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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

02
Set18

O Barroso aqui tão perto - Montes, Montanhas e Serras


1600-larouco (93)

 

Mais um sábado que passei pelo Barroso de Montalegre para amarrar umas pontas soltas do nosso levantamento fotográfico sobre as aldeias e outros lugares, com muitas paragens para registos que iam surgindo pelo caminho, como um arranque de batatas em Medeiros, um ângulo diferente sobre a ponte de Vila da Ponte, as inevitáveis e agradáveis conversas que vamos provocando com os residentes resistentes.

 

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Um sábado em cheio onde não faltaram as subidas às croas dos montes, montanhas e serras do Barroso, com muito calor, mesmo lá em cima onde a temperatura apenas descia uns míseros 2 ou 3º. Um almoço como os que costumam ser os almoços do Barroso, todos os ingredientes para chegarmos a casa de rastos com o corpinho a pedir, pelo menos, um pouco de sofá e a frescura das casas.

 

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Quero com isto dizer que com estas andanças pelo Barroso, depois ficamos sem tempo para preparámos mais uma aldeia para deixar aqui no “Barroso aqui tão perto”, mas o espaço existe e alguma coisa tínhamos que deixar por aqui, e nestes casos temos de facilitar a tarefa e preparar algo mais genérico. Porquê não os montes, montanhas e serras de onde todo o Barroso se avista e todas as montanhas e serras se dão a conhecer. Pois são essas as imagens de hoje, imagens do nosso reino maravilhoso.  

 

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E quando se fala em Reino Maravilho temos que evocar Torga. Fui, dentro do blog, à procura de Torga e do Reino Maravilhoso e encontrei por lá isto que não resisto a transcrever:

 

1600-cela (147)

 

“Chegado a casa, abriu-me o apetite para reler o “Reino Maravilhoso” de Torga, o mesmo de que tantas vezes se fala e se faz a citação das primeiras palavras do texto… “Vou falar-vos de um reino maravilhoso (…) fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores (…)  Vê-se primeiro um mar de pedras (…)— Para cá do Marão, mandam os que cá estão!... “ e nunca aparece o texto por inteiro, e é pena, pois todo ele é um poema que nos deixa nus perante a nossa identidade transmontana, o nosso ser, um retrato fiel daquilo que somos e que todo o transmontano tem obrigação de conhecer.”

                                         In https://chaves.blogs.sapo.pt/564005.html onde está transcrito o texto integral de “O Reino Maravilhoso” de Miguel Torga – Se é transmontano é de leitura obrigatória, se não o é,  também o deve ler para ficar a saber quem somos

 

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Quanto às imagens de hoje são de uma das pérolas desse “Reino Maravilhoso”, esta dá pelo nome de Barroso, com as suas serras e montanhas, com vistas que são vistas desde os seus pontos mais altos e desde onde as três principais serras do Barroso se avistam umas às outras, sendo que duas fazem um dos limites do Barroso (Serra do Larouco e Serra do Gerês) e a outra, está bem no coração do Barroso e dá pelo nome, como não poderia deixar de ser, de Serra do Barroso, todas acima dos mil metros de altitude.

 

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Pois são estas as nossas imagens de hoje, um pouco misturadas, mas todas elas tomadas desde a Serra do Larouco, desde a Serra do Barroso ou desde a Serra do Gerês, onde algumas são tomadas dentro delas para elas próprias, como acontece no caso da Serra do Gerês em alguns locais onde nada mais se vê para além do céu e da própria serra.

 

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E para a semana, próximo domingo, cá estaremos de regresso a mais uma aldeia do Barroso de Montalegre, nesta rubrica de “O Barroso aqui tão perto” quando levamos já mais 100 postagens dedicadas ao Barroso, aos seus lugares e aldeias ou temas do Barroso, e se pensam que isto terminará um dia, desenganem-se, pois o Barroso tem, de interesse, lugares, temas e motivos para toda uma vida.

 

 

09
Fev14

Soutelinho da Raia e o Barroso


Soutelinho da Raia

 

Pois estávamos nós em Chaves quando olhando para o Barroso as primeiras montanhas se apresentavam cobertas de neve. Se as primeiras estavam assim como não estariam as seguintes – era nevão garantido, e a baixa temperatura e um céu carregado de nuvens prometiam mais neve. Já o disse por aqui que em questões de neve sou pior que os putos, gosto dela, que se há de fazer? Pois não resisti à tentação e lá fui eu à procura dela. A primeira paragem é sempre Soutelinho da Raia, aldeia flaviense que abre as portas para o Barroso oficial.

 

Soutelinho da Raia

Quem por cá anda há algum  tempo sabe que os nossos  dias de inverno não são muito certos, mas pela a aragem já vamos sabendo aquilo com que podemos contar e quando está ar de neve já sabemos que ela anda próxima e nunca se sabe quando ela nos cai em cima, ou ao lado. O sol e o céu azul são sempre enganadores nestes dias, pois nem tudo que parece, é, são antes coisas dos nossos invernos, e num de repente  lá se vai o sol à vida e o azul dá lugar a um cinzento escuro carregado que não tarda a cair sobre nós sem qualquer cerimónia em forma de chuva fria (cá em baixo no vale) ou  de neve nas terras mais altas da montanha.

 

Soutelinho da Raia

 

Como dizia atrás estes dias de Inverno são sempre enganadores, e desta vez até a mim me enganaram, pois chegado a Soutelinho da Raia o sol apareceu com tal força e o céu carregou-se de tal forma de azul que pensei ter a tarde de neve perdida, mesmo porque a neve  das ruas e dos telhados com a intensidade do sol deu para derreter, mas já que estávamos por lá, havia que aproveitar a luz que acabaria por ser de revelações.

 

Interior da Igreja de Soutelinho da Raia ( a imagem "fantasma" são coisas do longo tempo de exposição da fotografia)

 

Já se sabe que quando entramos nas aldeias as pessoas gostam de saber ao que vamos, o que no nosso caso não é difícil de saber, pois a câmara fotográfica denuncia-nos, mas um cumprimento é sempre obrigatório e de boa educação, mas acrescentar umas palavrinhas de circunstância ajudam sempre a criar um bom ambiente e, se tivermos tempo, podem-nos levar a verdadeiras revelações que nunca aconteceriam num cumprimento passageiro. Pois ao cumprimento acrescentei a lamentação do sol me estragar a neve para a fotografia e as palavras que recebi ainda eram de esperança – «Ontem também estava assim e de repente começou a ficar escuro e caiu pr`aí neve que cobriu tudo, mas se querem ver coisas bonitas é irem ali à igreja que estão a descobrir lá umas pinturas antigas nas paredes». Não nos fizemos rogados e já que a neve parecia ter ido para o galheiro sempre tínhamos as tais pinturas para descobrir – e descobrimos.

 

Ex voto pintado nas paredes da Igreja de Soutelino da Raia, datado de 1748

 

Por sinal uma agradável descoberta . Tratam-se de frescos, um deles datado de 1748, um ex-voto, sendo os restantes talvez da mesma época. Mas sobre os frescos falaremos oportunamente quando o trabalho estiver concluído e quando tivermos mais pormenores. Trabalho que está a ser realizado por uma empresa da especialidade às custas da fábrica da Igreja e que segundo entendi, sem qualquer apoio monetário a nível oficial, o que poderá por em risco a conclusão dos trabalhos. Louvo a atitude e o interesse da fábrica da igreja e temos pena que as tais entidades oficiais ignorem estes interesses, mas não é de admirar, pois agora há sempre a desculpa da crise, pelo menos para estas coisas,  a mesma crise que faz com que até todo o valioso (mais cultural que monetário) espólio de Miró que está em mãos do estado seja vendido sabe-se lá para onde ou para quem.  Procura-se o lucro fácil e rápido e perde-se toda uma riqueza cultural e mesmo financeira com o encaixe que esta coleção de Miró poderia trazer ao estado no futuro, mas tudo é de esperar de um governo que vende as suas joias e património cultural e que nem sequer tem um ministério que se dedique à cultura.

 

 

Pois teremos pena se o trabalho de por à vista todos os frescos da Igreja de Soutelinho da Raia for interrompido por falta de verbas, mas vamos acreditar que pelo menos haja alguns mecenas que queiram ajudar. Sobre o assunto iremos dando por aqui notícias e fica prometido um trabalho mais aprofundado sobre o assunto.

 

Soutelinho da Raia vista desde o Adro da Igreja

 

Mas regressemos à neve que, no entretanto da descoberta dos frescos, também voltou a cair em Soutelinho e com promessa de continuar pela tarde fora para repor o branco que nos levou até essas bandas da entrada no Barroso.

 

Soutelinho da Raia - Adro da Igreja

 

E já que estávamos na entrada do Barroso porque não entrar nele, mesmo porque os tais frescos da igreja nos levavam a entrar no Barroso para falar com o pároco da aldeia, o Padre Fontes, por sinal também ele um símbolo do Barroso e já que o destino passou a ser Vilar de Perdizes, porque não ir um pouco mais além, onde a neve bate sempre como quem chama por nós., e desta vez chamou mesmo.

 

Soutelinho da Raia - Ao fundo já se avista o Barroso

 

Meixide, Solveira, Gralhas e finalmente Montalegre, uma das capitais do Barroso, a do Norte, pois a do Sul é reivindicada por Boticas e na realidade assim deve ser, pois o que dá nome à região é a Serra do Barroso, com o ponto mais alto nos Cornos do Barroso  (Alturas do Barroso) a 1279m de altitude (a oitava maior elevação de Portugal Continental). Pois embora o ponto mais alto e grande parte da Serra do Barroso estejam em terras de Boticas também é certo que a vertente Norte da Serra do Barroso, já “verte” para terras de Montalegre que rematam precisamente numa outra serra - a Serra do Larouco.

 

Ao fundo a Serra do Larouco visto desde terras de Soutelinho da Raia

 

Pois se a Serra do Barroso é a oitava maior elevação de Portugal Continental, a Serra do Larouco sobe ao pódio ao ser a segunda maior elevação de Portugal Continental, com os seus 1527 m de altitude atingidos na Fonte da Pipa. Gosto de me referir à Serra do Larouco como o Deus Larouco. Na realidade o Deus Larouco era o companheiro do Deus Júpiter - I(ovis) Soc(io) Larouco a quem os soldados da Legião VII Gemina Pia Felix (Vilar de Perdizes) ergueram um santuário denominado de Pena Escrita (Penascrita), situado num altiplano da Serra do Larouco, num local abrigado à altitude de 827 metros, permitindo assim que se congregassem rituais de culto nas estações mais agrestes quando o cume do Larouco é assolado por ventos fortes, cortantes e frios, ou por nevões persistentes.

 

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