O Barroso aqui tão perto - Freguesia de Covas do Barroso
Aldeias e Freguesias do Barroso - Concelho de Boticas
Covas do Barroso
FREGUESIA DE COVAS DO BARROSO
Covas do Barroso - Muro - Romaínho
Depois de termos abordado individualmente cada uma das aldeias da freguesia de Covas do Barroso, fazemos hoje aqui o resumo da freguesia, com a sua caracterização e mais alguns dados sobre a freguesia.
Muro
Localização geográfica
A freguesia de Covas do Barroso situa-se na parte Sul do concelho de Boticas. Confronta com várias freguesias: a Norte S. Salvador de Viveiro, a Este Canedo do concelho de Ribeira de Pena, a Sul Gondiães do concelho de Cabeceiras de Basto e a Oeste Dornelas. A freguesia localiza-se num vale, protegido a Norte pela Serra da Sombra e a Sul pela Serra do Pinheiro. É devido à sua situação geográfica, rodeada por serras, que advém o seu topónimo de Covas, pois quando avistada do Alto do Castro parece uma cova. Dista da sede do concelho aproximadamente 20 km. O acesso viário faz-se seguindo pela ER 311, virando na indicação Campos / Covas do Barroso, percorre-se a EM 519-C até à aldeia de Covas do Barroso, ou, em alternativa, percorre-se a ER 311 e virando na indicação Covas do Barroso segue-se pela EM 519-1C.
Romaínho
Área total da freguesia: 29,6 km2
Localidades da freguesia:
- Covas do Barroso, sede de freguesia
Muro
Romaínho
População Residente
262 habitantes (CENSOS de 2011)
Gráfico da população residente. Até 1967 a freguesia de Covas, além das atuais aldeias que a compõem, pertenciam ainda à freguesia as aldeias de Viveiro, Agrelos, Bostofrio e Campos que deram origem à freguesia de São Salvador de Viveiro.
Orago
Santa Maria
Festas e Romarias
- S. José,* 19 de Março, Romaínho,
- Nossa Senhora da Saúde, 1º domingo de Junho, Covas do Barroso
- Santo António,* 13 de Junho, Covas do Barroso
- Carolo de Santo António, 14 de Junho, Covas do Barroso
(*) – Só celebração religiosa
Património Arqueológico
- Alto do Castro
- Castro do Poio
- Povoado de S. Martinho
- Povoado do Cemitério de Covas do Barroso
Covas do Barroso
Património Edificado
- Capela de Nossa Sra da Saúde (Covas do Barroso)
- Cruzeiro de Covas do Barroso – Património Classificado (IIP)
- Fontanário (Covas do Barroso)
- Forno Comunitário de Covas do Barroso
- Igreja Paroquial de Covas do Barroso – Património Classificado (IIP)
- Tribunal (Covas do Barroso)
- Capela de S. José (Romaínho)
Covas do Barroso
Outros locais de interesse turístico.
- Forno do Povo de Romaínho (construção recente)
- Dois Moinhos de Rodízio (Covas do Barroso)
- Casa Museu Quinta do Cruzeiro (Ecomuseo de Barroso)
Covas do Barroso
A FREGUESIA DE COVAS DO BARROSO: GEOGRAFIA E PERSPECTIVA HISTÓRICA[i]
A freguesia de Covas do Barroso situa-se na parte Sul do concelho de Boticas. Confronta com várias freguesias: a Norte S. Salvador de Viveiro, a Este Canedo, do concelho de Ribeira de Pena, a Sul Gondiães, do concelho de Cabeceiras de Basto, e a Oeste Dornelas. Dista da sede do concelho aproximadamente 20 km. O acesso viário faz-se seguindo pela ER 311, virando na indicação Campos/Covas do Barroso, percorre-se a EM 519-C até à aldeia de Covas do Barroso, ou, em alternativa, percorre-se a ER 311 e virando na indicação Covas do Barroso segue-se pela EM 519-1C.
É constituída por três aldeias: Covas do Barroso, sede de freguesia, Romaínho e Muro, localizadas num vale, protegidas a Norte pela Serra da Sombra e a Sul pela Serra do Pinheiro. É devido à sua situação geográfica, rodeada por serras, que advém o seu topónimo, pois quando avistada do Alto do Castro parece uma cova. Em termos territoriais é a quarta maior freguesia do concelho, ocupando uma área total de 29,6 km².
Muro
População, economia e sociedade
O desenvolvimento da população desta freguesia de Covas do Barroso tem acompanhado o movimento demográfico que caracteriza toda a região de montanha no Norte de Portugal tipificada por uma diminuição progressiva da população, com uma pirâmide etária invertida, onde os grupos etários mais baixos são diminutos e a população envelhecida aumenta.
Romaínho
Actualmente, esta freguesia conta com aproximadamente 348 residentes. Ao longo dos últimos 40 anos, e à semelhança do que se verifica na generalidade das freguesias do concelho, perdeu muita da sua população residente, cerca de 79,2%. Este fenómeno explica-se em parte pela intensificação dos fluxos migratórios que se registaram a partir da década de 60, nomeadamente para França, Brasil, Estados Unidos da América, Canadá, Suíça, Alemanha. No entanto há que levar em consideração que os valores observados em 1960 (1672 residentes) integram as localidades de Agrelos, Bostofrio, Campos e Viveiro que à altura faziam parte da freguesia e que a partir de 1967 passaram a constituir uma freguesia independente (S. Salvador de Viveiro). Tendo em conta que na década de 60, nas aldeias que actualmente compõem freguesia de S. Salvador de Viveiro residiam 830 pessoas, retirando este valor ao da freguesia de Covas do Barroso, que ficaria então com 842 residentes, verifica-se que a percentagem de diminuição da população é semelhante à da média, 58,7%.
Covas do Barroso
A este fenómeno alia-se o gradual envelhecimento da população, sendo que 81% dos 348 residentes têm idade superior a 25 anos, e destes, 40% têm 65 anos ou mais.
Os níveis de alfabetização da população residente são baixos, acompanhando o seu nível de envelhecimento, destacando-se o número elevado de pessoas sem nenhuma qualificação académica. Esta situação excepcional é suportada pelo grande número de idosos, alguns deles regressados da emigração, em situação de aposentados.
Relativamente à área de actividade económica dominante, a maior parte da população local dedica-se à agricultura e à pecuária, seguindo os caminhos ancestrais da freguesia, visando principalmente a subsistência.
Muro
Algumas famílias continuam a actividade tradicional de criação de gado. Dedicam-se também à produção de batata, milho e algum centeio, os produtos que melhor se desenvolvem e produzem nesta região de Barroso, com elevados níveis de qualidade e sabor. Também a produção artesanal de mel e fumeiro está hoje em vias de desenvolvimento, funcionando como complementaridade no rendimento das famílias. Dadas as médias altitudes a que a freguesia se encontra, tem o clima mais quente pois encontra-se mais próximo da Ribeira, que dos rigores extremos de Barroso, aqui também se produz vinho de bordadura/morangueiro. Parte da população trabalha na construção civil local ou em freguesias vizinhas.
Covas do Barroso
No que se refere à sociedade, esta comunidade é uma sociedade homogénea, caracterizada pela existência de famílias de lavradores e pequenos proprietários de terras onde se desenvolve a actividade agrícola e pecuária.
Na freguesia existem dois cafés e uma mercearia. Em termos associativos existe a Associação Cultural e Recreativa de Covas do Barroso.
Covas do Barroso
Marcas do seu passado
Não é fácil conhecer a data da origem da maioria das paróquias e freguesias, sendo a sua origem desconhecida no tempo, por não haver provas documentais. Umas mais antigas, outras de origem mais recente, sabe-se que a maioria destas aldeias são formadas a partir do agrupamento de famílias unidas por laços de parentesco ou afinidades económicas e profissionais, que se organizaram em comunidade. Muitas das aldeias de Barroso têm a sua origem histórica no movimento de reconquista e povoamento do território iniciado com a formação do Reino de Portugal em 1143 e posterior fixação de uma ou mais famílias de povoadores. Teve particular desenvolvimento a partir dos finais do século XIII. Estes povoadores eram atraídos por contratos de aforamento, cujos termos do contrato eram favoráveis à sua fixação, traduzidos em pagamentos de foros de valor acessível. Estes contratos são conhecidos como o processo de enfiteuse que era promovido indistintamente pela Coroa e/ou pelas Casas Nobres e Senhorios Eclesiásticos.
Romaínho
São conhecidos alguns contratos de aforamento para as terras de Barroso, o que nos permite pensar que a grande maioria das suas aldeias e povoados tiveram origem neste modo de povoamento[ii].
Alguns contratos de aforamento são disso testemunho, como é o caso do aforamento da “Póvoa” de Lavradas, feito nos finais do século XIII (1288 da era Cristã), no tempo do Rei D. Dinis e que, tudo o indica, está na origem da actual aldeia de Lavradas.
Covas do Barroso
De facto, por este documento fundador de Lavradas, verifica-se que foi terra ocupada, a partir de uma carta de aforamento passada pelo Rei de Portugal, a um conjunto de povoadores que, com suas mulheres, receberam autorização de Sua Majestade para formarem 11 casais (propriedades agrícolas), que deveriam povoar, lavrar e frutificar, a troco de um foro (renda), traduzido em dois maravedis e dois alqueires de pão (um de milho outro de centeio) por casal, que deveriam pagar pelo S. Martinho. Covas de Barroso tem, porém, vestígios que informam a presença de habitantes de época pré-romana. Situada na bacia do rio Beça, integra um conjunto de povoados que revelam vestígios da presença dos povos antigos, designadamente dos romanos e dos suevos. Pensa-se que os habitats resultavam da presença de minérios e da consequente exploração.
Muro
Existem vestígios de dois povoados medievais. Segundo a tradição oral, o povoado de S. Martinho ficou deserto pelo abandono resultante da peste epidémica. É possível encontrar vestígios de estruturas habitacionais e até trilhos de rodados de carros de animais. O povoado de Stª Bárbara, também deserto, ficaria junto da capela de Santa Bárbara, onde os vestígios de ocupação humana são menos visíveis. No “Numeramento” mandado fazer por D. João III, Covas aparece referenciada como tendo 34 moradores, não referindo porém Romainho que, por estar perto de Covas teria sido integrado na própria sede de paróquia. Como se pode ver no documento de 1758, que vem no ponto seguinte, Covas era no século XVIII uma paróquia com mais quatro aldeias e com um termo mais alargado, fazendo parte dela Campos, Viveiro, Bostofrio e Agrelos que, por actualmente pertencerem a uma nova freguesia (S. Salvador de Viveiro), serão tratadas em lugar próprio.
Romaínho
O Castro do Poio e outros vestígios arqueológicos em Covas do Barroso
O povoamento do território que corresponde à actual freguesia remonta a épocas muito distantes, como o comprovam os diversos vestígios arqueológicos encontrados nesta zona.
O Castro do Poio é um outeiro que apresenta 3 linhas de muralhas e marca a ancestralidade desta freguesia. Nesta freguesia encontram-se também vestígios de povoados medievais, no lugar de S. Martinho, que terá sido, diz o povo, uma aldeia medieval que ficou deserta pela acção da peste. Também junto da capela de Stª Bárbara se encontram vestígios que parecem ser de antigas construções, que fariam parte de uma povoação. Outro testemunho da riqueza cultural de Covas do Barroso é a sua imponente Igreja Paroquial, com cachorrada exterior, duas capelas e dois altares laterais, onde podemos observar frescos e a estátua jazente de D. Afonso Anes Barroso, escudeiro de D. Afonso, 1º Duque de Bragança. Esta igreja, cujo orago é Santa Maria, é imóvel de interesse público, conforme o Decreto Nº 47508 de 06/10/1967.
Covas do Barroso
Um documento de 1758
No ano de 1758 o Rei D. José através do seu ministro Marquês de Pombal desenvolveu um inquérito a todas as paróquias do Reino de Portugal continental que hoje se encontram no IAN/TT[iii]
Este inquérito, que foi respondido pelos párocos das freguesias, era composto de três partes, a primeira respeitante à paróquia onde se tratava de saber da sua história, produções agrícolas, população, instituições locais, igreja e capelas com suas devoções e romagens, a segunda tratava da serra e das suas características, se tinha lagoas e nascentes, monumentos, capelas, caça e árvores e a terceira perguntava sobre os rios e ribeiros que nela existissem, assim como das levadas, represas, moinhos, pisões e culturas nas suas margens.
Covas do Barroso
É a resposta dada pelo pároco da freguesia de Covas nesse ano, o Abade Bento de Moura que adiante apresentamos. Note-se que esta descrição engloba as aldeias que hoje já não constam da freguesia.
Para melhor leitura foi actualizado o Português naquelas palavras que consideramos necessário, introduzindo-se-lhe pontuação e parágrafos.
Descrição da terra, serras e rios deste lugar e freguesia de Santa Maria de Covas de Barroso.
Muro
Bento de Moura, Comissário do Santo Ofício, abade da igreja paroquial de Santa Maria de Covas de Barroso, comarca de Chaves, Arcebispado de Braga Primaz das Hespanhas. Certifico e digo em resposta aos interrogatórios que recebi por ordem do Ilustríssimo Abade Senhor Doutor Vigário Geral da dita comarca.
Ao primeiro, este lugar de Covas é termo do concelho da vila de Montalegre, da comarca e ouvidoria de Bragança pólo secular e província de Trás-os-Montes. Pelo eclesiástico é da comarca de Chaves, Arcebispado de Braga Primaz e cabeça da freguesia de Santa Maria de Covas de Barroso.
Covas do Barroso
Ao segundo, é este lugar e freguesia [assim] como todo o termo e concelho da jurisdição da Sereníssima Casa de Bragança, que nele põe todas as justiças e tem nesta freguesia muitos foros e casas.
Ao 3º, tem este lugar de Covas noventa e seis vizinhos com o arrabalde de Romaínho, que fica afastado meio quarto de légua pouco mais ou menos, e tem quatrocentas e trinta pessoas com mais de sete anos.
Ao 4º, está este lugar situado num vale pequeno, cercado de montes ásperos com muitas pedras e dentro dele não se avista povoação alguma.
Muro
Ao 5º, não tem este lugar termo seu, pertence ao da vila de Montalegre.
Ao 6º, igreja paroquial está fora do lugar mas não muito longe dos vizinhos. Tem a freguesia, além do dito lugar de Covas os seguintes: o lugar de Campos que dista da paróquia meia légua, tem vinte e oito casas e cento e trinta pessoas; o lugar de Viveiro que tem cinquenta fogos com duzentas e trinta e seis pessoas e dista da paróquia três quartos de légua; o lugar de Bustofrio que dista da paróquia meia légua, tem vinte e cinco fogos e cento e dezoito pessoas; O lugar de Agrelos com catorze fogos e setenta e sete pessoas. Toda a freguesia tem no total duzentos e treze fogos e novecentas e noventa e uma pessoa, todas com mais de sete anos.
Romaínho
Ao 7º, o orago é Santa Maria de Covas de Barroso, [a igreja] tem cinco altares: o altar maior onde está colocado o sacrário do Santíssimo Sacramento, a Senhora padroeira, São Luís, São Caetano, Santo Antão, São João Evangelista, Santa Ana e Santa Maria Madalena. No corpo da igreja, está da parte do evangelho o altar da Arcossólio de D. Afonso Anes Barroso Senhora do Rosário e o altar do Menino Deus e da outra parte o altar de S. Sebastião e o altar das Almas. A igreja não tem naves, a capela maior é de abóbada de pedra que representa ser muito antiga; no corpo da igreja está uma sepultura levantada e metida com um arco na parede de costan da parte do sul que é um caixão de pedra posto em cima de dois leões de pedra. E por cima está tapado com uma pedra que tem em relevo a figura do homem que nela se sepultou. Defronte tem um epitáfio gravado numa pedra, com letras góticas em relevo e levantados que dizem: Aqui jaz Afonso Anes Barroso o qual foi muito honrado escudeiro do Duque de Bragança, filho do rei D. João, morreu no ano do Senhor de IMCCCC : IX], ano que segundo o que me parece são mil L : IX e quatrocentos e nove anos; presume-se que este homem viera para esta terra com muito dinheiro a fazer prazos que hoje são da Sereníssima Casa de Bragança e fizera [esta] capela para sua sepultura e depois a dera para a paróquia. Sabe Deus se assim foi!
Covas do Barroso
Ao 8º, o título do pároco desta freguesia é abade da apresentação da Sereníssima Casa. E como dos frutos desta abadia se tirou a terça parte para a capela dos Reais Passos de Vila Viçosa, as quartas nonas para a Santa Basílica Patriarcal e segundo as partilhas que lhe fazem, ficaram para o Abade cento e oitenta a duzentos mil reis em frutos, pouco mais ou menos.
Ao nono, não tem beneficiados, somente o Abade apresenta o vigário da freguesia de Santa Maria Madalena das Alturas, sua anexa, que dista daqui uma légua grande.
Covas do Barroso
Ao décimo, não tem esta freguesia convento algum.
Ao 11, não tem hospital nem casa de misericórdia.
(?)[iv]
Ao 13º, tem esta freguesia as seguintes ermidas ou capelas: neste lugar de Covas, a de Santo António, que está dentro do lugar onde está situada a irmandade das Almas, por cuja despesa corre a fábrica dela; no arrabalde de Romaínho está a ermida de Nossa Senhora do Desterro, pouco afastada das casas do lugar e as mais das vezes dela se administra o sagrado viático; no lugar de Campos há a emida de Santo Amaro, um tiro de bala fora do lugar, pertence aos moradores que a fabricam; no lugar de Agrelos a ermida de São Mamede, que fica quase no meio das casas e também pertence aos vizinhos; no de Bustofrio, a de São Marçal, junto às casas dos moradores a quem pertence por a fabricarem; no de Viveiro a de Santa Bárbara, fora das casas mas junto a elas, que também pertence aos moradores pela mesma razão. Há mais outra ermida dentro do limite do lugar de Viveiro apartada dela meio quarto de légua grande, num monte no meio de um casal da Sereníssima Casa da invocação do Senhor Salvador do Mundo. Parece ter sido algum tempo freguesia porque na parede dela, no adro e à volta há, ainda hoje, algumas sepulturas feitas em pedra lajes à medida e com o feitio de corpos. Esteve durante algum tempo quase arruinada mas foi reconstruída com as esmolas dos fiéis.
Muro
Ao 14, a nenhuma das referidas ermidas acorrem romagens de fora da freguesia excepto algumas pessoas que vêm às festas que nelas se fazem no dia da invocação dos seus santos padroeiros, em cada ano. Somente à do Senhor Salvador do Mundo vem muita gente de várias partes, com porcos, bois e vacas quando lhe adoecem com algum contágio ou são mordidos por alguns cães danados. Nela fazem em cada ano duas festas que constam de missa cantada, sermão e às vezes gaita de foles: uma a 6 de Agosto por conta dos moradores de Viveiro, é a principal; e outra na primeira terça feira depois do domingo da Ressurreição de Cristo. A ambas acorre muita gente em romaria e trazem as suas esmolas de centeio, linho e orelhas de porco de cujo produto se faz esta festa e se fabrica a capela. Alguns mandam cantar as suas missas e nestes dias vêm bastantes tendeiros com as suas tendas, paneleiros de Chaves com loiça, outros com cebolas e outros com pão, vinho e frutos. Também no dia da Ascensão se junta bastante gente com clamores, que em alguns anos também vêm nos outros dois dias acima ditos.
Romaínho
Ao 15, os frutos que se colhem neste lugar de Covas são: milho grosso, algum centeio, algum milho pequeno e vinho verde de umas árvores a que chamam de enforcado. Em Agrelos e Bustofrio centeio, algum milho grosso e miúdo e já colhem também algum vinho verde de enforcado. Em Campos e Viveiro centeio e pouco milho.
Ao 16, nos lugares desta freguesia somente há juízes pedaneos e quadrilheiros, no restante estão sujeitos às justiças da vila de Montalegre que [tem] juiz de fora posto pela junta da Serenissima Casa e camara feita pela mesma.
Covas do Barroso
Ao 17º, não é couto, nem cabeça de conselho, nem honra. Não consta que destes lugares saíssem homens notáveis em Virtudes, Letras ou Armas.
(?)[v]
Ao 19º, não tem feira franca nem cativa. Não tem correio, servem-se do de Chaves, Braga e alguns do de Basto.
(?)[vi]
Ao 21, dista esta freguesia da cidade de Braga, capital do Arcebispado, dez léguas e da cidade de Lisboa, da capital do Reino, setenta e uma pouco mais ou menos.
Covas do Barroso
Ao 22º, esta freguesia, assim como toda a comarca da Ouvidoria de Bragança, tem os privilégios de vassalos da Sereníssima Casa e não podem ser demandados fora do seu juízo sem provisão concedida por Sua Majestade como administrador do Ducado. Tem mais alguns moradores que possuem casais, os privilégios de reguengueiros e além destes, tem outros moradores os privilégios de Tabaco, Bulas, Cativos e Santo António. Para além destes, há os que possuem casais fechados da mesma Sereníssima Casa têm tais privilégios que dentro deles não se podem prender criminosos, segundo o que tenho ouvido dizer. Não há outro privilégio nem antiguidade digna de memória.
Ao 23º, não há nesta terra, nem perto dela, nenhuma fonte ou alguma lagoa célebre. Não há porto marítimo, nem terra murada, nem há perto dela castelo ou torre alguma antiga. Não sofreu ruína alguma no terramoto de 1755, bendito seja Deus, nem me consta de outra coisa alguma digna de memória.
Romaínho
A respeito das serras
Há uma pequena serra, entre este lugar de Covas e a freguesia de Salvador de Canedo, chamada Pinheiro, pouco conhecida ao longe. O termo destas duas freguesias divide-se pelo cimo dela. Principia no sítio de Mestras e vai continuando por entre o lugar de Covas, o seu limite e a freguesia de Canedo e vai findar entre o lugar de Carvalho, freguesia de Nossa Senhora de Vilar de Porro, e o lugar de Viveiro desta freguesia.
Covas do Barroso
Terá de comprido légua e meia pouco mais ou menos e de largura onde é mais alta que chamam o Coto da [Gallas] do rio Beça até ao rio de Covas três quartos de légua. Daí vai baixando até ao marco da Lijó donde torna a subir para outro alto a que chamam Lesenhos que fica entre o lugar de Campos, desta freguesia, e o lugar de Penalonga, da freguesia de Canedo. E o dito Lesenho foi castelo dos mouros tinha duas ordens de muros.
Não nasce na dita serra rio algum. Não há nela vila ou lugar algum da parte desta freguesia. Não tem fontes de raras propriedades. Não há nela minas de metais que se saiba, nem canteiras de pedras finas, nem de outras matérias, somente pedras duras e grosseiras de gran que só servem para alvenarias. Produz matos a que chamam urzes e alguns arbustos são pastados pelos gados deste lugar de Covas e pelos da freguesia de Canedo. E uma parte dela se cultiva para centeio e algum milho. Tem alguns soutos de castanheiros e é muito abundante de colmeias.
Muro
Não tem igrejas nem mosteiros. Somente por baixo do sítio de Lesenhos está uma ermida de Santa Ana milagrosa onde vão pedir chuva ou sol. Pertence ao lugar de Pena Longa da freguesia de Canedo.
Tem um clima bastante frio em todo o tempo excepto no Estio. Aparecem nela bastantes lobos, algumas vezes fazem-lhe montarias ainda que não tenha fojo; alguns porcos-bravos, poucos gamos, algumas perdizes e coelhos. Não tem mais coisa alguma digna de memória.
Romaínho
Enquanto aos rios
Da freguesia do Couto, corre para o limite deste lugar um rio chamado do Couto por passar pela freguesia de São Pedro, couto da Mitra de Braga. Por baixo de Romião desagua nele o regato de Infestas que tem o seu princípio no lugar de Vilarinho Seco, freguesia de Santa Madalena das Alturas, e daí vai correndo algum tanto arrebatado, por montes e campos do dito lugar e do de Agrelos pela parte do poente. E por ele abaixo há algumas árvores silvestres e alguns castanheiros. No Verão vai quase seco e assim se junta ao do Couto e quase no mesmo sítio se junta outro que tem o seu princípio entre o lugar das Alturas e Atilhó da mesma freguesia. Vem-se juntando por campos e montes dos ditos lugares, entre Vilarinho Seco e Viveiro, por seus campos e montes até ao sítio de Mena, onde tem uma ponte de pau com dois olhais; até aqui tem árvores silvestres, moinhos, um pisão de burel e daí para baixo corre arrebatado por entre montes e campos dos lugares de Agrelos e Bustofrio, desta freguesia, onde tem uma ponte de pau estreita e daí corre da mesma forma até desaguar do dito rio do Couto por baixo do sítio de Romião. Em todo o seu curso tem árvores silvestres, bastantes castanheiros e moinhos dos dois lugares.
Covas do Barroso
Cria alguns peixes como trutas e algumas bogas que pescam livremente todo o ano, excepto nos meses de criação os que têm redes e habilidades. E assim juntos com a do Couto vem correndo arrebatadamente até ao sítio das misturas, que dista deste lugar de Covas meio quarto de légua, onde se lhe junta o rio de Covas que tem a sua origem no lugar de Lamachã, freguesia de Santa Maria Madalena de Negrões. Vem correndo brandamente por montes e campos do lugar de Lavradas e Atilhó até ao moinho do Picanço e daí vem correndo por entre os campos de Viveiro até chegar à estrada que passa para Vilar de Porro onde tem uma ponte de pau. E daí, por entre campos do dito lugar de Viveiro e Campos, corre ligeiramente até ao sítio de Codessais, entre Bustofrio e Campos, onde tem outra ponte de pau. Até aqui tem árvores silvestres e moinhos dos ditos lugares e ara baixo corre arrebatado por entre os campos dos ditos lugares e dista de Covas até ao sítio da ponte, que é de pedra lavrada de um arco que estes moradores mandaram fazer, distante do lugar um tiro de mosquete, para sua serventia, e por ele abaixo há árvores silvestres, castanheiros, outras árvores de fruto e moinhos e dele se tira uma levada muito boa de água para regar as terras de milho, hortas e linhos e mais necessário no lugar. E daí corre muito arrebatado até ao dito sítio das misturas donde correm todos juntos, em parte brando e em parte arrebatadamente, por entre montes e a serra do Pinheiro no espaço de uma légua até desaguar no Beça no sítio do Mestras. E assim, o rio de Covas, antes de se juntar com o que vem do Couto e depois, cria bastantes trutas, bogas, barbos, enguias, escalos e muitas lontras. [entrelinhado: a pescaria é livre como encima].
Muro
Correm todos de Norte para Sul. O chamado [rio] de Covas terá de comprimento, desde o seu nascente até às misturas, cinco quartos de légua; o [rio] de Mena terá uma légua até abaixo de Romião; e até este mesmo sítio terá o de Infestas três quartos de légua e deste sítio às misturas meia légua. Todos levam pouca água, mas não secam de todo no Verão e por esta razão nenhum deles é navegável. Há mais alguns regatos, da parte do Nascente deste lugar de Covas, de pouca importância como é o regato da Costela que principia em Campos e vai desaguar no rio juntamente com os demais no sítio das Lombelas e cria os seus escalos.
Covas do Barroso
Não há mais coisa alguma memorável que se possa dizer. E todo o referido vai pouco mais ou menos conforme a verdade e por assim ser, e me ser mandado, o afirmo com juramento, vai assinada por mim, pelo reverendo reitor de Canedo e pelo Reverendo Vigário das Alturas. Santa Maria de Covas, 8 de Março de 1758.
O Abade Bento de Moura
O Pároco do Salvador de Canedo, Bento Pereira
O Vigário de Santa Maria Madalena das Alturas, João Dias de Moura.
Referências documentais: IAN/TT, Memórias Paroquiais, vol. 12, memória 438, fl. 3001. ADB/UM. Igrejário: Tombo desta igreja, 1548, liv. 4, fl. 18v; cx. 279, n.º 11; Obrigação à fábrica do Santíssimo Sacramento, a favor dos fregueses desta igreja que querem colocar sacrário com Santíssimo Sacramento na mesma e a ele se obrigam com bens para que esteja sempre decente, 1740, liv. 101, fl. 15v. ADVR, Registo de Baptismos: 1784- 1871; Registo de Casamentos: 1771-1866; Registo de Óbitos: 1816- 1879. Total de Livros: 8.
Muro
Fica assim concluída a abordagem a freguesia de Covas de Barroso e respetivas aldeias (Covas do Barroso, Muro e Romaínho). Digamos que foi a abordagem “oficial”, pois não “oficialmente” de certeza que Covas do Barroso vai vir por aqui outra vez, ou vezes, pois já demos conta que nas nossas visitas passámos ao lado de alguns pormenores de interesse, que na altura desconhecíamos e que nas respetivas aldeias ninguém nos alertou para eles, e por um lado, ainda bem, pois assim já temos um pretexto para voltar a Covas do Barroso, e aí, já levaremos o apontamento daquilo que queremos ver e descobrir.
Romaínho
Para saber mais sobre a freguesia de Covas de Barroso, ficam alguns links de interesse. Recomendamos em particular a página da Junta de Freguesia e da Wikipédia, pois ambas estão bastante completas para se ficar a saber quase tudo da freguesia.
links de interesse:
Freguesia de Covas do Barroso: https://cbarroso.jfreguesia.com/
Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Covas_do_Barroso
Casa Museu Quinta do Cruzeiro: https://visitboticas.pt/2017/02/quinta-do-cruzeiro/
Romaínho
Link para os nossos post dedicados às aldeias da freguesia:
Romaínho
Para a semana iniciamos a abordagem de outra freguesia do concelho de Boticas, que, seguindo a ordem alfabética, a seguir a Covas do Barroso segue-se a freguesia de Dornelas, iniciando pela aldeia de Antigo.
WEBGRAFIA
(consultas em 13 e 14 de agosto de 2021)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Covas_do_Barroso#Turismo
https://cbarroso.jfreguesia.com/
[i] Nota do Blog Chaves: O texto que se segue foi retirado do caderno da Monografia de Boticas dedicado à freguesia de Covas do Barroso. Trata-se de uma publicação de maio de 2006, pelo que, algum do conteúdo poderá estar desatualizado, nomeadamente quando refere “a população atual” e no que se refere à existência de equipamentos de apoio ou sociais (cafés, mercearias, associações, etc.)
[ii] BORRALHEIRO, Rogério, 2005, Montalegre, Memórias e História. Ed. Câmara Municipal de Montalegre, pp 80-87
[iii] Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo
[iv] - Nota do Blog Chaves – Nos cadernos de onde se retirou este texto, falta o ponto 12º.
[v] - Nota do Blog Chaves - Nos cadernos de onde se retirou este texto, também falta o ponto 18º.
[vi] - Nota do Blog Chaves - Nos cadernos de onde se retirou este texto, também falta o ponto 20º.