Vivências
A carta e um tablet, se faz favor!
Estamos em junho de 2025, mas a cena é recorrente em qualquer restaurante de há uns anos a esta parte. Olhamos em redor e em praticamente todas as mesas, quer estejam ocupadas por casais de namorados, grupos de amigos ou famílias com filhos, o que vemos, a maior parte do tempo, são rostos com o olhar fixo no écran do telemóvel e dedos a fazerem scroll atrás das últimas notícias ou dos últimos posts.
Já escrevi sobre esta realidade há uma meia dúzia de anos e pouco ou nada teria hoje a acrescentar, não fosse uma notícia que vi recentemente na comunicação social e cujo título passo a transcrever textualmente: “Crianças já não largam o tablet à refeição. Restaurantes começam a fornecer o aparelho: assim não incomodam e dão descanso aos pais”. Absolutamente estupefacto, avanço para a leitura da notícia e confirmo aquilo que o título indicia. Há restaurantes que disponibilizam (e até sugerem mesmo) tablets para as crianças estarem entretidas durante a refeição e, assim, não perturbarem nem os pais nem os outros clientes do espaço. Várias questões me surgem logo no momento. Então, mas não é suposto ser uma refeição em família? Se não é para estar com os filhos na refeição e ter tempo para eles, para quê levá-los ao restaurante? Ou será que os pais também vão estar cada um com o seu smartphone? (infelizmente, acredito bem que sim…). E, assim, aquilo que poderia ser um momento de promoção de laços familiares e diálogo com os filhos num ambiente mais descontraído, acaba por se transformar num momento quase surreal, em que qualquer hipótese de conversa acaba muitas vezes ainda antes mesmo de começar…
Não consigo acrescentar mais nenhum comentário a esta bizarrice e espero que ela não alastre a outras situações, pelo que me limito a acabar com a mesma interjeição com que acabei a minha reflexão de há uns anos sobre a presença dos telemóveis nas mesas dos restaurantes.
Haja paciência!
Luís Filipe M. Anjos