Venha então a Páscoa que o Carnaval já lá vai. Aliás cá na terrinha se não fosse tradição gastronómica associada ao Carnaval, nem dávamos por ele, isto se nos referirmos só à cidade de Chaves. Agora se quisermos presumir e dizer que somos da eurocidade Chaves-Verin, aí a cantiga já é diferente, pois ali ao lado os nosos irmáns galegos, não brincam com o carnaval ou entroido, levam-no a sério, ou seja, brincam muito e divertem-se ainda mais com ele, e não é coisa para um dia, mas praí uns 15 dias de loucura.
Talvez seja por esta falta de tradição do carnaval em Chaves que é uma das festas que a mim, pessoalmente, pouco ou nada me diz, a não ser pelas iguarias que vão à mesa e seria um dia como outro qualquer.
Venha pois a Páscoa que, verdade se diga, é outra das festas que também nada me diz, isto se é que podemos considerar a Páscoa uma festa. Claro que há as iguarias ligadas à Páscoa, como o folar e mais recentemente por força da publicidade comercial os chocolates. Também aqui como não sou lá grande amante do folar nem dos chicolates, a festa da mesa também me passa ao lado, ainda pra mais que hoje em dia, folar, há-o todos os dias nas padarias da cidade e ainda por cima é caro comó coiso! Mas o que chateia mesmo é que agora começa aquela cena do jejum, uma chatice. Está claro que ninguém me obriga a jejuar, mas que remédio eu tenho, pois como não cozinho as minhas refeições, tenho que me render àquilo que põem à mesa ou está disponível na ementa, mas com um bocadinho de sorte temos uma bacalhoada e a coisa fica mais composta.
E tudo se comporia se a seguir à Páscoa tivéssemos por cá uma grande festa, mas nada, desde o Natal (festa que eu gosto) até à Feira dos Santos, cá na terrinha em termos de festas é como é um grande deserto que temos de atravessar, quando muito há umas sardinhas acompanhadas de uns copos e umas modinhas musicais populares lá para o S.João e S.Martinho, mas em pequenas festas de amigos ou familiares, e mais nada. Se não fosse pela abundância de grandes superfícies comerciais e armazéns dos chineses, Chaves seria uma tristeza ou como diz o meu amigo escritor, seriamos uma “Crónica triste de névoa”, cheia de macambúzios deprimidos.
Ah!, ainda ao respeito do parágrafo anterior e dos nossos sítios de diversão, temos a vantagem de estarem abertos aos sábados e domingos, senão o que seria de nós aos fins-de-semana, desejosos e ansiosos pelas segundas-feiras para irmos trabalhar, pois enquanto estamos ocupados não pensamos nessas coisas que só acontecem nos tempos livres ou tempo de lazer, como o pessoal das ciências humanas gosta de chamar. Um direito, dizem!
Já quase pareço um queixinhas. Agora a sério, a verdade é que não necessitamos nada dessas coisas de festas de rua onde se mistura de tudo, com gente a tresandar a suor, bêbados, os casas de cinema com gente a comer pipocas e fazer barulho que nem deixam ver um filme, ou teatros para nos armarmos em intelectuais quando toda a gente gosta de cinema, ou concertos musicais onde só vão putos bêbados e drogados com música de furar os tímpanos, foguetes no ar que só poluem a atmosfera e assustam os passarinhos…
Para quê querer isso tudo se agora temos tudo em casa, o que quisermos, sentados comodamente no nosso sofá. Basta ter um televisor, um computador e uma ligação à internet et voilá, ora estamos a ver um bom filme, a assistir a um bom concerto musical ao vivo com a vantagem de podermos ir comentando com os mais de mil amigos que temos no facebook, além de muita mais coisa que se pode fazer, que eu bem sei. Convém é ter umas bejecas no frigorifico, não vá dar-nos sede a meio da noite… Ah! ainda com a vantagem de que em casa, onde houver mais gente além de nós, não somos obrigados a assistirmos todos ao mesmo, pois cada um no seu sítio, com a sua televisão, o seu portátil, tablet ou até telemóvel, desde que haja Wi-fi, e está tudo resolvido e se tivermos filhos daqueles que ainda nos obedecem, de vez em quando podemos mandar-lhes uma mensagem para o telemóvel do género: “ Vai ao frigorífico e traz-me uma cerveja que não quero interromper o filme”, ou então se formos mais responsáveis, uma do género: “ vê se te deitas que amanhã tens de te pôr a pé cedo”. Uma vez mandei esta à minha filha e ela respondeu-me: “ Ó pai, acordaste-me, já estava a dormir!”…
E com esta me vou!
As fotos são do Domingo Corredoiro de Verin.