Cidade de Chaves - Um olhar já a pensar no fim-de-semana
Trabalho e Ócio
Hoje porque é sexta-feira, vou deixar-vos uma imagem já a pensar no fim do dia, em que deixamos o trabalho para entrarmos em fim-de-semana, para os nossos momentos de ócio, lazer e descanso, um direito que todos os trabalhadores têm ou deveriam ter. Chamo aqui a atenção para não confundirem ócio com ociosidade, e também que, não deve ser entendido com o mesmo significado de lazer, embora quase sempre e vulgarmente se entenda como um seu sinónimo, que não é, mas também não é um seu antónimo, aliás, até podem conviver muito bem juntos. Há que ir à origem da palavra ócio para se entender o seu verdadeiro significado. Ócio é antónimo de trabalho, mas até se pode trabalhar nos nossos momentos de ócio, desde que seja um trabalho que se faz por obrigação, mas voluntário, nosso, que fazemos com prazer e em que saímos dele valorizados, humanamente valorizados, com mais conhecimentos, por exemplo.
Para melhor entendimento do que é trabalho e ócio, deixo-vos aqui um artigo de Carla Marques, em que se esclarece um pouco a sua relação, artigo, que desde já se diga, subscrevo na integra.
O trabalho e o ócio
Do trabalho para escravos ao trabalho que escraviza
(...)
A palavra trabalho teve origem em tripalium, nome latino de um instrumento de tortura, formado por três estacas de madeira que eram unidas de forma cruzada e cravadas no chão. Ao tripalium prendiam-se as pessoas que seriam castigadas pelo recurso a crueldades físicas várias. A inquisição soube bem reconhecer as virtualidades deste artefacto e recuperou-o como instrumento de tortura.
O que é facto é que o trabalho tem na sua etimologia o sangue da sevícia e do padecimento. Aliás, não esqueçamos que na Roma da Antiguidade trabalhava quem era escravo, ou seja, o trabalho era uma condição aliada à perda de liberdade.
A escuma do tempo e a mudança social tomaram em mãos uma verdadeira operação de cosmética ao conceito de trabalho que de escravo ascendeu aos títulos aristocráticos e se convenceu que enobrece o homem e que o eleva acima das outras criaturas. A formiguinha venceu, mesmo, a cigarra, como nos conta a fábula!
O ócio, antónimo de trabalho, que era tido como arte de fruição existencial, caiu na lama e foi crucificado como pecado mortal por mãos dos seguidores acéfalos do trabalho, que esfregou as mãos de contente! Os desocupados, os inativos e os preguiçosos são os novos párias da sociedade, que acusa e rejeita todos aqueles que não se dão a grandes esforços e que não contribuem para a dita produção de riqueza (própria ou alheia, bem entendido seja).
E é assim que o trabalho, erguido à condição de deus salvador da condição humana, não deixa de mostrar debaixo da capa brilhante as puas que amarram o homem. Toda a depuração de sentidos que a palavra sofreu não erradicou a realidade em que teve o berço. O tripalium continua lá, no cerne do seu ADN (mais para uns do que para outros, é certo). Suga-nos a humanidade, mas já não vivemos sem ele e sofremos amargamente se o perdemos. O mesmo trabalho que assumiu a dignidade da nobreza rebaixou-nos à condição de escravos, em sofrimento, mas resignados, quase a achar que somos felizes por ter trabalho.
Safaram-se alguns: os chicos-espertos e aqueles para quem se trabalha.'
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/idioma/o-trabalho-e-o-ocio/4211
Venha então daí o fim-de-semana! Ah! e dedico o post de hoje a algumas pessoas que eu cá sei…