Vivências - Um café em Paris
Um café em Paris
Março de 2016. Estamos no terceiro dia da nossa visita a Paris e para o final da tarde temos combinado tomar um café com a Altina Ribeiro, uma Flaviense a residir em França desde 1969 e uma das minhas primeiras entrevistadas para o espaço “Flavienses por outras terras”. O convite surgiu uns dias antes, de forma natural e espontânea, numa troca de mensagens no Messenger, a propósito de sugestões para uma visita à capital francesa – “Se tiverem tempo, podemo-nos encontrar para tomar um café…”. E ficou combinado…
Encontramo-nos num café na Praça da Bastilha, o local onde em tempos se erguia a famosa prisão tomada de assalto pelo povo de Paris, no dia 14 de julho de 1789, dando, assim, início à Revolução Francesa. Durante cerca de uma hora falamos, inevitavelmente, de Chaves e de Portugal, mas também da vida em França e das ligações que os emigrantes tentam manter com as suas origens, por exemplo, através da frequência de restaurantes portugueses ou de espaços como o “Lusofolie’s”, um café dedicado à cultura lusófona, situado no chamado “viaduto das artes”, ali mesmo, a dois passos da Bastilha.
E falamos de livros, pois a Altina é também escritora. No seu livro “De São Vicente a Paris” ela relata-nos com extrema simplicidade de linguagem, mas, simultaneamente, com grande riqueza de pormenores, as suas vivências na aldeia de São Vicente da Raia e a sua ida para França, aos 9 anos, para se juntar ao pai que já tinha emigrado, “a salto”, uns anos antes. Uma história simples, mas marcante, igual à de milhares de portugueses que nas décadas de 60 e 70 deixaram para trás um Portugal pobre e retrógrado e partiram em busca de melhores condições de vida numa terra totalmente desconhecida.
A conversa poderia continuar por mais tempo, mas a hora do jantar aproxima-se e temos de terminar. Curiosamente, o local onde nos encontramos chama-se “Café Français”, mas acabou por ser um café bem português, no centro de Paris… e soube muito bem!
Luís dos Anjos