O factor Humano
Há uns anos, escrevi este texto, quase autobiográfico.
"Pouco a pouco, as canções foram-no povoando. Ao longo de anos. Numa primeira fase, os autores preferidos; depois, chegavam uns novos, geralmente de mão dada com os já conhecidos. E ficavam as memórias, associadas a um rio, a uma presa ou apenas a um simples momento.
Com o passar do tempo, as associações eram mais subtis e ele próprio tinha dificuldade em perceber o que tinha desencadeado a memória daquela canção. Talvez por não haver espaço para todas, algumas transbordavam, já sem motivo, de noite ou de dia, quase num registo paralelo. Às vezes já era ele que lhes dava à mão e saía com elas em passeios, que se foram tornando cada vez mais longos, num delicado jogo entre a vontade e o medo de se perder com elas, para sempre, entre dois poemas e uma guitarra, num sítio onde ninguém os ouvisse."
Depois aprendi que este processo, podia ser criativo, de forma despretensiosa, sabendo o abismo que existe entre o aprendiz e os verdadeiros artistas.
Assim foram nascendo novos poemas, a partir de velhas canções, como este a partir de uma canção "Paladar” criada por Sílvio Rodriguez na altura em que ele cumpriu 50 anos. Aproveitei a melodia e saiu assim:
Vuelan dias vuelven noches
Rompo piedras busco dioses
Y solo encuentro un anillo
Que es del Todo el más sencillo.
Libre el água en la corriente
Va soñando melodias
Cambia versos en mi mente
Vuelan noches vuelven dias.
Siembra el verano el rocío
Seca el água muere el rio
Vuelan letras de mi pena
Vuelves tu, enhorabuena!
Embora quem não conheça os meus rios possa não perceber tão bem, tudo isto é sobre Chaves, Vinhais, Trás-os-Montes e a água que sempre nos faz viver.