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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

08
Set22

Devaneios Fotográficos


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E cá estamos com mais um devaneio das quintas-feiras, hoje com uma bailarina num momento de dança a solo, numa entrada para uma das piscinas das termas romanas de Chaves, integrante de um espetáculo de dança que lá aconteceu há alguns meses. E o pseudo devaneio é nosso e não da bailarina, e é nosso, apenas por termos juntado sete momentos de sete registos numa única imagem.

 

Resto de um bom dia, que por cá na terrinha, vai ser com alguma chuva.

 

 

29
Ago22

De regresso à cidade...

Largo do Arrabalde - Chaves


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Cá estamos com mais um regresso à cidade, hoje com passagem pelo largo do Arrabalde, menos largo que há anos atrás, é um facto, mas com um novo equipamento que, mesmo com um edifício cuja solução arquitetónica não agrade a todos, tem no seu interior uma das nossas maiores preciosidades, o Museu das Termas Romanas.

 

Uma boa semana!

 

 

24
Jan22

Cidade de Chaves de Aquae Flaviae

Termas Romanas


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Hoje fazemos o regresso à cidade pela cidade de Chaves de Aquae Flaviae, como quem diz, por fora e por dentro, ou seja, cidade de Chaves por fora e damos uma espreitadela às termas romanas por dentro, e num passo descemos dois mil anos. É obra!

 

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E há mesmo que entrar, pois o que se vê por fora, não tem mesmo nada a ver com o que se vê lá dentro.

 

Uma boa semana!

 

 

28
Jun19

Cidade de Chaves - Olhares seletivos sobre o Arrabalde


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Depois de se ter perdido a sala de estar e de visitas por excelência da cidade de Chaves (leia-se Jardim das Freiras), o Largo do Arrabalde passou (a meu ver) a ser um dos largos mais interessantes da cidade e com a polivalência que lhe era conhecida de um largo comercial, de justiça, de escritórios e até de estar, para além, de que a qualquer momento se podia transformar num largo comemorativo das vitórias flavienses,  ou reivindicativo quando assim tinha de ser, o único na cidade a poder nele conter uns milhares de pessoas. Mas isso foram outros tempos, não muito distantes, mas que já são do passado. A triste ideia de lá fazer um parque de estacionamento subterrâneo veio a dar luz aos balneários das termas romanas, uma descoberta que tudo indicava vir a ser uma mais valia para a nossa cidade história e milenar. A par da ponte romana tínhamos a descoberto toda uma infraestrutura balnear romana de extrema importância para a história de Aquae Flaviae,  e como poucas do antigo império romano. Tal como se costuma dizer, a pressa sempre foi inimiga da perfeição,  e foi a pressa de mostrar obras para contabilizar votos autárquicos que fez iniciar uma obra, ainda com as escavações arqueológicas a decorrer,  e que, de entre todas as soluções possíveis e atraentes sem amputar a atração que o largo já tinha, se optou por aquela que se veio a demonstrar ser das piores ou mesmo pior solução para as termas romanas e para o Largo do Arrabalde, e contra factos, não há argumentos, estão à vista. Perdemos a beleza e o próprio largo, pelo menos a sua polivalência e não temos, nem temos “museu” das termas romanas, e ainda mais, a meu ver, seja qual for a solução para corrigir erros do passado, nunca vai ser uma boa solução, pois tem todas as condições para tudo correr mal, e, se por acaso até se encontre uma solução eficaz, terá pela certa efeitos secundários… vamos esperar para ver o que acontece e um dia mais tarde falaremos.  

 

Mesmo maltratado e mutilado que foi o Largo do Arrabalde, ainda é nele que se conseguem alguns dos olhares mais interessantes da cidade. Claro que temos de escolher bem o ângulo de onde fazemos a toma para que o mamarracho não nos estorve a beleza do olhar. E com esta me bou!

 

04
Jan18

Chaves História' s - A lenda das duas chaves


Cha-historias

 

Hoje para além da História e das estórias, e para quem não conhece, deixamos aqui uma lenda. As fotos são nossas.

 

 

LENDA DAS DUAS CHAVES

 

Esta é uma das lendas da origem do nome da cidade de Chaves — uma lenda em que o amor supera todas as faltas. Passa-se na época remota do poderio romano na Península.

Quando reinava o imperador Tito Flávio Vespasiano, as legiões romanas chegaram triunfantes à Ibéria, atravessando as regiões da Galiza e de Trás-os-Montes. Porque a terra era boa, fixaram-se nesta última província, começando a construir estradas e pontes. Ora, tendo os Romanos uma autêntica devoção pela água, grande foi a sua alegria quando descobriram «águas quentes jorrando da terra». Construíram logo aquedutos e um grande tanque onde se iam banhar, conseguindo curas fantásticas por intermédio dessas águas medicinais. Tal foi a sua fama, que chamaram à cidade ali construída Aquae Flaviae. Tão progressiva se tornou, que o próprio imperador Tito Flávio Vespasiano colocou aí como procurador um seu primo, o jovem Décio Flávio, então comandante da Legião Sétima.

 

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Certo dia, o cônsul Cornélio Máximo recebeu em Roma uma mensagem do jovem Décio Flávio, e achou por bem consultar sua filha Lúcia.

Era manhã ainda e o Sol estava quente. Envolta num manto leve que lhe ocultava o rosto, Lúcia encaminhou-se rapidamente para o aposento onde o pai a esperava. Mal a viu, o cônsul foi ao seu encontro:

— Lúcia, não ignoras decerto que o primo do nosso imperador, Décio Flávio, se encontra em Aquae Flaviae, uma nova cidade de que dizem maravilhas.
Lúcia baixou a fronte, para logo a levantar num assomo de energia. Respondeu, tentando serenidade:
— Bem o sei, meu pai. A última vez que vi Décio Flávio foi nas vésperas da sua partida, no palácio imperial.
Franzia as sobrancelhas a um rápido e angustioso pensamento. Perguntou aflita:
— Aconteceu-lhe alguma coisa?
O cônsul sorriu e serenou a angústia da filha:
— Não! Décio Flávio está cada vez melhor! A sorte acampa com ele. No entanto, mostra-se preocupado.
— Porquê?
— Preocupado contigo, minha filha!
Lúcia sentiu bater mais forte o coração.
— Comigo?... É grande honra para mim...
O cônsul voltou a sorrir. Lúcia procurava que o pai não a olhasse de frente, para não ver o seu enleio. Mas já o velho Cornélio se aproximava, obrigando-a a olhá-lo face a face. Perguntou:
— Lúcia! Que se passa entre os dois?
Cada vez mais embaraçada, a jovem mentiu:
— Nada, meu pai. Décio tem uma bonita carreira à sua frente. Merece uma mulher bonita... além de rica!
— E tu... não és formosa?
A jovem mordeu os lábios. Baixou de novo o olhar para que o pai não notasse o seu grande sofrimento. Depois, respondeu numa voz emocionada:
— O pai bem sabe que fui formosa! Mas hoje... com estas feridas na cara e nas mãos...
Calou-se. As lágrimas soltaram-lhe dos olhos e exclamou, chorando:
— Oh, meu pai! Porque me atormenta? Porque me fala em Décio Flávio e me obriga a falar da minha doença?
— Porque ele enviou-nos hoje um mensageiro.
A jovem deixou de chorar.
— Um mensageiro?... Para quê? Que diz ele?
Pausadamente, o cônsul apresentou um objecto que não pusera até então em evidência, e explicou:
— Décio manda-te de presente esta caixa forrada de seda e contendo duas chaves de ouro.
A jovem mostrou-se perplexa.
— Duas chaves?... Para mim?
— Sim, minha filha. São chaves simbólicas, segundo o mensageiro explicou.
A ansiedade da jovem Lúcia ia crescendo.
— Meu pai... mas... que simbolizam essas chaves?
— Saúde... e amor!
Lúcia levou uma das mãos ao peito, como se tivesse recebido uma pancada. As lágrimas voltaram-lhe aos olhos. A sua voz soou emocionada:
— Amor!... Amor, talvez, porque o amo desde que nos encontrámos numa tarde de corridas. Mas a saúde... a saúde... quem poderá oferecer-ma?
As lágrimas corriam pelo rosto chagado de Lúcia. O cônsul exclamou, firme:
— A saúde, oferece-ta Décio Flávio!
Ela meneou a cabeça.
— Não, ele não poderá ver-me assim! E eu não consigo curar-me!
O cônsul Cornélio acariciou um dos braços de sua filha. O seu estado de amargura enternecia-o.
— Ouve, Lúcia, quero que saibas tudo. Décio, na sua mensagem, oferece-me um lugar em Aquae Fluviae, para que assim tenhas a possibilidade de tomar os banhos dessas águas extraordinárias e encontres a cura para os teus males. Oferece-te, pois, as chaves da saúde… e do amor!
Ela voltou a menear a cabeça, sempre chorando.
O cônsul continuou:
— No entanto, se não quiseres sair de Roma, só terás que devolver-lhe essas duas chaves. O seu mensageiro parte amanhã, levando ou não essa lembrança que Décio Flávio te enviou. Decide, pois!
Lúcia mordeu os lábios, sem saber que dizer. Por fim olhou o pai.
— Não sei que pensar... Tem a certeza que Décio Flávio disse tudo isso?
— Queres ouvir o próprio mensageiro? Não te serve a minha palavra?
Lúcia caiu em si.
— Perdoe-me, meu pai! Nem sei o que digo!
— Porque choras, então?
Ela sorriu por entre as lágrimas.
— Porque Décio Flávio continua a pensar em mim!
— E isso é motivo de choro?
— Também se chora de alegria. Contudo...
— Contudo, o quê?
— Flávio merece melhor sorte! Já não sou a mesma que ele conheceu e amou!
— Recusas o seu auxílio?
Ela afligiu-se.
— Oh, não!
— Que digo, nesse caso, ao mensageiro?
Lúcia ficou uns momentos pensativa. Depois, resoluta, declarou:
— Pai! Diga ao mensageiro de Décio Flávio, que partiremos o mais rapidamente possível!

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Alguns meses passaram. Obtida a necessária licença do imperador Vespasiano, Cornélio Máximo seguiu com sua filha para a então famosa Aquae Flaviae, uma das mais florescentes cidades do Império, na Península. Duas semanas depois de chegarem, Décio Flávio foi visitar os seus amigos, mas Lúcia recusou-se a aparecer. Ficando sós, Décio e o cônsul, este dirigiu-se amistosamente ao procurador.
— Muito agradeço, Décio Flávio, o teu convite e a honra da tua visita. Lúcia e eu jamais esqueceremos o teu gesto!
Décio sorriu.
— O que fiz não deve ser agradecido, pois foi no meu próprio interesse.
O cônsul olhou o seu visitante.
— Queres explicar-te melhor?
Décio respondeu num tom quase malicioso:
— Cornélio Máximo! Para um homem inteligente como tu não serão necessárias mais explicações. Bem compreendeste o que pretendi dizer.
Sorriu também o cônsul romano, e retorquiu no mesmo tom:
— E ao extraordinário Décio Flávio não será necessário dizer mais para que compreenda o meu propósito.
Décio riu com elegância e exclamou:
— Sempre o mesmo gracioso e prático cidadão!
Deu dois passos pelo aposento. Tornou-se subitamente sério e, voltando-se num movimento decidido, falou no seu ar conciso:
— Verifico que queres ouvir o que não cheguei a dizer senão na intimidade do meu pensamento: um pedido formal de casamento para tua filha Lúcia.
Cornélio concordou:
— É isso mesmo. Queria saber da tua boca se estás disposto a casar com ela agora... e livre de qualquer compromisso tomado anteriormente à sua doença.
Décio encarou o cônsul romano.
— Amo Lúcia e sempre a amarei! Ela vai curar-se, estou certo! Mas, seja qual for o resultado do tratamento, o meu pedido manter-se-á. Onde está ela?
— Recusa-se a aparecer enquanto não estiver curada.
— Pois diz-lhe que desejo falar-lhe imediatamente.
Nesse mesmo instante uma cortina do fundo abriu-se, e a jovem Lúcia entrou com o rosto velado. A sua voz era pouco firme ao dizer:
— Décio Flávio... aqui estou!
O jovem romano voltou-se. A sua surpresa era evidente:
— Lúcia! Porque trazes o rosto coberto por um véu?
— Porque ainda não estou bem.
— E porque não vieste logo?
— Porque não tencionava ver-te! Mas ouvi a tua voz… essa voz que cantava sempre dentro do meu peito as últimas promessas trocadas antes de partires... e não resisti à tentação de aparecer-te!
Ele agarrou-lhe os pulsos, pois as mãos estavam cobertas por ligaduras.

 

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— Lúcia... minha Lúcia! Quantos banhos já tomaste desde que chegaste aqui?
— Seis.
— E sentes melhoras?
— Se as não sentisse, já teria regressado a Roma. Não me perdoaria, privar-te de uma mulher bonita! Devem existir por aqui muitas beldades desejosas de merecer-te!
Ele apertou-lhe os pulsos e murmurou:
— Bem sabes que és a mulher mais bela de Roma!
Ela tentou protestar.
— Exageras...
— Lembra-te de que o próprio imperador o dizia. Tu serás minha e só minha!
Ela meneou a cabeça, com aflição.
— Não, Flávio! Só quando estiver curada!
— O que será muito em breve!
E acariciando-lhe os cabelos através do véu:
— Faremos um grande festim e daremos largas à nossa felicidade!
A poucos passos, o cônsul Cornélio Máximo lembrou a sua presença:
— Bem... Já que se esqueceram de mim, aproveito para ir dar umas ordens.
Lúcia protestou:
— Pai, fique connosco! Décio Flávio é nossa visita...
Maliciosamente, o cônsul retorquiu:
— Décio Flávio fica bem entregue. Farás com dignidade as honras da casa a tão ilustre hóspede. Eu não me demorarei.
E saiu. Ficando sós, Décio Flávio tentou ver o rosto da jovem. Ela recuou apavorada:
— Não, Décio Flávio! Não quero que em ti fique a mínima recordação desagradável a meu respeito!
— Desejava tanto ver a luz desses teus olhos tão belos, que enchiam a minha alma!
— Não! Perdoa-me, mas pouco tempo faltará! Estou quase curada e a ti o devo!
— Pois seja, meu amor! Mas, pelo menos, permite que te procure com assiduidade. Preciso de ouvir a tua voz, já que me falta a luz do teu rosto!
— Ver-te e ouvir-te é o que mais ambiciono na vida. O teu amor por mim é parte da minha cura! E, já agora, deixa que te comunique quão feliz me tornou aquela caixa tão bonita, forrada de seda e contendo duas chaves em ouro: duas chaves simbólicas que dizem bem do teu carácter e da sorte que tive em ter-te agradado!
O jovem romano acariciou mais uma vez os cabelos da sua bem-amada e pediu:
— Lúcia, guarda essas duas chaves por toda a nossa vida!
Lúcia concordou:
— Assim farei! E se possível for... que elas fiquem por toda a eternidade contando à gente vindoura o que pode um verdadeiro amor!

 

 

 

Fonte Biblio MARQUES, Gentil Lendas de Portugal Lisboa, Círculo de Leitores, 1997 [1962] , p.Volume V, pp. 229-234

 

 

15
Out15

O Factor Humano - A luz dos museus


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A luz dos museus

 

Os dias em Portugal correm pesados. O processo de empobrecimento vai-se aprofundando e, infelizmente, parece ter vindo para ficar.

 

O interior do país já vinha a sentir os efeitos deste processo há muito tempo. Despovoamento como consequência da migração para o litoral e da diminuição da natalidade. Incapacidade de fixar população: não ficam os que estão e muito poucos se sentem atraídos para vir. Encerramento de serviços, desde a extinção de freguesias até ao fim das escolas básicas. Afastamento dos cuidados de saúde e, mais recentemente, desqualificação e encerramento de tribunais. Todo o peso da extinção de postos dos CTT, em especial para os mais idosos.

 

Mais recentemente a emigração, por falta de emprego, mas também por falta de condições de trabalho, péssimos salários, pouca dignidade para quem trabalha por conta de outrem.

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É neste pano de fundo tão sombrio, que surgem em Chaves duas novidades. A primeira, enterrada há quase dois mil anos, confirma a importância da cidade, das suas águas e da sua posição geográfica, já no tempo dos romanos. Fiz recentemente uma visita inicial aos balneários romanos, postos à luz do dia, no “Arrabalde” da nossa cidade. Grandiosos, harmoniosos, engenhosos e de uma modernidade que perturba. Constituem um desafio para todos nós, em especial para os responsáveis autárquicos. Tem sido desenvolvido um importante trabalho arqueológico e científico, com vista a identificar, catalogar, preservar e expor aquele que é também um nosso património. A importância deste achado pode obrigar, talvez, a um envolvimento internacional alargado, que permita optimizar todo o potencial que temos à nossa disposição.

 

Permito-me não estar satisfeito com a solução arquitectónica encontrada. Parece-me pobre em imaginação e em enquadramento com o ambiente que a rodeia. Tanta delicadeza e beleza há dois mil anos e tão escassa capacidade de a envolver nos tempos actuais. Esta questão não é a essencial, mas deveria ter merecido uma atenção mais cuidada. No entanto, tal não invalida a importância da descoberta e o impacto que ela pode ter para o desenvolvimento da região.

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A segunda novidade é o museu de arte contemporânea Nadir Afonso. A obra do arquitecto Siza Vieira, implanta-se nas proximidades do rio Tâmega e, tal como era de prever, ele não perdeu a oportunidade de a enquadrar com mestria. A mim, pareceu-me que está concebida privilegiando quem está dentro do museu. Nada foi deixado ao acaso. Atrevo-me a dizer que tudo é bonito. A luz, a madeira, os espaços, o mobiliário. Mas é nas vistas que o génio de Siza nos consegue emocionar. É possível olhar pelas várias janelas e só ver o que é bonito, em quadros sucessivos de paisagem. Se é fácil a solução para o lado do rio, tem que se fazer uma vénia à orientação das janelas que dão para a malha urbana. Tudo o que é feio na nossa cidade se torna invisível para quem olha. Parece magia, como se os mamarrachos das torres de apartamentos se eclipsassem. É bom poder agradecer a alguém, que nos ajuda a ver uma cidade mais bonita.

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Posso dizer que tive o privilégio de visitar o futuro museu, ainda sem qualquer obra de arte do mestre Nadir. Percorri todas as áreas, sendo certo que muitas delas serão inacessíveis para o visitante comum, quando o museu for inaugurado. Também foi uma sorte ver o museu nu. Fica uma tentação grande de o ver recheado.

É certo que estes dois museus são uma luz nova para a cidade e para a região. Também é certo que, em conjunto e integrados no património da região, vão possibilitar um impulso cultural e turístico para Chaves.

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Dito isto, é bom reafirmar que nem só de cultura e de turismo vive uma cidade ou uma região. Precisamos de pôr a região a produzir, nas suas capacidades e nas suas tradições. Temos de recuperar a nossa agricultura e associá-la a uma agro-indústria que possibilite o aproveitamento de todo o nosso potencial. Só assim nos poderemos orgulhar da luz dos nossos museus.

Manuel Cunha (Pité)

 

 

19
Jan13

Semana do Arrabalde - 6


AS TERMAS ROMANAS

 

 

Em 11 de Agosto de 2006

 

 

No início desta semana do Largo do Arrabalde já deixámos um pouco da sua história ao longo dos anos. Durante toda a semana fomos deixando por aqui o Largo do Arrabalde ao longo dos últimos anos do século XIX e século XX. Deixámos imagens do Largo do Arrabalde quando foi conhecido por outros topónimos, como o de Praça Rui e Garcia Lopes(1915), Largo Dr. António Granjo (1923) e Largo Monsenhor Alves da Cunha (1947). Mas tal com Firmino Aires afirmava na Toponímia Flaviense, o povo quis que fosse Largo do Arrabalde e aasim o é hoje em dia.



Em 11 de Agosto de 2006


Pois hoje entramos nas imagens do Século XXI, precisamente com o que de mais importante se passou por lá e que viria a ditar um futuro bem diferente para este largo. A história deste acontecimento resume-se em poucas palavras.


Em 11 de Agosto de 2006


O anterior executivo camarário (socialista) tinha previsto um estacionamento subterrâneo para o então Jardim das Freiras. Fez-se o projecto, destrui-se o jardim, fizeram-se as escavações arqueológicas, adjudicou-se a obra e quando estava para iniciar as obras, o executivo socialista perdeu as eleições autárquicas (2001) a favor do PSD. Não sei porque razão, nem interessa para o caso, o novo executivo abandonou o estacionamento subterrâneo das Freiras e desloca-o para o Largo do Arrabalde, mais propriamente para a praça que se localizava em frente ao Palácio da Justiça.


Em 31 de Janeiro de 2007


Já se sabe que em Chaves quando se abre um buraco no Centro Histórico, graças ao nosso passado romano, são obrigatórias escavações arqueológicas, assim, sempre que há um projecto para o Centro Histórico são necessárias sondagens para saber o que há no subsolo e,  no caso de ser encontrar qualquer coisa de interesse arqueológico, ter-se-á de proceder a escavações arqueológicas antes de qualquer obra.  


Em 8 de Setembro de 2007


Já se tinha conhecimento que por tinha existido o Baluarte da Vedoria das muralhas seiscentistas, mas sendo Chaves uma cidade que foi povoada pelos romanos, era natural que por lá se encontrassem vestígios dessa época.


Em 26 de Setembro de 2007


Em 2004, com a finalidade de avaliar o impacte sobre o património arqueológico do projecto de construção do parque de estacionamento subterrâneo a Câmara Municipal procedeu à abertura de três sondagens arqueológicas. Na segunda das sondagens previstas foi encontrado um pavimento em lajeado granítico de aparelho muito perfeito e datação romana, que indiciava a presença no local de estruturas monumentais bem conservadas desta época. Dado que nascia água quente no canto da sondagem, pôs-se desde logo a hipótese de se tratarem das termas romanas da cidade. Estes vestígios, caso se confirmasse a existência das termas romanas, inviabilizariam a construção do parque de estacionamento previsto e, assim aconteceu, pois as escavações arqueológicas iniciadas em 2006 viriam a por a descoberto, primeiro parte do Baluarte da Vedoria e por baixo destas as tais termas romanas que por uma qualquer razão desconhecida ruíram um dia mantendo-se no entanto as ruínas quase na íntegra, incluindo a cobertura.


Em 11 de Abril de 2008


Removidos os derrubes da cobertura e as camadas de argamassas e areias de construção que lhe estavam associadas, a equipe de arqueologia da Câmara Municipal chefiada pelo Arqueólogo Dr. Sérgio Carneiro, que segundo o relatório de candidatura a Monumento Nacional das Termas Romanas  “verificou-se que as lamas subjacentes tinham conservado em ambiente húmido anaeróbico todos os metais e matéria orgânica em condições de conservação excepcionais, proporcionando um espólio de peças únicas de grande valor cientifico. De entre essas peças destaca-se um pirgo (torre para lançar dados de jogar) em opus interassile de bronze que constitui um dos três únicos exemplares deste tipo de objecto existentes no mundo (os outros dois encontram-se no Landsmuseum de Bona, na Alemanha e no Museu do Cairo, no Egipto), um fragmento de cestaria forrada de cortiça que envolvia originalmente uma garrafa, de forma a conservar a temperatura da água no seu interior, vários pentes em madeira, uma turquês em ferro perfeitamente conservada, uma ampulla (garrafa achatada e larga com duas asas) em madeira com uma inscrição no exterior, uma taça baixa em madeira, diversos objectos de adorno em madeira, metal e osso, como anéis, braceletes e pulseiras, contas em madeira osso vidro e cornalina, etc.”


Em 11 de abril de 2008


Quanto à termas romanas e edifício termal encontrado no Arrabalde, já em tempo oportuno deixámos aqui uma reportagem que pode ser vista aqui:

http://chaves.blogs.sapo.pt/319912.html


 

Em 6 de junho de 2008

 

No entanto o mencionado relatório acrescenta ainda:Tal como as restantes cidades romanas com o elemento Aquae no seu nome, cerca de uma centena em todo o Império e oito conhecidas na Hispania (VELASCO 2004), Aquae Flaviae era uma verdadeira estância termal no período romano, o balneário, que constituiria o núcleo definidor do aglomerado urbano, deveria ocupar uma grande parte da área total da cidade. Tratavam-se de termas de tipo terapêutico, muito diferentes tanto em forma como em função das termas higiénicas comuns a todas as cidades romanas. Eram vocacionadas para o tratamento de doenças e este facto, junto com o de estarem, seguramente, associadas a um centro de culto dedicado à divindade que se julgava propiciar os efeitos benéficos das suas águas, atraíam gente de diversos lugares, por vezes bem distantes.”


Em 31 de Agosto de 2008


E continua “Tendo em conta as informações de que, durante as obras de construção do Cine Teatro de Chaves, em 1964, distante cerca de 200 m. do local das presentes escavações, apareceram tanques e canalizações em tudo semelhantes às agora descobertas, bem como o número e capacidade das condutas de escoamento das águas, o complexo termal ocuparia cerca de um terço da área urbana da cidade romana, e teria uma volumetria só comparável, em contextos provinciais, à de Aquae Sulis, na Britania, (actual Bath, Inglaterra), classificada como Património da Humanidade pela UNESCO em 1987 (http://whc.unesco.org/en/list/428/documents/).”


Em 27 de setembro de 2008


Na área escavada até ao momento foi descoberta uma piscina de grandes dimensões (13,22 x 7,98 m.) com cinco degraus no seu topo Norte, uma outra apenas parcialmente escavada mas da qual um dos lados deverá ter cerca de 8 m., com seis degraus a toda a volta,  um tanque pequeno, possivelmente para banhos individuais.


Em 16 de Outubro de 2008


Toda a estrutura termal era composta complexo sistema de condutas de entrada e saída das águas que ainda correm com uma elevada temperatura e um caudal considerável que ainda continua a encher as piscinas. Segundo o mesmo relatório “A cobertura da área central, incluíndo a piscina A e a área de acesso a esta, era composta por uma grande abóbada de canhão em opus laetericium revestida a opus signinum. Algumas das condutas seriam também cobertas por telhados em tegulae e imbrex.O sistema de condutas de escoamento das águas sofreu alterações ao longo da utilização do balneário, tendo algumas condutas sido tapadas e novas derivações construídas.


Em 16 de Outubro de 2008


Quanto à cronologia do edifício, apenas podemos referir, de momento, que o seu abandono se terá dado, como indicam os materiais selados pelos derrubes associados ao colapso da abóbada de cobertura, no último quartel do séc. IV d.C. Não tendo ainda sido escavados os níveis correspondentes ao enchimento das valas de fundação de nenhuma das estruturas do complexo termal, não dispomos de elementos que nos permitam avançar para a datação da construção ou remodelações que este terá sofrido.


Em 16 de outubro de 2008


Ainda que existam indícios de outros balneários romanos de tipo terapêutico no actual território português (Termas da Fadagosa, Marvão; Caldas de Visela, Braga; Caldas de Canavezes, Marco de Canavezes; Caldas de Monchique; Nossa Senhora dos Banhos, Anadia, etc.) apenas subsistem as ruínas de dois: as Termas de S. Vicente, em Penafiel, em vias de classificação com despacho de abertura de 14 de Julho de 1999 e as de S. Pedro do Sul, Monumento Nacional pelo 28 536, DG 66, de 22-03-1938, sendo que nenhum dos dois se pode comparar em monumentalidade, estado de conservação e espólio com o conjunto em apreço.”


Em 15 de abril de 2009


Apreço que passados dois anos de ter sido feito o pedido de classificação das Termas Romanas como Monumento Nacional, o Governo aprovou por Decreto no passado 6 de dezembro de 2012, passando Chaves a ter mais um Monumento Nacional de origem romana, bem juntinho a um outro que nós conhecemos desde sempre – a Ponte Romana.


Em 4 de Março de 2010


Segundo notícias publicadas na “Voz de Chaves” (http://diarioatual.com/?p=78241) “Dentro de uma década, as Termas Romanas de Chaves poderão vir mesmo a ser classificadas Património Mundial da UNESCO, pois já há estudos preliminares a decorrer. “Possivelmente [o monumento] será integrado numa rede de balneários termais romanos de toda a Europa. Em Inglaterra já existe um que está classificado como património mundial e o caminho será talvez o alargamento dessa classificação a Chaves e demais balneários termais romanos”, confirmou o arqueólogo Sérgio Carneiro.”


Em 22 de março de 2010

 

As imagens que aqui fica foram sendo tomadas ao longo das escavações do Arrabalde e ficam por ordem cronológica com a respectiva data.


 

Em 11 de outubro de 2010

 


Amanhã concluímos esta semana do Arrabalde com mais imagens, apenas imagens, pois isto de deixar por aqui informação mais valiosa não pode acontecer todos os dias.


Em 21 de Abril de 2012


Até amanhã com o rematar da semana do Arrabalde, entretanto ainda viermos outra vez por aqui ainda hoje.



Em 29 de Abril de 2012


Para quem quiser ver a anterior reportagem sobre as “Termas Romanas”, deixo aqui de novo o link onde há mais informações sobre as mesmas:

 

http://chaves.blogs.sapo.pt/319912.html

 

 

22
Out08

Termas Romanas - Chaves - Portugal


 

 

Já é sabido que aqui pela terrinha quando se abre um buraco no chão tropeçamos logo com um pedaço de história. Centenas de anos, no mínimo, mas se o buraco afundar mais um bocadinho, então esbarramos de caras com quase 2000 anos de história, pois é conhecido de todos, que por baixo dos nossos pés, existem as ruínas de uma antiga e grande cidade romana, Aquae Flaviae. Cidade essa, que tanto quanto se crê e cada vez mais se acredita, seguiria o protótipo  das cidade romanas de então, onde não faltaria um teatro, um fórum, um anfiteatro, termas, um templo e toda uma série de infra-estruturas, vias, aquedutos, rede de saneamento, além do casario e até as suas villas de periferia (Ganjinha, por exemplo). 

 


Em 2004 a Câmara Municipal de Chaves projectou para o Largo do Arrabalde um parque de estacionamento. Enquanto que os privados lá se vão esquivando de fazer sondagens arqueológicas nas reconstruções do casario do centro histórico, pois descobriram que não abrindo buracos as sondagens não são obrigatórias, a Câmara Municipal nas suas obras lá as vai realizando e todas elas acabam quase sempre em escavações arqueológicas. Umas mais importantes, como foi o caso da Rua Bispo Idácio onde se está a construir o Arquivo Municipal, outras que não deram em nada, como foi o caso das Freiras. Mas aqui e ali, quase sempre, encontram-se vestígios da cidade romana. Pelo menos do Arrabalde até ao Anjo, há provas disso mesmo.

 

 

Pois  há 4 anos e para levar a efeito o tal parque de estacionamento subterrâneo no Arrabalde,  a Câmara Municipal contratou Armando Coelho da Silva para que procedesse à abertura de três sondagens arqueológicas. Na segunda das sondagens previstas foi encontrado um pavimento em lajeado granítico de aparelho muito perfeito e datação romana, que indiciava a presença no local de estruturas monumentais bem conservadas desta época. Dado que nascia água quente no canto da sondagem, pôs-se desde logo a hipótese de se tratarem das termas romanas da cidade.

 


As escavações iniciaram-se então a um ritmo que parte da população não compreende muito bem, mas que foram decorrendo ao ritmo certo e delicado que este tipo de trabalhos exigem, pois  todos os trabalhos arqueológicos foi seguido o método de Barker-Harris com a remoção manual de todas as camadas pela ordem inversa à da sua deposição, e com a descrição, registo gráfico e fotográfico de todas as unidades estratigráficas detectadas. Convenhamos que escavara manualmente e com os cuidados precisos até cerca de 7m de profundidade em toda a área da escavação, além de não ser fácil, é trabalho demorado. Talvez um pouco de informação tivesse ajudado a compreender aquela escavação para não vir a ser, por muitos, apelidada com ironia e desprezo como o buraco da Câmara, e logo ali no Arrabalde onde pára grande parte da massa crítica desta cidade.

 

 

Projecção sobre fotografia aérea das termas romanas (apenas o que foi descoberto em escavações),

pois o complexo termal seria de maiores dimensões - ainda por descobrir)


Logo desde cedo, primeiro com o renascimento de um troço das muralhas seiscentistas que foi soterrada em 1870 para construção do mercado que aí existiu até meados do século passado. Na base começaram os primeiros indícios das tais termas romanas que viriam a confirmar as suspeitas das sondagens, ficou inviabilizada a construção do parque de estacionamento previsto e, antevendo-se um grande interesse museológico para a autarquia, o executivo abandonou de vez a ideia de um parque de estacionamento no local. Uma boa opção, sem dúvida alguma.

 

 

A monumentalidade das estruturas descobertas; a sua proximidade à ponte romana; o facto de, das numerosas intervenções arqueológicas até agora realizadas na cidade, quer de iniciativa pública quer privada, poucas terem resultado na musealização do património exumado; e, finalmente, o grande interesse científico que os achados poderiam vir a ter, quer por serem os primeiros vestígios de um edifício público encontrados na cidade em contexto de escavação, quer pelo aparente bom estado de conservação do registo arqueológico, levou a Câmara Municipal, e muito bem, a requer o estatuto de Monumento Nacional para o local, além da  musealização dos vestígios encontrados no local, onde serão colocados todos os achados (milhares e em bom estado de conservação) encontrados no local. Ao que sei, o projecto para o local já está em elaboração e congratula-me saber que desta vez, toca a uma equipa de flavienses (arquitectura e engenharia) fazer o projecto. Congratulo-me, porque está demonstrado que nestas coisas dos projectos, o sentimento e conhecer-se bem a terrinha, são condições muito importantes. Neste aspecto, o projecto, está bem entregue.

 

 

Maqueta das termas romanas de Bath (Aquae Sulis) em Inglaterra - Semelhantes às que agora estão a descoberto no Arrabalde,

à excepção do conjunto da parte esquerda da maqueta (templo), que se crê também existir em Chaves, mas que ainda não foi descoberto.


Mas vamos a um pouco daquilo que por lá se encontrou, que tal é a quantidade e qualidade, que este blog é pequeno para deixar aqui pormenores:

 

 - Logo na muralha, uma conduta de escoamento de águas coetânea que descarregava no fosso exterior a esta e que era composta em grande parte por silhares medievais, muitos deles com siglas de canteiro, reaproveitados, muito provavelmente, do desmonte do torreão que, de acordo com a planta de Duarte d'Armas, se situava ao fim da Rua Direita guardando a porta principal da vila;


- As fundações de uma casa do arrabalde anterior à construção da muralha da restauração incluída no interior de um muro tosco de pedras graníticas irregulares, que delimitava também uma área agrícola (hortas). Encostado ao lado exterior do muro da casa que dava para o interior da área vedada, encontrava-se um canteiro constituído por lajes graníticas fincadas na vertical delimitando uma pequena área. O resto do terreno vedado apresentava ainda marcas de arado. Este conjunto estava construído sobre um outro de cronologia medieval composto também por um muro, mas com pedras maiores e por uma casa, também de maiores dimensões e com um forno adossado. Estratigraficamente associados a este conjunto, mas do lado de fora do muro, encontrou-se:


-Uma grande quantidade de escórias de fundição e numerosas ferraduras e canelos e restos de cota de malha, que indiciam a localização nas imediações de um ferreiro. De notar que ainda hoje se chama Rua dos Ferradores à artéria que corre paralela à ponte do lado montante e que desemboca no Largo do Arrabalde.

 

Ilustração de Alma-Tadema do que seriam as termas romanas no seu interior -

Também idênticas às de Chaves


Sob este conjunto de unidades estratigráficas encontrava-se uma série de depósitos aluviais de areias e limos, correspondentes a um momento de abandono do local, sob os quais se detectou:

 

- as valas de violação do balneário termal romano, abertas nas camadas de derrube da cobertura deste. Pelo menos algumas destas valas devem ter sido abertas imediatamente após a derrocada do edifício, uma vez que se encontrou uma sepultura romana em tégulas formando uma caixa que continha um esqueleto em conexão anatómica, escavada nos derrubes da cobertura. A maior parte das valas estavam abertas ao longo das paredes da estrutura, de modo a recuperar, com o mínimo esforço os silhares bem aparelhados que as compunham.

 

Era notório o derrube organizado da abóbada de canhão que cobria originalmente a área de uma das piscinas  e do acesso a esta, prolongando-se até as estruturas do balneário romano.

 

 

Projecção das piscinas termais (sem cobertura) sobre fotografia aérea. As duas piscinas da parte inferior da imagem

já estão a descoberto, a piscina na parte superior da imagem, está apenas parcialmente a descoberto nas

escavações. Pensa-se que parte da piscina com dimensões idênticas à projectada neste esquema,

está por baixo da actual praça de táxis.


Após a escavação da área intra muralha até ao interface de destruição das estruturas romanas, procedeu-se à abertura de uma sondagem de controlo estratigráfico no enchimento do fosso, presumivelmente aterrado aquando da terraplanagem de 1870. Verificou-se, assim, que os construtores da muralha, ao abrirem a enorme vala para implantação da camisa e construção do fosso, destruíram todos os níveis medievais e removeram uma fiada de pedras das termas romanas, algumas das quais reutilizaram no embasamento da muralha, mas deixaram intactos os níveis de derrube da cobertura e o pavimento de uma sala em opus signinum, bem como as fundações dos muros e a cloaca de escoamento para o rio das águas excedentes do balneário.

 

.

 

Parte de Pirgo ou Turricula ( à esquerda tal como foi exumado) - à Direita um exmplar

do Landsmuseum de Bona, também em opus interassile.

De salientar que o pirgo encontrado em Chaves é o que se encontra em

melhor estado dos três únicos existentes e encontrados até hoje

e com desenho bem mais interessante que os outros dois existentes.

Trata-se de um lançador de dados para jogo.


Após a escavação, também deste lado, até ao interface de destruição do balneário romano, procedeu-se ao registo minucioso do derrube organizado da abóbada de canhão em opus laetericium que apresentava grandes tramos ainda em conexão e parte do revestimento em opus signinum, denunciando, uma derrocada súbita num movimento único e abrupto. Esta interpretação viria a ser confirmada pela presença de esqueletos humanos sob o derrube, provavelmente vítimas do colapso do edifício, que embora quase impossível de determinar, sabe-se que foi resultante de causas naturais.

 

Removidos os derrubes da cobertura e as camadas de argamassas e areias de construção que lhe estavam associadas, verificámos que as lamas subjacentes tinham conservado em ambiente húmido anaeróbico todos os metais e matéria orgânica em condições de conservação excepcionais, proporcionando um espólio de peças únicas de grande valor cientifico. De entre estas peças destaca-se um pirgo (torre para lançar dados de jogar) em opus interassile de bronze que constitui um dos três únicos exemplares deste tipo de objecto existentes no mundo (os outros dois encontram-se no Landsmuseum de Bona, na Alemanha e no Museu do Cairo, no Egipto), um fragmento de cestaria forrada de cortiça que envolvia originalmente uma garrafa, de forma a conservar a temperatura da água no seu interior, vários pentes em madeira, uma turquês em ferro perfeitamente conservada, uma ampulla (garrafa achatada e larga com duas asas) em madeira com uma inscrição no exterior, uma taça baixa em madeira, diversos objectos de adorno em madeira, metal e osso, como anéis, braceletes e pulseiras, contas em madeira osso vidro e cornalina, etc. Um autêntico tesouro.


 

Punhos em madeira em forma de mano fico fálica alada


O EDIFÍCIO TERMAL

 

Tal como as restantes cidades romanas com o elemento Aquae no seu nome, cerca de uma centena em todo o Império e oito conhecidas na Hispania (VELASCO 2004), Aquae Flaviae era uma verdadeira estância termal no período romano, o balneário, que constituiria o núcleo definidor do aglomerado urbano, deveria ocupar uma grande parte da área total da cidade.

 

Tratavam-se de termas de tipo terapêutico, muito diferentes tanto em forma como em função das termas higiénicas comuns a todas as cidades romanas. Eram vocacionadas para o tratamento de doenças e este facto, junto com o de estarem, seguramente, associadas a um centro de culto dedicado à divindade que se julgava propiciar os efeitos benéficos das suas águas, atraíam gente de diversos lugares, por vezes bem distantes.

 

Tendo em conta as informações de que, durante as obras de construção do Cine Teatro de Chaves, em 1964, distante cerca de 200 m. do local das presentes escavações, apareceram tanques e canalizações em tudo semelhantes às agora descobertas, bem como o número e capacidade das condutas de escoamento das águas, o complexo termal ocuparia cerca de um terço da área urbana da cidade romana, e teria uma volumetria só comparável, em contextos provinciais, à de Aquae Sulis, na Britania, (actual Bath, Inglaterra), classificada como Património da Humanidade pela UNESCO em 1987.

 

 

Aneis, pulseiras, colares, ferragens, contas, centenas de moedas, loiça,

alicates, etc, etc, ect, milhares de obrjectos encontrados no decorrer

da escavação em materiais que vão desde o ouro, ao bronze,

cobre, ferro, madeira, porcelana, mármore, e até cestaria se

encontrou nas escavações, entre outros - um autêntico tesouro.


Na área agora escavada (28 x 30 m.) foi descoberta uma piscina de grandes dimensões (13,22 x 7,98 m.) com cinco degraus no seu topo Norte,  uma outra apenas parcialmente escavada mas da qual um dos lados deverá ter cerca de 8 m., com seis degraus a toda a volta; um tanque pequeno, possivelmente para banhos individuais, cujo acesso se fazia através da berma da piscina de maiores dimensões por degraus que numa segunda fase terão sido tapados e cuja cobertura teria sido originalmente uma pequena abóbada de canhão, posteriormente substituida por um telhado de tegulae e imbrex; uma sala com pavimento em opus signinum e ralo para escoamento de águas e um complexo sistema de condutas de entrada e saída das águas que ainda correm com uma elevada temperatura e um caudal considerável. A cobertura da área central, incluíndo a piscina A e a área de acesso a esta, era composta por uma grande abóbada de canhão em opus laetericium revestida a opus signinum. Algumas das condutas seriam também cobertas por telhados em tegulae e imbrex. O sistema de condutas de escoamento das águas sofreu alterações ao longo da utilização do balneário, tendo algumas condutas sido tapadas e novas derivações construídas.

 

 

fragmento de um elemento arquitectónico em mármore com uma moldura de folhas de acanto


Quanto à cronologia do edifício, apenas se poderá referir, de momento, que o seu abandono se terá dado, como indicam os materiais selados pelos derrubes associados ao colapso da abóbada de cobertura, no último quartel do Séc. IV d.C. Não tendo ainda sido escavados os níveis correspondentes ao enchimento das valas de fundação de nenhuma das estruturas do complexo termal, não dispondo de elementos que permitam avançar para a datação da construção ou remodelações que este terá sofrido.

 

Da minha parte, pessoalmente e como flaviense, congratulo-me com as decisões que a Câmara Municipal tem tomado no decorrer destas escavações, agora concluídas numa primeira fase. Congratulo-me pelas escavações em si, mas também pela decisão de requerer o estatuto de monumento nacional e da musealização onde se poderão expor todos os achados no local. Congratulo-me também com a equipa de projectivas flavienses e deixo como única senão desta escavação a falta de informação pública que deveria existir no local desde inicio (agora colmatada com um pequeno painel colocado há semanas atrás – que peca por pequeno), além da delimitação da área de escavação que poderia ter um aspecto bem mais agradável, em vez das actuais vedações correntes de uma obra qualquer, porque aquilo não é uma obra qualquer, mas antes um tesouro que a cidade encontrou e que tanto nos pode a vir a dignificar com a sua importância.


Sem dúvida alguma que por baixo dos nossos pés existe um autêntico tesouro por descobrir.

 

Por último resta agradecer ao Director Científico das Escavações e Arqueólogo da Câmara Municipal, Dr. Sérgio Carneiro, a cedência de imagens dos achados bem como todas as informações sobre as mesmas escavações, sem as quais este post não seria possível.

 

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