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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

17
Dez10

Crónicas Ocasionais - Angola é nossa!


 

 

.

 

ANGOLA  É  NOSSA!”


 

17 de Dezembro de 1(.)96………!


Ainda a noite mal anunciava a madrugada, o navio Vera Cruz ia-se enchendo de almas penadas, para serem levadas aos infernos do «Ultramar Português».


O Comando Supremo das Forças Armadas, levado pelo seu elevado sentido estratégico, montou no cais de Alcântara um arquipélago de gulag” para alguns familiares, poucos amigos e imensas apaixonadas daqueles que iam partir.


Levantadas as escadas, a chaminé do navio soltou uma grossa e imponente golfada de fumo negro que se apagou só quando o silvo do sinal de partida bateu no céu.


O nevoeiro cerrava-se cada vez mais. E a lentidão com que a nau se afastava do cais pareceu ser empurrada com a força da pesada nuvem.


Da amurada, pareceu-nos ficar a ver fantasmas, medonhos, a gritar e a bracejar, a afogarem-se.


Ao nosso lado, uns cobardolas cretinos ameaçavam atirar-se borda fora prometendo cair nos braços das putas que ali vieram gritar o contentamento de se verem livres deles.


Vencida a barra, os chorões e os desesperados depressa esqueceram a saudade ou a tristeza, e instalaram-se nas mesas dos salões «a batê-las».


Ao almoço já parecia estar-se na Srª da Saúde,  na Srª da Livração ou no S. Caetano.


E o «caralho» era o deus omnipresente em toda e qualquer oportunidade de abrirem a boca!


Enquanto o navio cortava a linha do Equador, a amurada ia-se enchendo de gargantudos guerreiros a lançarem golfadas de bravuras estomacais pela borda fora.


S. Gregório nunca fora tão festejado!


O Natal foi passado no mar alto.


Na noite de Consoada, «O Conjunto» do navio - nada que se comparasse com o «Calypso» das Verbenas do Jardim Público (quando este era Jardim e tinha público!) de CHAVES - tocou umas modas e repetiu as «QUEZARDAS de MONTI» … porque um «maçarico» da Trafaria quis-se dar ares de «lisvoeta».


Um, ou outro, demorou-se no convés, a contemplar o portão de entrada em África - a Baía de Luanda!


Do barco ao Grafanil nem se soube como lá se chegou.


Pouco importava.


As visitas solenes à catedral da CUCA e da NOCAL mataram a sede às saudades dos saudosos e fizeram nascer gigantes entusiasmos para se cumprir «a missão» - todos iam em «comissão»!


E, depois de apanhado o travo da Cuca ou da Nocal, lá seguiram, uns e outros, para «o destino», algures naquela imensa Angola.


Poucas semanas passaram para que toda aquela maralha fosse posta a «olhar para o passarinho», com aprumo e asseio encomendados, o «brilhozinho nos olhos», a dentuça abrilhantada na hora, e a dizer:

 

-“…….rinhónhó, rinhónhó”, e “Adeus até ao meu regresso”     - sem vírgula no adeus.


 

Um, ou outro, não se prestou à cena.


Mas que outras cenas se deram por lá!


E por cá!


Alguns deixaram lá o corpo e a alma.


Outros trouxeram só o corpo defunto.


Alguns chegaram decepados.


Muitos de vós, com medalhas ao peito.


Um, ou outro, passa, ou passou, a vida com medalhas no coração e cicatrizes na mente.


Depois, acabou o «Ultramar Português»!


Mas todos LÁ deixaram um pedaço, maior ou não tão grande, do coração!


De um, ou outro, - ou de (quase) todos - ANGOLA será sempre NOSSA!

 

 

Tupamaro


 

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