Nas últimas semanas trouxemos aqui todas as aldeias da freguesia de Alturas do Barroso e Cerdedo, uma freguesia recente que resulta da união da antiga freguesia de Alturas do Barroso e a freguesia de Cerdedo, ambas extintas com a última reorganização administrativa do território, Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro. Assim os dados que possuímos, são os das antigas freguesias antes da sua união, pelo que, neste resumo, serão abordadas em separado. Mas para iniciar, fica o mapa da atual freguesia e o gráfico síntese com a população total da atual freguesia e das antigas fregiuesias.
Antiga freguesia de Alturas de Barroso
Localização geográfica: Situa-se em pleno coração da Serra do Barroso, na parte Noroeste do concelho.
Distância relativamente à sede do concelho: aproximadamente 18 km
Acesso viário: Pela ER 311, vira-se em direcção a Carvalhelhos e percorre-se a EM 520. Em alternativa, pode seguir-se pela ER 311, vira-se em direcção a Vilarinho Seco e percorre-se o CM 1035 até Alturas do Barroso.
Área total da freguesia: 32,8 km2
Localidades: Alturas do Barroso, sede de freguesia, Atilhó e Vilarinho Seco
População: 444 habitantes
Orago: Santa Maria Madalena
Festas e Romarias
São Sebastião, 20 de Janeiro, Alturas do Barroso.
São Sebastião, Domingo a seguir ao dia 20 de Janeiro, Atilhó.
Santa Cruz, 03 de Maio, Vilarinho Seco
Sto António,* 13 de Junho, Alturas do Barroso e Atilhó
Santa Maria Madalena,* 26 de Junho, Alturas do Barroso
São Paio,* 26 de Junho, Vilarinho Seco
Santa Ana, 26 de Julho* / inicio de Agosto, Alturas do Barroso
Santa Margarida, último domingo de Agosto, Atilhó
Santa Bárbara,* 04 de Dezembro, Atilhó
Santa Luzia,* 13 de Dezembro, Atilhó
(*) Apenas celebração religiosa.
Cruzeiro e tanque em Alturas do Barroso
Património Arqueológico
Castro de Vilarinho Seco / Couto dos Mouros
Castro do Côto dos Corvos
Mamoa da Pedra do Sono / Pedra do Sono
Mamoa de Chã do Seixal / Chã do Seixal
Alturas do Barroso
Património Edificado
Capela de Nossa Sra. de Fátima (Alturas do Barroso)
Capela de Sampaio (Vilarinho Seco)
Capela de Santa Margarida (Atilhó) – Património Classificado (IIM)
Casas de Vilarinho Seco
Forno do Povo de Alturas do Barroso
Forno do Povo de Atilhó
Forno do Povo de Vilarinho Seco
Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena (Alturas do Barroso)
Relógio de Sol (Vilarinho Seco).
Vilarinho Seco
Outros locais de interesse turístico
Casas com cobertura de colmo
Miradouros Naturais da Serra do Barroso
Moinhos
Museu Rural de Alturas do Barroso
Parque de Lazer de Peade (Alturas do Barroso)
Aldeias da antiga freguesia de Alturas de Barroso
Alturas do Barroso
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Atilhó
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Vilarinho Seco
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Antiga freguesia de Cerdedo
Localização geográfica: A freguesia de Cerdedo situa-se no extremo Oeste do concelho de Boticas.
Distância relativamente à sede do concelho: aproximadamente 25 km
Acesso viário: Pela ER 311 até aparecer a indicação Cerdedo.
Área total da freguesia: 23,9 km2
Localidades: Casas da Serra, Cerdedo, sede de freguesia, Coimbró, Covêlo do Monte e Virtelo.
População: 176 habitantes
Orago: S. Tiago
Festas e Romarias:
Santo Amaro,* 15 de Janeiro, Coimbró
São Sebastião, 20 de Janeiro, Cerdedo
Santo António e S. Lourenço,* Terceiro Domingo de Agosto, Cerdedo
Nossa Senhora da Saúde, Agosto, Coimbró
Senhora do Monte, 08 de Setembro, Cerdedo
(*) Apenas celebração religiosa.
Igreja Paroquial de São Tiago - Cerdedo
Património Edificado
Assento de Lavoura
Capela da Senhora do Monte (Cerdedo)
Capela de N. Sr.ª da Ajuda (Virtelo)
Capela de Santo Amaro (Coimbró)
Casa do Morgado de Coimbró
Casario Tradicional de Coimbró - Património em vias de Classificação
Forno do Povo de Cerdedo
Forno do Povo de Coimbró
Igreja Paroquial de S. Tiago (Cerdedo)
Aldeias da antiga freguesia de Cerdedo
Casas da Serra
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Cerdedo
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Coimbró
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Covêlo do Monte
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Virtelo
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E por hoje é tudo. No próximo domingo iremos até à aldeia de Ardãos, iniciando assim a nossa ronda pelas aldeias da freguesia de Ardãos e Bobadela.
O nosso destino de hoje é Virtelo, mais uma aldeia barrosã do concelho de Boticas e da união de freguesias de Alturas do Barroso e Cerdedo.
Virtelo é uma aldeia do limite do concelho de Boticas que fica mesmo na raia com o concelho de Montalegre, tendo como aldeias mais próximas Pomar da Rainha a 1700m e Salto a 2 300m, as duas de Montalegre, e quase à mesma distância de Salto, mas em direção contrária, a aldeia de Cerdedo, esta de Boticas que em conjunto com as Alturas do Barroso dão nome a atual freguesia.
Localizada a cerca dos 1 000 metros de altitude, nos sopés/encontro de montanhas, onde se forma uma pequena veiga fértil e verde a contrastar com o agreste das montanhas que a rodeiam.
É também mais uma das aldeias servida pela E311, aliás a última aldeia do concelho de Boticas a ser servida por esta estrada, que logo a seguir entra no concelho de Montalegre e continua para o concelho de Cabeceiras de Basto…
Assim, o nosso itinerário para lá chegar a partir de Chaves, vem a ser aquele que é mais habitual para as restantes aldeias de Boticas, ou seja, tomamos a EN103 (estrada de Braga) até Sapiãos, aí desviamos para Boticas, passamos esta última e entramos na E311 em direção a Ribeira de Pena, Cabeceiras de Basto e Salto. Seguimos sempre pela E311 até passarmos a aldeia de Cerdedo, logo a seguir, meia dúzia de curvas à frente, como quem diz a cerca de 2,5Km, temos à esquerda o desvio para Virtelo.
Virtelo é uma aldeia pequena, penso ser mesmo a mais pequena do concelho de Boticas, onde se destaca uma grande casa agrícola, suponho que em tempos seria a única que existia, hoje convertida também em casa de Turismo Rural. Além deste conjunto da grande casa agrícola (casa mais respetivos anexos), existem mais duas moradias de construção mais recente, uma pequena capela (recente – 1989), dois ou três armazéns e pequenas construções já fora do núcleo e dispersas.
A maior parte dos terrenos da pequena veiga são ocupados com pastagens, os mais próximos da aldeia, com outras culturas, principalmente o milho, onde também há árvores de fruto e videiras, mas tudo isto é mesmo numa pequena faixa de terreno, pois logo a seguir a montanha começa a subir e aí, só mesmo rochas, penedos em quantidade e entre o rochedo a habitual vegetação rasteira das terras mais altas, pequenas urzes (ou torgas se preferir), carqueja, etc. Apenas uma das montanhas, a que se encontra entre Virtelo e Cerdedo, é que tem alguma floresta de pinheiros. Mais próximo da aldeia, aí aparecem algumas espécies autóctones variadas, sobretudo junto às linhas de água e divisórias dos terrenos.
Quanto a Virtelo, o topónimo, curiosamente é um nome que já ouvia em criança em Montalegre, mas penso que era o nome ou alcunha de uma pessoa, e não da aldeia de Boticas, quem sabe, se calha, às tantas, essa pessoa não seria desta aldeia. Mas não perdendo o fio à meada, a aldeia de Virtelo só a conheci em outubro de 2017, na única vez que fui lá para fazer o levantamento fotográfico para o post de hoje.
Seria agora altura de passar àquilo que encontrámos em documentos e na monografia de Boticas sobre Virtelo, mas para além de uma referência à Capela de N. Sr.ª da Ajuda e outra à “Casa de Paula” de turismo rural, nada mais encontrei. Quanto à capela, penso que será a que está à entrada da aldeia, pois outra não vi por lá.
Bem queria deixar aqui mais algumas palavras sobre a aldeia, mas não encontrei mais referencias sobre ela. Assim, e como (pelo menos) temos ainda mais algumas imagens para mostrar, vamos passar aos temas de Barroso, que são, ou melhor, eram, comuns e habituais em todas as aldeias do Barroso. Ficam alguns exemplos de comunitarismo agrário, que hoje em dia já caíram em desuso ou raramente se praticam ou mesmo já não existem, tal como o boi do povo. Vezeiras ainda conheço, pelo menos, a de Santo André, em Montalegre. Os fornos do povo ainda se vão usando ocasionalmente em algumas aldeias, longe das 24 horas por dia como antigamente acontecia na maioria das aldeias. Penso que, o que ainda se vai praticando entre os resistentes que ficaram, é o da entreajuda.
Exemplos de Comunitarismo Agrário
Os Baldios - Propriedade comunal, localizados na parte mais distante e montanhosa, desempenham um papel muito importante para a economia aldeã. “Embora ocupando de longe a maior parte das terras mais altas e pobres da aldeia, a importância primordial dos baldios reside nas suas enormes extensões de urzes, mato e outros arbustos selvagens fundamentais para a pastorícia e para as actividades agrícolas. Os direitos comuns dos baldios são permanentes e ilimitados.” (O’Neill, 1984:67)”. Considerando que estas populações dependem das actividades agro-pastoris e dada a limitação, quer em termos de área, quer em termos produtivos das propriedades particulares, os baldios sempre desempenharam um papel muito importante na sobrevivência dos agregados domésticos. Enquanto terrenos comunais – logradouros comuns - são passíveis de serem utilizados de diversas maneiras como: área de pastagem para o pastoreio do gado ovino e caprino ao longo do ano e do gado bovino no Inverno; área de recolha de lenha e de matos (carqueja, giesta, tojo, urze, etc.). Algumas parcelas destes terrenos, as cavadas, também eram exploradas individualmente pelos aldeãos mais pobres, muitas vezes sem qualquer outro recurso fundiário para cultivo, de forma a mitigar um pouco a sua pobreza e garantir recursos mínimos de Exemplos de Comunitarismo Agrário subsistência.
O Regadio Colectivo - A água de rega é um bem precioso e limitado. Há dois tipos de rega: a rega de Inverno e a rega de Verão, ou, como Orlando Ribeiro (1998) lhe chamou, a rega da abundância (destina-se a intensificar a produção, mas na realidade podia dispensar-se) e a rega da carência (que se destina a corrigir as condições do clima e sem a qual não era possível produzir).
A água para a rega é encaminhada das nascentes através de regos ou canais de rega até aos tanques (poças) sendo depois distribuída pelos terrenos segundo regras ancestrais bem definidas (aviação). De forma a evitar desperdícios da água de rega, o seu sistema de rotação era feito, geralmente, de acordo com a ordem dos terrenos. Os direitos de rega são transmitidos de geração em geração através da tradição oral. Por vezes acontece proceder-se ao seu registo escrito (rol).
Os caminhos – espaço comunal utilizado para deslocação. O seu arranjo e manutenção era responsabilidade dos habitantes da aldeia. Assim, era convocado o ajuntamento do povo para o arranjo dos caminhos.
As Lamas / Lameiras do Povo ou do Boi – em grande parte das aldeias o Boi do Povo tinha as suas próprias lamas / lameiras que garantiam parte da sua alimentação (erva e feno). Para além destes bens, em alguns sítios o boi do povo tinha também cortes epalheiros próprios.
O Forno do Povo– propriedade colectiva da aldeia, edifício térreo, coberto de colmo, era o café dos pobres. A sua utilização estava sujeita a regras próprias, como a obrigatoriedade de quentar o forno. Para além disso era um espaço de convívio.
Os Moinhos – Em algumas aldeias havia o moinho do povo, propriedade comum dos habitantes da aldeia, onde quem precisasse ia moer os cereais (centeio e milho).
Associados a estes bens e equipamentos comunitários andam os trabalhos comunitários que também se denominam por hábitos comunitários. Muitos destes trabalhos extinguiram-se ou estão em vias de desaparecimento por força da alteração do modelo de produção agrícola e das mudanças do modelo demográfico. De facto, a redução da mão-de-obra e a mecanização da agricultura alteraram drasticamente os modos de vida agrícola nestas aldeias rurais de Barroso. Muitos dos trabalhos comunitários como a segada e a malhada do centeio, as sachas colectivas dos batatais, o arranjo dos caminhos e a condução de águas deixaram de ter sentido. A segada e a malhada passaram a fazer-se através de meios mecânicos, dispensando os ranchos de homens e mulheres e reduzindo o hábito da entreajuda e torna jeira. A produção agrícola da batata foi drasticamente reduzida, o boi do povo tende a ser substituído pela inseminação artificial num combate e redução das doenças transmissíveis e na tentativa do apuramento da raça, e os trabalhos de conservação dos caminhos e condução de águas, entre outros, têm vindo a ser assumidos pelas autoridades autárquicas (municipais e da freguesia) no âmbito das suas competências. Permanecem porém alguns, por interesse efectivo das populações ou recusa de perda de gestos, usos e costumes que se pretendem conservar e manter sobretudo como marca etnográfica e elemento de atracção de turistas e apaixonados pelos hábitos e tradições destas comunidades da terra barrosã. É o caso da vezeira, do Boi do Povo, da limpeza de levadas, regos e nascentes.
Os Trabalhos Comunitários - A expressão trabalhos comunitários, “…compreende todas as tarefas que beneficiam a comunidade ou que se referem aos bens de propriedade comum, e para os quais se torna indispensável a organização de grandes grupos de trabalho.”(O’Neill,1984:160). Os principais eram a limpeza dos caminhos, do regadio, manutenção dos moinhos e do forno do povo. Os trabalhos nos caminhos realizavam-se durante o Inverno, geralmente aos sábados, quando havia mais bagar, o regadio era limpo, uma vez antes do início da época de rega, procedendo-se à limpeza e ao arranjo dos regos e das poças. Estes trabalhos faziam-se através dos ajuntamentos do povo, geralmente no largo da igreja à saída da missa, o regedor ou o cabo de ordens dava as ordes relativas à comunidade ou às coisas comunais. Tocava-se o sino da igreja e um elemento de cada agregado familiar comparecia ao ajunto.
A Entreajuda - A entreajuda ocorria essencialmente na altura do pico dos trabalhos agrícolas: sementeiras, ceifa (segada) do feno e do centeio, malhadas, arranque das batatas, desfolhada do milho, vindimas, etc. As pessoas trocavam trabalho ou outros tipos de ajuda de forma a assegurar força de trabalho ou apoio perante uma situação semelhante. Além da troca de trabalho, há outras formas de troca como a cedência de animais, concessão de favores ou comida.
O Boi do Povo – Propriedade colectiva dos lavradores da aldeia que garantiam a sua alimentação e manutenção de acordo com o número de vacas que tinham. A sua função era essencialmente a reprodução. Acontecia por vezes fazerem chegas com os bois das aldeias vizinhas.
A Vezeira - rebanho comum de gado da mesma espécie, pertencente a várias pessoas da mesma povoação. Era pastoreada nas zonas de pasto comum – baldio – ou nas terras de restolho, à vez por cada uma das pessoas de acordo com o número de cabeças de gado que tivessem, ou entre todos pagavam a um pastor para ir com a vezeira.
E por último, tal como vem sendo habitual, deixamos o vídeo com todas as imagens da aldeia das Virtelo que foram publicadas no post de hoje. Espero que gostem.
E quanto a aldeias de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo. Uma vez que Virtelo foi a última aldeia que abordámos da União de Freguesias de Alturas do Barroso e Cerdedo, a próxima publicação não será sobre uma aldeia, mas sim sobre o conjunto da freguesia.
BIBLIOGRAFIA
CÂMARA MUNICIPAL DE BOTICAS, Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas - Câmara Municipal de Boticas, Boticas, 2006