Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

04
Ago19

Souto Velho - Chaves - Portugal


1600-souto-velho (4)

 

Hoje chegou a vez de termos por aqui Souto Velho, uma das aldeias da margem direita do Rio Tâmega que lhe está bem próximo.

 

1600-souto-velho (2)

 

Trata-se de uma pequena aldeia localizada junto à “Praia de Vidago”, mas também no limite do Concelho de Chaves, com o Concelho de Boticas a penas 700 m e a aldeia botiquense de Valdegas a cerca de 2 km, no entanto a suas vizinha mais próximas são as aldeias de Anelhe e Vilarinho das Paranheiras, esta última na outra margem do rio, mas com um pontão de lajes de granito que as liga.

 

1600-souto-velho (106)

 

Conta a lenda e a tradição que o grande senhor destas terras, de uma e outra margem do rio, foi D. Fernão Gralho, o mítico marido da não menos lendária Maria Mantela. A casa que a lenda lhes atribui é um belo casarão em granito situado na entrada do núcleo antigo da aldeia, de uma arquitetura bem interessante que se destaca ao longe, na sua altaneira posição, adornada com um elegante e também altaneiro canastro (ou espigueiro se preferirem).

 

1600-souto-velho (14)

 

Como, pelo menos, já deixei aqui a Lenda de Maria Mantela ou Lenda dos Gralhos, desta vez deixo apenas aqui o link para ela:  https://chaves.blogs.sapo.pt/159092.html

 

1600-souto-velho (66)

 

Desta vez, mais que a lenda que é mais ou menos conhecida por todos os flavienses, interessei-me mais por saber quem era Fernão Gralho e meti-me na grande confusão da família Gralho.

 

1600-souto-velho (3)

 

Ora segundo a genealogia a família Gralho, ela será originária do Alentejo, no entanto os estudiosos desta família,  encontram-na um pouco espalhada aqui pela região mais próxima, principalmente em Valpaços (Alhariz, Stª Maria de Émeres, Rendufe, Água Revés, Possacos, Serapicos), mas também aos do concelho de Chaves, um pouco ligados à lenda, como por exemplo no Carregal, Stª Leocádia e Souto Velho.

 

1600-souto-velho (51)

 

Nestas estórias dos Gralhos, há casamentos com muitos filhos, daí ser natural que eles (Gralhos) se fossem espalhando um pouco pela região, falta saber, pois não é muito conclusivo,  qual a origem e a partir de onde é que os gralhos se começam a dispersar.

 

1600-souto-velho (65)

 

Para além destes Gralhos aqui das redondezas, há relatos de outros Gralhos ou talvez dos mesmos, terem existido na zona de Aveiro e Alentejo, no entanto estes Gralhos do Sul, parecem ser posteriores aos nossos Gralhos do Norte, pois os relatos que vi dos Gralhos do Sul, são de mil oitocentos e tal, a os do Norte, já eram relatos em lenda (dos Gralhos ou Maria Mantela) no ano de 1634 por D. Rodrigo da Cunha, Arcebispo de Braga e primaz das Espanhas que depois foi nomeado Arcebispo de Lisboa.

 

1600-souto-velho (74)

 

Ainda a respeito desta lenda da Maria Mantela, como há dias aqui relatei a respeito da aldeia de Santa Marinha,   há muito semelhança com a estória da Santa Marinha, virgem e mártir. Diz a tradição que tinha oito irmãs gémeas: Basília; Eufémia; Genebra; Liberata (também conhecida como Vilgeforte); Marciana; Quitéria e Vitória. A lenda atribui-lhes a naturalidade na cidade de Braga, no ano 120. Seriam filhas de um casal de pagãos, Calcia e de um oficial romano, Lúcio Caio Atílio Severo, régulo de Braga, o qual, quando elas nasceram, estaria ausente da cidade. Entretanto, na cidade, não se acreditava que as gémeas pudessem ser filhas do mesmo pai. O acontecimento causou enorme embaraço à mãe que, teria encarregado a parteira Cita, de as afogar. Em vez disso a mulher, que era cristã, levou-as ao Arcebispo Santo Ovídio, para que as batizasse e lhes desse destino. Foram então entregues a amas cristãs, crescendo e vivendo perto umas das outras, até aos 10 anos de idade.  Sobre o assunto, ver mais aqui: https://chaves.blogs.sapo.pt/santa-marinha-chaves-portugal-1846275

 

1600-souto-velho (8-9)

 

Entre estas duas estórias, dos Gralhos e de Santa Marinha, há pelo menos 1400 anos de distância, pois a de Santa Marinha conta-se no ano 200 DC e a dos Gralhos é dos anos 1600. Apenas uma curiosidade dadas as semelhanças das estórias de ambos.

 

Para terminar, tal como já é habitual, ficamos com um vídeo com todas as fotos publicadas neste blog sobre a aldeia de Souto Velho.

 

Link direto para ver  you tube: https://youtu.be/LKRMboLEba4

 

 

 

 

 

20
Fev10

Mosaico da Freguesia de Anelhe


 

Localização:

A 15 km da cidade de Chaves, a Sul desta, no limite do concelho confrontante com o concelho de Boticas, situa-se numa faixa de território confrontante com a margem direita Rio Tâmega.

 

Confrontações:

Confronta (ao longo do Rio Tâmega) com as freguesias de Redondelo, Vilela do Tâmega, Vilarinho das Paranheiras e Arcossó. Confronta ainda com as freguesias de Pinho e Sapiãos, estas do concelho de Boticas.

 

Coordenadas: (Adro da Igreja de Anelhe)

41º 40’ 38.49”N

7º 34’ 48.06”W

.

.

 

Altitude:

Variável – acima dos 300m e Abaixo dos 560m

 

Orago da freguesia:

Santa Eulália

 

Área:

12,09 km2.

 

Acessos (a partir de Chaves):

– Estrada Nacional nº2 (até à entrada de Vidago – Ponte Seca) seguindo pela E.N. 311 até à Praia de Vidago, onde começa Souto Velho. Em alternativa o acesso pode ser feito pela Nacional 103 até Casas Novas para de seguida se apanhar a Est. Municipal 533, com passagem por Redondelo para entrar na freguesia de Anelhe via Rebordondo. Existe ainda a alternativa pela auto-estrada até ao nó de Vidago, a partir do qual se deve seguir o itinerário da Nacional 2.

 

.

 

.

  

Aldeias da freguesia:

            - Anelhe

            - Rebordondo

            - Souto Velho

 

População Residente:

            Em 1864 – 617 hab.

            Em 1900 – 695 hab.

Em 1920 – 585 hab.

Em 1940 – 816 hab.

Em 1950 – 954 hab.

            Em 1970 – 657 hab.

            Em 1981 – 531 hab.

            Em 2001 – 538 hab.

 

.

.

 

Principal actividade:

- A agricultura com terrenos férteis na bacia do Tâmega junto a Anelhe e Souto Velho ou de planalto em Rebordondo e ainda actividades ligadas a uma importante mancha florestal de resinosas com recolha de resina. A vinha, é uma das principais culturas, sendo conhecidos e afamados os seus vinhos de qualidade.

 

Mas a realidade actual pode ser profundamente alterada se for levada a efeito a barragem de Vidago, pois esta freguesia, nomeadamente as aldeias de Anelhe e Souto Velho, terão os seus terrenos agrícolas ribeirinhos ao Tâmega submersos pela barragem e as vinhas que não forem submersas, segundo dizem os especialistas na matéria, sofrerão danos indirectos que se irão reflectir na qualidade dos vinhos aí produzidos.

 

Para saber mais sobre esta problemática da barragem seguir o link para o post publicado há dias atrás, aqui: http://chaves.blogs.sapo.pt/470679.html

 

 

.

.

 

Particularidades e Pontos de Interesse:

Toda a freguesia confronta com o Rio Tâmega e daí o seu território ocupar grande parte do vale natural composto bacia orográfica do rio.

 

Em termos paisagísticos oferece vários motivos de interesse a todos quantos visitam a freguesia, quer com as vistas que se alcançam para a freguesia desde a Estrada Nacional nº 2, ou desde os pontos mais elevados de Anelhe para todo o vale ribeirinho ao Tâmega. Interessante também é a ligação entre Anelhe- Rebordondo e vice-versa que hoje se faz pelo serpentear de uma estrada asfaltada sempre rodeada de pinhal.

 

Desde sempre que a freguesia está associada aos afamados vinhos maduros de qualidade. Dizem uns que os vinhos brancos são os melhores, no entanto, há outros tantos que dizem o mesmo dos vinhos maduros, mas a grande maioria diz tanto faz, é freguesia de vinhos excelentes, que bem poderiam seguir o exemplo da vizinha Quinta de Arcossó e assim colocarem a freguesia na rota dos bons vinhos nacionais.

.

.

Quanto à arqueologia do local mas também através da sua toponímia, chega-se facilmente à conclusão que o povoamento da freguesia remonta, no mínimo, à época castreja da Idade do Ferro do Noroeste Peninsular.

Há notícias de em tempos por toda a freguesia, mas principalmente junto a Anelhe, terem aparecido vestígios e espólio conotado com a romanização, principalmente testemunhado em moedas e cerâmica variada de vasos finos e dólios, entre outros.

 

Uma lagareta e um conjunto de sepulturas escavadas na rocha, atestam por sua vez uma ocupação alti-medieval.

 

Administrativamente falando, a freguesia de Anelhe esteve quase sempre associada a Chaves, no entanto, durante quase 20 anos esteve anexada a Boticas, mais precisamente entre os anos de 1836 e 1855.

 

Quanto ao seu património edificado, destacam-se a igreja Paroquial e as Capelas de Rebordondo e Souto Velho caindo o realce sobre a casa solarenga dos Braganças, em Rebordondo.

.

.

Famílias e nomes associados à freguesia, além dos Braganças há a destacar o Comendador Brenha da Fontoura e o Pintor João Vieira (1934-2009) recentemente falecido e que teve toda a sua vida ligada à arte da pintura, da escrita e também do teatro, como cenógrafo. Pintor João Vieira que há muito já faz parte da lista dos Flavienses Ilustres, de quem este blog em breve, trará por aqui um pouco da sua vida e obra num post a ele dedicado dentro da rubrica dos Ilustres flavienses. Pintor João Vieira que é pai de Manuel João Vieira, também muito ligado à freguesia de Anelhe e que está ligado a uma banda de Rock portuguesa, os Ena Pá 2000, mas também ligado ao teatro e ao cinema como também ficaram conhecidas as suas candidaturas à Presidência da República ou a publicidade ao Licor Beirão.

 

Também é desta freguesia, mais propriamente da Aldeia de Rebordondo a Banda Musical de Rebordondo, sobejamente conhecida por abrilhantar muitos dos arraiais populares da região e, talvez a banda musical mais antiga do concelho. No post dedicado a Rebordondo (com link no parágrafo seguinte) contamos lá um bocadinho da sua história.

 

.

 

.

 

 

Linck para os posts neste blog dedicados às aldeias da freguesia:

 

            - Anelhe

 

            - Souto Velho

 

            - Rebordondo

 

 

 

 

 

17
Fev10

Requiem para o Rio Tâmega


Como cidadãos temos os nossos deveres e direitos. Quanto aos deveres, lá os vamos cumprindo, de livre e boa vontade ou até obrigados e de má vontade, como os impostos, mas até compreendemos que temos que os pagar contribuindo assim para um Estado que deveria ser também de direitos, um deles, deveria ser o direito a ser informado com isenção, outro, era o de exigir que o estado nos trate de boa fé. Mas nestas questões da cidadania vou ficar-me por aqui, pois o texto de hoje vai ser longo e tem a ver com o aproveitamento hidroelétrico do Alto Tâmega em que o nosso Rio Tâmega, a sua bacia e as populações ribeirinhas estão em causa e a informação de boa fé sobre os benefícios e malefícios desse aproveitamento hidroelétrico ou barragens que vão construir no Tâmega, não existem. Era e é mais que necessária informação sobre esta(s) barragens(m), que literalmente irá engolir um rio, e tudo, imagine-se, em nome do ambiente.

 

.

.

 

Chegou até mim um documento das freguesias ribeirinhas do Tâmega que vão ser afetadas pela barragem que vai ser construída mais próxima de nós. Um documento que deverá ser público e que deixa expostas as preocupações destas populações, que deveriam ser preocupações de todos nós.

 

A acompanhar o texto, deixo para memória futura, pontes, pontões e terrenos que a ser levada a efeito a barragem conforme proposta, serão submersos.

 

.

.

 

PARECER CONJUNTO DAS FREGUESIAS DE ANELHE, ARCOSSÓ, VILARINHO DAS PARANHEIRAS E VILELA DO TÂMEGA RELATIVO À CONCRETIZAÇÃO DO APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE ALTO TÂMEGA

 

 

Considerando que os impactos da construção da albufeira referenciada em epígrafe são muito similares nas quatro freguesias, entenderam os seus representantes elaborar um parecer conjunto, não deixando, no entanto, de referenciar implicações particulares de cada uma.

 

Não podemos deixar, em primeiro lugar, em nome do povo que representamos de manifestar a nossa indignação pelo facto do primeiro contacto tido com as populações acerca do empreendimento referenciado apenas se tenha cingido a levantamentos cadastrais e expropriações levados a cabo pela empresa “Landfund – Levantamentos Cadastrais, Lda.” e tendo por base um Nível Pleno de Armazenamento à cota 322. Ora como muito bem refere a Comissão Mundial de Barragens no seu Relatório “Barragens e Desenvolvimento: Um Novo Modelo para a Tomada de Decisões” a construção das grandes barragens, como é o caso da que está em apreço, em virtude dos enormes investimentos envolvidos e dos impactos gerados é actualmente uma das questões mais controversas na área do desenvolvimento sustentável. Refere, ainda, aquela Comissão que o modelo para a tomada de decisões deve basear-se em cinco valores fundamentais, entre os quais refere o processo decisório participativo e destaca como pontos inquestionáveis no estado da arte acerca desta problemática os seguintes: “Um número excessivo de casos foi pago um preço inaceitável e muitas vezes desnecessário para assegurar os benefícios, especialmente em termos sociais e ambientais; A falta de equidade na distribuição dos benefícios quando confrontada com outras alternativas; A necessidade de incluir no debate todos aqueles cujos direitos estão envolvidos e que arcam com os riscos associados às diferentes opções; e Soluções negociadas aumentarão sensivelmente a eficiência do projecto .

.

.

Em segundo lugar, não podemos deixar de estabelecer, em termos gerais, uma relação da albufeira à cota 322 com o lugar. Marcada sobre um mapa cartográfico a área de implantação da nova proposta da barragem (cota 322), era notório que esta não tinha em conta as pessoas, o sítio, a sua qualidade ambiental e paisagística. Na nossa opinião, é de tal momo insensível ao lugar que o destrói. (O conceito de lugar possui um carácter concreto, empírico, existencial, articulado, definido até ao detalhe. Vem definido por substantivos, pelas qualidades das coisas e os elementos, por valores simbólicos e históricos; é ambiental e está fenomenologicamente relacionado com o corpo humano)

 

.

.

 

O que dizer de quem traçou aquela linha de cota máxima e propôs uma nova ponte na Estrada Nacional 311 (Vidago/Boticas) para submergir a antiga?

- Que não conhece o sítio?

- Que se baseou em rácios de m3 descurando impactos e outros valores presentes no território?

É uma concepção que prima pela irracionalidade e por uma visão que privilegia o mau gosto especulativo e esteticamente aberrante, baseada em critérios abstractos, em desfavor de uma interpretação alargada de conceitos de qualidade estética e ambiental. Desrespeita valores culturais e patrimoniais, destrói a arquitectura do lugar, a sua dimensão temporal e algum tecido sócio-económico emergente.

Dir-nos-ão que foram apresentados apenas elementos esquemáticos e incompletos (meros instrumentos iniciais de trabalho) e que, posteriormente, virão mais estudos no sentido de aperfeiçoar e melhorar os existentes. É um argumento, mas será este isento e preocupado com “os sistemas de vida justos e equilibrados”? Um primeiro olhar sobre o que assinalaram no mapa logo nos fará duvidar de tal argumento, dada a falta de pudor de tais propostas. Não necessitamos de mais estudos para nos apercebermos da total destruição que a cota 322 causa ao sítio.

 

.

.

 

Como disse FranK Lloyd Wright “não vale a pena usar os instrumentos da arte criadora, a menos que isto seja feito a bem da humanidade”.

As boas intervenções (de qualidade) são, de um modo geral, expressão de sociedades culturalmente sólidas e socialmente evoluídas que são, em regra, também aquelas que maior preocupação manifestam em salvaguardar as memórias e o seu património hostórico-arquitectetónico e o equilíbrio do seu meio ambiente natural e humanizado.

Deve procurar-se um meio inteligente de dar resposta à paisagem, ao clima, às necessidades das pessoas e das comunidades.

Infelizmente são muitos exemplos que, pela mutação, se delapidam e, em muitos casos, se destroem formas de cultura ligadas ao sítio.

.

.

A proposta é de tal maneira insensível aos valores do sítio que não respeita a sua organização espacial e escala, assim como, o valor geral imposto pela qualidade do sítio.

São os valores ambientais, históricos e arquitectónicos desta zona que lhe dão qualidade. Se os destroem , destroem a qualidade da vida das pessoas em todos os sentidos. Esta solução ameaça perturbar os necessários equilíbrios e questiona-mos se não vai trazer uma incorrecta influência à zona.

 

.

. 

Assim sendo, e porque além disso somos habitantes dos locais afectados, logo os conhecedores empíricos da natureza, do ambiente, do ecossistema, do clima, das actividades agrícolas e também estamos preocupados com o empobrecimento futuro das populações que representamos e acreditamos no bom senso do uso dos recursos, passamos a apresentar os impactes, de forma detalhada, que se nos afiguram justificativos da construção da albufeira à cota 300:

 

.

.

 

  1. O Projecto de Programa do Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) refere para a anterior designação de barragem de Vidago a pp 78 “A análise das áreas a inundadas pela albufeira permite constatar que com um NPA da albufeira à cota 325 m são afectadas um conjunto importante de habitações, nomeadamente nas localidades de Sobrilhal, Sobradelo e Caneiro, que poderiam condicionar significativamente a execução do aproveitamento. A cota 312 m evita em grande parte, embora não na totalidade, a afectação de áreas urbanas, que apenas seriam integralmente preservadas caso se adoptasse o NPA à cota de aproximadamente 300 m.  A pp 132 refere “Para o aproveitamento de Vidago, integrado na cascata do rio Tâmega, adoptou-se o NPA da albufeira de 312 m, inferior em 13 m relativamente ao NPA máximo previstos em estudos anteriores, atendendo que a partir dessa cota seriam inundadas significativas áreas com ocupação urbana”. Nestes termos fica claro que apenas à cota 300 as populações ribeirinhas não são privadas do uso do solo com a afectação a áreas urbanas. Ora, referindo o PNBEPH claramente estas implicações e tendo o concurso sido lançado para a cota 312 como é que a concessionária pretende ainda, assim, aumentar NPA para a cota 322. Será esta a cota consentânea com os princípios enunciados pela Comissão Mundial de Barragens? Ou estamos perante uma usurpação desenfreada de recursos privados, propriedade de milhares de pessoas, nacionalizados pelo Estado, mas posteriormente entregues no seu uso e na sua exploração a uma única entidade. Quais as vantagens das populações locais com tais alterações? Como ficará o sítio? Sejamos esclarecidos.

.

.

 

  1. As freguesias de Arcossó e Vilarinho das Paranheiras sofreram já significativamente com as expropriações, quer com a construção da A 24 em ambas, quer com a ETAR da região da Ribeira de Oura no primeiro caso e com a N2 no segundo caso. Com a construção da barragem à cota pretendida ficam estas freguesias privadas, mais uma vez, do uso de uma área significativa e esventradas dos seus melhores solos;

 

  1. Só pura ganância poderá conduzir, tendo em consideração o conhecimento actual, à construção da barragem do Alto Tâmega à cota 322, uma vez que inunda praticamente toda a Reserva Agrícola da freguesia de Arcossó e uma parte substancial da das freguesias de Anelhe e Vilarinho das Paranheiras. Esta foi e é o celeiro e a horta destas populações que tão sabiamente transformaram e preservaram, pelo menos desde o século XIII, estes solos e que o Estado, e bem, veio proteger por Lei, mas que agora o mesmo Estado através de uma sua concessionária pretende como mais útil para reservatório de uma albufeira. Não entendemos, os proprietários não alteraram e bem ao longo de gerações e gerações este espaço de veiga fértil e irrigada com apoios Comunitários e Nacionais, não podendo aí executar legalmente qualquer tipo de construção, mas o mesmo Estado ou através das instituições suas representantes pôde aí construir uma ETAR que pretende submergir e agora para cumulo arrasar de água aquilo que já foi drenado pela sua importância e necessidade. Já alguém se preocupou em saber da importância destas terras para a subsistência de grande parte das famílias destas freguesias. É que a agricultura destes locais, embora na maioria das situações não seja empresarial e grande parte não passe pelo mercado, é um perfeito complemento a todas as outras actividades ou situações e, só assim, é possível viver com as pequenas reformas e os magros salários que se auferem na região;

.

.

 

  1. Estas freguesias dispõem como produtos agrícolas excedentários o vinho e o azeite. São conhecidas, em particular, pela qualidade dos seus vinhos, já enaltecidos por Estravão, o grande geógrafo do Império Romano e sobejamente referenciados em obras do século XVIII e XIX e cujo apogeu produtivo se alcançou nos anos 50 do século passado e que agora começa a evidenciar sinais de recuperação atestados pela Comissão Vitivinícola da Região de Trás-os-Montes e a qual demonstra claras preocupações com a grande massa de água que artificialmente se pretende aí criar. Aqui as preocupações são claras, quer pela inundação de áreas de vinha, quer pelas alterações edafo-climáticas. Aliás, a região da Ribeira de Oura é sobejamente conhecida pelas suas particularidades climatéricas, enaltecidas também em termos turísticos, uma vez que no passado era designada a estância termal e climática de Vidago. Não se nos afigura como admissível a construção de uma albufeira a níveis que vão desequilibrar essas condições. Basta verificar que à cota 300 temos a um NPA uma massa de água de 61 hm3 e 230 há de área submersa, contra 96 hm3 e 350 há à cota 312 e cerca de 144 hm3 e 520 há á cota 322, numa região de confluência entre um clima continental e atlântico caracterizada por fortes neblinas matinais do Outono a meados da Primavera nos dias soalheiros. Logo quanto maior for a albufeira maior será a evapo-transpiração. Torna-se, então necessário saber cientificamente essas implicações climatéricas para uma região com características de transição. A título ilustrativo e para termos noção das implicações na viticultura citamos o grande enólogo do século passado Emile Peynaud que na sua obra Conhecer e Trabalhar o Vinho na parte relativa à Qualidade das Grandes Colheitas refere a pp 87 “ Um pouco paradoxalmente, as regiões de bons vinhos não são forçosamente as mais favoráveis à vegetação e á produção da vinha. A vinha planta Mediterrânica, não produz os seus melhores frutos nos climas mais quentes. As regiões de qualidade são as mais marginais, as mais submetidas à irregularidades anuais do clima, mas igualmente mais sensíveis a microclimas. Nas zonas quentes cultivam-se as castas menos aromáticas, ou de tanino menos agradável. Todos os anos se assemelham, e a noção de grande colheita e de colheita vulgar perdem-se”. 

Além da potencial alteração da qualidade e do tipo de vinho obtido quem irá custear nos próximos séculos o acréscimo de custos decorrente do aumento do número de tratamentos fitossanitários que terão de ser realizados para manter a produção de boas uvas para vinho como consequência do aumento da humidade relativa e das temperaturas na região, em particular durante o ciclo vegetativo da vinha. Mais orvalhos conduzem a mais oídeo, a mais míldio, a mais doenças do lenho. Pretendemos saber quem vai suportar os custos destas alterações. Usem-se os recursos, mas de forma equilibrada e sustentada e não de forma gananciosa e com análises económicas que se cingem apenas ao projecto e se esquecem de contabilizar as perdas que também originam. O lucro de um pode ser prejuízo de centenas ou de milhares e nem sempre aquilo que melhor se vê no horizonte é o mais vantajoso. Só com um balanceamento alargado entre custos e benefícios se pode decidir;

 

.

.

  1. Ao nível paisagístico, quer para a cota 312, e, em especial, para a cota 322 o impacto será brutal. Esta situação é tanto mais grave quando estamos já num vale relativamente aberto e de reduzidos declives e nos encontramos no limite da cota e inseridos numa região cuja a aposta turística é forte e onde a paisagem representa um peso significativo nesse mesmo turismo, com destaque para o investimento que está a ser levado a cabo pela UNICER, aliás considerado de interesse nacional. De facto, tendo em consideração que a cota mínima de exploração constante no PNBEPH é a 297,5 m, tal significa que toda a área inundada nas três freguesias terá água durante o Inverno e uma mancha de lama seca no verão. Assim sendo, aquilo que hoje é uma mancha verde e cheia de vida durante o período de maior afluência turística, passará a uma mancha desértica e apenas com vida para insectos (mosquitos, melgas e outros). Os amieiros, freixos e salgueiros irão desaparecer ficando apenas um lago seco com duas linhas de água (rio Tâmega e Ribeira de Oura) a correr e uma imagem de destruição daquilo que foram as construções adaptadas ao meio de várias gerações de agricultores ao longo dos séculos. Não dispomos de cálculos exactos, mas estamos em condições de afirmar que esta albufeira em anos secos como este de 2009 terá uma área de lama seca à sua volta superior a 290 há (520ha para a cota 322-230ha para a cota 300). Agradecemos que este assunto seja devidamente analisado e ponderado por aqueles que tem responsabilidades, porque estamos conscientes que as gerações futuras desta região não perdoaram erros desta dimensão;

.

.

 

  1. A Reserva Ecológica das freguesias de Anelhe e, designadamente, da de Arcossó, são substancialmente afectadas. No caso de Arcossó toda ela confina com a margem do rio Tâmega e apesar do forte declive deste local serão cerca de 8 há que ficarão submersos à cota 322, mas também à cota 312 será afectada. Será desconhecimento por parte de quem projecta ou apenas a lógica de m3 de água? Como ficará o sítio perante tal decisão? Talvez, o que são limitações para a totalidade das populações são permissões para a Iberdrola. Esperamos que não. 

 

  1. O PNBEPH refere a pp 174 que todas as albufeiras previstas para o rio Tâmega estão em zona de probabilidade de ocorrência de eutrofisação, aliás fenómeno já registado na albufeira do Torrão a única actualmente existente neste curso de água. Ora se tivermos em consideração aquilo que a Comissão Mundial de Barragens refere relativamente a ecossistemas e grandes barragens onde deixam claro que temos impactos cumulativos sobre a qualidade da água, quando várias barragens são implementadas num mesmo rio. Não é este o caso da cascata do rio Tâmega ? Então, considerando o exemplo já existente, o que vai acontecer nas restantes? Que implicações terá esta quase certa eutrofisação das águas em todo ecossistema do rio e em todas as captações de água existentes a montante da barragem, cujo o número de poços, minas e charcas ao longo da linha de água da barragem é elevadíssimo em todas as freguesias. Não estamos nós localizados num dos eixos mais importantes de águas termais. Que implicações teremos para aqueles cujas casas, e que são muitas, ficam mesmo na linha de água e daqueles que usam a água do rio. Será bom para o turismo da região a ocorrência deste fenómeno?.Quem decide, normalmente está longe e não sente verdadeiramente estes problemas e nem sequer os refere explicitamente, mas nós pretendemos esclarecimento. Seguramente que quanto maior for a albufeira maior será a probabilidade de ocorrência deste fenómeno porque maior é o reservatório de água de baixa qualidade;

.

.

  1. O PNBEPH refere a pp 175 que a barragem em análise possui risco elevado de poluição acidental, em resultado da expressiva ocupação da respectiva bacia hidrográfica com área agrícola. Ora se tais situações ocorrerem os problemas são tanto maiores quanto mais próximas residirem as populações e quanto maior for a albufeira;

 

 

  1. O reservatório da albufeira à cota 322 alcança a zona de protecção alargada das águas Campilho, o que não deixa de ser caricato atendendo ao referido nos pontos 5, 6, 7 e 8 e aos condicionamentos existentes no uso destes espaços. Será por desconhecimento. Esperamos que não;

 

  1. Inunda toda a área de regadio da freguesia de Arcossó e parcialmente de Vilarinho das Paranheiras e de Anelhe;

.

.

  1. A freguesia de Arcossó ficará dividida, ao lhe ser retirada toda a articulação que têm com aqueles que vivem na margem esquerda da Ribeira de Oura e que dispõem de parcelas agrícolas na margem direita e com os que vivem na aldeia e possuem parcelas agrícolas na outra margem. Aliás, estão disponíveis actualmente três passagens para a outra margem que irão desaparecer (Foz do Oura, Batouco/Olgas, Cotovio e ainda a pedonal da Salpica). Aqueles que hoje fazem esses percursos a pé e não dispõem de meio de transporte o que lhes vai acontecer? e os que poderão continuar a fazer como hoje de forma motorizada quem lhe vai pagar o acréscimo de custos. Para onde será projectada a estrada municipal que faz a ligação Vidago-Arcossó-Capeludos de Aguiar?;

 

  1.  A passagem pedonal que faz a ligação entre a freguesia de Anelhe e Vilarinho das Paranheiras, com valor histórico e patrimonial e conhecida por poldrado também ficará submersa, privando todos desta articulação, em particular para aqueles que apanham em Vilarinho o autocarro de transportes públicos para fazerem as suas deslocações para Chaves ou outros locais, como o caso dos que frequentam o ensino secundário e de muitos outros que não dispõem de veículo ou de carta de condução;

.

.

  1. Obriga à construção de nova ponte sobre o rio Tâmega na Estrada 311, submerge a ponte da estrada municipal que faz a ligação entre Arcossó e Capeludos de Aguiar no concelho de Vila Pouca de Aguiar, bem como a ponte medieval que está a seu lado e que o povo designa de Romana;

 

  1. Ficará submersa a ilha existente no rio Tâmega que faz parte da propriedade da Quinta do Calvário na freguesia de Vilarinho das Paranheiras;

 

  1. Ficarão submersas 10 habitações, em que três das quais são casas comerciais. Por sua vez, várias habitações ficarão na linha de água;

 

  1. Vários moinhos (Foz do Oura, Póia, Ranha, Gralhos no rio Tâmega) e lagares de azeite (Salpica e Cotovio, na Ribeira de Oura) ficaram submersos, bem como elementos arqueológicos existentes em couces;

.

.

  1. A Etar da Zona da Ribeira de Oura, obra pública construída à menos de três anos, também ficará submersa e para nosso espanto a água na freguesia de Vilarinho baterá na plataforma da A24, a qual foi inaugurada exactamente também há três anos. Quem são os responsáveis pela delapidação dos recursos públicos que num espaço tão curto de tempo deixam de poder funcionar. A estação de tratamento de resíduos sólidos de Souto Velho também ficará submersa, bem como a captação de água para rega tradicional desta povoação. Todo o regadio da veiga de Arcossó ficará submerso, bem como os campos irrigados;

.

.

  1. Diversas famílias destas três freguesias ficarão privadas de todos os seus meios de produção e sem qualquer património. Esta situação juntamente com a referida no ponto 15 irá originar problemas sociais graves e aprofundar o ciclo de pobreza desta região, uma vez que estas populações ficarão privadas de muitos dos seus meios de produção cujos impactos serão ainda superiores nas gerações futuras; e

 

  1. Quem assumirá os custos originados pelo aumento da humidade na região ao nível da deterioração dos materiais das habitações, obrigando a intervenções em períodos de tempo mais curtos, bem como com a diminuição da qualidade de vida daqueles que já sofrem de problemas do foro respiratório.

.

.

Considerando que as barragens representam sempre uma violenta perturbação, interferindo nos equilíbrios naturais, diminuindo a biodiversidade, destruindo o património cultural e suscitando problemas sociais. Considerando que colocam sempre uma variedade de problemas que requerem uma consideração muito atenta em resultado dos impactos biológicos, climáticos, agrícolas, sociais e económicos, nos territórios e nas populações adjacentes. Se a tudo isto adicionarmos todos elementos e preocupações aqui expostos, e as implicações nos sítios, estamos plenamente convictos que o uso adequado dos recursos exige a construção da barragem à cota 300 e que só uma visão e interesse individualista permitirá um aumento da mesma, mas cujos custos a suportar serão muito superiores aos benefícios.

 

Chaves, aos 26 de Julho de 2009

 

17
Mai09

Aldeias de Chaves - Portugal


Estranharão a ausência do modelo do costume para os fins-de-semana, ou seja, em que por aqui passava uma aldeia e as suas características ou um mosaico com o resumo de uma freguesia. Mas não estranhem, pois no próximo fim-de-semana tudo voltará à normalidade e de novo, começarão a passar por aqui as aldeias em falta e os mosaicos resumo. Entretanto, também ficam mais três aldeias, mas apenas em imagem.

 

Até amanhã, com a nossa gente.

 

.

 

 

.

 

 

.

 

 

 

17
Mai08

Souto Velho - Chaves - Portugal


 

.

 

 

Olhando bem para esta primeira foto, poder-se-á tomar como um bom exemplo das nossas aldeias e da sua evolução ao longo dos tempos, um pouco da sua história e da importância que a terra teve ao longo dela.

 

.

 

.

 

Na realidade a terra cultivável, enquanto teve a sua importância, encostou e fixou as casas e pessoas na encosta da montanhas, deixando os melhores terrenos livres para cultivo. Com a modernidade as pessoas deixaram de se fixar à terra e de a cultivar, pelo menos tão intensamente como o faziam de há 40 ou 50 anos para trás e, o respeito quase sagrado que havia pelas boas terras de cultivo, deixou de existir, as novas casas começaram a entrar pela “terra sagrada” dentro.

.

 

.

 

Claro que este fenómeno da modernidade repete-se em todas as aldeias mas também na cidade onde é notória a invasão do betão em terras da veiga. Claro que associado a esta modernidade, quase sempre desastrosa, estão a falta de politicas acertadas para a vida das aldeias de interior, mas mesmo pior que as políticas acertadas, foi a ausência de qualquer política que tivesse em vista a vida das aldeias do interior e a sua fixação. Com a modernidade as aldeias foram como que esquecidas, entregues a si próprias e pouco ou nada contam para o contexto geral deste Portugal cada vez mais centralista em que as terras não valem pelos seus valores próprios e únicos, mas pelo número de votos que podem render.

.

 

.

 

Desculpas a Souto Velho (a nossa aldeia de hoje) por esta introdução generalista, mas também ela é uma das que se enquadra à perfeição em tudo que disse e,  embora seja uma aldeia com terras ricas, a um passo de Vidago e a dois de Chaves, é mais uma das que já conheceu melhores dias, e hoje está envelhecida e só não caminha a passos largos para a desertificação graças aos bons acessos, à tal proximidade de Vidago e Chaves e à riqueza das duas terras e vinho.

.

 

.

 

Mas vamos então até Souto Velho, que pertence à freguesia de Anelhe, fica a 3 quilómetros de Vidago, junto ao Rio Tâmega (margem direita), a 18 quilómetros de Chaves e a apenas 2 quilómetros do nó da auto-estrada (Vidago).

 

Em termos de população e segundo os Censos de 2001, Souto Velho tinha 72 habitantes residentes dos quais só 5 tinham menos de 10 anos. Actualmente só 1 criança é transportada para a escola EB, 2,3 de Vidago.

.

 

.

 

E sobre Souto Velho, já o temos dito muitas vezes, é terra de vinhos excelentes, mas graças a riqueza das suas terras e à proximidade do Tâmega é também terra fértil das mais variadas culturas e típicas da região e até uma das que não é propriamente típica por esta terras, a cortiça, graças à abundância de sobreiros que há nas redondezas da aldeia.

.

 

.

 

Durante a Segunda Guerra Mundial a riqueza agrícola da terra foi trocada por outra riqueza, também da terra, mas de minério, pois foi relevante a actividade mineira durante o decurso da guerra, e economicamente também.

 

Conta a lenda e a tradição que o grande senhor destas terras, de uma e outra margem do rio, foi D. Fernão Gralho, o mítico marido da não menos lendária Maria Mantela. A casa que a lenda lhes atribui é um belo casarão em granito situado na entrada do núcleo antigo da aldeia, de uma arquitectura bem interessante que se destaca ao longe, na sua altaneira posição, adornada com um elegante e também altaneiro canastro (ou espigueiro se preferirem).

.

 

.

 

A capelinha é da devoção a Santo António. Em tempos já houve festa na aldeia, agora já há uns anos, que por falta de gente para festejar, não se realiza.  

 

Para terminar e uma vez que fiz referência à lenda de Maria Mantela, não será demais deixá-la (para quem ainda não conhece) mais uma vez por aqui.

 

 

Lenda de Maria Mantela

 

Morava Maria Mantela com seu marido Fernão Gralho, numa casa da Rua da Misericórdia, nas proximidades da Igreja Matriz em Chaves. Era um casal abastado, que vivia dos rendimentos, podendo assim Fernão Gralho entregar-se à caça de quando em vez, seu prazer favorito. Um dia, achando-se Maria Mantela grávida, passeava com o marido nos arredores da vila, quando foi abordada por uma mulher pobre com dois filhos gémeos abraçados ao peito, implorando lacrimosa uma esmola para minorar a sua miséria e a das suas criancinhas. Dela se compadeceu o marido que generosamente a socorreu. A sua mulher, pelo contrário, tratou-a duramente, colocando em dúvida a sua honestidade, por não compreender que, mulher de um só homem, pudesse de uma só vez gerar mais que um filho. A mendiga, sentindo-se injuriada, respondeu-lhe fazendo votos de que Maria Mantela não fosse castigada pelo que acabava de dizer, já que também estava grávida. Esta mensagem ficou sempre no espírito de Maria Mantela e uma certa sensação de remorso angustiava-a diariamente.

 

 .

 

.

 

Quando Maria Mantela deu à luz, encontrava-se o marido ausente, numa das suas caçadas. E do parto, para surpresa dela, nasceram sete gémeos, todos gerados ao mesmo tempo, apesar de ela ser fiel ao marido. Ficou tão aflita lembrando-se do que tinha pensado e dito à mãe dos gémeos que não teve coragem de apresentar ao marido os sete filhos, pelo que ele poderia pensar dela. No seu estado de aflição e loucura, encarregou a ama da casa que lançasse ao rio Tâmega seis dos recém nascidos, deixando ficar somente o que lhe parecesse mais robusto e bem constituído. A ama saiu, ao cair da tarde, para cumprir a missão, levando num cesto coberto os seis gémeos e preparava-se, a meio das Poldras, para lançar na forte corrente do rio os pequenos inocentes, quando avistou o Fernão Gralho que a observava da margem do rio. Veio ao seu encontro e inquiriu-a sobre o que fazia com aquele cesto, naquele local. A mulher procurou uma desculpa dizendo que a cadela tivera sete cachorrinhos e que ela vinha afogar seis, ficando em casa o de melhor raça. Porém o Gralho, pediu para os ver e então deparou com os seis meninos. Fernão Gralho, como homem compassivo que era, compreendeu a loucura da esposa que estivera a ponto de cometer um crime que a acompanharia toda a vida e perdoou-a desde logo. Tomou conta do cesto e ordenou à criada que fosse para casa participar o cumprimento das ordens que a senhora lhe dera, guardando segredo sobre a entrega dos recém nascidos. E, de seguida deslocou-se a seis aldeias do concelho de Chaves a confiar a outras tantas amas a sua criação.

 

.

 

.

 

Passaram dez anos sem que Fernão Gralho desse a entender à esposa o segredo que guardava. Para ela era uma tortura o crime que havia cometido com os seus filhos.

 

O dia de ano novo, desse ano que começava, decidiu o Gralho festejá-lo com um lauto banquete, do que informou a mulher pedindo lhe que tratasse de tudo pois tinha seis amigos como convidados. À hora da refeição, quando Maria Mantela se dirigiu à mesa do banquete ficou muda de espanto; é que sentados, não estava só o filho, estavam sete rapazinhos todos iguais em feições e vestuário, de tal forma que ela não sabia dizer qual era o que ela tinha criado. O marido então esclareceu todos os acontecimentos acalmando enfim o sofrimento daquela alma tão longamente angustiada.

 

Os sete gémeos, diz ainda a lenda. Tornaram-se sete padres, paroquiando sete igrejas que fundaram com a invocação de Santa Maria. São elas a Igreja de Santa Maria de Moreiras, Santa Leocádia, Santa Maria de Calvão, o mosteiro de Oso já desaparecido e metade da Igreja Matriz de Chaves, Santa Maria de Émeres no concelho de Valpaços e São Miguel de Vilar de Perdizes do concelho de Montalegre. Na Igreja de Santa Maria Maior de Chaves. junto ao altar mor, em tempos passados existia um epitáfio, testemunho real da fundamentação da lenda e que dizia: "Aqui jaz Maria Mantela, com seus filhos à roda dela".

Sobre mim

foto do autor

320-meokanal 895607.jpg

Pesquisar

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

 

 

20-anos(60378)

Links

As minhas páginas e blogs

  •  
  • FOTOGRAFIA

  •  
  • Flavienses Ilustres

  •  
  • Animação Sociocultural

  •  
  • Cidade de Chaves

  •  
  • De interesse

  •  
  • GALEGOS

  •  
  • Imprensa

  •  
  • Aldeias de Barroso

  •  
  • Páginas e Blogs

    A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    H

    I

    J

    L

    M

    N

    O

    P

    Q

    R

    S

    T

    U

    V

    X

    Z

    capa-livro-p-blog blog-logo

    Comentários recentes

    • Floripo Virgílio Salvador

      Jamais posso esquecer esta iniciativa da TSF. Três...

    • Anónimo

      Boa tarde André, só para tirar uma dúvida, andei n...

    • Anónimo

      Atravessamos, de facto, um tempo que foge, em tudo...

    • blogdaruanove

      Ainda antes dessa época, a Rua de Sto. António era...

    • Anónimo

      Obrigado pela gentileza. Forte abraço.João Madurei...

    FB