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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

16
Jun19

Sobrado - Chaves - Portugal


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Há uns bons anos que é hábito neste blog, os sábados serem reservados para as nossas aldeias do concelho de Chaves. Nesta nova ronda decidimos fazê-lo por ordem alfabética com fotografias que escaparam à seleção dos anteriores post’s. Assim, hoje toca a vez à aldeia do Sobrado.

 

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Sobrado que se localiza no planalto da Serra do Brunheiro, pertence à freguesia de Nogueira da Montanha, a pouco mais de 1 Km do limite do Concelho de Chaves/Valpaços, tendo como aldeias mais próximas a sede de freguesia (Nogueira da Montanha) e Gondar a Nascente, Alanhosa a Norte, Capeludos e Sandomil a Poente e Amoinha Velha a Sul. A aldeias mais próximas estão entre os 400 e os 600 metros de distância (Nogueira e Gondar) e as restantes a cerca de 1Km. A título de curiosidade, Sobrado fica num cruzamento de estradas mais ou menos orientadas conforme os pontos cardeais que ligam às aldeias atrás mencionadas.

 

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É uma das nossas aldeias de montanha e também das mais altas do concelho (como quase toda a freguesia), localizada a uma altitude de 825m, onde é bem real aquele dito que se aplica por cá, o dos 9 meses de inverno e 3 de inferno, mas por lá, o inverno é mesmo rigoroso, mas se tem este dói, também alguma coisa se aproveita deste rigor, principalmente do frio, bom para curar as carnes de porco e, também, conjuntamente com a terra, um clima ideal para nele se produzir batata de qualidade, mas não só.

 

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Olhem só para estas cebolas, até parecem de oiro, e são-no, principalmente nas mãos de uma boa cozinheira ou bom cozinheiro. Aliás no Sobrado calhou numa visita feita a pedido a um dos seus habitantes, ter encontrado e fotografado os ingredientes necessários para um manjar dos deuses, e se não é de todos os deuses, é pelo menos dos deuses transmontanos e de todos os transmontanos fiéis.

 

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Só não fotografei o azeite e o vinho, mas esses já todos sabemos que são condimentos ou companhia obrigatória na nossa cozinha e de uma boa mesa, aliás se todos os cozinheiros forem como eu, sem azeite, cebola e alho, não faço nada.

 

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Então já temos as cebolas, o feijão seco, umas carnes na salgadeira e a seguir vai ficar a imagem de uma cabeça de porco com todos os seus pertences e uns pezinhos. Ora que é que isto sugere!? – Uma palhada à transmontana, claro!

 

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Invejosos por não terem desta coisas!? não há problema, por cá, pelo menos os que acreditam, enxotam a inveja, os maus olhados, as bruxas, espíritos e outros males com uma   Ruta graveolens à porta ou no jardim. Esta da Ruta graveolens foi só para o armanço, o nome científico, pois por cá o que põem mesmo à porta é uma planta de arruda (que é a mesma coisa), e também denominada como arruda-fedida, arruda-doméstica, arruda-dos-jardins, ruta-de-cheiro-forte. A arruda é uma planta da família das Rutáceas. E podem crer que o cheiro da arruda é mesmo fedido (podem trocar o “e” por um “o”, porque o é mesmo.

 

1600-sobrado (11)

 

Embora a arruda também seja por alguns considerada uma erva medicinal, não é das ervas mais recomendadas, pois é muito forte e tóxica em todas as suas formas, e pode matar. Se a vir, deixe-a em paz com a sua função de enxotar invejas, maus olhados e outros, pois a medicina, mesmo a das ervas, é só para quem sabe, especialistas, pois se não for na dose certa, pode ir mesmo desta para melhor, passar férias para a terra, mas definitivas, por baixo dela! A mim basta-me o cheiro fedido para não me aproximar dela.

 

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Quanto à aldeia de Sobrado e ao seu topónimo, pode ter origem muito antiga dos tempos da Gallaécia, e afirmo isto porque ainda hoje na Galiza este topónimo é muito comum e tendo em conta a sua origem, encaixa perfeitamente na nossa aldeia, pois em português comum, sobrado é um pavimento de madeira, e não me parece ter aí a sua origem. Os nossos irmãos galegos explicam assim os seus “Sobrados”:

 

O topónimo Sobrado, para o que cómpre reconstruir un antigo superatu ou superato, “altura”, “que está sobre ou enriba”

 

Penso que não será necessária a tradução, pois o galego e o português, são quase a mesma coisa.

 

1600-sobrado (23)

 

Quanto a este nosso Sobrado, tem o seu núcleo antigo bem identificado, com um aglomerado de construções antigas, maioritariamente construídas em granito de pedra solta. Trata-se de um pequeno núcleo com cerca de 10 casas. A restante aldeia é de construções novas, dispersas, que foram construídas ao longo das estradas que ligam às aldeias vizinhas.

 

1600-sobrado (1)

 

Quanto ao seu povoamento atual, sendo uma aldeia de montanha, tem todas as condições para ser uma aldeia despovoada e com população envelhecida. Já assim o era em 2006 quanto tomei a maioria das fotografias que hoje vos deixo e como a tendência do despovoamento se tem mantido e nada, nem ninguém a contraria, hoje deve estar bem pior.

 

1600-sobrado (9)

 

Mas esteja com estiver nada nos impede de a deixar aqui, nem que seja e só para memória futura, mas sabemos que ainda há pessoas com fortes ligações a esta aldeia, e daí estar aqui com todo o direito e também ter direito àquele que começa a ser o nosso habitual vídeo de encerramento, como de costume, com todas as fotografias (ou quase todas, pois confesso que perdemos algumas) que foram postadas neste blog. Fica também o link para o caso de quererem aceder ao vídeo diretamente a partir do youtube:

 

https://youtu.be/8jm7-twOeBY

 

 

 

 

05
Dez09

É tudo uma questão de luz


 

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Os homens partem, mas não impunes. Deixam para trás, como se um crime se tratasse, as testemunhas da sua existência, as mesmas que os fazem carregar a pesada palavra saudade. A mesma que dizem ser só nossa e, acredito que sim, piamente, como piamente se parte à procura da luz, quando toda a luz do mundo está na coroa da montanha .

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Avenidas e ruas, por aqui é tudo o mesmo, são caminhos que nascem para a vida quando amanhece e que morrem quando o sol se põe.

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Não esperam pela noite. Sem qualquer pudor, as árvores despem-se e deixam-se penetrar por raios de luz. A natureza é assim, pura e descarada.

18
Jan09

 


 

Recordando, lembrei-me que já uma vez tinha feito uma breve passagem pelo Sobrado. Fui à procura do que então disse e, continua actual (corrigido e aumentado):

 

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Nº1, nº2, 3 e 4 casas habitadas a 2 pessoas por casa = 8 pessoas. Eia como sou bom em matemática do despovoamento, ainda por cima é uma disciplina que é muito fácil de entender, nem tanto de compreender ou aceitar.

 

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É assim o Sobrado, o casco velho do Sobrado. Algumas casas mas pouca gente, apenas os mais resistentes, os que teimaram em ficar, por amor com certeza, e se amanham à terra com o mesmo jeito com que a amanham. Não partiram e vão fazendo a vida no contar (que já é descontar) dos dias, à espera que chegue o Natal que aqui, acontece em Agosto, nas féria de verão, quando a aldeia ganha alguma vida com gente jovem, quando é chegada a hora de receber os filhos e netos que andam lá fora a lutar pela vida.

 

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Triste sina a sina da vida na montanha deste Portugal desigual, mas o mais curioso e, que até chega a meter impressão, é que a gente da montanha é grande, valente e orgulhosa, não partiu, é certo, mas é como se tivesse partido por esse mundo fora e quando se vê ao espelho, vê filhos e netos com orgulho, honra e até vaidade de os saber bem na vida, na França, na Suiça ou seja lá onde for…e para eles, para estarem bem com a vida, é condição suficiente que os seus filhos o estejam e estejam livres da vida agreste da montanha.

 

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Tal como então, também o post de hoje é dedicado aos resistentes do Sobrado, septuagenários e octogenários que vivem os dias à espera do Natal de Agosto.

 

Setenta e tal anos a guardar ovelhas, setenta e tal anos como pastor que lhe deixaram muitas recordações mas também algumas mazelas nos ossos. Descobri-o há dois anos atrás a pedido de um neto e,  hoje é um amigo que é obrigatório visitar quando passo pelo Sobrado. É o Senhor Coelho ou o pastor do Sobrado. Tem saudades do tempo em que percorria todo o planalto do Brunheiro  à procura de boas pastagens, mas mais que saudades do tempo de pastor, tem saudades do tempo de juventude, de toda uma vida dedicada ao grande planalto. Agora, como resistente do mesmo planalto,  recorda os tempos passados e fez questão de me mostrar, o abrigo do rebanho e os restantes anexos da casa, posto de abrigo, dos tempos de pastor. É um dos resistentes do Sobrado,  com orgulho de uma terra que conhece melhor que ninguém, mas de uma terra que também dói nos rigores dos frios de Inverno, daqueles que se supõe viver naturalmente porque se está habituado, mas não é assim, o frio dói mesmo, nos ossos e até nos haveres que se guardam nas despensas do prevenir de todo um ano, e que com tanto frio, congelam e se estragam. Excepção para as carnes de porco, que no sal ou ao ar, agradecem o frigorífico natural dos Invernos do planalto.

 

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Mas vamos até ao Sobrado, uma pequena aldeia do planalto do Brunheiro e que quase se confunde e mistura com a natureza, entre a Amoinha e Nogueira da Montanha, não fossem as casas novas junto à estrada e, para desprevenido, o velho núcleo é quase como se não existisse, mas existe.

 

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O Sobrado pertence à freguesia de Nogueira da Montanha, localiza-se em pleno planalto do Brunheiro, fica a 15 quilómetros de Chaves e o acesso é feito (a partir de Chaves) pela estrada nacional 314, a tal que passa pelo Peto de Lagarelhos e que chegados a France, é só virar à esquerda (antes ou depois – tanto faz).

 

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O Sobrado, como todas as aldeias do planalto, é terra da boa batata, alguma castanha, lenha e as culturas próprias das terras altas, mas também tem as suas culturas de horta, aquelas que sempre existem junto às casas, onde não faltam as couves, as cebolas, os alhos, os tomates, as cenouras, a alface e tudo que se necessita para a subsistência do dia a dia e que o curto verão ainda vai permitindo, pois de Inverno, tirando as couves, pouco mais se dá por estas terras.

 

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Quanto ao topónimo de Sobrado e à sua origem, mais uma vez, e na ausência de melhor, vamos para as suposições. De todos os significados atribuídos a sobrado (termo) entre os quais se encontra “soalho”, “pavimento de madeira”, “casa de senhor de engenho”, “que sobrou”, “que resta”,  “excessivo” e finalmente “abastado”, com origem no Latim superátu, «elevado», eu, fico-me por esta última proximidade de significados/origem, pois caem-lhe bem e fazem sentido, não fosse Sobrado uma terra elevada do planalto e até abastada em termos de boas terras de planalto, onde convém não esquecer que este planalto é mesmo lá no alto do mais alto que a Serra do Brunheiro tem, ou seja apenas uma aldeia que fica a 830 metros de altitude.

 

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É também mais uma aldeia da freguesia, que tal como Sandamil, se reúne às quase únicas aldeias do concelho que não têm capela, nem cemitério nem escola, talvez pela proximidade da sede de freguesia (Nogueira), ou talvez por sempre ter sido uma pequena aldeia de montanha, que quase sempre se resumiu a um pequeno núcleo de casas típicas de arquitectura tradicional de granito e que só apenas nos anos 70/80 se viu crescer ao longo da estrada com algumas novas construções.

 

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Falta só mesmo referir a sua população, os números do despovoamento, pois segundo o Censos de 2001, a aldeia tinha 24 residentes, nenhuma criança com menos de 10 anos, 4 apenas 4 residentes com menos de 20 anos. Não vale a pena inventar, pois os números (penso) dizem tudo. Poucos, mas resistentes e boa gente que conhece melhor que ninguém a vida do planalto do Brunheiro e os rigores do Inverno e do frio, o mesmo que se sente e dói, mesmo que os senhores de Lisboa pensem que por aqui estamos habituados a ele e que nem sequer desperta alertas da protecção civil, aliás, aldeias que com frio ou sem frio, deveriam despertar sempre os alertas nacionais, mas claro, como em termos de rendimentos de votos nada contam, também não contam para nada – mas existem e têm gente, que segundo os direitos da democracia, deveriam ser considerados como os outros que têm direito a direitos. Por cá são mais as obrigações, que nessas, nunca somos esquecidos. É o tal Portugal desigual, que desde Lisboa, este que por cá existe, confunde-se com a paisagem.

 

 

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