Vivências
884

884
884. Três dígitos apenas, mas não se trata de nenhum engano. Este era mesmo um número de telefone, no final da década de 70, assim mesmo, sem indicativo nem nada… Não era de minha casa, nem de nenhum dos meus familiares, mas sim da casa onde os meus avós paternos trabalhavam, na Rua Direita, em Chaves, mesmo em frente ao Largo do Pelourinho. E é o primeiro número de telefone que me lembro de ter memorizado…
Entretanto, os telefones foram chegando a cada vez mais casas, comércios e empresas e os números foram crescendo até chegarem aos seis dígitos. Nesta fase, os indicativos dos telefones fixos (os telemóveis ainda estavam a alguns anos de distância) começavam por “0”, e se estivéssemos a ligar para um número da mesma área não era necessário marcá-lo (bastavam os restantes seis dígitos). Assim, sabíamos que o indicativo de Chaves era o 076, mas só precisávamos de o marcar se estivéssemos a ligar de fora. Já para ligar para Vila Real ou para o Porto, por exemplo, tínhamos sempre de marcar o 259 ou 22, respetivamente, antes do número.
Nestes tempos era normal sabermos de cor os números de telefone das pessoas a quem ligávamos com mais frequência. Para os restantes números, tínhamos uma agenda em papel onde, por ordem alfabética, na página respetiva, íamos adicionando os nossos contactos.
Quando chegaram os telemóveis e as suas novas funcionalidades, quase sem darmos por isso, fomos deixando de memorizar novos números, e até fomos esquecendo os que já sabíamos. A agenda também se perdeu e, assim, o que antes estava na nossa memória ou registado em papel, está hoje algures numa “cloud”, associado a uma conta de Gmail…
Hoje, se pensarmos bem, a maioria de nós não deve saber de cor mais do que uns três ou quatro números… Confesso que é também o meu caso, e recordo-me perfeitamente que quando as minhas filhas começaram a usar telemóvel tive de me obrigar a memorizar os seus números, não vá dar-se o caso de um dia, por qualquer circunstância, ter de lhes ligar de outro telemóvel que não o meu…
Luís Filipe M. Anjos


