Ocasionais
Saudade
*Saudade*
-. Aos «resistentes» e aos «ausentes»,
da minha *Flavilândia*.-
Um dos colaboradores da minha estimação, do Blogue *CHAVES*, escreveu, há dias, sobre a “SAUDADE”:
- «Diz-se frequentemente que não tem tradução noutras línguas e que é um sentimento só nosso, dos Portugueses… (como se os sentimentos pudessem ser exclusivos de alguns povos…). Deixemo-nos de sobranceria».
Talvez porque nunca se tenha afastado muito, e durante muito tempo, para lá das fronteiras espanholas e das atlânticas, as suas “Vivências” da SAUDADE, tenham ficado por «saudades» - saborosos «recuerdos», gostosos «souvenirs», emocionantes e tão fugazes «encontros de terceiro, quarto ou quinto grau».
Sim. A saudade é um sentimento residente em qualquer Povo.
Mas ninguém como os portugueses exprime por uma só palavra esse lamento de amor e de ausência.
Nem os persas de DARIO nem os gregos de Jenofonte; nem Platão, nem Aristóteles; nem Espinosa; nem Ribot, nem Castilla del Pino souberam expressá-la, defini-la como um português:
*Floresce entre os Portugueses a saudade por duas causas mais certas em nós que em outra gente do mundo, porque de ambas essas causas tem o seu princípio: AAMOR re AUSÊNCIA são os pais da saudade, e como nosso natural é, entre as mais nações. Conhecido por amoroso, e nossas dilatadas viagens ocasionam as maiores ausências, daí vem que donde se acha muito amor e ausência larga, as saudades sejam mais certas, e esta foi sem falta a razão por que entre nós habitassem como em seu natural centro*.
– D. Francisco Manuel de Melo, in “Epanáforas amorosas”.
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Txª. de Pascoais: - A SAUDADE tanto a descobrimos «em nosso coração como na montanha, no mar ou no deserto».
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Em «Obras póstumas», na *Redondilha*, versejava Nicolau Tolentino:
MOTE
Distâncias e saudades
As nodosas carvalheiras
Que assombram ermas estradas;
Altas rochas, penduradas
Sobre medonhas ribeiras;
Duras, íngremes ladeiras,
Escuras concavidades, -
- São as tristes soledades,
A quem meu cansado peito
Conta o mal que lhes têm feito
Distâncias e saudades.
e,
*Seria a vida um céu, uma ventura rara,
Uma ideal felicidade,
Se, por contrariar Deus, Satan não inventara
Isto só: - a SAUDADE!
….-
.- in “Anoitecer”, Cristiovam Aires
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MARIA LAMAS, na sua *Canção de Outono” fala de uma SAUDADE da qual, provavelmente, ninguém recorda:
*Dia sombrio e triste,
duma tristeza calma.
É o Outono, é o encanto suave
Das vidas que se extinguem devagar.
…-
Acorda na minha alma uma SAüDADE
Há muito adormecida –
- a SAüDADE de mim, daquela que eu já fui,
Princesinha de sonho,
Menina ingénua e pura, a interrogar a vida, a sorrir ao amor.
……-…..
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ou,
**Saudade! gosto amargo de infelizes,
Delicioso pungir de acerbo espinho,
Que me estás repassando o íntimo peito
Com dor que os seios d’alma dilacera,
- Mas dor que tem prazeres - Saudade!
Misterioso númen, que aviventas
Corações que estalaram, e gotejam
Não já sangue de vida, mas delgado
Soro de estanques lágrimas - Saudade!
Mavioso nome que tão meigo soas
Nos lusitanos lábios, não sabido
Das orgulhosas bocas dos Sicambros
Destas alheias terras - Oh Saudade!
Mágico númen que transportas a alma
Do amigo ausente ao solitário amigo,
Do vago amante à amada inconsolável,
e até ao triste, ao infeliz proscrito
(dos entes o misérrimo na terra!)
Ao regaço da Pátria em sonhos levas,
- sonhos que são mais doces do que amargo,
cruel, é o despertar!.... **
Almeida Garrett-, in Invocação do Poema “Camões”.
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E o *Menina e moça*, de Benardim Ribeiro, não vos (nos) diz nada da SAUDADE?!
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E se lhe acrescentarmos, à palavra *SAUDADE*, a modulação e o tom «êstremôso» (extremoso) de um flaviense … do CANDO ou da GRANGINHA!...
Nas “Vivências” de cada um de vós, leitores, já visitastes cemitérios estrangeiros?
Quantas palavras «SAUDADE», no idioma local, encontrastes aí inscritas?
E nas lápides dos nossos cemitérios?
Quantos nomes próprios encontrais em espanhol, francês, italiano, alemão, mandarim, bengali, hindi, russo, japonês, árabe ... ou em Navajo?
Por esse Portugal fora, quantos não são os portugueses que têm por nome *SAUDADE*?
- por esse mundo fora, quantos o têm com «Recuerdo», «Souvenir», «Regret», «I miss you», «Te hecho de menos», «Anhelo», «Enyorança», «Verlagen», «Tocka», etc., etc.!
Nos «aerogramas» da *GUERRA do ULTRAMAR*, mesmo até só naqueles que eu escrevia, ditados por quem não sabia escrever, podeis encontrar mais SAUDADE que na homérica *ODISSEIA*.
E nem vos lembro quanta SAUDADE, anda nas rimas pimbalheiras e no FADO!
SAUDADE!
Até a tenda dos fatos, capotes e samarras que acrescentava mais fama aos *SANTOS*, de CHAVES, tinha por nome “CARDOSO da SAUDADE,”!...
E o galego D. Luís Alonso Girgado diz: - «O tema da saudade -é ben sabido- é un dos máis constantes e característicos da poesía galega. Estudiada por numerosos ensaístas e cantada polos poetas, a SAUDADE semella ser unha clave esencial e fonda da alma galega e, conxuntamente, da portuguesa»!
A SAUDADE, é, realmente, uma palavra única!
NOSSA (na medida em que podemos considerar historicamente o Galego é Português como a mesma Língua).
E
Termino com um poema que me maravilhou na minha infância, tanto quanto me maravilhou o de Garrett.
SAUDADE
*Não conheces a «SAUDADE»
Pois dizes que nunca a viste,
Felizes os que não sabem,
Na verdade, que ela existe.
Vou contar-te, p’ra que saibas,
O mal que faz a «SAUDADE»,
E verás que onde ela entrar
Termina a felicidade.
A «SAUDADE» é a amargura
Que fica, do bem perder,
Nunca finda, sempre dura,
Por isso nos faz sofrer.
É tão amarga a «SAUDADE»,
Que dela queremos fugir,
Não mais se pode esquecer
Se a chegarmos a sentir.
A saudade é um martírio
Que nos turva o pensamento,
Matando a nossa alegria,
Da vida faz um tormento.
É tão triste uma «SAUDADE»
Quando é viva e bem sentida!
Entristece a nossa alma
Aniquila a nossa vida!
«SAUDADE», meiga palavra
Que tanta beleza encerra!
O peor dos sofrimentos
Que Deus nos deixou na terra!*
-.- Judith de Quenta Calheiros- (poema dedicado «À minha neta, Judith Fernanda de Quental).
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Bem avisava Victor Hugo:
- “Há locuções vulgares que têm o mérito de exprimir numa só frase uma ideia que mal se desenvolveria numa página”.
M., Vinte de Novembro de 2023
Luís Henrique Fernandes, da Granginha