UM OLHAR SOBRE A PAISAGEM – INVERNO
Histórias que o Inverno me Contou
UM OLHAR SOBRE A PAISAGEM – INVERNO
No olival, os homens e as mulheres entregam-se à lida de colher das oliveiras a azeitona, que se oferece entre a folha miúda. Estendem ao redor do tronco a serapilheira e varejam os ramos, braços ao alto, até cair o fruto. E como ficam felizes se o ano é de fartura! Transportada a azeitona para o lagar, é medida na «fanga» e depositada na «tulha» até encher. Verdes umas, negras as outras. Lavadas e depois moídas entre a pedra das mós, lá as temos, então, cantando, a correr das bicas. Na bica de baixo, a «almofeira», líquido escuro da azeitona em talha, na bica de cima, a riqueza do fruto transformado em azeite. Mas muitas outras são as tarefas que o Inverno traz para serem cumpridas.
Finda a colheita no olival, inicia-se a poda das oliveiras. As noites são longas e os dias curtos e frios. Os rostos e as mãos dos homens e das mulheres tornam-se roxos, ásperos e gretados. Mas o Inverno não os amedronta. Os homens e as mulheres sabem que a terra e os animais necessitam do seu esforço e do seu saber. Que a Natureza, sem a sua ajuda, não poderia ser tão pródiga e tão amiga. Portanto, aí estão eles, a desafiar a invernia no desempenho das tarefas que encontram pela frente. A satisfazerem o pedido da terra e dos animais, porque gostam de retribuir em conhecimento e em cuidados a riqueza que os animais e a terra têm para lhes oferecer.
Ei-los a fazer a lavoura, as adubações e as sementeiras. A prosseguir nas vinhas as podas e as arroteias para novas plantações. A colher nos laranjais as laranjas e as tangerinas. A engarrafar os vinhos nas adegas. A abrir covas para semear as amêndoas e as nozes. E valeiras para semear os melões. A abrigar nas hortas as plantas que não resistem ao frio. A semear as cebolas, os espargos, os espinafres, os nabos e as cenouras. E também os alhos e os morangueiros. A podar as roseiras e os arbustos. A resguardar as plantas que vão florir mais cedo – como as azáleas e as camélias. A semear nos alegretes as calêndulas, as lobélias e os amores-perfeitos. E a plantar as ervilhas-de-cheiro, os jacintos, as túlipas e as anémonas.
Com os animais redobram os cuidados. Renovam-lhes as camas para estarem sempre enxutas. Agasalham e dão melhor comida às vacas leiteiras. Reservam verdura às ovelhas que tiveram crias. E tratam das colmeias, dos pombais, das capoeiras… Num trabalho constante, que não acaba mais.
Soledade Martinho Costa
Do livro “Histórias que o Inverno me Contou”
Ed. Publicações Europa-América