Vivências

As vivências às vezes também são tristes…
Éramos amigos desde 1996, quando nos cruzamos em Vilarandelo, no primeiro ano da minha breve passagem pelo ensino. Era um homem das letras, amante da boa escrita e da boa leitura (seguramente que naquela altura já me levava uma centena ou mais de livros de avanço). Era culto, formal e refinado quando era suposto sê-lo, mas, simultaneamente, de trato simples com todos ao seu redor e com uma facilidade de conversação ímpar, quer fosse sobre um clássico da literatura ou uma qualquer trivialidade do dia a dia. Tornamo-nos amigos com toda a naturalidade e convivemos de forma bastante próxima durante aquele ano letivo. Depois, eu segui para outras escolas e, mais tarde, para outros desafios profissionais, mas a amizade e o contacto mantiveram-se e foram inúmeras as vezes em que nos reencontramos, quase sempre em agosto, por ocasião da minha vinda a Chaves.
Telefonava-lhe e propunha que nos encontrássemos para um café, ao que ele sempre respondia com um “vindes cá jantar…”. E, então, em cada reencontro havia sempre um sorriso franco e genuíno, braços que se abriam, uma conversa que continuava… e livros, sempre livros! Falava-me dos seus projetos literários com aquela satisfação de quem faz o que gosta, com toda a atenção aos detalhes, sem pressas… E sempre que havia um livro novo, pegava numa caneta, assinava um exemplar e entregava-mo, num ato que ele transformava quase num ritual…
Depois, perguntava-me como ia a minha escrita (embora fosse um leitor assíduo das minhas publicações) e entusiasmava-me para me lançar na publicação de um livro, o que veio a acontecer há dois anos, com as “Vivências”. Foi também por “culpa” dele…
Este ano, em agosto, as circunstâncias já não permitiram que nos encontrássemos. E agora, no final de setembro, a notícia da sua partida.
Ficam na memória as boas conversas, os livros, os jantares em sua casa e as vivências…
Até um dia, amigo!
Luís Filipe M. Anjos
Leiria. Setembro de 2025


