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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

29
Nov23

Ocasionais

Saudade


ocasionais

 

*Saudade*

 

 

-. Aos «resistentes» e aos «ausentes»,

da minha *Flavilândia*.-

 

 

 

Um dos colaboradores da minha estimação, do Blogue *CHAVES*, escreveu, há dias, sobre a “SAUDADE”:

- «Diz-se frequentemente que não tem tradução noutras línguas e que é um sentimento só nosso, dos Portugueses… (como se os sentimentos pudessem ser exclusivos de alguns povos…). Deixemo-nos de sobranceria».

Talvez porque nunca se tenha afastado muito, e durante muito tempo, para lá das fronteiras espanholas e das atlânticas, as suas “Vivências” da SAUDADE, tenham ficado por «saudades»   -   saborosos «recuerdos», gostosos «souvenirs», emocionantes e tão fugazes «encontros de terceiro, quarto ou quinto grau».

Sim. A saudade é um sentimento residente em qualquer Povo.

Mas ninguém como os portugueses exprime por uma só palavra esse lamento de amor e de ausência.

Nem os persas de DARIO nem os gregos de Jenofonte; nem Platão, nem Aristóteles; nem Espinosa; nem Ribot, nem Castilla del Pino souberam expressá-la, defini-la como um português:

*Floresce entre os Portugueses a saudade por duas causas mais certas em nós que em outra gente do mundo, porque de ambas essas causas tem o seu princípio: AAMOR re AUSÊNCIA são os pais da saudade, e como nosso natural é, entre as mais nações. Conhecido por amoroso, e nossas dilatadas viagens ocasionam as maiores ausências, daí vem que donde se acha muito amor e ausência larga, as saudades sejam mais certas, e esta foi sem falta a razão por que entre nós habitassem como em seu natural centro*.

D. Francisco Manuel de Melo, in “Epanáforas amorosas”.

-.-..--.-.-.

Txª. de Pascoais: - A SAUDADE tanto a descobrimos «em nosso coração como na montanha, no mar ou no deserto».

 

 

 

 

-.-.-.-

Em «Obras póstumas», na *Redondilha*, versejava Nicolau Tolentino:

MOTE

Distâncias e saudades

As nodosas carvalheiras

Que assombram ermas estradas;

Altas rochas, penduradas

Sobre medonhas ribeiras;

Duras, íngremes ladeiras,

Escuras concavidades,    -

- São as tristes soledades,

A quem meu cansado peito

Conta o mal que lhes têm feito

Distâncias e saudades.

 

e,

 

*Seria a vida um céu, uma ventura rara,

Uma ideal felicidade,

Se, por contrariar Deus, Satan não inventara

Isto só: - a SAUDADE!

….-

.- in “Anoitecer”, Cristiovam Aires

======’=======

MARIA LAMAS, na sua *Canção de Outono” fala de uma SAUDADE da qual, provavelmente, ninguém recorda:

 

*Dia sombrio e triste,

duma tristeza calma.

 

É o Outono, é o encanto suave

Das vidas que se extinguem devagar.

…-

Acorda na minha alma uma SAüDADE

Há muito adormecida –

- a SAüDADE de mim, daquela que eu  já fui,

Princesinha de sonho,

Menina ingénua e pura, a interrogar a vida, a sorrir ao amor.

……-…..

==========)======

 

ou,

 

**Saudade! gosto amargo de infelizes,

Delicioso pungir de acerbo espinho,

Que me estás repassando o íntimo peito

Com dor que os seios d’alma dilacera,

- Mas dor que tem prazeres - Saudade!

Misterioso númen, que aviventas

Corações que estalaram, e gotejam

Não já sangue de vida, mas delgado

Soro de estanques lágrimas - Saudade!

Mavioso nome que tão meigo soas

Nos lusitanos lábios, não sabido

Das orgulhosas bocas dos Sicambros

Destas alheias terras - Oh Saudade!

Mágico númen que transportas a alma

Do amigo ausente ao solitário amigo,

Do vago amante à amada inconsolável,

e até ao triste, ao infeliz proscrito

(dos entes o misérrimo na terra!)

Ao regaço da Pátria em sonhos levas,

- sonhos que são mais doces do que amargo,

cruel, é o despertar!.... **

Almeida Garrett-, in Invocação do Poema “Camões”.

 

-.-.-.-.-

E o *Menina e moça*, de Benardim Ribeiro, não vos (nos) diz nada da SAUDADE?!

 

-.-.-.-.-

-.-.-.-.-.-

 

E se lhe acrescentarmos, à palavra *SAUDADE*, a modulação e o tom «êstremôso» (extremoso) de um flaviense … do CANDO ou da GRANGINHA!...

Nas “Vivências” de cada um de vós, leitores, já visitastes cemitérios estrangeiros?

Quantas palavras «SAUDADE», no idioma local, encontrastes aí inscritas?

E nas lápides dos nossos cemitérios?

Quantos nomes próprios encontrais em espanhol, francês, italiano, alemão, mandarim, bengali, hindi, russo, japonês, árabe ... ou em Navajo?

Por esse Portugal fora, quantos não são os portugueses que têm por nome *SAUDADE*?

  1. por esse mundo fora, quantos o têm com «Recuerdo», «Souvenir», «Regret», «I miss you», «Te hecho de menos», «Anhelo», «Enyorança», «Verlagen», «Tocka», etc., etc.!

Nos «aerogramas» da *GUERRA do ULTRAMAR*, mesmo até só naqueles que eu escrevia, ditados por quem não sabia escrever, podeis encontrar mais SAUDADE que na homérica *ODISSEIA*.

E nem vos lembro quanta SAUDADE, anda nas rimas pimbalheiras e no FADO!

SAUDADE!

Até a tenda dos fatos, capotes e samarras que acrescentava mais fama aos *SANTOS*, de CHAVES, tinha por nome “CARDOSO da SAUDADE,”!...

E o galego D. Luís Alonso Girgado diz:  - «O tema da saudade -é ben sabido- é un dos máis constantes e característicos da poesía galega. Estudiada por numerosos ensaístas e cantada polos poetas, a SAUDADE semella ser unha clave esencial e fonda da alma galega e, conxuntamente, da portuguesa»!

A SAUDADE, é, realmente, uma palavra única!

NOSSA (na medida em que podemos considerar historicamente o Galego é Português como a mesma Língua).

 

E

 

Termino com um poema que me maravilhou na minha infância, tanto quanto me maravilhou o de Garrett.

SAUDADE

*Não conheces a «SAUDADE»

Pois dizes que nunca a viste,

Felizes os que não sabem,

Na verdade, que ela existe.

 

Vou contar-te, p’ra que saibas,

O mal que faz a «SAUDADE»,

E verás que onde ela entrar

Termina a felicidade.

 

A «SAUDADE» é a amargura

Que fica, do bem perder,

Nunca finda, sempre dura,

Por isso nos faz sofrer.

 

É tão amarga a «SAUDADE»,

Que dela queremos fugir,

Não mais se pode esquecer

Se a chegarmos a sentir.

 

A saudade é um martírio

Que nos turva o pensamento,

Matando a nossa alegria,

Da vida faz um tormento.

 

É tão triste uma «SAUDADE»

Quando é viva e bem sentida!

Entristece a nossa alma

Aniquila a nossa vida!

 

«SAUDADE», meiga palavra

Que tanta beleza encerra!

O peor dos sofrimentos

Que Deus nos deixou na terra!*

 

-.- Judith de Quenta Calheiros- (poema dedicado «À minha neta, Judith Fernanda de Quental).

-.-.-.-.

Bem avisava Victor Hugo:

- “Há locuções vulgares que têm o mérito de exprimir numa só frase uma ideia que mal se desenvolveria numa página”.

 

M., Vinte de Novembro de 2023

Luís Henrique Fernandes, da Granginha

27
Fev18

Praça sem Saudades


1600-(48584)

 

Praça sem Saudades

 

Dizem que a saudade é portuguesa, que não tem tradução literal em outras línguas, que é um sentimento português, e se procurarmos pelo seu significado encontramos coisas do género de ser um sentimento de mágoa e nostalgia, causado pela ausência, desaparecimento, distância ou privação de pessoas, épocas, lugares ou coisas a que se esteve afetiva e ditosamente ligado e que se desejaria voltar a ter presentes.  E na realidade a saudade e a razão da saudade, são coisas complicadas de explicar a quem não as sente ou tem, a quem não viveu e não tem memórias de um passado que não conheceu. Tomemos como exemplo o Jardim das Freiras do qual muitos flavienses têm saudades, eu incluído. Pois há dias, a minha filha disse-me não perceber porque há tanta gente que não gosta das Freiras, que ela até gosta…. Pois! Pensei eu, e de imediato lhe respondi – Pois! Porque não as viveste como eu as vivi. Claro que a minha filha não pode ter saudades do Jardim das Freiras, quando nasceu já não existia… Como se pode ter saudades de uma coisa da qual não temos memórias? — Não podemos. Ter saudades é ter memórias e não há nenhum mal nisso, antes pelo contrário, pois só temos saudades daquilo que verdadeiramente gostámos, daquilo que foi bom, dos lugares onde fomos felizes e ainda bem que essas memórias existem, pois são essenciais no viver um presente e na construção do futuro…

 

Pois tudo isto para vos explicar o título do post de hoje, o da Praça sem Saudades, porque de facto assim é — não tenho saudades desta praça — vejo-a todos os dias, continua a ter por lá a frutaria do Hélder, os pastéis da Maria, as mesmas pessoas de sempre com o viver dos mesmos dias em gestos repetidos, os cumprimentos de sempre, o vaivém de quem passa, e tudo por lá vai estando como sempre esteve. Está bem assim, é assim que gosto dela e espero nunca vir a ter saudades dela.

 

Bem, e agora bou-me que se faz tarde, e já estou com saudades da caminha…

 

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13
Out15

Chaves, duas imagens com chuva e algum paleio à mistura...


1600-(44489)

Já lá vai o tempo em que era obrigatório passar todos os dias pelo Jardim das Freiras, a então nossa sala de visitas, mas depois do atentado cometido, deixou de ser aquilo que era e perdeu todo o seu interesse. Mas ainda há “vícios” antigos que se vão mantendo e, um deles, é a voltinha à cidade nos fins de tarde de domingo, para ver se tudo está no sítio para o nosso regresso à cidade. Neste último, domingo, embora com muita chuva, não resisti a dar uma voltinha apressada pelo Arrabalde e lançar uns olhares sobre a Rua de Stº António, pois com’assim vai mantendo ainda metade de um largo interessante, depois da outra metade ser coberta com toneladas de betão para encarcerar uma descoberta quase divina. Mas fico no aguardo de tudo estar limpo para depois poder medir o grau do atentado.

 

Tudo isto vem porque com o tempo parece perder-se o gosto das coisas simples, as mais gostosas por sina. O despertar para o sentimento não foi da chuva nem do cinzentão do dia, mesmo não gostando da chuva, porque é chata e molha. Sou mais pelos nevoeiros e as geadas, que do verão, já apenas tenho saudades de quando era puto, porque geralmente significava férias grandes, muito canal,muito açude e até alguma praia. A idade fez com que goste mais daquilo que é moderado, primaveras e outonos, mas sem chuva. Ia eu dizendo que o desperta do sentimento não foi a chuva, mas o “marco” do correio, interessante, mas bem longe daqueles de ferro fundido em pontos estratégico da cidade (ainda existem e espero que por lá continuem para memória futura) onde metia-mos as nossas cartas, sim, porque eu ainda sou do tempo em que as escrevia, até aquelas, as ridículas de amor, com o desespero e ânsia da resposta que com sorte, vinha uma semana depois, sem sms’s, mail’s, skype's ou whatsApp (este descobri-o ontem). Ai como as coisas eram tão intensas, sem pressas, tão-tão!

1600-(44430)

Para terminar e em jeito de carta: Olha, por aqui continua a chover, mas o frio ainda não chegou. Quem chegaram, foram as primeiras barracas dos Santos que para não destoar mudaram outra vez de poiso.. Desta vez, nem a proximidade da Escola Industrial, nem a utilidade do espaço travaram o assentamento de arraiais, vá-se lá saber porque ou porque sabemos todos muito bem. Sem protestos de quem sempre tanto protesta com a proximidade dos divertimentos a incomodar quem estuda, mas nem há como estar alinhado na situação para os protestos se diluírem em concordância. Depois de, eu,  elogiar nos últimos anos a escolha de local para poiso dos divertimentos, este ano só me resta lamentar, mas hoje ficamos por aqui, que estes Santos prometem.

 

 

10
Abr10

E há quem se perca nas quintas do facebook!


São Cornélio

.

Penso que tive a felicidade de ter nascido aqui, em Chaves, transmontano, mas também a felicidade de na minha formação e em criança, ter a proximidade da terra do campo, uma aldeia (tipicamente aldeia transmontana)  nas origens, conhecer-lhe as virtudes mas  também a rudeza e dificuldades…e, em paralelo, ter a cidade, pequena e de província, mas também com as virtudes e defeitos das grandes cidades…

 

.

São Pedro de Agostém

.

 

Depois, um pouco e também a dose certa de descoberta do glamour e das luzes, das grandes cidades, da noite, da música, do fado e do jazz, a boémia, a arte, a poesia,  o underground, a gravata italiana, a finesse da cozinha à mesa, a tasca, novas culturas… enfim, já estou a falar-vos de idade e experiências que dão sabor, muito mais e afinado sabor àquilo que é nosso, ao nosso provincianismo e ser transmontano, à nossa cidade ou aldeia, à nossa casa ou quinhão de terra e de monte…e, pode-se estar a léguas, milhas de distância, nos confins do mundo, no cu de judas, na ponta de um arranha céus, no paraíso de uma qualquer ilha, amar e ser desses lugares todos do mundo, mas quando a saudade chama ou toca, é a terra que se suspira, as leiras, os caminhos de terra, o empedrado dos muros, o cantar do cuco, a côdea de pão e um copo de vinho da pipa e,  até da candeia e dos seus tempos se tem saudades.

 

.

Seara Velha

.


 

E se tudo isto é certo e verdade, também tudo isto é fado que arrepia e se chora quando se ouve. Aos velhos caminhos faltam-lhes os caminhantes da luta diária, às casas o calor da vida,  a alegria e traquinice das crianças e, as varandas já nada acolhem e os pátios não têm palha…apenas alguns resistentes ainda fazem a felicidade da saudade … enquanto que nas cidades, crianças crescidas, brincam nas quintas do facebook…

 

 

.

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