Hoje não há feijoada, nem peixeirada - há lamentos!
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Já não vão lá com rezinhas aos santos,
Nem com mesinhas de santas
E santas, reconhecem agora
Foram as mães que os pariram
Quem sabe, até, se no meio de tanta santidade
Não foi por temor a Deus que o acto aconteceu
Umas migalhas secas de pão, isso sim
Interessa
Interessa aos pombos e
Interessa-lhes
Ver os voos interessados
Apenas
Por umas migalhas de pão
Eles sabem tudo da vida
Madrasta, quase sempre
Mas sobretudo sabem
Como os pombos gostam de migalhas
Conhecem-lhe os voos
As horas, as manhas
E até a desconfiança
Eles, ao contrário
já não desconfiam de ninguém
Já há muito aprenderam
A não confiar
E eles sabem tudo
Até de monarquias, repúblicas
Guerras, revoluções
Fome, inveja, ódios e
até de amor
Também um dia o conheceram
Eles sabem tudo
E hoje
Apenas querem ter no bolso
Umas migalhas para os pombos.
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Gosto de poesia sim senhor. Sempre gostei e é muito bom remédio para desanuviar, desde que, claro, se encontre a poesia certa para o momento certo e hoje, é um daqueles dias em que a poesia me apeteceu, talvez para esquecer, notícias do dia, em que nem sequer quero acreditar. Noticias do poder, claro, não daqueles que são simples marionetas de quem manda, e entenda-se marionetas como políticos, mas antes daquele poder que realmente é poderoso. Dois mails que aguardavam por mim neste fim de noite, puseram-me assim.
O primeiro dizia que o Parlamento Europeu ia votar ontem (não sei se o foi) uma Lei europeia em que vai restringir o acesso à INTERNET ou aos sítios da INTERNET. Ou seja, passará a ser uma coisa vendida aos pacotes, tipo TV CABO ou MEO ou esse género de pacotes comercias, tudo com a desculpa dos malefícios da INTERNET, do terrorismo, das cópias piratas de filmes e música. Leia-se aqui também que o Boom! da INTERNET começou a molestar o grande capital e descobrem agora na INTERNET, também um negócio onde poderão lucrar um milhões largos a acrescentar aos que já têm, e as marionetas europeias, claro, lá lhes vão fazer o favor de lhes aprovar uma Lei feita à medida.
A curto prazo, podem dizer adeus aos blogues (este incluído), chats, chamadas telefónicas e outras comunicações via INTERNET…os vampiros estão a tomar e a silenciar a INTERNET e vão acabar com aquilo que de bom a INTERNET tem, este aproximar de gentes e de povos, este partilhar para receber, sem interesses.
Para mais informações sobre essa lei, siga os links:
http://www.laquadrature.net/en/telecoms-package-towards-a-bad-compromise-on-net-discrimination
http://www.laquadrature.net/wiki/Telecoms_Package
http://en.wikipedia.org/wiki/Telecoms_Package
http://www.blackouteurope.eu/
Para pedir esclarecimentos e chegar até aos nossos deputados europeus, tem estes links:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Deputados_de_Portugal_no_Parlamento_Europeu_(2004-2009)
ou
http://www.europarl.europa.eu/members/expert/groupAndCountry/search.do;jsessionid=69ADF04943C000194117E9C7032EEC31.node1?country=PT&language=PT
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O segundo mail é ainda mais assustador, pois um vídeo que circula na NET, alojado no YouTube denuncia mais uma vez a grande indústria dos laboratórios farmacêuticos e, simplesmente denuncia, que este vírus da gripe suína, não teve origem no México, mas num laboratório e que foi propositadamente introduzido na população com o intuito desse laboratório poder fabricar as vacinas. Não quero acreditar que isto seja verdade, porque a ser assim, só me resta mesmo ter como única ambição juntar umas migalhas de pão seco para dar aos pombos. Veja o vídeo aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=0K2LdGUca9w
Em dias assim, prefiro mesmo a poesia, que essa, sempre nos vai dando algum aconchego à alma, em Torga, por exemplo, encontro muitos aconchegos:
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Chaves, 23 de Setembro de 1960
Resolveu confessar-se, e dispunha-se a cumprir o ritual canónico:
- Eu pecador…
Sorri-me.
- Creia que estou a ser sinceríssimo!
E nem dava conta que mantinha afivelada a máscara que o desmascarava. A máscara ridícula da seriedade, que todos usamos habitualmente.
Com amiga dureza, disse-lhe então o que ele certamente já sabia e tentava a si próprio ocultar:
- Oiça: cada vida apenas se salva ou perde no plano de Deus. Isto é: no seu absoluto desnudamento. O resto diz respeito unicamente aos códigos sociais. À boa ou má reputação que desfrutamos, às vénias que nos fazem ao passar, ao espaço que vamos apalavrando nas futuras páginas da necrologia. É a epiderme de cobra que deixamos ardilosamente no caminho. Não ponha qualquer esperança nessa mistificadora camisa de gaze. Arranque pele verdadeira, se quer realmente desobrigar-se. Mas arranque-a a sós consigo, na solidão do arrependimento, longe de testemunhas inúteis. Descole o bordo da crosta de transigências e puxe sem dó nem piedade, até que tenha diante da consciência a alma em carne viva.
Miguel Torga, In Diário IX