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Vamos até Tresmundes e vamos começar pelo seu topónimo, à minha maneira, por dedução e por aquilo que nome indica, associado ao lugar, aos ares, aos sons ao cheiro, àquilo que a própria aldeia nos sugere. Pois chegados a Tresmundes, logo se entende o porquê do seu topónimo, não tivesse Tresmundes, três mundos a seus pés ou ao seu alcance, de vistas e largos horizontes que facilmente se podem imaginar e até sonhar desde esta aldeia, pois de facto, tem o grande vale a seus pés, todo um mundo de cidade, para logo a partir dele se entrar por um outro mundo de montanhas barrosãs e um pouco ao lado, montanhas galegas. Todos estes três mundos são possíveis em imagem, em sonhos e aventuras imaginárias vistas lá do alto, desde Tresmundes.
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E depois de dar largas à minha imaginação quanto ao topónimo, dizem os entendidos cá do sítio, que não é assim, o topónimo Tresmundes, nada tem a ver com os meus “três mundos”, mas antes com um nome próprio de pessoa da Idade Média. Na falta de melhor, vamos ficando com aquilo que os entendidos dizem, no entanto convém ter sempre em conta que na história também se inventa e quando o inventor é conceituado, o invento passa a facto, confirmado ou não, principalmente quando não há documentos que atestem a veracidade das afirmações…pensando melhor, acrescento à confusão a minha teoria dos “três mundos”, pois nem há como passar por Tresmundes e avistar aquilo que o horizonte nos proporciona, para confirmar a minha teoria.
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Cidade de Chaves vista desde Tresmundes
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Devaneios aparte, vamos então até Tresmundes, que como já entenderam pela primeira foto, pertence à freguesia de Cela, ou seja, é uma aldeia de montanha, bem lá no alto, a 800 metros de altitude e em plena encosta da Serra do Brunheiro, daquela encosta que se mostra ao vale de Chaves, que é visível da cidade, embora a aldeia não o seja, ou melhor, há duas ou três casas que espreitam para o vale e que vistas desde este, são apenas pequenos pontos brancos que se confundem com o recortar da silhueta do Brunheiro projectada nos céus, de azul forte de verão, ou cinzentões de inverno.
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Pela altitude facilmente se compreenderá que é aldeia de invernos rigorosos, mas não só, mas também pela sua localização geografia na ocupação da encosta poente do Brunheiro, que só tardiamente deixa que o sol ilumine com algum calor durante as tardes, que de Inverno, quase nem existem. Assim, o branco das geadas e nevadas prevalecem durante dias e semanas nas sobras da própria sombra a que a aldeia está sujeita. Terra e aldeia de clima bem difícil e feita para os resistentes, os autênticos, que lhe resistem, sobretudo pela idade e pelo amor que sempre existe pela terra onde se nasceu.
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Tresmundes, como aldeia de montanha, é também terra de resistentes, não só pela montanha alta em si, mas também por aquilo que a montanha e a inclinação das suas encostas não permite e porque tudo que se consegue arrancar dela significa trabalho e esforço redobrado, aliado à tais politicas de esquecimento e desprezo ditado desde os governantes de Lisboa para com o interior, onde a gente que por estas aldeias existe, não é igual à do litoral ou dos grandes centros, mesmo que muitos deles fossem paridos por esta gente. Mordomias e as luzes da cidade, facilmente fazem esquecer o engaço, e olham para esta gente, que afinal é a sua gente, como gente de outro mundo, como se de uma reserva nativa em vias de extinção se tratasse, e, com as tais politicas ditadas da capital, para lá se caminha, para a extinção, não só das aldeias montanhosas do interior, mas para toda uma riqueza cultural, usos e costumes e sobretudo o espírito salutar e comunitário de gente de bem, com princípios, de palavra, hospitaleira e amiga. Valores que não contam como números para apontar em gráficos à Europa e Valores que cada vez mais são esquecidos por quem nos “governa”.
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Para quem é habitual neste blog e, que para além das imagens, lê aquilo que escrevo, sei que é mais do mesmo aquilo que por aqui deixo sobre o despovoamento das aldeias, mas só há uma maneira de conhecerem a realidade actual das nossas aldeias, e essa, está fortemente ligada ao próprio despovoamento e ao esquecimento a que as aldeias foram dotadas, ou melhor, estão sujeitas, pois é triste, para quem conheceu todas estas aldeias há 30 ou mais anos atrás, entrar nelas e vê-las sem vida, sem crianças, envelhecidas e com todo o seu rico casario tradicional degradado, abandonado ou em ruínas, onde só e mesmo os resistentes, resistem. Esta é uma realidade que não se pode esquecer, que tem culpados e por isso não se pode ignorar, ou fazer de conta que não existe. Por isso, vão continuar a ter mais do mesmo, porque eu tenho teimosia bastante para não calar estes e outros males que nos assolam, enquanto os de Lisboa brincam com os dinheiros públicos e megalomanias com TGV’s e outras grandezas de entreter para parecermos grandes na Europa, mas só para parecermos e não para o sermos ou então, pior ainda, para enriquecer quem é “grande”. No entanto é-se grande, quando não se
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renega os seus e damos valor aos valores das pessoas, à sua identidade, ao seu passado, à sua realidade, aos seus usos, costumes e tradições, às suas diferenças. É aí que está toda a nossa riqueza, que podemos dar e exportar para a Europa, mas infelizmente, todas as políticas de Lisboa são de desprezo para connosco, onde até as tradições artesanais daquilo que fazemos melhor, são proibidas e punidas por Lei. Claro que falo do da matança do reco, do fumeiro artesanal, das couves da horta, das compotas sem rótulo e prazo de validade, do leite vindo directamente das tetas da vaca, do vinho de lavrador, dos queijos do pastor, do cabrito da corte, da aguardente do alambique da esquina… ou seja, de tudo que a ASAE persegue e que quer acabar com o que é bom e puro, com as tradições, com o povo, com as aldeias. Vergonha é o que deviam ter os senhores de Lisboa, mas não têm, pois além disso são hipócritas e lambem-se todos com as linguiças, os salpicões e presuntos que em jeito de subserviência os de cá (iguais a eles, mas em miniatura) lhes enviam, para num futuro próximo, não serem esquecidos… Já não há respeito e por isso, não me calo e ninguém me calará enquanto as políticas dos políticos de Lisboa forem contra o nosso povo do interior e os políticos da província, entretidos com os seus umbigos e “grandes” feitos, continuem a dizer ámen a tudo quanto é ditado da e pela capital. É tempo de dizer “Basta Já” ou traduzido para português “Já Chega!”.
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Podem parecer devaneios de escrita, mas não o são, são antes revoltas que se sentem dia-a-dia por quem por cá vive, pelos resistentes, sobretudo pelos das aldeias, da montanha, onde estas injustiças mais se fazem sentir.
Regressemos a Tresmundes, que desde o seu mundo, a 9 Km de Chaves, lá desde o alto do Brunheiro, os seus 91 residentes (Censos 2001) vêem o com certeza sonham com um mundo melhor, mesmo que de lá avistem três mundos. 91 residentes, perdão, resistentes, onde mesmo assim, em 2001 havia 5 crianças com menos de 10 anos, 19 com menos de 20 anos (incluindo as 5 crianças) e 18 resistentes com mais de 65 anos.
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Quanto à vida da aldeia, é os costume nas aldeias de montanha, a agricultura predomina, a de proximidade e subsistência, com a batata, o centeio e a castanha, como principais actores nas suas lides da terra. Claro que, ninguém mo disse mas adivinha-se, tem os seus emigrantes e também os resistentes que têm que encontrar o seu modo de vida fora da aldeia, pois por lá, o que se produz, com certeza que não chega para viver.
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A aldeia desenvolve-se à volta de um grande largo onde marca presença como elemento principal a capela, simples e pequena cuja padroeira é a Senhora do Rosário, mas onde também figura o São Barnabé com uma representação muito invulgar.
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Por último e para terminar uma referência ao estradão que liga e separa Tresmundes de Carvela, ou falando em termos rodoviários, o estradão que separa ou liga a Estrada Nacional 213 da Estrada Nacional 314, pois é um estradão de montanha, em terra batida e diariamente utilizado por dezenas de pessoas, pois este estradão tem apenas 3 Km e poupa na ligação entre as duas aldeias ou as duas estradas 21 Km de estrada asfaltada, pois se quisermos fazer esta ligação, com condições mínimas, entre as duas aldeias (a apenas 3 Km de distância), teremos que obrigatoriamente descer todo o Brunheiro, passar pela cidade, para de novo subir o Brunheiro. 3 Km de estrada têm os seus custos, mas os benefícios, neste caso, compensam o investimento, e sempre se poderá fazer com um luxo que se roube à cidade de Chaves.
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E por Tresmundes é tudo e pela freguesia de Cela também vai sendo. Freguesia tão próxima de Chaves e tão rural que é, e também de contrates com paraísos esquecidos e incompreendidos, comas as suas duas Ribeiras, a de Sampaio, cuja beleza preenchia qualquer alma pelo seu bucolismo e que anos recentes desvirtuaram e a Ribeira do Pinheiro, pelo qual este blog ainda nunca passou, pois a par da Vila Rel, é a aldeia ou lugar cujos acessos são difíceis e complicados, que neste caso da Ribeira do Pinheiro, fica ali mesmo a umas dezenas de metros da E.N. 213. Mas fica a promessa que um dia, este blog também passará por lá, pois pelo que aparenta, é um pequeno paraíso em beleza.
Até amanhã!
P.S. – O visitante que hoje atingir as 600.000 visitas tem direito a uma dúzia de pastéis de Chaves.