Vamos lá então até ao “Barroso aqui tão perto”, com dois dias de atraso. Hoje toca a vez a mais uma aldeia da freguesia de Salto, dá pelo nome de SEARA. Mas antes de lá chegarmos (em palavras, pois as imagens já vão entrando), vamos ter por aqui alguns andamentos, o primeiro – a confissão.
A confissão, ou um introito para dizer uma coisa…
Já o disse aqui, mas volto a repetir. Andei enganado com o Barroso durante anos a fio, para mim o Barroso conhecido era aquele que existia entre Chaves e Montalegre, umas idas a Pitões das Júnias e Tourém, e durante alguns anos de adolescente, aquando das idas para aquela que era a praia dos flavienses (Póvoa de Varzim), fui descobrindo o Barroso das barragens, ou seja, o Barroso da Estrada Nacional 103, na ligação de Chaves a Braga.
O Barroso era para mim o da “Terra Fria”, agreste, dominado pelo Larouco. Vá-se lá saber porquê, convenci-me de que conhecia o Barroso, muitas aldeias de passagem, e em algumas até entrei e ia apreciando o que via. Recordo por volta dos meus 14 anos ter ido a Tourém, onde fui com o meu tio de origem minhota, mas barrosão residente por via do casamento. Em Tourém, enquanto o meu tio foi tratar dos assuntos que tinha a tratar, eu fiquei à espera dele junto ao carro. Nisto começa a aparecer no fundo da rua uma manada pachorrenta de vacas, muitas vacas, nunca até aí tinha visto tanta vaca junta. Espanto meu quando algumas vacas começam a parar em frente às portas. 3 ali, 6 acolá, 4 ou cinco mais ao fundo, e por aí fora. Uma a uma as portas iam-se abrindo para as vacas entrarem e nas que não se abriam, as vacas permaneciam paradas, bem serenas à espera, enquanto as restantes continuavam os seus destinos. Não acreditei no que estava a ver, Quando o meu tio chegou, eu ainda com o espanto estampado no rosto, comentei o que tinha visto. Explicou-me que nas aldeias era assim, que tal e coisa… em suma, estava-me a explicar o que era uma vezeira. O que me intrigou e ainda hoje me intriga, é como o raio das vacas paravam de livre iniciativa à porta do dono.
Sendo eu flaviense de nascença, o único na família mais direta até eu ter nascido, tinha em Montalegre, terra da minha mãe, dos meus irmãos e de toda a família materna, uma das minhas outras duas terras. Era lá que tinha os meus tios, e primos e restante família e amigos da família, era por isso, também a minha terra, onde passava algumas férias, quase todos os natais e sempre o primeiro domingo de agosto, da festa do Sr. da Piedade, onde despertava com a alvorada dos foguetes, acompanhava a grande e penosa procissão desde a igreja da Vila até à longínqua igreja do Sr. da Piedade, a volta atrás para o almoço à sombra do arvoredo do Serrado, e de novo a descida até ao campo de futebol para ver a chega de bois. À noite a fiel presença no arraial e feito palula ia olhando o foguete no ar. Foi assim durante anos a fio. Sentia-me orgulhoso, conhecedor de todo o Barroso. Conhecia o Larouco e o seu planalto, as barragens, a Portela e a Vila como a palma das minhas mãos, a vezeira de Tourém, O mosteiro e cascatas de Pitões, o rio Cávado (bem gelado que era), o Sr. da Piedade e todas as estórias que Bento da Cruz contava no “Lobo Guerrilheiro”, mesmo antes de ele as contar em livro, já eu as conhecia de terem sido contadas à lareira, só que sem a mestria delas fazer um romance como o fez Bento da Cruz, mas com a mesma intensidade de as sentir.
Foi por estas e por outras que, depois de ter percorrido todas as aldeias do concelho de Chaves e de as trazer aqui ao blog por várias vezes, me lembrei de fazer o mesmo com o Barroso. Ainda antes de partir para todas as suas aldeias, desse Barroso que eu tão bem conhecia, presumia eu, comecei por algumas imagens da vila, depois algumas aldeias entre Chaves e Montalegre que conhecia quase todas, pelo menos de passagem. Surpreenderam-me alguns pormenores e algumas descobertas, mas nada com o qual eu não fosse a contar. E tudo foi assim, indo, até que comecei a ir para as aldeias além do planalto do Larouco, além de Pitões e Tourém, além da EN103 e das barragens dos Pisões, Venda Nova e Salamonde.
Com o tempo fui dando conta que estava a entrar num novo Barroso e em novos Barrosos desconhecidos. Em vez de ir de excursão, mais me parecia ir de incursão, envergonhado só de pensar que me dizia conhecedor do Barroso quando, afinal, até aí, não tinha passado além do seu hall de entrada e da sala de estar. Faltava-me descobrir o resto da casa, os quartos, a cozinha, os anexos, as cortes, os pátios, os seus animais de estimação, os seus jardins, as suas hortas, as suas serras e montes e até muitos residentes e vizinhos que eu desconhecia por completo. E quanto mais me adentrava por esse Barroso, mais surpreendido ia ficando, ora com o azul das serras espelhado nas albufeiras, ou com os matizes dos verdes só quebrado pelo azul do céu, com o dispersar e salpicar de vermelho dos telhados das casas, com a quantidade, formas e gigantesco penedio como nunca tinha visto, as cascatas, a água cristalina, a raça do boi barrosão, os moinhos e pisões, os canastros e ramadas que pensava não existirem no Barroso, as alminhas, a riqueza e quantidades de capelas e igrejas, os fojos dos lobos e paisagens, muita paisagem que nunca imaginei existirem. Da gastronomia, nem quero falar…só coisas boas, do melhor, mas tenho de pensar na brevidade que um post de blog deve ter, e recordemos que o nosso destino de hoje é Seara, e ainda só vamos a caminho…
Ando nisto de descobrir o Barroso vai para 7 anos, primeiro um pouco aleatoriamente, já com o sentir de “O Barroso aqui tão perto” e tão desconhecido por nós flavienses (a pensar nos outros, pois eu supunha já o conhecer), primeiro com as tais imagens da vila e alumas aldeias e as estórias da vermelhinha de Bento da Cruz, depois com os diários de Torga, com alguns roteiros para um dia, mas só em 2015 é que comecei a pensar a abordagem criteriosa de todas as aldeias o que implicava percorrê-las a todas, uma a uma, com o tempo que fosse necessário. Hoje, do Barroso de Montalegre apenas nos faltam uns pormenores, umas repetições, em suma, pretextos para ir indo por lá. Entretanto andamos na igualmente agradável e não menos surpreendente descoberta do Barroso de Boticas.
A freguesia de Salto – as primeiras impressões
Não quero, outra vez, fazer a abordagem dos vários barrosos. O que já disse, está dito, está dito. Abordemos antes os vários matizes do Barroso, tal como os matizes do verde com que a freguesia de Salto me surpreendeu, mas não foi à primeira...
As primeiras abordagens às aldeias de Salto foram feitas depois de já bem entrados nas terras da Chã, nas terras do Rio, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, depois descobertas todas as barragens, etc. Pensávamos que já não havia mais nada que nos pudesse surpreender, embora houvessem ainda alguns lugares emblemáticos por descobrir, como as Minas da Borralha (da freguesia de Salto) e algumas cascatas, por exemplo.
Ao entrarmos pela primeira vez em terras de Salto, fizemo-lo via Boticas. Recordo ter sido um dia confuso. Primeiro fizemos a aldeia de Pomar da Raínha, atraídos pelo curioso topónimo, fotografamos o que tínhamos a fotografar, achámos a aldeia interessante e regressámos à estrada. Recordo ter sido um dia parecido com estes que estamos a atravessar, um dia, meteorologicamente falando, incerto, de trovoada, que não demorou a abater-se sobre nós. Na noite anterior não deu para fazer o trabalho de casa completo, ou seja, estudar bem, ao pormenor, o itinerário. Também costumo presumir de ter boa orientação, e até vou tendo, mas com trovoadas, a minha bússola interna fica meia desorientada, ou desorientada de todo, tal como aconteceu nesse dia, e às tantas, andávamos perdidos, já não sei bem aonde. Reconhecia o nome das aldeias, mas pelas minhas contas não deveriam estar lá. Mas também de pouco adiantava, pois a trovoada e a intensa chuva não nos deu tréguas. Quando à noite cheguei a casa, botei-me aos mapas e cartas e verifiquei que antes de termos chegado a Salto entrei na estrada em sentido contrário, daí, quando me dirigia para Norte, eu pensava que me dirigia para Sul. Com um pouco de sol eu tinha resolvido o assunto, mas a tal trovoada, escureceu o dia, chovia que Deus a dava, confundiu-nos e estragou-nos o dia. A única coisa que recordo ter corrido bem, foi o almoço.
Nesse tal primeiro dia por terras de Salto, nem por isso trouxe boas impressões e como se costuma dizer que as primeiras impressões são as que valem, quando fui por lá da segunda vez, sem trovoada, entrei na estrada em sentido certo, mas de pé atrás, ainda recordava a vez anterior... Mas logo na primeira aldeia comecei a dar-me conta que, se calha, estava a ser injusto com as aldeias de Salto. À segunda aldeia confirmei que sim, a partir de aí rendi-me. Não era hábito todas as aldeias nos surpreenderem tanto e por igual. Era difícil dizer qual delas a mais interessante, a mais bonita, a mais verde… Tínhamos deixado para trás algumas aldeias, as últimas Reboreda e Tabuadela, íamos a caminho de Seara. Seria esta o patinho feio da família? Pois tudo indicava que sim. A paisagem começou a mudar. Atravessávamos uma montanha despida, à nossa esquerda, noutra encosta de outra montanha, uma densa floresta de pinheiros, enquanto a nossa que iamos calcorreando em curva, contra-curva, se apresentava bem despida, com alguma urze rasteira, talvez alguma carqueja, e a seguir mais uma curva, depois outra curva, mais outra e por aí em diante, e sempre a mesma paisagem, até que finalmente avista-se a primeira construção de Seara, nada surpreendente, prometia mesmo ser o patinho feio das aldeias de Salto…
E finalmente SEARA
E de repente, záz, a placa da estrada anuncia a aldeia de Seara, e lá ao fundo, depois de uma lomba da estrada, tudo parece mudar, um intenso e luminoso verde atinge-nos como um raio. Seria possível!? Era mesmo, aquilo não era real, era a miragem de um oásis.
Era por volta do meio-dia, calor intenso, a barriguinha já pedia alimento… era uma miragem de certeza, estávamos tolos da cabeça, pela certa enganei-me no caminho e em vez de irmos para SEARA fomos até ao deserto do SAARA…Parámos o carro, pareceu-nos ter visto uma pessoa, um homem à porta de casa, lancei-lhe um cumprimento, respondeu. Os meus camaradas de viagem e descoberta do Barroso também cumprimentaram, o homem respondeu novamente. Era real, estava numa casa real, SEARA era real, era verde, um oásis cheio de verdura e mais além, ao longe, um surpreendente mar de montanhas. Como estávamos num dia de calor de inferno, tínhamos acabado de passar pelas montanhas do purgatório, aquilo só podia ser o paraíso…
Pensava eu que o Barroso já não me podia surpreender mais, pois surpreendeu-me novamente, continua a surpreender e tenho a certeza que no Barroso que ainda me falta descobrir, agora já no concelho de Boticas, continuarei a ser surpreendido.
Pois Seara, parece mesmo perdida lá pro meio das montanhas e de certa maneira até está. É pelo menos uma terra no limite ou de limites, pois incrivelmente, ou calhou, está no limite da freguesia de Salto, mas também no limite do concelho de Montalegre e a apenas 1200 metros do concelho de Boticas e a outros tantos do concelho de Cabeceiras de Basto, está também no limite do Barroso, no limite do Distrito de Vila Real e no limite da província de Trás-os-Montes. O topónimo bem poderia ser Seara dos Limites, mas sem limites em interesse e beleza. Fiquei fã de Seara, LIKE! e ainda só entrámos...
Já que andamos pelos limites de Seara, vamos ao nosso habitual itinerário para se chegar à aldeia a partir da cidade de Chaves. Desta vez recomendamos apenas um, embora haja outro possível que sai dos itinerários habituais, e até se poderá fazer um bom troço por autoestrada, mas como também queremos desfrutar a viagem até Seara, vamos deixar essa hipótese também de fora, principalmente a desinteressante e dispendiosa autoestrada que só serve para galgar quilómetros.
Pois como podem ver no nosso mapa, o itinerário recomendado, costuma ser a nossa terceira opção, no entanto é sempre o primeiro para terras da freguesia de Salto mas também para todo o Barroso de Boticas, e não tem nada que saber, pois é só apanhar a estrada de Braga (EN103) até Sapiãos, aqui vira-se para Boticas, atravessa-se a Vila e segue-se em direção a Salto, que temos também de atravessar sempre pela rua principal até à saída para Reboreda, depois só temos Tabuadela e logo a seguir, ou quase, é Seara.
As pessoas e as casas
Ora cá temos um capítulo que nos é tão querido mas que nem sempre acontece. Refiro-me às pessoas e às conversas que vamos tendo com elas, mas também às casas, não só pela sua arquitetura tradicional exterior mas também pela sua intimidade.
E desde já peço desculpas por alguma gralha que aqui possa meter, principalmente nos nomes, nos acontecimentos que venha a relatar e outros, pois quando andamos na recolha de imagens e vamos em simultâneo falando com as pessoas, não podemos tomar apontamentos de alguns relatos e dada a distância temporal desde que estivemos em Seara, pois já lá vão dois anos, não nos lembramos ao pormenor das nossas conversas, mas o essencial ficou.
A primeira pessoa que vimos, já ficou numa foto atrás, à porta de casa. Foi-nos falando de Seara, do que era e do que é, e outras coisas que já não recordo, mas nos meus apontamentos registei o seu nome, Manuel, a sua idade, 80 anos e o facto de nunca ter ido a um médico e só ter dentes de origem. É um feito, sim senhor, principalmente para nós os da cidade que ainda a dor nos está a bater à porta e já estamos a correr para o hospital, e depois vai-se a ver e eram apenas gases entalados que não tiveram permissão de sair...
Recordo que após esta conversa, demos a nossa voltinha de recolha de imagens. Entrámos por uma rua que até nem parecia ter muito interesse para a fotografia, mas havia pessoas na rua, e chamou-me a atenção aquilo que parecia ser uma casa em obras de restauro que aparentemente preservava tudo que era original e no que estava feito imperava o bom gosto. Entrámos à conversa com um senhor, se bem recordo o Sr. José Fernandes, que era o proprietário da casa, que se fazia acompanhar de um outro homem, mais jovem, o seu “ajudante” no restauro da casa, que segundo apurámos, foi sendo feito com o trabalho de ambos. Casa que segundo nos informou o Sr. José é para se destinar ao turismo rural, preparando a casa, já nos acabamentos e pormenores, com tudo que a casa tinha de original, privilegiando os móveis antigos, da época da casa, que segundo um registo fotográfico que fiz, data do ano de 1709. Aliás é notório que em toda aldeia existem algumas construções centenárias.
Teve a amabilidade de nos mostrar com orgulho a casa e o seu trabalho. E se até aí já nos tínhamos rendido à aldeia e às suas vistas, acabámos por nos render mais uma vez, agora à casa, ao seu restauro e aos pormenores. Um deles, coisa que nunca tinha visto e de uma técnica simples mas surpreendente. Então não é que num dos compartimentos íntimos (suponho que um quarto no original) tinha um pequeno buraco na parede que dava para um pátio exterior, por onde se podia espreitar desde o interior e ver todo o pátio. Já desde o pátio, espreitando, apenas se via um pequenissímo troço de parede, quase nada. Uma espécie de monóculo que se utiliza atualmente nas portas dos apartamentos para ver as pessoas que nos batem à porta, mas este era apenas um buraco, sem qualquer lente ou mesmo vidro. O facto de não se ver nada para o interior, está na inclinação do buraco em relação à parede interior e na forma de cone do próprio buraco.
Dentro da casa tudo foi mantido e conservado, na cozinha os escanos, o lar de pedra no chão, na antiga adega, agora um compartimento de estar, manteve-se o lagar incluindo o seu singular sistema de espremer o bagaço, fora do lagar, sobre uma laje de pedra com uma caleira circular esculpida e saída do vinho por gravidade por uma outra caleira. Parece-me que para acondicionar o bagaço, poderia ser utilizada a estrutura de uma pipa sem os tampos. Curioso e nunca tinha visto um semelhante.
As vistas que se alcançam desde a casa também são surpreendentes, pois são lançadas para o verde dos campos com o mar de montanhas de fundo. Tudo janelas com as tradicionais e antigas namoradeiras onde as pessoas se sentavam para namorar, nem que fosse e só um pouco de sol nos dias frios ou alguma frescura e uma corrente de ar nos dias mais quentes.
Mas para além de nos mostrar a casa e todo o seu trabalho, o Sr. José deu-nos uma lição completa de história. Pena não ter registado tudo que me disse. Já no post de Reboreda falámos da ligação que D. Nuno Álvares Pereira tinha à freguesia de Salto, a Reboreda e outras aldeias. Pois o S. José contou-nos toda a História de D. Nuno, sua mulher Beatriz Pereira de Alvim e a sua filha Leonor de Alvim, que viveu em Seara e acabou por casar em segundas núpcias com o Duque D. Afonso ( o nosso, flaviense, que tem estátua em frente à Câmara). Um desterro para Cristelo, aldeia que hoje já não existe, mesmo ao lado de Seara, segundo li nos meus apontamentos, terminou numa história de amor entre o desterrado Gil Pereira de Alcassus e Sofia, a mulher de Pereira de Alvim. É aqui que nos meus apontamento entra a Santa Sofia, mas esqueci apontar o porquê. Fica assim incompleta a nossa reportagem histórica, mas pode ser que tenhamos oportunidade de a completar, não só porque queremos conhecer o que resta de Cristelo como queremos conhecer a versão final da casa de turismo de Seara.
Os Animais
Onde há gente há animais, de estimação ou “contribuintes” para a economia caseira. Vimos por lá um belo exemplar da raça barrosã, uma vaca e bem vaidosa, chamámo-la para a foto, parou e posou sem se mexer, não fosse a foto sair tremida.
O burro soube e também pediu uma, mas de perfil, com ar sério, de intelectual a procurar inspiração no mar de montanhas que fingia ver ao longe, apenas com a floresta de fundo. De perfil porque fica melhor.
Mas o burro não se ficou pela fotografia de perfil, quis também tirar uma foto de família, com a mulher e o filho mais novo. E o seu a seu dono. Os burros são do Sr. José. Quanto à vaca que atrás deixei, não sei de quem era, andava sozinha, solta e mais feliz como as vacas açorianas, suponho, embora todos os animais aparentarem ter um olhar triste. Já agora, porque é que os animais não sorriem!?
E desta vez não tivemos tempo para pesquisas, apenas fomos espreitar o que diz o livro Montalegre, onde nos fala principalmente do “clero” de Seara:
Vasco Gonçalves Barroso (séc. XIV) foi tetraneto de D. Egas, viveu no reinado de D. Fernando que o designou ou confirmou como alcaide do Castelo de Montalegre, em 1372. É mais conhecido por ter sido o primeiro marido de D. Leonor de Alvim – Senhora da Casa de Bragança enquanto esposa de D. Nuno Álvares Pereira. Diz o manuscrito do Padre da Seara que este D. Vasco morreu a jogar a barra com o morgado da Taipa, depois de render, isto é, a jogar o malhão, contraiu uma hérnia fatal e morreu, em 1376.
- Padre Gonçalo Barroso Pereira (séc. XVII) – Num manuscrito, pela maior parte de sua autoria, se apresenta desta forma: “Eu, o Padre Gonçalo Barroso Pereira, Reitor… de Salto, nasci no lugar de Seara desta freguesia, a meu pai chamavam André Pires e a minha mãe Inês Gonçalves, em Agosto de 1628.”… “Fui para a Vila da Ponte de 7 anos (1635) onde estudei com o Reverendo Giraldo Pereira aí vigário, primo direito de meu pai e não tive outro mestre.” Este manuscrito, em mau estado, as primeiras sete folhas quase ilegíveis e sem as últimas vinte, constituía-se, ao tempo, de noventa folhas e foi-me entregue para ser lido pelo seu possuidor, o meu grande e saudoso amigo José Jorge Álvares Pereira, de Pomar de Rainha. Foi-me penoso tomar apontamentos, dia e noite, em duas semanas, dos dados que então me pareceram mais curiosos, numa altura em que ainda não havia fotocopiadoras. Devolvi-o em tempo ao seu legítimo dono com quem passei muitas horas de alegria a interpretar os textos, alguns dos quais com imensa graça, arte e realismo. Julgo que o dito manuscrito já desapareceu, infelizmente. As notícias aí relatadas vão até 1703, já tinha o autor 75 anos de idade.
Padre João Barroso Pereira (séc. XVII), sendo também conhecido por Padre da Seara, por aí ter nascido, freguesia de Salto – deixou-nos um manuscrito datado de 1720 de bastante valor para a freguesia e respectivos habitantes que, ao longo do século dezanove foi muito mal copiado e adulterado. Contém, apesar de tudo, muitas informações e notícias de interesse local.
Quanto à Toponímia de Barroso, temos:
Seara
Vem do nome comum latino (exdrúxulo) Senara > Seara. Como se trata de nome formado com raíz pré-romana Sen acresceram dúvidas de acentuação e pronúncia. Talvez devido a isso se originaram casos de deslocamento do acento tónico e daí SENARA > Senra e serva ( por evidente hipérteses) que tudo são campos de cultura de cereais ou vinhas.
- 1258 «de Bezoo set de villa de Seara que omnes sunt monasterii de Palumbario» INQ 1512.
Seara era efectivamente a seara de dos habitantes de oppidum vizinho – “Crastelo” — ainda habitado nessa data como veremos — e cujos vestígios são evidentíssimos. Por tais restos se vê ainda hoje a evolução sofrida, ao nível das mentalidades e das condições materiais de vida, pelo homem primitivo, ou melhor, proto-histórico. O topónimo estav estabelecido em 1258 é, porém, a forma mais recente dos três nomes formados a partir de Senara! Deste mesmo étimo saíram também Senra e Serna e destes as Sernadas e Senradelas.
E ficamos por aqui. Ficam ainda as habituais referências às nossas consultas e dizer-vos que as abordagens que já fizemos às aldeias e temas de Barroso estão agora no menu do topo do blog, mas também nos links da barra lateral. Se a sua aldeia não está lá, em breve passará por aqui num domingo próximo, e se não tem muito tempo para verificar se o blog tem alguma coisa de interesse, basta deixar o seu mail na caixa lateral do blog onde diz “Subscrever por e-mail”, que a SAPO encarregar-se-á de lhe mandar um mail por dia com o resumo das publicações, com toda a confidencialidade possível, pois nem nós teremos acesso ao vosso mail.
BIBLIOGRAFIA
BAPTISTA, José Dias, Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre, 2006.
BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014.