Vivências
A riqueza também está naquilo que somos
Os mais novos poderão não o entender tão facilmente - porque simplesmente não o vivenciaram - mas os mais velhos sabem perfeitamente o que era a vida há algumas décadas, quer em Portugal, quer noutras terras para onde tivessem partido em busca de um futuro melhor. Eram tempos de muito trabalho, de dificuldades, de privações e, em muitos casos, de muita miséria.
Os tempos de hoje são, felizmente, muito diferentes. Nas últimas décadas mudaram as condições de trabalho, o modo de vida, os usos, os costumes, as vivências, o vocabulário, a tecnologia, os relacionamentos… No fundo, mudou tudo. E as mudanças foram claramente para melhor. Temos hoje trabalhos mais qualificados, maior conforto nas nossas casas, mais automóveis nas nossas estradas, mais computadores, mais telemóveis, mais e melhores roupas… Temos também maior acesso à informação e à cultura, maiores facilidades em viajar, melhores ferramentas para comunicar…
Por tudo isto, podemos concluir que as gerações mais novas de hoje são gerações mais ricas, materialmente falando, e mais vividas. Sim, é verdade. Mas não são, necessariamente, gerações mais felizes, mais cultas ou mais bem formadas… Olhando para a maioria dos jovens que frequentam as nossas escolas secundárias ou que saem das nossas universidades, e comparando com a geração dos seus pais, constatamos uma diferença abismal na sua forma de ser, de estar e, sobretudo, de saber estar em sociedade. Nesta espiral de consumismo desenfreado e de tudo-aqui-e-agora, e de tudo-online, perderam-se valores fundamentais que vinham passando de geração em geração e que nos definem como seres humanos: o respeito pelos mais velhos (os pais, os professores, os avós…), a entreajuda, a solidariedade e, se calhar até, a verdadeira amizade…
Estamos, por isso, provavelmente, mais pobres. Porque a riqueza ou a pobreza não está apenas naquilo que temos ou não temos – está também (e sobretudo) naquilo que somos.
Luís Filipe M. Anjos