Uma aldeia do concelho de Chaves
Costumo começar estes posts sobre as nossas aldeias do concelho de Chaves com o título da aldeia. Hoje propositadamente não o faço, embora alguns pela primeira imagem que vos deixo identifiquem de imediato a aldeia em questão, estou certo que a grande maioria não a identificará, alguns porque nunca ou raramente por lá passaram, outros, muitos, porque embora até passem por lá amiúde, não e esta a imagem que têm registada na memória. Como tudo e todas as coisas, são identificáveis pelas imagens que vamos registando na memória e se a mesma coisa lhes for dada de uma perspetiva diferente, a nossa memória nada terá em arquivo que a possa identificar.
E se a primeira imagem era uma vista geral sobre a aldeia de hoje, a que vos deixo agora é da sua intimidade, que é como quem diz do seu miolo, centro ou casco histórico. Se a primeira era difícil de identificar para muitos, esta muito mais difícil será, pois só quem está habituado a entrar na intimidade da aldeia é que a identificará. Tudo isto acontece porque esta aldeia embora atravessada diariamente por muita gente, a imagem que essa gente tem da aldeia, é aquela que vê desde a estrada que a atravessa.
Mas hoje vou levar a minha até ao fim. Vou deixando algumas dicas e imagens sobre a aldeia em questão, mas não vou dizer qual é. Os mais perspicazes, logo na na primeira imagem, ou em todas, já têm muitas respostas, mas para o mais distraídos vou deixar mais algumas. É uma aldeia de montanha com um vale no seu sopé. Vale que de inverno costuma ter a companhia do nevoeiro. A aldeia é atravessada por uma Estrada Nacional e em tempos não muito distantes, pelo menos até ao terceiro quartel do século passado, era lá que se localizavam as “máquinas de lavar roupa” da cidade, roupa que após lavada era transportada em burros até a cidade. E prontos, como se costuma dizer por cá, os mais velhotes já sabem de que aldeia se trata, tudo por causa do burros. Pois burros carregados de roupa branca vinham desta aldeia, burros carregado de leite vinha de Outeiro Seco, burros carregado de carqueja vinham das nossas aldeias do Barroso, entre outros burros que vinham carregados de outras coisas de outras aldeias. Até eu que não sou assim tão velhote e que para a idade da reforma ainda me faltam uns bons anos, me lembro dessas desses burros de carga e das suas cargas, inclusive, já crescidote tive muitas vezes que esperar pelo burro do leite para tomar o meu pequeno almoço. Ia rematar o parágrafo com “bons velhos tempos”, mas não, apenas eram tempos diferentes.
Eu sei que neste dia muitos vêm aqui para ver as suas aldeias, outros para descobrir novos motivos, pois hoje, para quem é da aldeia pela certa que já identificou, para quem não é de lá, fica o desafio da descoberta e, quem sabe, um convite para quem em vez de passar o fim de semana pasmado, sentado num sofá em frente à televisão, ou na mesa de um café a lamentar-se pelo Sporting e o FCP terem sido eliminados das competições europeias, avance para o nosso terreno à descoberta daquilo que é nosso, de carro ou até a pé, pois a uma ou duas horas de caminhada (a pé) a partir da cidade, sem grandes esforços, podem fazer verdadeiras descobertas, dignas de documentários de uma qualquer televisão, se para aqui estivessem virados e Trás-os-Montes não ficasse tão distante (embora tão perto) para quem decide. Mesmo assim, de vez em quando o cinema e a literatura, entre outras artes, de vez em quando, ousam em vir por cá. Ontem mesmo estreou um filme em Lisboa sobre o Cambedo, há pouco dias atrás andou por Chaves a rodar-se um filme de jovens universitários e brevemente iremos ter o lançamento de um romance com estórias cá da terrinha, que na devida altura daremos conta aqui no blog.
Para hoje ficam então cinco imagens de uma aldeia de Chaves, que hoje não digo qual é. Descubram-na ou partam à descoberta dela, mas para os mais novos, para os que já não se lembram dos “burros da roupa lavada”, apenas lhes digo que é uma aldeia onde ainda se pode fazer jus, saboreando-o, ao famoso presunto de Chaves.