![ocasionais ocasionais]()
“Srª. Das BROTAS”
Oh!
Que m’adianta recordar?!
Felicidades perdidas, mesmo pequeninas, tão pequeninas como as gotas de orvalho que me encantavam, lá na GRANGINHA, na “Aberta da Ti’Aurora”, coberta de carqueja e chamiça, e para onde eu madrugava na Primavera, levando comigo os livros de preparo para os “pontos” e os exames!
Felicidades perdidas semelhantes a «gosto amargo de infelizes» e «delicioso pungir de acerbo espinho» que me toma conta do «íntimo peito».
O amor tolheu-me.
A ausência tornou-me perdido!
Mal amparado por um e por outra, cá vou caminhando ao deus-dará, carregadinho com a Saudade.
Quase me igualo ao desditoso fidalgo luso – castelhano, exilado e prisioneiro no Brasil, ao sentir a Saudade como «ŭa mimosa paixão da alma», não fosse ela «um mal de quem se gosta, e um bem que se padece».
Hoje, estamos menos distantes das “Srª’s” da NOSSA TERRA - A da SAÚDE, A das BROTAS, A da LIVRAÇÃO e A da LAPA. Todavia, esta Saudade não necessita de larga ausência: «qualquer desvio lhe basta» para que eu a conheça.
Que fado o meu! A MINHA “CIDADE” ser “fonte das minhas lágrimas”: - «…ela é lágrimas toda, eu todo pranto/ eu de amor fonte, fonte de amor(es) ela»!
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E, hoje, por uma das ameias do Castelo, espreitou-me uma recordação da “Srª. Das BROTAS”:
- No arraial, “Os Pardais” tocavam que nem rouxinóis.
Era uma multidão dançar. Era outra multidão a ver dançar.
Pelos quadradinhos das grades, os presos faziam descer baraços e subir cestitas carregadinhas de cigarros, mimos e lembranças variadas.
Só eles não podiam dançar o tango ou o pasodoble.
Àquele gabirum elegante e bom dançarino, uma catraia bem-parecida, conduzindo o par de dança para as proximidades, finoriamente aproveitou o lanço da volta para fazer contra-volta e ficar frente a frente com o «artista».
Ele, o gabirum de bom pé dançante, já tinha apanhado a firmeza do olhar daquela catraia.
Deu a volta.
Sente um toque no ombro.
Olhou de esguelha.
Ela atirou-lhe: - Quero dançar contigo!
“Os Pardais” tocavam.
Ele, um lindo pé de dança; ela, levezinha como uma pena.
James Dean e Liz Taylor ali estavam disfarçados de Nureyev e Margot Fonteyn.
Até ao fim do arraial não houve par mais inseparável e chegadinho.
Milagres da “Srª. Das BROTAS”!
M., 9 de Agosto de 2015
Luís Henrique Fernandes