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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

11
Jun23

Alminhas, nichos, cruzeiros e afins... Freguesia de Lamadarcos

Lamadarcos e Vila Frade


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Habitualmente nesta rubrica das alminhas e outros símbolos religiosos, trazemos aqui uma aldeia do concelho de Chaves. Hoje, excecionalmente, vamos deixar aqui uma freguesia com as suas duas aldeias, isto porque nos surgiu uma dúvida, pois não sabíamos a qual das aldeias da freguesia deveríamos atribuir a “pertença” de um pequeno santuário que existe na freguesia, assim, e como supomos que “pertence” a ambas as aldeias, embora mais próximo de uma delas, fazemos um post dedicado a toda a freguesia, pensamos que é o mais justo, e assim, da nossa parte, ficamos com o assunto resolvido e a consciência tranquila.

 

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Santuário de Santa Marta

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Igreja espanhola de Lamadarcos

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Igreja "portuguesa" de Lamadracos

Então a freguesia é a de Lamadarcos e as aldeias são a própria aldeia de Lamadarcos e a de Vila Frade, onde no total existem três igrejas, um pequeno Santuário com devoção a Santa Marta, um cruzeiro e um conjunto de cruzes a encimar um pombal com uma arquitetura muito curiosa a fazer lembrar uma coroa monárquica.

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Santuário de Santa Marta

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Igreja de Vila Frade

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Interior da Igreja de Vila Frade

 

Estes elementos de arquitetura religiosa estão assim distribuídos:

Em Lamadarcos temos duas igrejas, a Igreja Matriz cuja padroeira é a Nossa Senhora da Conceição, também conhecida pela igreja portuguesas, isto porque a outra igreja é conhecida como a igreja espanhola, isto por causa da origem de ambas que remonta ao tempo em que  Lamadarcos era uma aldeia promíscua, isto é, tinha duas nacionalidades, sendo dividida a meio pela linha de fronteira que separava os então reinos de Espanha e Portugal, daí existir em cada um dos lados da aldeia uma igreja, e assim foi até  o tratado de fronteiras de 1864 em que as três aldeias promíscuas então existentes no concelho de Chaves (Soutelinho da Raia, Cambedo e Lamadarcos) passaram a pertencer apenas a Portugal em troca do Couto Misto que passou na totalidade para Espanha.

 

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Igreja espanhola de Lamadarcos

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Interior Igreja espanhola de Lamadarcos

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Interior Igreja espanhola de Lamadarcos

Em Vila Frade por sua vez existe uma igreja, um cruzeiro e as tais cruzes que encimam o atrás mencionado pombal.

 

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Pombal em Vila Frade

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Igreja Matriz de Lamadarcos (portuguesa)

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Igreja espanhola de Lamadarcos

O pequeno Santuário com devoção a Santa Marta está isolado e relativamente distante de ambas as aldeias, embora mais distante de Lamadarcos e fica no limite da freguesia que confronta com a freguesia de Vila Verde da Raia.

 

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Igreja portuguesa de Lamadarcos

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Cruzeiro de Vila Frade

Tal como relembramos sempre nesta rúbrica, para a levarmos a efeito apenas recorremos àquilo que temos em arquivo das visitas que fizemos às aldeias, então ainda sem esta rubrica existir, ou seja, então não tínhamos a preocupação  de andar à procura deste elementos religiosos, daí poder falhar algum, mas como habitualmente, prometemos que na próxima visita a cada uma das aldeias já levaremos essa preocupação e se alguma coisa falhou hoje, em tempo oportuno reporemos a verdade com um post extra à freguesia ou à respetiva aldeia.

 

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Imagens do interior da Igreja de Vila Frade

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Para finalizar fica o nosso mapa de localização/inventário devidamente atualizado.

Resto de um bom fim de semana.

 

 

29
Fev20

Vila Frade - Chaves - Portugal

Aldeias de Chaves


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Continuando esta ronda pelas aldeias do concelho de Chaves, hoje vamos até Vila Frade.

 

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Vila Frade, uma das aldeias que não pode ter queixa deste blog, além de desde o início deste blog passar por aqui com alguma regularidade, foi a única aldeia onde até hoje contribuímos para uma pequena mostra fotográfica numa exposição etnográfica, promovida pela aldeia, ocorrida no verão passado na antiga escola.

 

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Como com alguma frequência vamos passando por esta aldeia, aproveitamos sempre para fazer novos registos. São alguns desses registos mais recente que deixamos aqui hoje.

 

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E vamos indo por lá, por várias razões, uma delas pela própria aldeia, gostamos de lá ir, gostamos daquele grande largo da igreja, antiga escola e antigo tanque comunitário que agora virou a bar, pelo menos de verão, e diga-se, bem agradável para estar em dias de sol intenso, as sobras do arvoredo fazem a magia daquele cantinho.

 

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Não admira por isso que as pessoas de Vila Frade adiram àquelas sombras. Quem é que lhes resiste num dia quente de verão.

 

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Também e desde a primeira vez que o vimos, que não resistimos a um registo do singular pombal que existe na aldeia, bem acompanhado por sinal, por campos verdes onde também existe um carvalho que dizem ser milenar, e pelo porte do tronco, acreditamos que sim.

 

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E, claro, fica também o vídeo com todas as imagens publicadas até hoje neste blog.

 

 

 

 

Para terminar, ficam também os links para os anteriores posts sobre Vila Frade publicado neste blog:

https://chaves.blogs.sapo.pt/vila-frade-vista-la-de-cima-1344497

https://chaves.blogs.sapo.pt/vila-frade-chaves-portugal-1188358

https://chaves.blogs.sapo.pt/777670.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/396936.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/180551.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/67174.html

 

 

 

 

13
Fev16

Vila Frade, vista lá de cima


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E quando penso que já tinha visto tudo, tomo um caminho diferente e eis de novo a descoberta, como se tivesse sido pela primeira vez. Tudo aconteceu há dias quando fui por Curral de Vacas à procura da Pitorca e a minha velha mania não regressar a casa pelo mesmo caminho de ida. Pois foi assim que conheci a outra face de Vila Frade, bem mais bonita e interessante do que se a aldeia for abordada a partir da veiga.

 

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Mas a história, breve, não termina aqui, pois quando lá do alto comecei a avistar a aldeia não sabia de que aldeia se tratava, não fosse o ter apurado o olhar e ter identificado a referência singular do castiço pombal, o mesmo que quando o descobri pela vez primeira fiquei pasmado a olhar “para aquilo” sem saber o que era, pois mais me parecia a coroa de um rei, quem sabe se perdida aquando os miguelistas e liberais andaram por lá à pancada, mas não, afinal era apenas um pombal, mas diferente.

 

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Claro que uma imagem da aldeia vista lá de cima merecia uma paragem para uma apreciação mais prolongada. Primeiro os olhares sobre a aldeia, depois a vista começa a caminhar por ali fora e logo a dois passos, para quem conhece, a fragilidade de uma linha antes chamada fronteira e que tão concorrida foi na passagem de peles [i] nos idos anos 60 do século passado e um pouco mais ao fundo, já em plena Galiza, a povoação de Mandín cuja curiosidade nos faz manter debaixo de olho pelas relações com Lamadarcos mas também de um vinho que se faz por lá com o curioso nome de Couto Mixto, feito por um galego que também temos curiosidade em conhecer.

 

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Mandín à qual não resistimos e tivemos de passar por lá, mesmo sem parar, mas o tempo suficiente para ficar a saber que, para além da língua, também no despovoamento rural os galegos são o nosso povo irmão. Mas um dia destes, quem sabe se numa nova descida da montanha mas em direção a Lamadarcos, iremos de novo por Mandín para retomar uma iniciativa há anos interrompida de recolha de imagens das aldeias galegas da raia.

 

[i] Emigrantes clandestinos

 

 

 

28
Fev15

Vila Frade - Chaves - Portugal


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Hoje vamos mais uma vez até Vila Frade e, este mais uma vez, não quer dizer que tenha ido por lá muitas vezes, pois na realidade só lá fui duas vezes, ou melhor, vamos começar isto de novo pois as coisas não são bem assim. Ir a Vila Frade já fui muitas vezes e a primeira vez até já foi praí há coisa de trinta anos, quase sempre por razões profissionais. Quando eu dizia que só lá fui duas vezes, queria referir-me ao ir lá recolher imagens e informações para o blog, isso sim, só foi mesmo duas vezes e da primeira vez, em 2006, só recolhi seis fotos e todas do mesmo motivo — o pombal com a forma de coroa de rei.

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Não é que eu seja lá muito bom a recordar datas, pois apenas sei que foi em 2006 porque é o que consta no registo digital das primeiras fotografias de Vila Frade em arquivo e na altura pouca informação recolhi, ou nenhuma, aliás nem sequer sabia que a curiosa e singular construção que registava em imagem era um pombal, mas desde logo, aí, e pelo que já conhecia da aldeia sabia que tinha de fazer uma visita demorada à aldeia com alguém que a conhecesse bem, o que veio a acontecer só três anos depois, em maio de 2009, mas desta vez para passar lá toda a tarde e recolher num total mais de trezentas imagens e também a informação possível. Ficam assim explicadas essas tais duas visitas e simultaneamente justificar que as imagens de hoje são de arquivo.

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Sorte a minha e azar das nossas aldeias, que desde 2009 até à presente data as aldeias não se transformaram muito, fisicamente falando, pois quanto à população, aí deve ser o que é habitual a todas as nossas aldeias — menos e envelhecida.

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Talvez esteja na hora de atualizar aqui no blog os “Mosaicos das Freguesias” à luz dos últimos censos de 2011, que pela certa mostrará a tendência que a aldeia e freguesia vinha sofrendo, pois a surpresa, que não vai ser surpresa nenhuma, vão ser os Censos de 2021, que esses sim, embora tarde, vão dar para refletir ao refletirem a falta de políticas para todo o nosso interior, principalmente no Norte, que desde 1950 ( segundo os números), ou não as há ou pouco acertam, aliás penso mesmo que nunca houve intensão que elas acertassem, e muito menos nos últimos tempos em que o que vale são os números e as análises das folhas excel sempre deturpadas nos números das estatísticas, do género daqueles em que se têm 10 bifes para 10 pessoas, o que estatisticamente dá 1 bife por pessoa, quando alguns já há muito tempo que nem sabem ao que sabe um bife.

 

 

 

15
Abr12

Vila Frade - Chaves - Portugal


Tantas aldeias tem o nosso concelho de Chaves que é natural que algumas demorem mais a voltar a este blog, mas voltam sempre, é o caso da aldeia convidada de hoje, Vila Frade, que já há algum tempo que não aparecia por aqui. Hoje, embora com uma porta fechada, abrimos-lhe aqui as portas.

 

 

E é sempre com gosto que vamos até lá, pelo menos em imagens, pois é uma das aldeias que ainda tem coisas interessantes para mostrar. Rica em pormenores mas também em conjuntos e paisagens, com vistas a perderem-se até ao outro lado do vale de Chaves, por um lado, ou a esbarrarem na imponência da elevação da montanha pelo outro.

 

 

Terras férteis, carvalhos seculares e uma construção muito singular cheia de estórias e única (no género) no concelho. Um pombal que me faz lembrar sempre as coroas da monarquia. Uma imagem que cada vez que este blog vai até Vila Frade faz questão de marcar aqui presença.

 

Mas hoje, penso que pela primeira vez, deixo também um pormenor do interior desse pombal e se por fora é interessante, por dentro, é no mínimo curiosa e digna de se apreciar.

 

 

E por hoje é tudo mas de Vila Frade, freguesia de Lamadarcos,  ainda tenho muitas imagens em arquivo para mostrar, que futuramente pela certa passarão por aqui. O freguesia de Lamadarcos é para memória futura, pois também é uma das freguesias que os de Lisboa querem abater.

 

 

22
Nov09

Mosaico da Freguesia de Lamadarcos


 

Estamos de regresso aos mosaicos das freguesias, hoje com o mosaico de Lamadarcos.

 

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Localização:

A 12 km da cidade de Chaves, a Noroeste desta e na orla raina.

 

Confrontações:

Confronta a Norte com a Galiza, a Nascente com a freguesia de Mairos, a Sul com a freguesia de Stº António de Monforte e a Sudoeste com a freguesia de Vila Verde da Raia.

 

Coordenadas: (Adro da Igreja)

41º 49’ 56.89”N

7º 23’ 07.73”W

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Altitude:

Variável –  a rondar a cota dos 400m

 

Orago da freguesia:

Nossa Senhora da Conceição

 

Área:

13.83 km2

 

Acessos (a partir de Chaves):

– Estrada Nacional 103 até ao Lameirão e 103-5 até próximo da fronteira (depois de Vila Verde da Raia), E.M.504. Em alternativa, a A24 até ao nó de Vila Verde da Raia.

 

 

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Aldeias da freguesia:

            - Lamadarcos e Vila Frade.

 

População Residente:

            Em 1900 – 626 hab.

            Em 1920 – 707 hab.

            Em 1940 – 919 hab.

Em 1950 – 1035 hab.

            Em 1960 – 990 hab.

            Em 1981 – 669 hab.

            Em 2001 – 425 hab.

 

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Tal como a grande maioria das aldeias do concelho, principalmente as de montanha e da raia, também Lamadarcos viu o seu topo de população residente nos anos 50 e a partir dessa data uma descida acentuada ao longo dos anos, perdendo nos últimos 50 anos, mais de metade da sua população.

 

Principal actividade:

- Se em tempos o contrabando foi uma actividade importante na freguesia, hoje apenas se resume à agricultura e alguma pecuária.

 

Particularidades e Pontos de Interesse:

 

A sua história ligada às antigas aldeias promíscuas em que a raia atravessava e dividia a aldeia em duas. Assim foi até ao ano de 1864 em que no Tratado de Lisboa, Lamadarcos passava a ser inteiramente portuguesa, conjuntamente com o Cambedo e Soutelinho da Raia, que partilhavam da mesma condição. Em troca, Espanha, ficou com as três aldeias do Couto Misto.

 

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Lamadarcos (aldeia) foi outrora um curato anexo ao priorato de Chaves, vindo a beneficiar da extinção da freguesia de Vila Frade, para se tornar freguesia, à qual esta passou a pertencer.

 

A riqueza de estações castrejas no nosso concelho, também contempla a freguesia com um provável habitat fortificado da idade do ferro, num local que hoje denominam por “Castro” ou “Fraga da Moura”.

 

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As duas aldeias da freguesia mantêm ainda um casario tradicional mais ou menos interessante, onde se destacam um pombal de curiosas forma e único no concelho e região, mas também a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição de sabor românico tardio, as Capelas de Santo Amaro, Santo António e São Caetano e Santa Marta. Também curiosa e interessante é a Igreja denominada por “espanhola”, por antigamente ficar do lado espanhol da aldeia. De salientar ainda a Fonte de Santa Marta e diversos cruzeiros graníticos.

 

Também o verde da paisagem que se repete por quase toda a freguesia, merece algum destaque, sendo agradável aos olhos e de verão transmite uma certa sensação de frescura.

 

Para saber mais sobre as duas aldeias da freguesia, nem há como seguir os links que a seguir deixo para os posts já publicados neste blog.

 

 

Linck para os posts neste blog dedicados à  freguesia:

 

            - Lamadarcos

 

- Vila Frade

 

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13
Jun09

Vila Frade - Chaves - Portugal


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Há aldeias que logo na primeira abordagem encantam. Foi assim que aconteceu há coisa de vinte e tal anos atrás, na minha primeira deslocação a Vila Frade e, nem sequer passei do largo de entrada. Uma largo de aldeia com ar urbano, onde se concentrava toda a vida que uma aldeia pode ter. A Igreja, a escola, o tanque público, a fonte e o fontanário e até jardins com frondosas árvores debaixo das quais não faltavam os sempre românticos bancos de madeira, tudo à volta de um grande largo, cheio de vida, com pessoas, crianças, cães e galinhas, um largo ainda terreiro que pouco depois viria a conhecer uma pavimentação a cubos de granito, para o tornar ainda mais atraente e urbana.

 

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E durante anos, por uma ou outra razão, fui indo por Vila Frade, sem nunca passar do largo de entrada.

 

Já depois de existir este blog, fui lá para recolha de duas ou três fotografias e eis que dou de caras com uma construção no mínimo exótica, nunca antes tinha visto outra semelhante. Primeiro pareceu-me um castelo, depois a coroa de um rei, por último um moinho de vento, mas sem velas. Logo nesse dia publiquei a foto dessa construção aqui no blog, ainda longe de saber do que se tratava…ignorância minha, claro está, mas nem tanto assim, pois a construção é única no nosso concelho e nunca antes tinha visto outra igual. Vim a saber num comentário à foto que afinal se tratava de um pombal. Pensava eu que em Vila Frade estava tudo descoberto…

 

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Fui mais duas ou três vezes à aldeia para recolha de fotografias e a sedução do largo de entrada nada me deixava ver para além dele. Está certo que já tinha descoberto o pombal e a aldeia pouco mais era para além do largo.

 

Geralmente faço estas incursões nas aldeias por conta própria, ou seja, sozinho. Gosto de ir descobrindo pormenores, aqui e ali com olhos de apreciação, alguns pelos quais já antes tinha passado e nos quais nunca tinha reparado com olhos de ver, mas claro está que nestas incursões a solo nunca entramos nos verdadeiros pormenores e intimidade da aldeia, nas suas curiosidades e até estórias e segredos que são tomados “off the record”. Para entramos nesta intimidade da aldeia, nem há como ser acompanhado por um dos seus filhos.

 

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Mais uma vez me “aproveitei” do Sr. Orlando Serra para calcorrear a intimidade de Vila Frade, tal como já o tinha feito em Lamadarcos, mas em Vila frade, o Sr. Orlando conhece todas as pedras das calçadas, buracos, buraquinhos e segredos, quem viveu e nasceu em todas as casas, conhece todas as pessoas pelo nome e todas as belezas da aldeia, mesmo aquelas mais escondidas, que bem poderia eu visitar a aldeia um cento de vezes que não as descobriria.

 

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Descobrir o relógio de Sol, por exemplo, seria tarefa impossível, como quase impossível foi tomar uma foto. Relógio de Sol, ali mesmo a dar horas para o largo de entrada, mas que de tão camuflado que  está pela vegetação, seria tarefa impossível a sua descoberta e, se por um lado é pena que não esteja bem visível, por outro lado não cai na tentação dos ladrões como aconteceu ao relógio de Sol de Lamadarcos.

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Mas a maior descoberta estava ainda por acontecer. Maior em grandeza e em história, tanta que é apontado até como o ex-líbris de Vila Frade, para os seus filhos, claro. Trata-se de dois carvalhos, mas um deles, muito mais imponente que ou outro. Velhinho, quase todo seco, mas ainda com algumas galhas de vida.

 

Diz a tradição que este carvalho tem mais de mil anos e que sempre existiu na aldeia, ou melhor, na quinta que abrange em área a grande parte da aldeia e que em tempos foi propriedade da família dos Montalvões e do famoso “Capitão Vila Frade” (do velho e do novo), ainda no tempo em que a aldeia dava pelo nome de Santa Marta de Vila Frade e cuja quinta só terminava mesmo na fronteira com Espanha. Tempo em que Santa Marta de Vila Frade era aldeia e freguesia.

 

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Pois o milenar carvalho é anterior a nossa nacionalidade, viu nascer e morrer reis, assistiu a guerras e guerrilhas, viu morrer a monarquia, nascer a república e a liberdade e, velhinho que está, enquanto tiver uma galha que seja com folha verdes, continuará vivo e pela certa que ainda vai assistir à queda e nomeação de alguns governos e presidentes de Câmara e quem sabe se, com sorte, ainda consegue ver um Benfica campeão.

 

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Mas uma coisa é falar-se na imponência do carvalho e outra é estar ao pé dele e abrir a boca de espanto. Embora na foto se veja a sua realeza não temos noção da sua grandeza, por isso pedi ao nosso cicerone e a um amigo que servissem de escala “humana” para termos aqui a noção da sua grandeza, mas por sorte, estava lá à mão o famoso fio azul que serviu para medir o seu perímetro. Um longo fio azul que depois de medido tinha “apenas” 6,75 metros o que (se as matemáticas não me falham) dá um diâmetro de 2,14 metros que, para um castanheiro centenário até seria aceitável, mas estamos a falar de um carvalho.

 

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A quinta dos Montalvões é uma imagem de marca na aldeia. Imagem de marca e que pela certa marcou a aldeia durante muitos anos, pois vezes haveria em que toda a aldeia teria de trabalhar para ela. Hoje os velhos e grandiosos lagares já não recebem uvas e as culturas das antigas quintas foram substituídas por pastagens e forragens em que uma agricultura mecanizada e uma família de caseiros dá conta do assunto.

 

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O Casario da quinta, a “Casa Grande” como o povo lhe chama, tal como o da aldeia, não é um casario nobre nem solarengo, antes um casario típico de casa agrícola abastada com as casas de habitação no primeiro andar e por baixo as adegas frescas, quase sempre terreiras, onde se guardavam o vinho, os presuntos, as batatas e cebolas que dariam para todo o ano até às novas colheitas. Casas de habitação que davam directamente para um pátio/eira rodeada de outras construções de um piso destinadas ao lagar, às arrumações, às cortes dos cavalos e dos recos. Na proximidade destas casas agrícolas começavam a desenhar-se as aldeias, num pequeno núcleo de casas típicas de construção tradicional de granito, onde no meio (núcleo) geralmente existia a igreja ou capela.

 

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Vila Frade não anda longe da definição típica da aldeia onde existia uma casa agrícola abastada, que se servia da aldeia para o trabalho da quinta mas que era também a “responsável” por dar de comer à aldeia.

 

A par da “Casa Grande” do Capitão Vila Frade, hoje pertença de um espanhol, há também uma outra quinta que se desenvolve ao longo do ribeiro que separa Vila Frade de Espanha. É a também conhecida Quinta da Santa Júlia, também pertença da família dos Montalvões e que ainda hoje se mantém em posse da família. Esta mais discreta que a da Casa Grande, tem também uma casa igualmente de origem agrícola abastada mas que passa despercebida por entre o abundante arvoredo que a rodeia.

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Seria só assim se Vila Frade para além das suas ricas terras, com muita água, não tivesse ou não confrontasse com  Espanha. Terra da raia portanto e, ser terra da raia era ser terra de contrabandistas e guardas-fiscais em que na aldeia eram todos amigos, familiares e vizinhos, mas que nos “negócios do contrabando” cada um estava do seu lado, mas não era pela aldeia que passava o grande contrabando, pois este para a aldeia, era mais um contrabando de “subsistência” tal como na agricultura, em que se ganhava algum dinheiro para sustentar a família e como os hábitos do pessoal das aldeias eram conhecidos de todos, os horários do contrabando lá se iam conciliando sem ninguém incomodar ninguém.

 

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Também foi por Vila Frade que algumas “peles” se passaram para o outro lado no decorrer do primeiro grande êxodo rural dos anos 50 e 60 do século passado e entre essas “peles” também foram passando alguns políticos a caminho do exílio.

 

E agora em breves linhas tracemos também um breve perfil da aldeia e um pouco da sua história.

 

Vila Frade, aldeia situa-se a Nascente da cidade de Chaves, a 13 quilómetros desta,  nas proximidades da encosta da serra da Cota, a cerca de 400 metros de altitude ou seja quase à altitude do vale de Chaves, aliás as suas terras são mesmo um pequeno prolongamento desse mesmo vale, quer em relevo quer no fértil que são as suas terras. Vila Farde é rodeada de campos agrícolas, com searas e belos bosques de variadas árvores, onde se destacam, além dos mencionados carvalhos, um conjunto de sobranceiros que dão uma beleza singular à estrada que liga a Lamadarcos .

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À entrada da povoação, encontra-se a capela de Santa Marta dotada de uma galilé. Um dos suportes desta galilé, é um marco miliário, consagrado ao imperador romano Marco Aurélio Carino. Perto desta capela passava a via romana das Minas. A sua igreja paroquial, toda em granito, tem uma torre sineira dupla, de estilo galaico transmontano, encimada por uma cruz latina e enquadrada entres dois pináculos rematados por esferas. Nesta igreja está a primitiva imagem barroca de Santa Marta, padroeira de Vila Frade.

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Igreja esta que confronta com o tal largo de entrada, que tem tudo e ainda hoje está tudo lá, tal-qual há 20 anos atrás. A escola, a Igreja, o tanque, os bancos, a fonte e o fontanário, só com uma diferença: A escola está fechada por falta de alunos, o tanque não se enche por falta de lavadeiras, as fontes raramente são usadas e a crianças, as galinhas e os cães, já não povoam o largo, apenas os resistentes ainda recorrem ao largo para dar algum descanso às pernas, sentados num dos bancos à sombra das agradáveis sombras das árvores, que essas sim, continuam por lá, mais frondosas que nunca.

 

Só resta mesmo agradecer ao Sr. Orlando Serra por mais uma vez se ter disponibilizado para me acompanhar na visita a Vila Frade.

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