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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

21
Jun20

O Barroso aqui tão perto - Freguesias de Vilar e S. Salvador de Viveiro

Freguesias de Barroso - Concelho de Boticas


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Tal como tínhamos prometido no início desta ronda pelas aldeias de Barroso do concelho de Boticas, após a conclusão de todas as aldeias de uma freguesia, traríamos aqui um post resumo dedicado à freguesia. Pois temos concluídas todas as aldeias da freguesia de Vilar e São Salvador de Viveiro, daí, estarmos aqui hoje com o post resumo desta freguesia, com alguns dados dos seus dados gerais, e aproveitamos também a ocasião para trazer aqui alguns temas dos hábitos comunitários das aldeias de Barroso, hoje o tema será o da  “A Bênção do Gado”.

 

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Localização da freguesia de Vilar e S. Salvador de Viveiro

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Evolução do número de habitantes das antigas e atual freguesia

 

 

Antigas freguesias de Vilar e São Salvador de Viveiro.

 

A freguesia de Vilar é uma das mais antigas freguesias de Barroso, aparecendo já nos censos de 1864 a 1930, com a sua antiga designação de freguesia de Vilar de Porro. Pelo decreto-lei nº 27,424, de 31/12/1936, foi-lhe dada a designação de Vilar.

 

Por sua vez, a freguesia de São Salvador de Viveiro é muito mais recente, pois apenas foi criada em 1967 - Pelo decreto lei nº 47.516, de 28/01/1967, com lugares desanexados da freguesia de Covas do Barroso.

 

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Com a reforma administrativa de 2013, a freguesia de São Salvador de Viveiro é extinta. Sendo anexada a outra freguesia. Pela lógica, pensamos nós que deveria ser anexada à freguesia de onde foi desanexada (Covas de Barroso), mas não, foi anexada à freguesias de Vilar, passando esta nova freguesia a designar-se por Vilar e São Salvador de Viveiro.

 

Assim sendo, a história da freguesia de Vilar e São Salvador de Viveiro anexadas é muito recente, pelo que faremos a abordagem desta atual freguesia a partir das antigas freguesias de Vilar e antiga freguesia de São Salvador de Viveiro.

 

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Antiga freguesia de Vilar

 

Evolução da População na Freguesia.

 

Nos anos de existência deste blog tenho-me dedicado um bocadinho ao estudo da evolução da população das nossas freguesias,  e salvo raras exceções, pegando nos números dos Censos desde 1864 até 2011, podemos dizer que o comportamento das linhas do gráficos e respetivas linhas de tendência,  são idênticas para todas as freguesias, apenas alteram os valores, ou seja, existe uma linha de tendência de subida de população desde 1864 até 1960, com a única exceção dos valores de 1920, onde há uma notória descida, que está perfeitamente explicada por três fatores. O primeiro o da I Grande Guerra, segundo, um bocadinho dependente da primeira, um forte onde de emigração para o Brasil e o terceiro, o da pandemia de 1918/19, a pneumónica (ou gripe espanhola) que dizimou entre 60.000 a 100.000 portugueses, isto numa altura em que a população portuguesa era cerca de metade da atual (pouco mais de 6 milhões de habitantes).  A partir de 1960, a forte onda de emigração para a Europa e a migração interna para os grandes centros e cidades em geral, faz com que a linha de tendência desça abruptamente em direção ao zero, o que é preocupante, bem preocupante, pois a manter-se esta tendência, dentro de 20 anos as aldeias ficam sem população. Esperemos mais um ano, pelos Censos de 2021, para ver onde isto vai parar. Fica então o gráfico de Vilar:

 

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Evolução da população desde o Censos de 1864 a 2011

 

Alguns dados da freguesia

 

Localização geográfica: A freguesia de Vilar situa-se na parte Centro/Este do concelho de Botica.

Distância relativamente à sede do concelho: aproximadamente 8 km

Acesso viário: Pela ER 311, virando na indicação Vilar segue-se pela EM 528

Área total da freguesia: 12,1 km2

Localidades:  Carvalho e Vilar, sede de freguesia

População: 238 habitantes[i]

Orago: Nossa Senhora da Guia

 

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Festas e Romarias:

- Nossa Senhora da Guia, 15 de Agosto, Vilar

- Senhor dos Milagres, 1º domingo de Setembro, Vilar

- SÃO Mateus,* 21 de Setembro, Carvalho

 

Património Arqueológico

Castro Alto do Crasto / Castelo dos Mouros Gravuras de Chainça Gravuras de Quilhoso Tumulus.

 

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Igreja Paroquial Senhora da Guia (Vilar)

Património Edificado

- Capela do Senhor dos Milagres (Vilar)

- Cruzeiros (Vilar)

- Fonte de Mergulho (Vilar)

- Fornos do Povo de Vilar (Arrabal de Baixo e Arrabal de Cima)

- Igreja Paroquial Senhora da Guia (Vilar)

 

Alojamento Turismo Rural - Casa da Eira Longa (Vilar)

 

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Casa da Eira Longa - Alojamento de turismo rural

Rede de Tabernas do Alto Tâmega

 

Marcas da História Antiga

 

VILAR

Alto do Crasto ou Castelo dos Mouros

Designação: Alto do Crasto / Castelo dos Mouros

Localização: Vilar

 

Descrição: o Castro de Vilar de Porro fica abaixo da aldeia de Vilar, mesmo ao lado do sítio de Fervença, e é designado pelo povo como Castelo dos Mouros. Embora tenha três patamares ascendentes e uma muralha na borda de cada um deles, as suas condições de defesa estão longe das dos outros castro da região, que com muralhas altas ofereciam muito boas condições de defesas. O patamar da base na linha Leste/Oeste tem cerca de 35 m de largura. A este patamar segue-se para Oeste uma rampa ascendente com 10 m de comprimento, e a seguir o segundo patamar que na linha Leste/Oeste tem 11 m de largura. Logo se empina nova rampa ascendente que na mesma linha tem 5 m de comprimento e conduz ao patamar cimeiro ou coroa do castro com 80 m de comprimento. Existem vestígios de várias construções circulares.

 

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Capela do Senhor dos Milagres (Vilar)

 

Aldeias da antiga  Freguesia de Vilar

 

A freguesia de Vilar era constituída apenas por duas aldeias, a aldeia de Vilar, sede de freguesia,  e a aldeia de Carvalho.

 

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Vilar

 

Aldeia de Vilar

 

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia de vilar, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: VILAR 

 

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Aldeia de Carvalho

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia de Carvalho, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: CARVALHO 

 

 

Antiga freguesia de São Salvador de Viveiro

 

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Evolução da população na freguesia de S. Salvador de Viveiro

 

Ao contrário de Vilar, uma freguesia já muito antiga,  a freguesia de de S. Salvador de Viveiro é muito mais recente, pois apenas foi criada em 1967 - Pelo decreto lei nº 47.516, de 28/01/1967, com lugares de Viveiro, Agrelos, Bostofrio e Campos, todos desanexados da freguesia de Covas do Barroso.

 

Assim os dados que temos sobre o evoluir da população são apenas os dos 5 Censos realizados entre o Censos de 1970 e o de 2011, iniciando em 1970 com uma população de 690 habitantes para em 2011 possuir apenas 293, com uma linha de tendência a descer abruptamente para o zero. Fica então o gráfico de Viveiro:

 

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Evolução do número de habitantes da freguesia de S. Salvador de Viveiro

 

Outros dados da Freguesia

 

Localização geográfica: A freguesia de São Salvador de Viveiro situa-se na parte Centro/ Oeste do concelho de Boticas.

Distância relativa à sede do concelho: aproximadamente 11,5 km

Acesso viário: pela ER 311 até aparecer a indicação Viveiro. Percorre-se um pequeno troço da EM 519-B e segue-se pelo CM 1036. Em alternativa segue-se pela ER 311 e, virando na indicação Viveiro, segue-se pelo CM 1036.

 

Área total da freguesia: 18,8 Km2

 

Localidades: Agrelos, Bostofrio, Campos e Viveiro, sede da freguesia.

 

População: 345 habitantes[ii]

 

Orago: Divino Salvador do Mundo

 

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São Salvador do Mundo - Viveiro

 

Festas e Romarias:

- Santo Amaro,* 15 de Janeiro, Campos

- SÃO Sebastião, Janeiro, Viveiro

- SÃO Marçal,* 30 de Junho, Bostofrio

- Divino Salvador do Mundo ou São Salvador do Mundo, segundo Domingo de Agosto, Viveiro

- SÃO Mamede, 17 de Agosto, Agrelos

 

Património Arqueológico

- Alto da Raposeira / Agrelos (Tumulus)

- Castro do Lesenho (Campos) - Património Classificado (IIP)

- Reigal / Chã de Lesenho (Tumulus)

- Sepultura

 

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Património Edificado

- Capela de São Mamede (Agrelos)

- Capela de São Marçal (Bostofrio)

- Capela de Santo Amaro (Campos)

- Capela de Viveiro

- Casa do Morgado de Agrelos

- Cruzeiro – Agrelos

 

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Viveiro

 

Marcas da História Antiga

 

SÃO SALVADOR DE VIVEIRO

 

Castro do Lesenho (Património Classificado - IIP)

Designação: Castro do Lesenho

Localização: Campos (São Salvador de Viveiro)

 

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Descrição: o Castro do Lesenho encontra-se a cerca de 700 m da aldeia de Campos, freguesia de São Salvador de Viveiro.

 

Este castro é um monte cónico e pedregoso cuja altura se pode calcular em 50 a 60 metros. Tem três linhas de muralhas, sendo a cimeira a melhor definida pelos alinhamentos de pedras em montão caótico, a entestar os penedos. A segunda e terceira muralhas, na sua maior parte derruídas, são também assinaladas pelas fiadas de montões de pedras. A maior parte das muralhas têm dois metros de largura. Além da porta aberta na muralha fundeira, que pode considerar-se a entrada principal, há mais duas portas, uma no topo da terceira muralha, a outra no lado Poente da primeira muralha. O Castro do Lesenho notabiliza-se pelo facto de nele se terem encontrado, talvez no século XVIII, quatro estátuas de Guerreiros Galaicos ou Calaicos Na base Nordeste do castro foi encontrado um pequeno penedo com gravuras. O monte onde se localiza o castro, dada a sua altitude e localização, é um excelente miradouro natural. Daí avistam-se uma vastidão de paisagens: a Norte os Cornos das Alturas, as cristas da Serra do Gerês e a Serra do Larouco, pelo Nascente a Serra de Sanábria (Galiza); além Tâmega a Serra de Santa Bárbara, para Sul o Alvão e o Marão; mais perto a Serra da Cabreira, os cerros de Cabeceiras de Basto e a Serra da Eira.

 

Festas e Romarias

 

Festa de São Sebastião em Viveiro (São Salvador de Viveiro)

A celebração ao São Sebastião em Viveiro não tem uma data fixa pois a sua realização depende da disponibilidade do pároco. Esta festa conta com a presença das pessoas da aldeia a quem é distribuído pão e vinho. É cada uma das casas da aldeia que, num sistema de rotatividade, anualmente organiza a compra e Festa de São Sebastião em Viveiro (São Salvador de Viveiro) distribuição do pão e do vinho, ou seja, é o mordomo que compra o pão e o vinho com que enche o pipo da festa, um pipo que anda à roda pelos mordomos. Nesse dia celebram uma missa e sermão em honra de São Sebastião. Finda a missa juntam-se no largo e procedem à distribuição do pão e do vinho entre os fiéis

 

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Divino Salvador do Mundo ou  São Salvador do Mundo - Viveiro

 

Festa do Divino Salvador do Mundo ou  São Salvador do Mundo

Realiza-se no início de Agosto junto ao santuário do Divino Salvador do Mundo em Viveiro. Manda a tradição que esta festa, que é a maior festa da freguesia e uma das maiores do concelho, se realize no dia 6 de Agosto se coincidir num domingo. Caso contrário celebra-se no domingo a seguir ao dia 6.

 

O Divino Salvador do Mundo é o protector dos animais, pelo que, no dia da festa (ou no dia antes), os lavradores levam o gado para a “bênção do gado” Festa do Divino Salvador do Mundo ou São Salvador do Mundo (ver pág. 123) e com ele andam à volta da igreja para que os proteja das maleitas ou em agradecimento a benesses recebidas. Manda a tradição que estas voltas constituam uma novena (9 voltas) ou então 3 ou 6 voltas.

 

Nesse dia celebram uma missa e fazem uma procissão com 7 andores acompanhada por uma banda musical. Procede-se também ao leilão das oferendas. À noite a festa continua, na aldeia, num animado arraial popular a que não falta também o tradicional

 

Aldeias da antiga freguesia de São Salvador de Viveiros

 

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Agrelos

Agrelos

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Agrelos  

 

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Bostofrio

Bostofrio

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Bostofrio 

 

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Campos

Campos

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Campos  

 

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Viveiro

Viveiro

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Viveiro   

 

 

E agora, tal como fazemos com cada aldeia, vamos aqui deixar o vídeo dedicado à freguesia, com uma seleção de imagens de cada aldeia e as imagens de hoje.

 

Vídeo resumo com imagens da freguesia:

 

 

Tal como dissemos no início do post, vamos aproveitar estes posts dedicados às freguesias para deixar aqui um tema dos hábitos comunitários das aldeias do Barroso, embora alguns já tivessem caído em desuso.

 

Assim, iniciamos hoje com o tema “ A Bênção do Gado”, que por sinal uma dessas cerimónias ocorre no santuário de São Salvador do Mundo, da freguesia que hoje aqui deixamos.

 

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Pastagens - Bostofrio

 

A Bênção do Gado

 

Sendo um dos elementos fundamentais para estas economias de montanha, não é por isso de admirar que o gado seja alvo de constante atenção e inúmeros desvelos por parte dos donos. A doença ou morte de um animal causa inúmeros constrangimentos e prejuízo aos agregados familiares. Dada a fragilidade dos ecossistemas locais e o grau de incerteza que rodeia a vida do agricultor, este recorre muitas vezes à protecção divina para que proteja o seu gado.

 

Neste contexto, é vulgar o recurso à bênção do gado, às oferendas ao Santo António, protector dos animais, e às promessas com o gado. Em Atilhó, no dia de Santo António, 13 de Junho, os agricultores levam o gado para o monte Galhado, onde está localizada a Capela de Santo António, para assistirem à missa, no fim da qual há a bênção do gado para o proteger e os livrar dos males. São inúmeras as aldeias em que, no final das celebrações dedicadas ao Santo António, se costuma fazer o leilão das oferendas dos fiéis, revertendo o dinheiro para o Santo.

 

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Senhor do Monte em Pinho

 

Em Pinho, celebra-se anualmente uma grande festa, no último fim-de-semana de Julho, em honra do Senhor do Monte, considerado o protector dos animais. Manda a tradição que, no sábado, dia reservado à bênção dos animais, os lavradores levem o gado até A Bênção do Gado ao Santuário e com ele façam três voltas à igreja. Muitos são os que percorrem longas distâncias, não só do concelho, mas também de concelhos vizinhos, outrora a pé, agora em carrinhas, para levarem os seus animais até ao santuário, em busca da protecção do Santo. Nesse dia, dizem os fiéis, apesar da grande concentração de animais nesse espaço, não se vê uma mosca no pinhal. As esmolas das promessas ou agradecimentos pela protecção ou benesse recebida costumavam ser dadas em centeio, mas agora costumam dar dinheiro.

 

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S. Salvador de Viveiro

 

Mais conhecida ainda, é a romaria do Divino Salvador do Mundo, ou São Salvador do Mundo, em Viveiro (São Salvador de Viveiro), a que acorrem inúmeros fiéis para a bênção do gado, como descreveu Oliveira (1984:256/8)

 

“(…) O gado começou a afluir pelas 9 horas da manhã, e essa afluência atingiu o auge pelas 11 horas, formando então um anel quase ininterrupto (embora não denso) em volta do muro do adro, pelo lado exterior. Apenas três bois carregavam cereal à cabeça, amarrado entre os chifres; mais frequentemente este vinha em burros, ou às costas, à cabeça ou debaixo dos braços das pessoas, seguindo os bois atrás. Como dissemos geralmente dão nove voltas (novena), no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio; mas podem dar mais ou menos, conforme as promessas que fizeram.

 

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Viveiro

Todo o gado trazia coleiras ao pescoço. Por vezes, as juntas iam jungidas para não fugirem nem saltarem. Algumas pessoas, quando passam com o gado em frente à porta sul do muro do adro (as voltas do gado São pelo lado exterior do muro que circunda o adro; a pessoa que conduz os bois vai à frente, ao lado ou atrás dos animais, conforme calha), fazem o sinal da cruz e esboçam uma genuflexão. Cumpridas as voltas da promessa, algum gado fica por ali, para a bênção; outro vai para os lameiros próximos. Também aparecem ovelhas, misturadas com os bois, a andar nas voltas.

 

Fora da capela, as promessa das pessoas (sem gado) consistem sobretudo em voltas a pé dentro do adro em torno da capela, muitas vezes com cereal em sacos à cabeça ou às costas, que depois irão despejar nas arcas que estão dentro da capela. Uma ou outra pessoa traz cravos ou outras flores. Em frente à porta, aberta, da capela, esboçam a genuflexão. Vê-se também uma ou outra dando voltas de joelhos. Por vezes, de cada volta a pé, põem uma pedra no cachorro que há na fachada, sob o alpendre, à esquerda.

 

Mais para dentro da capela, estão pousados no chão os sete andores, aguardando a procissão: Santa Quitéria, Santo Isidoro, São Bento, São Salvador do Mundo (nascente), Nossa Senhora, Santo Adrião e Nuno Álvares (poente); o andor de Nun’Álvares fica um pouco atrás dos outros, encostado ao arco do transepto. Santo Isidoro é o protector dos lavradores, e a imagem tem aos pés um touro; Santo Antão é dado como “abade protector dos animais”; São Bento é protector das doenças, e Nun’Álvares protector dos Portugueses. As pessoas que trazem cereal como promessa, depois das voltas (ou directamente, se não prometeram voltas) entram na capela e despejam os sacos nas arcas respectivas. Às vezes, antes de despejarem os sacos, vão rezar em frente do altar do Salvador, e então com frequência fazem-no com o saco do cereal à cabeça ou nos braços.” A descrição continua, destacando o cumprimento de promessas e os diversos procedimentos dos fiéis ao logo do dia, assim como descreve, ao pormenor, a procissão onde se faz a bênção dos animais que se espalhavam pelo outeiro, e a alocução aos lavradores que foi do teor seguinte:

 

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São Salvador do Mundo - Viveiro

“Atenção! Pede-se uns minutos de silêncio, porque vai seguir-se a bênção do gado. Interrompam as voltas, porque vai benzer-se o gado. Atenção! Antes de se principiar a bênção do gado, eu quero dirigir umas breves palavras aos lavradores da nossa região, aos lavradores e à boa gente transmontana, à boa gente de Barroso! Lavradores do Barroso! Já há muitos anos que tendes vindo aqui a este santuário, cumprir as vossas promessas. É grande a vossa fé, o vosso entusiasmo, para com o Divino Salvador do Mundo. Há gente que vem da raia de Espanha, de muito longe aqui a este santuário, cumprir as promessas porque o Divino Salvador do Mundo, nos momentos de perigo, cura os seus animais. Por isso, é com fé que vós viestes a este santuário, cumprir as vossas promessas. O Divino Salvador do Mundo abençoe os vossos gados, que o Divino Salvador do Mundo afaste para longe das vossas casas as pestes, que o Divino Salvador do Mundo interceda por vós, abençoe os vossos trabalhos, as vossas canseiras, os vossos campos, os vossos animais. Com fé, com amor, dizei ao Divino Salvador do Mundo o ‘muito obrigado’! Ele é o Senhor de tudo. Ele dá-nos tudo, é o nosso Pai, por isso confiai nele. Que o Divino Salvador do Mundo nos salve a todos. E que hoje, neste dia, conceda muitas graças e muitas bênçãos para todos vós, abençoe as vossas famílias, abençoe os vossos gados. São os votos do pároco desta freguesia. Agora vai seguir-se a bênção do gado”.

 

********************

 

Para terminar fica um aviso à navegação, a respeito da metodologia de publicação dos posts que passaremos a utilizar a partir de hoje, que embora continuemos a utilizar a ordem alfabética, a partir de hoje, será a ordem alfabética do nome da freguesia e não das aldeias. Assim, as próximas aldeias a abordar serão as da freguesia de Alturas do Barroso e Cerdedo, a saber: Alturas do Barroso; Atilhó; Casas da Serra; Cerdedo; Coimbró; Covelo do Monte; Vilarinho Seco e Virtelo. No final da abordagem de todas as aldeias, continuaremos a ter o post da freguesia, idêntico ao de hoje.

 

 

[i] Valor dos Censos de 2001

[ii] Valor dos Censos de 2001

 

31
Mai20

O Barroso aqui tão perto - Vilar

Aldeias de Barroso - Concelho de Boticas


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VILAR - BOTICAS

 

Como hoje é domingo, vamos mais uma vez por este nosso Reino Maravilhoso adentro, até um dos seus cantinhos que dá pelo nome de Barroso, mais propriamente até uma das suas aldeias, a aldeia de Vilar, concelho de Boticas.

 

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Hoje, vamos dividir este post em cinco andamentos, que,  bem poderiam ser musicais, melodias para ouvir, mas estes andamentos, são, ou foram, andamentos na aldeia de Vilar, primeiro com neve, depois de encontro à arte Naïf, depois com sol, de descoberta do turismo rural e finalmente, o andamento da documentação e daquilo que se diz de Vilar, não necessariamente por esta ordem.

 

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Mas antes de entrarmos nos andamentos e porque depois não vamos ter oportunidade para tal, vamos já a localização da aldeia e o itinerário para lá chegar.

 

Pois como sempre a nossa partida é da cidade de Chaves e tal como habitualmente vamos tomar a estrada que atravessa todo o Barroso, a EN103, para depois, em Sapiãos (a apenas 23,3Km de Chaves) fazermos o desvio para Boticas onde apanharemos a ER311, que atravessa todo o concelho de Boticas. Depois de Boticas, nesta estrada ER311, até ao nosso destino, apenas vamos passar por duas localidades, Quintas e Carreira da Lebre, logo a seguir a esta última localidade, a 2,8Km, temos um desvio à esquerda para a nossa aldeia de hoje – Vilar.

 

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Agora sim, vamos então aos 5 andamentos de Vilar, aldeia que até à ultima reorganização administrativa das freguesias era sede de freguesia, à qual pertencia também a aldeia de Carvalho. Com a reorganização das freguesias foi anexada a freguesia de São Salvador de Viveiro, sendo hoje a freguesia de Vilar e Viveiro.

 

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Primeiro Andamento

Versão outono-inverno de Vilar

 

Como sabem este blog é feito na cidade de Chaves, quanto a mim com parte do concelho ainda a pertencer a este Barroso, mas mesmo não pertencendo, o concelho faz fronteira com o Barroso, daí estarmos tão próximos, que muitas das vezes não é preciso dizerem-nos o que se passa por lá, basta seguir e sentir os sinais que o Barroso emite, para ficarmos a saber o que por lá se passa.

 

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Por exemplo os dias de neve no Barroso. Aqui no vale de Chaves (onde lá vai nevando de vez em quando, pouca coisa e de pouca dura, a maioria das vezes nem chega a pegar, mas em muitos dias de inverno, que por cá faz frio e/ou está a chover, no Barroso é neve, e sabemo-lo por aquele ar frio e refinado que nos vem de lá. Depois é só confirmar, lançando um olhar para a serra do Leiranco ou se estivermos num ponto mais alto, lançamos esse olhar até a pontinha da Serra do Larouco, e lá está ela, branquinha. O ar frio e refinado é como o algodão, nunca engana…

 

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Eu sou um dos que, quando esse ar frio e refinado vem do Barroso, se puder, dou lá um pulo para ver se a neve continua a ser aquilo que era… mas vem tudo isto a propósito das imagens com neve de Vilar, de uma nevada que caiu há dois anos (30 de março de 2018), um bocadinho fora de época.  E agora pensarão - pois, cheirou-te a neve e foste até lá! Mas não, aqui no vale de Chaves até estava uma manhã amena, que nem sequer chuva prometia. Céu carregado de nuvens, mas com “a atmosfera muito alta” como diria o tio Miguel, e em dias de “atmosfera alta”, segundo o mesmo tio Miguel, nunca chove, quanto mais nevar…

 

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Na verdade fomos surpreendidos pela neve, pois nem sequer com chuva contávamos, pelo que o ar frio e refinado do Barroso não é fruto de uma ciência exata, às vezes falha. Mas ó alegria das alegrias, quando chegámos à Carreira da Lebre e vimos os primeiros flocos de neve a cair, ainda timidamente, vimos logo que aquilo prometia. Parecíamos putos a ir à neve, tanto mais que andamos nesta recolha de imagens há anos e raramente ela nos brindou com o seu aparecimento. Mas desta vez apareceu, e não só apareceu como não desapareceu, o nosso único receio é que não íamos preparados para a neve, e se a neve virava a nevão, o nosso popó, pela certa que chegaria a um ponto e diria – não ando mais… mas também sabíamos que enquanto ela está fofinha, não há grande perigo, isto se não saírmos da estrada e enquanto esta se deixa ver. Não houve azar de maior e nesse dia, até conseguimos fotografar Campos e Vilar. Um dia em cheio, de neve, com brincadeiras de putos e tudo…

 

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Estas primeiras fotos são precisamente desse dia de neve em Vilar. Neve que é bonita de ser ver, mas aos bocadinhos, pois é fria e molha, pelo menos os pés, e como já disse, não íamos preparados pela neve, pelo que, aproveitámos o Café André estar aberto e entrámos para aquecer os nossos corpos, por fora e por dentro, que nestas coisas de frio e molhas, todos os cuidados são poucos, e em boa hora o fizemos, pois mal entrámos no café dei de caras com um velho amigo, ou melhor, com a sua obra, uma maigo que tive o gosto de conhecer em Chaves nos anos oitenta, a ele e à sua obra da qual ainda hoje restam algumas memórias.  

 

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Segundo andamento

Arte Naïf

 

Enquanto tivemos comboio em Chaves, de vez em quando apareciam por cá umas personagens castiças. Acreditávamos que vinham do Porto, isto é, que estariam na estação de Campanhã sem nada que fazer, entravam no comboio prá Régua para darem uma volta, ali mudavam para a via estreita e depois seguiam até Chaves, fim ao de linha. Como tal, não havendo comboio de regresso até ao dia seguinte, lá teriam que sair do comboio e começavam a deambular pela cidade. Chaves que é hospitaleira e recebe sempre bem os de fora, lá acabava por acarinhar estas personagens e elas acabavam por ficar largas temporadas ou para sempre.

 

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Um dia vejo na rua uma dessas personagens castiças. Chapéu na cabeça, camisinha amarela de um amarelo bem vivo, calcinha vermelha a condizer. E este quem é!?, perguntei por perguntar. É o Rei! Alguém me respondeu. Boa, disse eu, já que temos aí o Primeiro Ministro Mundial de Faiões, que queria contruir uma ponte de Portugal até ao Brasil, porquê não um Rei!?

 

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Uns dias depois, um amigo das artes, apresenta-me o Rei. “Apresento-te o Sr. Francisco Rei, é pintor, anda ali a pintar um café, vamos lá ver…”. Vamos! E também fui… e fiquei surpreendido com o que vi, com o rigor dos pormenores dos lugares, não falhava nada, o mais importante estava lá, pintava os lugares de memória, sem auxílio de fotografias, mas nada falhava. Repare-se na última foto, uma pintura da nossa aldeia de hoje que está numa das paredes do Café André, atravessa-se a ponte antiga com os arcos refletidos na água, temos o desvio para Carvalhelhos e logo a seguir o desvio para Vilar, nem sequer falta o pormenor do marco da estrada a assinalar a ER311, Km91, a Igreja com a sua torre sineira separada…  Arte Naïf q.b., mas nasceu e viveu em terras erradas para poder chegar ao patamar dos grandes. Francisco Rei pintava as paredes dos cafés ou de que fossem, a troco de estadia e alimentação…

 

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Desde esse dia, vi-o durante meia dúzia de anos por Chaves e redondezas, em muitos dos cafés em que entrava, principalmente nos cafés de bairros limítrofes da cidade e nas aldeias, havia sempre pinturas de Francisco Rei, a última vez que vi uma por cá, foi num café em Outeiro Seco, pinturas que Francisco Rei fazia questão de assinar sempre, mas nem era preciso, a sua pintura era inconfundível, tinha o seu cunho pessoal. A última vez que o vi foi nas paredes do Café André, em Vilar…

 

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Terceiro andamento

Vilar na versão primavera-verão

 

Pois tal como nos aconteceu na aldeia de Campos, também tivemos que ir a Vilar uma segunda vez para recolher fotografias sem neve, com outra luz e outro colorido, e em boa hora o fizemos, pois o dia estava excelente. Este segundo andamento pelas ruas de Vilar aconteceu a 16 de julho de 2018, chegámos lá às 9 da manhã de um dia de sol, limpinho, daqueles sem fumos nem neblinas, daqueles que deixam ver longe até onde o horizonte se esgota, mas estávamos lá para ver de perto e a cores, alguns pormenores, por sinal muitos, que nos escaparam no dia de neve.

 

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Todas as imagens de hoje sem neve, são desse dia e não temos mais, porque logo à chegada à aldeia, fomos desviados da nossa aventura de ir pelas ruas adentro, conforme os motivos nos vão convidando, mas desvio esse que em boa hora aconteceu, pois partimos para outra descoberta, a convite, que por livre iniciativa não teríamos a ousadia de invadir aquele espaço, e seria pena. Espaço esse que deu origem ao quarto adamento na aldeia de Vilar.

 

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Quarto andamento

Turismo Rural – A casa da Eira Longa

 

Nesta segunda visita à aldeia, entrámos nela e fomos à procura de um poiso para o popó. Neste entretanto de o arrumar, aparece-nos um vilarense que ao ver-nos munidos das câmaras fotográficas, nos perguntou se andávamos a “filmar” coisas bonitas, e que fossemos com ele que nos mostrava a coisa mais bonita da aldeia…e fomos. Levou-nos até à Casa da Eira Longa, da qual já tínhamos visto algumas placas indicativas de um turismo rural. Entrámos na eira da casa, que na realidade são 9 ou 10 construções, uma pequena aldeia dentro da aldeia.

 

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Notoriamente trata-se de uma casa agrícola senhorial, segundo a história disponível, foi construída em 1750 pelos antigos morgados da terra, sendo hoje propriedade dos seus descendentes, a professora Lurdes Fernandes e o irmão Hermínio Fernandes, que no ano 2001, a converteram em turismo de habitação, para depois por força da lei passar a turismo rural e hoje ser considerada alojamento local. A recuperação seguiu em tudo a traça antiga das construções, principalmente no exterior e em muitos interiores, com exceção para os quartos junto à piscina, construção nova, a seguir a traça das existentes, mas que no interior têm o requinte dos materiais de, e que, hoje se exigem para a sua função.

 

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O que mais me atraiu a atenção foi um autêntico museu etnográfico com todos os pertences de uma casa agrícola antiga, no que respeita a mobiliário, loiças e utensílios do lar, onde nada falta, desde a mesa posta com talheres e loiças da época, os armários, caixas, escanos, louceiros, lampiões, colchas, tapetes e toalhas de linho dos antigos teares, incluindo o próprio tear, nada falta, inclusive um penico de loiça. A par deste museu existe também o bar, rústico, com algumas obras de arte (pinturas e fotografias de autor) a decorar as paredes. Obras de arte de pintores e fotógrafos que passaram pela casa aquando ali se realizavam tertúlias ligadas à arte e poesia, que segundo informações proprietária Lurdes Fernandes, eram coisas do irmão, mais ligado à cultura e aos artistas.

 

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Quanto ao exterior, o verde contrasta com o azul do céu e da piscina, esta, exposta a receber desde os primeiros raios de sol da manhã até ao por-do-sol, com toda a privacidade necessária para quem dela usufruir, tendo por um lado o casario do empreendimento e por outro a ampla quinta revestida de verde. Mas sobre o exterior e a envolvente deixo-vos com as palavras que constam no site da Casa da Eira Longa ,  que nós confirmamos a sua veracidade:

 

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Quando se entra na Casa da Eira Longa, logo o olhar se prende no deslumbrante quadro natural que, a poente e a sul, se apresenta. A calma impera, o silêncio faz-se sentir. Estão criadas as condições para afastar preocupações e aliviar tensões.

Os múltiplos caminhos que na paisagem se desenham convidam ao passeio e à descoberta dum reino maravilhoso, habitado por gente nobre e constituído de recantos mágicos onde ainda se disfrutam cheiros, sabores, cores e sons primordiais, únicos. Miguel Torga descreve este reino em seu “Diário”.

Um pouco por toda a parte, encontramos vestígios de histórias e tempos idos, tais como antas e dólmenes celtas e pré-celtas, vias romanas, fortificações diversas, fornos comunitários, moinhos de levada, engenhos de linho, teares, etc.

 

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Para quem gosta do campo e da natureza, a Casa da Eira Grande é sem qualquer dúvida um local para passar umas férias sossegadas e com muitos motivos de interesse em redor, afinal estamos no Barroso,  uma das pérolas deste Reino Maravilhoso que Torga tão bem descreveu. Se está interessado em vir para esta terras, não hesite, venha e se esta casa de turismo rural estiver esgotada, há outras do género na região e se todas estiverem esgotadas, tem em Chaves e Vidago um amplo parque hoteleiro para o receber, onde poderá passar e usufruir das noites flavienses, e de dia fazer excursões familiares ao Barroso, que fica mesmo ao lado. Principalmente este ano, não arrisque a ir lá para fora quando tem tudo cá dentro, e nesta região, além de ter tudo, vai ter o prazer de descobrir um Reino Maravilhoso e de uma qualidade gastronómica sem igual.

 

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Quinto Andamento

O que se diz de Vilar

 

Pois já que falámos em pérolas e Reinos Maravilhosos, e atrás se falou de Miguel Torga, vamos até essa pérola da literatura portuguesa que se encantou com estas terras e fez delas tempo de férias durante mais de cinquenta anos,  até que que o seu corpo partiu, mas ficou a obra, onde dedica também muitas das páginas dos seus diários ao Barroso e um pedacinho a esta aldeia de Vilar – Miguel Torga:

 

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Carvalhelhos, 24 de Junho de 1956

 

Conhece-nos, o sexo fraco! E tanto monta que a psicóloga seja uma requintada Madame de La Fayette, como qualquer parola de Trás-os-Montes. Esta tarde, em Vilar, povoação serrana que visitei para ver uma tábua bem bonita, porque só me apareciam velhas à porta das casas, meti conversa com uma, a tirar nabos da púcara.

- Quantas viúvas há cá na terra?

- Quarenta e duas.

- E viúvos

- Três.

Espantado com semelhante desproporção, perguntei-lhe a causa.

- É que os homens são mais aflitos…

 

Miguel Torga, in Diário VIII

 

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Na monografia de Boticas - Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas,  faz uma referência ao:

 

Alto do Crasto ou Castelo dos Mouros Designação: Alto do Crasto / Castelo dos Mouros Localização: Vilar Descrição: o Castro de Vilar de Porro fica abaixo da aldeia de Vilar, mesmo ao lado do sítio de Fervença, e é designado pelo povo como Castelo dos Mouros. Embora tenha três patamares ascendentes e uma muralha na borda de cada um deles, as suas condições de defesa estão longe das dos outros castro da região, que com muralhas altas ofereciam muito boas condições de defesas. O patamar da base na linha Leste/Oeste tem cerca de 35 m de largura. A este patamar segue-se para Oeste uma rampa ascendente com 10 m de comprimento, e a seguir o segundo patamar que na linha Leste/Oeste tem 11 m de largura. Logo se empina nova rampa ascendente que na mesma linha tem 5 m de comprimento e conduz ao patamar cimeiro ou coroa do castro com 80 m de comprimento. Existem vestígios de várias construções circulares.

 

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Algumas das referências que a monografia faz, vamos reserva-las para o post final dedicado à freguesia de Vilar e Viveiro, como o devido resumo de todas as aldeias da freguesia abordadas.

Para já ficam mais estas:

 

Orago:

Nossa Senhora da Guia

Festas e Romarias:

Nossa Senhora da Guia, 15 de Agosto, Vilar.

Senhor dos Milagres, 1º domingo de Setembro, Vilar.

Património Arqueológico:

Castro Alto do Crasto / Castelo dos Mouros

Gravuras de Chainça

Gravuras de Quilhoso

Túmulos

Património Edificado:

Capela do Senhor dos Milagres (Vilar)

Cruzeiros (Vilar)

Fonte de Mergulho (Vilar)

Fornos do Povo de Vilar (Arrabal de Baixo e Arrabal de Cima)

Igreja Paroquial Senhora da Guia (Vilar)

Alojamento Turismo Rural - Casa da Eira Longa (Vilar)

 

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Ainda na Monografia (o sublinhado e negrito é nosso)

 

As Lamas / Lameiras do Povo ou do Boi

 

Em algumas aldeias existem lamas/lameiras do povo ou do boi, propriedade comum da aldeia. Nas aldeias onde existiu boi do povo, estas propriedades garantiam parte da sua alimentação, sendo utilizadas como pastagem e para a produção de forragens (feno). Actualmente, estas propriedades, geridas pelas Juntas de Freguesias ou pelos Conselhos Directivos dos Baldios, são arrendadas aos lavradores que delas precisem. Anualmente, ou de cinco em cinco anos, como acontece em Nogueira (Bobadela), são postas a leilão e arrematadas por quem fizer melhor oferta, pois como costumam dizer “quem mais dá, mais amigo é do Santo”.

Todavia, existe ainda no concelho uma excepção - três lamas do Boi, das cinco existentes em Ardãos, a Lama da Sorte e a Lama do Souto são utilizadas para pasto do Boi do Povo e a Lama da Herdade para produção de forragens para o Inverno. Para além destas lamas/lameiras, que são propriedades comunais, existem terrenos doados à Igreja, a um Santo, ou ao padre da paróquia. Antigamente quando os padres se deslocavam entre as aldeias, faziam-no a cavalo de um burro, estes espaços serviam assim para o pasto do animal. No concelho, existem várias propriedades destas, como por exemplo as Lamas da Igreja, em Bobadela, a Lama do Padre, em Vilar e Lama da Santa, que pertence à Senhora da Guia, também em Vilar. Estas propriedades, geridas pelas Comissões Fabriqueiras das respectivas igrejas, são, anualmente, colocadas a leilão e arrematadas pelos agricultores que melhor oferta fizerem.

 

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Ainda na monografia, sobre o casamento:

 

Em algumas aldeias, como Granja, Vilar e Espertina, ainda é costume juntarem-se as raparigas solteiras no dia do casamento bem cedo, fazem um arco para acompanhar a noiva à igreja e uma passadeira de flores desde a sua casa até à igreja.

 

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E agora passemos à “Toponímia de Barroso”

 

VILAR (Vilar de Porro)

Não é só falta de sensibilidade, é falta de respeito pelos que jazem no vosso cemitério e igreja há séculos e séculos! Vede bem, só no concelho de Ponte de Lima há 10 topónimos oriundos do “PORRO” pelo nome comum latino “PORRU” a planta de que o povo tanto gosta e ama de tal maneira que o escolheu para nome do seu povoado.

Fiães – que vem de feno e Curros – que vem de “cortes” devem estar a pensar (Fiães e Curros têm gente que pensa) se deviam rebaptizar os lugares onde nasceram os seus filhos, seus pais e avós! É triste… ver rejeitar o que tanto honrou e orgulho transmitiu aos vossos entes queridos!

Porque Vilar de Porro tem orgulho no seu passado histórico: o ultimo rei conquistador, D.Afonso III, concedeu-lhe carta de foro em

- 1258 « de uno meo casali regalengo de Vilari de Porro com suis terminis» CHANC. III f.30 e

- 1282 « en Vylar de Porro  Fernam Pena comprou huu casal» e ainda

- 1282 « en Vylar de Porro de huu casal oytaveyro del rey de que devem das espadoa e fosadeyra e ir aa ramada e a entorviscada e traagê-o a eygreyja de San Salvador de Canedo há VII anos» E, por fim, na fracção B dos mesmos documentos:

- « Gil Stevaez aldayde de Monte Alegre trage em Vylar de Porro huu casal…» e mais adiante…

- « esse Gil Stevaez trage en no dicto logar de Vylar de Porro huu casal en Fundo de Vila e dele he dezmeiro e dele oytaveiro del rey».

Respeitemos a gente que fez esta terra!

 

1600-vilar (152)

 

TOPONÍMIA ALEGRE:

 

Vilar de Porro:

Tem “ um alto monte a que chamam vigia, terra silvestre e monte maninho que não produz mais que urze e tojo.”

Padre Domingos Pereira – Memórias Paroquiais de 1758

 

Os moços de Vilar de Porro

Vão de noite roubar uvas!

Que ninguém se finte neles

Pois são falsos como judas!

 

Moças de Vilar de Porro

Compram na vila a romã

Para lavarem as tetas

Duas vezes por semana

 

Se fores por Vilar

É olhar e andar!

 

1600-vilar (201)

 

Já há muito que ando para dizer o que vou dizer a respeito da “Toponímia de Barroso”, que pensei que seria uma mais valia para as aldeias de Barroso, mas que hoje tenho sérias dúvidas se será ou não, pois ir à origem da palavra, geralmente ao latim,  para justificar o topónimo, se nalguns casos faz algum sentido e pode justifica-lo, noutros não faz sentido nenhum, nem explica o porquê de... Mas o que mais me mete impressão nesta “Toponímia de Barroso” são os apontamentos pessoais do autor, que às vezes chegam a ser ofensivos, principalmente para outros especialistas na matéria, quando a respeito de um determinado topónimo, estes têm opinião diferente da sua. Para sermos respeitados há também que respeitar os outros.  Depois, também, a “Toponímia de Barroso” é uma edição do Ecomuseu – Associação Barroso, que está debaixo da tutela do Município de Montalegre, ou seja, é, por vias indiretas, uma edição municipal e não uma edição de autor, daí, o autor não deveria imiscuir-se em assuntos que não são da sua laia, ainda para mais, como no caso de Vilar, acusando os atuais vilarenses  de falta de respeito pelos seus mortos e antepassados, num assunto que está mais que consumado, que resultou de uma organização administrativa que tem quase 100 anos    (decreto-lei nº 27,424, de 31/12/1936), quando a maioria dos atuais vilarenses ainda nem sequer tinha nascido… Afinal quem é que está a faltar com o respeito a quem!? Razão tinha Miguel Torga quando a respeito de uma aldeia próxima, relatou no seu diário “Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha. Não por mim, que venho cheio de boas intenções, mas por uma civilização de má-fé que nem ao menos lhe dá a simples proteção de as respeitar.”

 

Respeitemos a gente que hoje faz esta terra!

 

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Que me desculpem os de Vilar por este desabafo, mas tinha de ser, e pela certa não voltará a acontecer, e mais vale tarde do que nunca, a “Toponímia de Barroso”, aqui, não voltará a levantar destes problemas.

 

E estamos a concluir este já longo post, com a recomendação final de que Vilar merece uma visita e os agradecimentos à Professora Lurdes, ao seu irmão Hermínio  e caseiro (cujo nome esquecemos de anotar) pela simpatia com que nos receberam e deram a conhecer o seu alojamento local, gratidão também por ter reencontrado a arte de Francisco Rei nas paredes do Café André e por ter oportunidade de poder perpetuar a sua obra, com algumas imagens, antes que umas obras de recuperação pintem aquelas paredes de branco, e gratos também à mãe natureza por nos ter brindado em Vilar com um dia de neve e outro de um radioso sol de primavera.

 

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E agora sim, chegamos ao final deste post. Estamos naquela parte em que vamos ter o vídeo resumo com todas as imagens hoje aqui publicadas. Espero que gostem e quanto a Vilar, até um dia, nem que seja e só para tomar um café e rever as pinturas de Francisco Rei.

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

BAPTISTA, José Dias, (2014), Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso.

CÂMARA MUNICIPAL DE BOTICAS, Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas - Câmara Municipal de Boticas, Boticas, 2006

TORGA,  Miguel, (1956) Diário VIII.

 

 

WEBGRAFIA

http://www.cm-boticas.pt/

https://toponimialusitana.blogspot.com/search?q=carvalho

http://eiralonga.net/casa-da-eira-longa/

 

 

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