sereníssima Casa de Bragança, Provincia de Trás-os-Montes.

 

A paróquia desta freguesia, cujo orago e e o Apóstolo São Pedro, está situada na  estrada da Veiga que fica entre os ditos dois lugares. Tem três altares: um na capela-mor do dito Santo Apóstolo e dois colaterais, um da Senhora do Rosário e  outro do Santissimo Nome de Deus. No altar da Senhora do Rosário está a irmandade da mesma Senhora. Não tem naves- algumas.

 

 O pároco desta igreja é Reitor e de colação ordinária provida por concurso.

 

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Sapiãos

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Sapelos

 

Poderá render de um ano para o outro cento e quarenta mil réis de certos e incertos, pouco mais ou menos. Não há conventos, beneficiados, hospitais, nem casa de Misericórdia nesta freguesia.

 

Nesta freguesia há quatro capelas. Uma no lugar de Sapelos, da invocação de Santo Amaro, fabricada pelos moradores do mesmo lugar. Tem a mesma capela três altares: um de Santo Amaro, da Senhora do Amparo um e de S. João Batista outro. No lugar de Sapiãos há três capelas. Uma do Senhor, onde está o tabernáculo do Santíssimo Sacramento, é fabricada pelos fregueses excepto o azeite para a lâmpada que alumia o sacrário, que se dá pelos frutos da comenda, de que é comendador o ilustrissimo e excelentissimo senhor Marquês de Marialva. Tem a dita capela três altares: um do Senhor, outro do São Caetano e outro das Almas. Nesta há irmandade das mesmas almas, instituída autoridade ordinária. Há outra capela da invocação da Senho ra dos Anjos e de São Domingos, com um só altar, administrada pelo Reverendo António Alves Monteiro, Reitor da igreja de São Miguel de Bobadela. A outra capela, com um só altar, é da invocação da Nossa Senhora da Conceição, é administrada pelos herdeiros de Gonçalo Monteiro deste mesmo lugar e freguesia. Não há romagens nesta freguesia nem outras coisas dignas de especial memória.

 

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Sapelos

 

Os frutos que nesta freguesia se colhem em mais abundância são o centeio, milho, castanha e algum vinho. Fica distante da cidade de Braga, capital do Arcebispado, doze léguas e meia, e da de Lisboa, capital do Reino, setenta e duas léguas. Utiliza o correio de Chaves distante desta freguesia duas léguas e meia.

 

 Até ao vigésimo sétimo interrogatório não há nesta mais que responder por já estar respondido.

 

No distrito desta freguesia de São Pedro de Sapiãos há a norte uma serra chamada Leiranco, que terá duas léguas de comprido e, em algumas partes, uma de largo. Confina a norte com a freguesia de Santa Cristina de Cervos. Não há nela coisa alguma digna de memória das que se perguntam nos treze interrogatórios. Como apenas tem muitos penedos e pedras com algum mato de carqueja, ervideiros e urzes; é muito agreste, nela se criam alguns coelhos e perdizes.

 

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Sapelos

 

Pelo distrito desta freguesia de São Pedro de Sapiãos corre um rio do nascente para o poente, um rio que nasce na freguesia de Santa Maria de Calvão, desta comarca de Chaves e se chama rio Terva. Não corre caudaloso, por ser a terra plana, e pequeno, quase seca no Verão. Vai desaguar no rio Tâmega por baixo de Mosteirão, freguesia de Santa Maria de Curros. Há no dito rio uma ponte de pedra de cantaria que fica na estrada pública que vem da província do Minho para a praça de Chaves, desta província de Trás-os-Montes, essa ponte fica entre Sapiãos e Sapelos, lugares que compõem esta freguesia de Sapiãos.

 

No termo desta freguesia não há moinhos no dito rio. Os peixes que cria são algumas bogas pequenas. Ao que se pergunta nos vinte interrogatórios não tenho mais que responder por não haver no tal rio coisa notável de que se possa dar notícia.

 

Por ser verdade passei esta que assinei com os Reverendos António Dias Monteiro, vigário da paroquial igreja de Santa Marta de Pinho, e Manuel Dias, Vigário da paroquial igreja de São Salvador do Eiró. Ambas anexas desta matriz de São Pedro de Sapiãos e na forma dita a juro in verbo sacerdotis.

 

Sapiãos, 9 de Março de 1758.

Domingos Gonçalves

O Vigário de Santa Marta de Pinho António Dias Monteiro

O Vigário de São Salvador do Eiró Manuel Dias

 

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Sapelos

 

E por hoje é tudo, apenas nos falta deixar o vídeo que também será resumo, com as imagens de hoje e os links para os posts dedicados a Sapiãos e Sapelos.

Aqui fica, espero que gostem:

 

 

 

E já sabe que agora também pode ver este e outros vídeos no:

 

MEO KANAL Nº 895 607

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Ficam então os links para:

- Sapiãos 

- Sapelos 

 

 

 

 

 

 

[i] BORRALHEIRO, Rogério, 2005, Montalegre. Memórias e História, Ed. Câmara Municipal de Montalegre, pp. 80-87.

[ii] Ver Separata da Freguesia de Beça.

[iii] COUTO, Artur Monteiro do, 1998, Património hisrico de uma aldeia transmontana, Boticas, p. 32.

[iv] Tendo por base o índice de 4 a 5 pessoas por fogo. Arquivo Histórico Português. Vol. nº7, Julho de 1909, p. 272

[v] A título de exemplo veia-se que até 1834 a Câmara de Montalegre era composta por 3 vereadores e um procurador já a câmara de Tourém era composta por um juiz ordinário e 2 vereadores a do Couto de Dornelas por um juiz ordinário por 1 vereador e 1 procurador.

[vi] Arquivo Histórico Português, Vol. VII, no 7, Julho de 1909, p. 272.

[vii] Este foral esta publicado por COUTO, Artur Monteiro do, 1998, Património histórico de uma aldeia transmontana. Sapiãos Ed. Câmara Municipal de Boticas, pp 31-33.  

 

21
Ago22

O Barroso aqui tão perto - Sapelos

Aldeias do Concelho de Boticas


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Sapelos - Boticas

 

No último domingo iniciámos a abordagem da freguesia de Sapiãos, precisamente com a aldeia do mesmo nome. Assim hoje passamos para a segunda e última aldeia da freguesia, a aldeia de Sapelos.

 

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Sapelos que por sinal é a aldeia barrosã mais próxima da cidade de Chaves, a apena 9km da cidade, isto em linha reta, mas por estrada (N103) pouco mais é, pois fica logo a seguir a casas Novas/S. Domingos, ou seja a 14,4Km, 15 minutos de viagem, esta vai mesmo de encontro a esta rubrica de “O Barroso aqui tão perto” e também de encontro àquilo que muitos dizem, e eu também defendo, quanto aos limites do Barroso, um em particular, o rio Tâmega. Mas isso são contas de outro rosário, pois hoje o que interessa é a aldeia de Sapelos, aqui tão perto. Ficam os nossos habituais mapas e hoje também uma foto tomada desde a Serra do Leiranco.

 

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Não sei se repararam nas primeiras imagens que são de uma capela, um nicho e umas alminhas, que estão no recinto da capela. Todas elas estão na entrada de Sapelos, de ambos os lados da N103. Descendo à aldeia, temos uma igreja e um cruzeiro no centro da aldeia, um conjunto de cruzes do calvário e na saída para as minas romanas do Poça das Freitas/aldeia de Bobadela temos mais três alminhas à beira da estrada, distanciadas por umas centenas de metros.

 

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Não deixa de impressionar que na freguesia, apenas com duas aldeias, haja 6 igrejas/capelas, 4 cruzeiros, 8 alminhas, 2 calvários e um nicho, isto que eu tivesse visto, pois pode ser que ainda falte mais qualquer coisa, mas só por isto, vale a pena uma visita à freguesia, pois todas são interessantes e dignas de serem apreciadas.

 

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Mas voltemos a Sapelos, por onde passamos muitas vezes na estrada, mas que para se conhecer, tal como acontece em Sapiãos, é preciso descer até à intimidade da aldeia, e esta ainda tem muita vida e pessoas que gostam de conversar, pelo menos na nossa primeira passagem por lá para recolha de imagens, estivemos mais tempo a conversar do que a fotografar, e nunca é uma perda de tempo, antes pelo contrário, pois estamos sempre a aprender, principalmente com os mais idosos e com eles, vale mais uma conversa que uma imagem.

 

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Quanto à aldeia de Sapelos, mais uma do vale do rio Terva com bons terrenos agrícolas e já longe, ou melhor, já fora dos frios rigorosos das terras mais altas do Barroso, mesmo porque o vale do rio Terva está mais ou menos numa cota a rondar os 500m de altitude, tem dois núcleos de construções, o mais antigo na parte de baixo da N103, a cerca de 600 metros desta, onde as casas mais antigas se vão misturando com alguma mais recentes e recuperadas, num tipo de aldeamento concentrado, e um segundo núcleo, de construções mais recentes, compostas de moradias isoladas junto à N103 e ao nicho da entrada da aldeia.

 

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Quanto aos motivos mais interessantes da aldeia, alguns, os religiosos já os mencionámos atrás, mas a aldeia também é rica na sua história mais antiga, pelos menos assim os testemunham as marcas que ainda por lá existem, para isso e para não estarmos para aqui a inventar, vamos àquilo que nos dizem os documentos existentes, que, como já vem sendo hábito, lançamos mão ao que vem na publicação da “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas” que passamos a citar:

 

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Marcas da História Antiga

 

Castro do Muro ou da Cerca

Designação: Castro do Muro ou da Cerca

Localização: Sapelos (Sapiãos)

Descrição: O castro da Cerca ou Muro localiza-se a Nordeste de Sapelos, freguesia de Sapiãos. É um castro de situação baixa assente na encosta pendente pelo lado poente sobre o rio Terva, que lhe corre na base, ao fundo da encosta, e a cerca de 100 m da muralha fundeira. O castro é elíptico de eixo SW/NE, com um comprimento de 122 m e largura máxima de 47 m. Tem duas muralhas. A muralha cimeira tem patente e relativamente conservado o seu paramento interno, mas do lado do fosso a maior parte do paramento foi derruído. O paramento interno é de pequenas pedras de granito e o externo de pedras de quartzo, também pequenas. A segunda muralha está praticamente toda derruída, no entanto no topo do lado Sudeste e num comprimento de cerca de 60 m, ainda se patenteiam algumas pedras de granito da base dos paramentos, sobretudo do interno. Do lado Nascente há dois fossos, com largo lombo de separação, que seguem na base do talude e depois afastam-se da base da muralha e vão direitos à ribeira que desce a encosta e vai desaguar no Terva. Os castrejos podiam abastecer-se de água quer da ribeira, quer do rio Terva.

 

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Castro de Sapelos

Designação: Castro de Sapelos (Sapiãos)

Localização: Sapelos

Descrição: o castro de Sapelos fica junto à EN 103, ao km 151, no alinhamento da ponte pedrinha, assenta na crista do monte que lhe fica fronteiro pelo Nascente. Subindo pelo lado Norte deparamo-nos com um fosso com 3m de boca a rodear a fraga, que marca o início de um longo patamar com 155 m de comprimento e 40 a 45 metros de largura.

O patamar, ligeiramente ascendente, estende-se até ao cabeço onde assenta propriamente o castro, rodeado da muralha e fossos. O topo Sul do terreiro tem um combro de terra com o comprimento de 10 m e em média com 1 m de altura, que será resto da muralha de terra. O castro deve ter sido muralhado a toda a volta, do lado Nascente vê-se pedaços de muralha com 1 m e com apenas 3 fiadas de pedra de granito; do lado Poente, há uma fiada de pedra de granito em montão caótico, numa extensão de 50 a 70 metros, fiada que deve corresponder à segunda muralha. Muitas das pedras da muralha foram retiradas pelas pessoas para a construção de casas na aldeia. Não foram descobertos restos de construções no local, apenas dois pedaços de cerâmica.

 

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Quanto a festas e romarias temos sinalizadas:

Santo Amaro, 15 de Janeiro, e o Senhor dos Milagres, no 1º domingo de Setembro.

Como Património arqueológico, para além dos castros atrás mencionados, há a referência à ara de Sapelos e às minas, que supomos serem as romanas do Poço das Freitas. Quanto ao património edificado as referências vão para o cruzeiro (já mencionado), para a Capela de Santo Amaro (na aldeia junto ao cemitério), Santuário de Santo Amaro (junto à N103) e para o Forno do Povo, no centro da aldeia.

 

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Ainda em relação aos castros, que têm sempre o seu interesse arqueológico, mas que, quando existem apenas vestígios, já não são tão interessantes para a fotografia, mas o Castro de Sapelos, por cima da N103, vale a pena visitar, não apenas pelo castro mas também pela “varanda” miradouro que lá foi construído desde onde se pode lançar um olhar para todo o vale do Terva e para as suas aldeias, bem como para a Serra do Leiranco, embora esta se possa avistar desde a estrada e ao longe, até da cidade de Chaves se pode avistar (e o contrário também é verdade), a mesma que nos anuncia sempre as primeiras e restantes nevadas da temporada barrosã.

 

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E agora chegamos àquela altura em que nos despedimos e anunciamos o vídeo resumo com todas as imagens que hoje aqui foram publicadas, vídeo que também podem ver no MeoKanal e no nosso canal do YouTube.

 

Aqui fica, espero que gostem:

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no:

 

MEO KANAL Nº 895 607

E no YouTube, onde podem subscrever o nosso canal para serem avisados de todas as publicações que lá fizermos, e nós agradecemos. Pode passar por lá e subscrevê-lo aqui 

 

E quanto às aldeias da freguesia de Sapiãos é tudo, pois não há mais, assim, no próximo domingo,  teremos aqui o resumo da freguesia de Sapiãos.

 

 

15
Jul10

 

 

Bilhete da Rodoviária Nacional emitido durante a década de 1980.

 

Um bilhete que não dava para chegar até ao Larouco, mas dava para entrar já no Barroso. Efectuando este percurso, passamos pela hoje desactivada estação ferroviária do Tâmega e pelo castro de Curalha, pela localidade onde em 1837 se assinou a Paz dos Marechais, Casas Novas, por um dos mais pequenos aldeamentos do concelho, S. Domingos, para chegarmos a Sapelos, já no concelho de Boticas, e ao vale do rio Terva, onde se encontra o vetusto Poço das Freitas. 

 

Durante décadas a empresa rodoviária António Magalhães & Filhos, de Braga, assegurou as "camionetas da carreira" entre esta localidade e Chaves, passando também por Boticas e Montalegre. A concessão de tal trajecto foi herdada depois pela Rodoviária Nacional, que entretanto abandonou o transporte rodoviário regular nos concelhos de Boticas, Chaves e Montalegre, com excepção dos expressos que ainda servem Chaves.

 

Actualmente as ligações regionais entre estes concelhos, essencialmente destinadas ao transporte escolar, com diferentes itinerários e sem atingirem a cidade de Braga, são asseguradas pela Auto Viação do Tâmega, de Chaves. Esta empresa assegura também um serviço de expressos para Braga, passando este, no entanto, por Vila Pouca de Aguiar.

 

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