Cidade de Chaves - Um olhar, um pormenor
a p&b
Um olhar com um pormenor de varandas da cidade de Chaves, neste caso, da Rua Direita.
Um bom fim de semana.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Um olhar com um pormenor de varandas da cidade de Chaves, neste caso, da Rua Direita.
Um bom fim de semana.
Mais um olhar, apenas, com varandas da Rua Direita, do Centro Histórico de Chaves.
Até amanhã!
A olhar para as varandas da rua Direita, Chaves.
Apenas um olhar sobre a Rua da Misericórdia (em primeiro plano) que se prolonga até à Rua do Poço e entre o casario, lá em cima e mais além, uma nesga da Serra do Brunheiro e outra de céu azul.
Ao ver a fotografia que hoje vos deixo, veio-me à memória uma passagem que li há tempos no VOL. XXII de “O Archeologo Português” se 1917, volume dedicado a Trás-os-Montes, com uma passagem por Chaves, onde o cronista percorrendo as ruas da então Vila de Chaves, faz o seguinte apontamento:
“Visto que me estou referindo a construções, notarei que das duas únicas sacadas de taboinhas que, ao que dizem, existem em Chaves, cabe á Rua Direita a posse de uma (no caso presente a palavra taboinhas quer dizer rótula), Ha na rua outras sacadas e varandas de pau, porém de sistema de balaústres, que ora são esvaziados no interior, ora torneados, mas sempre simetricamente talhados. Por toda a Chaves se encontram numerosas varandas (rara até será a casa que não possua uma!): torna-se necessario, por causa dos rigores do inverno, aproveitar o mais possível o sol.”[i]
De facto assim era e ainda vai sendo no Centro Histórico de Chaves, rara será a casa que não tem varandas, como estas que hoje vos deixo da Rua dos Dragões, daí haver muitas vezes a referência a Chaves, a cidade das varandas.
Quanto às sacadas das taboinhas atrás referidas, ainda existem, um destes dias também ficarão por aqui.
Até amanhã com mais uma das nossas aldeias do concelho de Chaves.
[i] In “O ARCHEOLOGO PORTUGUÊS”, Edição e Propriedade do Museu Ethnologico Português, VOL. XXII Janeiro a Dezembro de 1917 – N.ºs 1 A 12
AS VARANDAS
A associação AMO CHAVES, em boa hora, resolveu organizar a feira das Varandas.
Fiquei curioso com os motivos da designação.
Pensei que tivessem pretendido homenagear, o que seria muito justo, as belíssimas varandas da Rua Direita e do nosso centro histórico.
Soube depois que o motivo que inspirou foi a velha casa das Varandas, mais conhecida na época tão só por Varandas, edifício construído em parte em cima da velha muralha e que se localizava exatamente onde hoje está implantado o nosso Palácio da Justiça.
Numa fotografia aposta no taipal pichado que há mais de oito anos esconde a cratera de escombros e de águas pestilentas, em pleno arrabalde, vêem-se com nitidez.
Eu tive oportunidade de as conhecer relativamente bem até porque morava e cresci perto.
Por razões sentimentais e pelo gosto de viajar nas brumas da memória, esta casa há muito me tentava para ser motivo de crónica.
Como se constata da indicada foto, defronte das varandas, em pleno arrabalde existia um mercado, uma praça, onde também se realizavam, em parte, as habituais feiras.
Fotografia de arquivo do Blog Chaves Antiga
Durante muitos anos, o arrabalde foi e gostaríamos que continuasse a ser, o epicentro do nosso burgo.
No prédio a que nos reportamos e que em toda a sua extensão tinha varandas viviam muitas famílias, gente humilde e de parcos recursos.
Nos seus baixos e nos da casa grande (onde já existiu a antiga Estalagem Santiago) prosperavam alguns estabelecimentos comerciais, de mercearia e outros, armazéns, uma conhecida pensão ( a da Fabiana), uma tasca famosa ( a da Pimponata, mãe do Riconcas), cocheiros, bem como a primeira garagem propriedade dos Faustinos.
Em vários baixos vendia-se o muito procurado carvão, como por exemplo no do Alberto Mata Tudo, e no do Alberto Gago.
Este centro da cidade tinha grande bulício nos anos de 30/40.
Nas cocheiras muito movimentadas, carregavam-se produtos como a batata e outros géneros agrícolas e por aí também eram procurados os ferradores.
Os mais conhecidos eram o Marrão (homem com muito sentido de humor e brincalhão) e o António Xouxas, que trabalhou em Espanha onde casou, regressando depois à linda Chaves.
Os carregadores também eram figuras típicas nesta zona. Gente pobre, simples mas brejeira e de bom coração, amigos do copo, procediam a todo o tipo de cargas e descargas e faziam biscates.
Eram conhecidíssimos, entre outros, o Pintelho, o Teófilo e o Elói.
O grande armazenista instalado no rés-do-chão da casa grande foi o senhor Mário Delgado, que teve como braço direito o Brito que mais tarde se estabeleceu com sucesso.
Era enorme a agitação nas varandas e arredores, na Chaves de então.
No início dos anos 50 (1952/1953), procederam à demolição das varandas.
Nos destroços, nas ruínas, ainda fui espadachim, polícia e ladrão, brincando com os amigos Mário e Eduardo Papito, Nelito, Telmo, Adriel e tantos mais de que já não tenho lembrança. Rondava os 10/11 anos de idade.
Vi no local erguerem a casa da justiça, obra onde trabalharam reclusos escoltados por GNRs.
Lembro a inauguração do palácio com pompa e circunstância no ano de 1956.
Fotografia de arquivo do Blog Chaves Antiga
O Tribunal da Comarca que serviu as populações até ao presente vai começar a perder val ências com prejuízos notórios para a família forense, mas também e sobretudo para as gentes da cidade e do concelho.
A cratera continua a manchar o arrabalde que já não tem a casa das varandas nem o velho mercado.
Vai-nos valendo entretanto a bem sucedida Feira das Varandas que a associação AMO CHAVES, respeitando a memória e a tradição, continua a promover alguns sábados durante o Verão.
Pela realização e pela homenagem, eu que também amo Chaves, aqui lhe deixo o meu agradecimento.
António Roque
Já não é a gente que povoa as varandas a ver quem passa. A vida, que às vezes há por lá, agora é outra, indiferente a quem passa se não for uma ameaça.
Ainda com vida vai correndo o nosso Tâmega, agora passeado ao longo das suas margens, cruzado por pontes novas e velhas, poldras e pontões, continua a mostrar o ar da sua graça que esperamos continuar a ter, pois ele também faz parte da alma flaviense e vamos querer que continue a fazer, mas também ele continua ameaçado e continuará, se não houver um pouco mais de respeito por ele…
E por agora é tudo. Hoje não há “Discursos Sobre a Cidade” mas quem sabe se não teremos ainda por aqui folares, que hoje, os mais católicos, lá terão de o saborear sem carne.
Pois é, às vezes somos atraiçoados pelo tempo, o dos relógios, feliz ou infelizmente ele falta-nos, foge-nos, some-se sem darmos conta.
Infelizmente porque não nos permite fazer tudo o que queremos, por exemplo, hoje que é quarta-feira, era dia para se confeccionar por aqui uma boa feijoada, bem temperada, para ser regada, como convém, com um bom tinto encorpado q.b. para combater e desfazer (matar) aquelas coisas que dizem vir misturadas com a feijoada (gorduras e outros pormenores). Ou seja, uma dieta saudável, como convém nos dias de feira.
.
.
Felizmente, esse mesmo tempo, falta-me e livra-me de insónias ou depressões, de aturar conversas chatas a ouvir falar dos outros, dos futebóis e politiquices das partidarices e da crise da crise, como se não bastasse ela já por si. Felizmente também o mesmo tempo não me permite ver televisão, a qual já nem ligo desde que acabou o único programa que ainda ia sendo saudável (o 5 para a meia noite)… enfim, o tempo, o tempo!
Assim, hoje em vez de uma boas feijoada ficam apenas três imagens daquilo que vamos tendo de melhor, a p&b ou sépia para a cor não distrair ou atrair. A duas cores apenas, aquilo que vai sendo um verdadeiro património da humanidade, de uma cidade que sonha (ou há quem se atreva a sonhar) que pode ser património da humanidade, o mesmo que só é possível, se o olhar for selectivo e enganador como o é nas fotos, onde as misérias ficam escondidas, ou com um bocadinho de Photoshop até podem ser removidas. Mas sonhar é bom, sempre nos vai trazendo iludidos, enganados e ensina-nos a acreditar, é assim como o euromilhões, em que segundos os matemáticos, há mais probabilidades de nos cair um meteorito na cabeça do que nos sair o euromilhões, mas nós apostamos sempre, porque acreditamos, no impossível.
.
.
Chaves património da humanidade! Era bom, então não era!? E até seria possível (em tempos) se o b€tão não mandasse tanto na cidade ( e este b€tão, não é o Betão do 5 para a meia noite).
Até amanhã, com um homem que perdeu a memória, ou pelo menos, é um homem sem memória.
91 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
*Jardim das Freiras*- De regresso à cidade-Faltam ...
Foto interessante e a preservar! Parabéns.
Muito obrigado pela gentileza.Forte abraço.João Ma...
O mundo que desejamos. O endereço sff.saúde!
Um excelente texto, amigo João Madureira. Os meus ...