Vivências - Vidas Virtuais
Vidas virtuais
- Num mundo ainda sem smartphones nem tablets, e com a Internet a dar os primeiros passos, os jogos online tal como hoje os conhecemos não existiam. Mas existia o “Tamagotchi”, um dispositivo eletrónico colorido, semelhante a um porta-chaves, que se levava para todo o lado no bolso das calças ou na mochila, com um pequeno écran onde, em animações extremamente rudimentares, “vivia” um animal de estimação virtual que tinha horas para comer, brincar, dormir e fazer “xixi”. Mais ainda, se não fosse devidamente “tratado” pelo seu dono, o bichinho podia mesmo acabar por “morrer”…
- O Tamagotchi “morreu”. A Internet generalizou-se há já alguns anos e com ela surgiram centenas de jogos online que simulam a vida real em praticamente tudo aquilo que possamos imaginar. É hoje possível (virtualmente) planear e construir cidades, comandar exércitos, gerir uma quinta, comprar e vender empresas, treinar um clube de futebol ou ser uma estrela de rock em permanente digressão…
Vinte anos separam estes dois momentos. Vinte anos de profundas mudanças a nível tecnológico, mas também a nível familiar, cultural e social, que nos obrigaram, como nunca no passado, a um esforço gigantesco de adaptação a novas realidades. Mas apesar de todas as mudanças continua a ser fácil encontrar um traço comum entre o Tamagotchi, o Farmville, o Second Life ou um qualquer outro jogo deste género. Todos eles são criados e têm sucesso (e viciam, em muitos casos) porque existe nas nossas sociedades uma massa imensa de insatisfeitos com a vida do dia-a-dia que procuram refúgio (diariamente, ou quase) a construir e a tratar de uma vida virtual, dentro de um pequeno écran em forma de retângulo, onde sabem que nada existe verdadeiramente – nem coisas, nem pessoas, nem sentimentos, nem emoções - mas onde tudo é sempre extremamente fácil, à distância apenas de uma meia dúzia de cliques…